26.4.19

Memorabilia: Audion #37 (feat.) Chris Karrer / Brainticket / Joel Vandroogenbroeck




Chris Karrer
Uma Conversa Com O Músico Mágico Dos Amon Düü II
Munich, 6 de Julho de 1996
por Alan & Steve Freeman



Reconhecidamente, nós estávamos ambos com uns prévios pós de dúvida acerca de nos encontrarmos com Chris Karrer quando estivemos em Munique no passado mês de Julho. Porquê? Bem, nenhum de nós estava particularmente enamorado com recente versão/formação dos Amon Düül II. Mas, tendo visto Chris a tocar com os Embryo tínhamos mesmo de ter uma conversa com ele. Pareceu-nos que Chris se esteve nas tintas para o facto de não termos gostado do que os Amon Düül II estavam a fazer agora, ele sabia que Christian também não gostava, e isso parcia que não o incomodava nada. Especialmente, isto porque nós sabíamos qual tinha sido a nossa atitude, e que não somos jornalistas musicais "normais".
Sempre soube que Chris era um extraordinário multi-instrumentista, mas (especialmente tendo em conta que era um concerto totalmente acústico) o que ele fez naquela noite na Gallerie Lea foi maravilhoso., até mesmo na forma como ele tocou um tamborim! Após do concerto achámos que tínhamos muito de que falar. Perguntámos a Chris se ele iria tocar com os Embryo de uma forma regular de novo, ao que ele respondeu algo do tipo "Não, apesar disso este foi um grande concerto, há muito tempo que não me sentia tão bem a tocar como hoje. Sabem, com os Amon Düül II temos de tocar canções e coisas que as pessoas conheçam. Com os Embryo qualquer coisa pode ser tocada!" Chris mostrou um carácter tão jovial que decidimos encontrar-nos no seu apartamento no dia seguinte.
Nessa altura Chris fez um café, fumou um cigarro e ficou numa postura relaxada, nós tínhamos já discutido acerca das suas pinturas e sobre os seus curiosos artefactos do Leste, e de uma forma natural a conversa seguiu por outros caminhos quaisquer. Falámos sobre arte e filmes surrealistas, e penso que foi acerca de "The Chasmin Soundtrack" o qual nos conduziu a um assunto não muito discutido na história dos Amon Düül II, e isso foi nada mais nada menos que o trabalho do grupo em bandas sonoras para filmes.

Alan: Estava a falar acerca de filmes para os quais os Amon Düü II fizeram a música?
Chris: Nos anos 70 havia um grande interesse pelo que se chamava "Jung Filmer", pois nessa altura eramoda contratar uma banda do underground Germânico para compor a banda sonora. E as bandas ganhavam prémios por isso. Hoje em dia muitas dessas bandas estão bem estabelecidas e conhecidas. Havia um acordo com muitas das bandas sobre quanto tudo iria custar, excepto com os Can, que diziam: "nós fazemos tudo por metade do preço".

risos por todo o lado

Chris: Por isso toda a gente odiava os Can porque eles apanhavam a maioria da música para filmes! Mas, pelo menos isto era algo com que tu podias viver, porque uma vez por ano caía algum dinheiro. Mas hoje em dia há muito poucas pessoas, como Roman Bunka, que consegue viver só a fazer música para filmes.

Steve: Sabemos que o Eberhard Weber tem...

Chris: Claro. Eberhard Weber, ele fez muita música desse tipo. sim, ele era um baixista jazz, mas agora que ficou mais velho ele faz essas coisas para TV. Mas, tenho de o dizer, na altura (nos anos 70) eles simplesmente vinham ter connosco e pegavam em alguma da música e depois montavam-na como eles queriam. Eles não diziam "Tu viste o filme e agora compõe uma música para ele" eles andavam tão excitados com tudo o que fazíamos. Mesmo que o fizéssemos na casa-de-banho. Claro que fizemos coisas especiais, como um tango com violino. Mas tudo isto mudou, claro. Hoje já não é possível. Consigo fazer algum dinheiro com as minhas pinturas, mas têm de ser sempre tão boas ou melhores que as anteriores. Por isso não podes fazer sempre a mesma coisa, e tens de apaziguar a tua alma e a tua mente.



Alan: Os tempos mudam.

Chris: É o problema dos Amon Düül II. Bem, não um problema para nós, mas para os agentes, para os fans, ou o que seja. Sabem, o Christian Burchard... ele tornou-se o leader dos Embryo porque todos os outros saíram. E, assim, ele consegue fazer a sua própria música. O nosso baixista, Lothar Meid, era um membro original dos Embryo. E tanto quanto eu sei, os Embryo começaram com uma espécie de competição com os Amon Düül II, aqui no Sul, como uma coisa alternativa, mais do tipo jazz-rock, avantgarde, enquanto nós éramos mais free-rock psicadélico. Não havia jazz na nossa música, porque nós vínhamos do jazz...

Steve: Mas vocês rejeitaram-no, então?

Chris: Naquele tempo nós odiávamos o jazz. Livrei-me de todos os discos do género.

Steve: Christian diz que você os queimou.

Chris: Sim. E muitas das minhas pinturas. Fiz uma grande pilha e deitei-lhe fogo. Na altura não era a pintura que estava na moda, eram posters, fotos e ser psicadélico.

Steve: Christian disse que você era maluco pelos Hapshash And The Coloured Coat.

Chris: Essa éfoi uma das minhas capas preferidas também. Entrei realmente a fundo na pop art também. Mas todas essas coisas intelectuais e estilissticas estavam fora de moda, e na verdade na nossa comunidade as pessoas esperavam que se fizesse algo de simbólico, por isso eu dei a desculpa que aquilo era frio, empilhei todas as minhas coisas e deitei-lhe fogo.

Steve: Na Inglaterra nós chamamos a isso "queimar as tuas pontes".

Chris: Sem olhar pata trás - sim. Naquele tempo havia todo aquele negativismo, e tudo fluía naquela coisa hippy, novos caminhos.

Steve: Gostava de banda como os Pink Floyd?

Chris: Claro. Nós encontrámo-nos uma vez num avião e tocámos juntos no mesmo festival no Sul de França, e também na Alemanha. Eu gosto deles até que fizeram o Dark Side Of The Moon do qual já não gostei. Até aí era um grande fã. Apesar disso o meu álbum favorito deles é o "Piper At The Gates Of Dawn" e depois os dois ou três seguintes. Mas, apesar de não ser um nostálgico, também fui ver outros espectáculos como aquele com o porco, e o "The Wall" e fiquei deveras impressionado.... tudo era em duplicado, sabem, com duas guitarras, dois baixos... É um sonho ser capaz de fazer este tipo de coisa no palco. Eu sempre admirei esse tipo de pessoas, como Alice Cooper...

Alan: Os Amon Düül II alguma vez fizeram algo de teatral no palco?

Chris: Sim, nós éramos conhecidos por fazer isso, não apenas jogos de luzes. Havia um local especial em Munique, chamado PM Club, e nós tocávamos lá todos os Domingos, maso normalmente quase ninguém ia a esse local aos Domingos. Mas passados três meses era já tudo tão completamente "empacotado" e ainda assim o fim de semana não o era de todo. Vocês estão a ver, nós não fazíamos apenas improvisações ou jam sessions com as pessoas que estavam por lá, nós também convidávamos artistas e performers a aparecer e participar. Assim , todos os Domingos hyavia um espectáculo / happening diferente. As pessoas tomavam todas ácido, coca, e eu sei lá que mais. E, aquilo era mágico. Lembro-me que havia sempre uma mulher nua no palco, e era assim...

Chris aqui entra numa descrição gestual do show no palco que é impossível colocarmos em palavras!

Chris: ... todas estas coisas estranhas aconteciam, mas ninguém queria saber disso. Não havia Polícia a aparecer nem ninguém a queixar-se. Não (risos) tudo era permitido! Mas, à medida que o tempo foi passando, tudo se tornou mais como concertos normais. Para fazer todas estas coisas nós não conseguíamos arranjar o dinheiro necessário.

Alan: E agora?

Chris: Bem, eu penso que é possível de novo. Como antes, o que a América fez com o jazz, é cultura agora... Os Europeus podiam fazer a mesma coisa com a subcultura que surgiu nos anos 60.

Chris tinha posto a tocar a tape do seu próximo álbum enquanto estávamos a conversar. Nesta altura da entrevista ela chegou ao fim.

Chris: O que pensam?

Alan: Há montes de influências diferenciadas. Reparei no elemento Flamenco. Christian diss-nos que anda a gostar muito de Lole E Manuel (um duo aventureiro que frequentemente quebra as regras da tradição) e outras coisa do género, e que ele também gosta.

Chris: Toda a música é mais aberta hoje em dia, há também um dançarino Japonês, Ciganos da Patagónia, toda a espécie de coisas. Eu conseguiria facilmente viver no Japão tocando apenas Flamenco. Foi engraçado, que quando estive no Egipto eles também gostavam do Flamenco. Que vem dos anos 20.

De volta ao que estávamos a falar anteriormente.

Chris: Com os Amon Düü II, tocámos no Japão, em Inglaterra, América, depois talvez toquemos em França e Itália. Depois talvez possamos tocar novamente na Alemanha.!

Steve: Não tocou em Berlim no ano passado?

Chris: Não, fomos (Amon Düü II) anunciados. Algum estúpido, chegaram a pendurar posters e depois não foram para a frente com nada. Fizemos apenas um festival, na Alemanha, no ano passado. Há sempre pessoas como estas, esperam alguma coisa de ti, mas nem sequer contratam os locais dos concerros. Não consigo perceber este modo de actuar, destas pessoas na Alemanha. Eu disse-lhes o preço. Eles não aceitaram. Queriam tudo por metade do preço e por aí fora. Falei com a banda e perguntei-lhes "o que fazemos?" e assim... É diferente com os Embryo, eles ainda fazem pequenos concertos. E eu gosto particularmente porque eles são como que uma instituição, onde os membros tocam por um preço mínimo.

Steve: Bem, o concero de ontem à noite foi pequeno, apenas cerca de 20 pessoas.

Chris: Christian apenas pede umas centenas de Marcos, sabem, e isto para toda a banda! Eu não estava à espera de receber qualquer quantia, porque eu não vivo à custa dos Embryo. Viver apenas disto é muito duro. Mas agoar eu pinto, vendo muitos quadros desde que recomeceui em 1986. Depois entrei noutros projectos, como em Itália com o Blaine Reininger dos Tuxedomoon, e em Inglaterra também, com o Robert Calvert, antes de ele ter morrido. Se fazes apenas uma coisa, descobri, não é suficiente. Como quando conheci o Blixa Bargeld, esse tipo dos Einstürzende Neubauten, tornámo-nos bons amigos porque ele gosta muito da Renate, a nossa cantora, e disse: "Um homem moderno tem de tentar e fazer sete coisas ao mesmo tempo" - de outra forma não tens chances.

Alan: E acerca das suas experiências com os Embryo?

Chris: Com os Embryo tem que se trabalhar muito mais. Houve uma altura em que eles tinham um grande autocarro, um roadie, um P.A., havia concertos com o Goethe Institute, e em muitos países diferentes. Quando me juntei à banda, em '82, era uma vida engraçada, não era uma vida cruel. Havia aquele velho autocarro com 50 anos...

Steve: Há fotografias dele nas capas dos discos.

Chris: Era fixe, muitas boas pessoas por ali, o autocarro tinha um motor novo (naõ um motor qualquer velho e gasto), e era tudo como uma caravana hippie. As digressões eram parte concertos e parte festivais, tours e por aí fora, e por vezes até tínhamos direito a ficar num hotel (risos). Talvez fosse o espírito do tempo, mas tudo começou a vir por aí abaixo, a diminuir, a diminuir, a diminuir. Toda a gente abandonou a banda ou foi despedida. Eu também fui despedido. Isso passou-se com o Edgar, Roman, e ... sim, não apenas eu, era Micky Wehmeyer, e também Werner Aldinger (ele está agora na Enja Records). E depois juntei-me de novo à banda! Passaram-se quase dois anos em que eu ora entrava ora saía da banda. Então, por outro lado, há sempre uma altura nestas coisas em que também apanhas uma overdose de viagens. E para mim era muito duro fazer outra coisa que não fosse aquilo. Também, quando estás fora muito tempo e regressas, as pessoas dizem coisas do tipo "Oh, ainda estás vivo" e coisas desse tipo. Vocês conhecem esse tipo de reacções. Assim, não havia mais amigos, nem nada...

Steve: E acerca dos Popol Vuh?

Chris: Eu apenas fiz duas sessões depois do "Nosferatu" e uma performance ao vivo com ele. Mas, com o Florian, eu tenho de contar a verdade outra vez, apesar de eu não querer falar mal dele, sabem, mas a primeira vez ele me pagou-me com uma sopa, e da segunda vez ele pagou-me de novo com mais uma sopa. Fomos a um restaurante, e ele disse "Uma sopa eu consigo pagar - não há problema". E, mais tarde, estávamos todos juntos no funeral do pai dele. Ele agora tem essa coisa techno, sabem, um género de techno "house místico". E a coisa chegou a tal ponto que eu não posso falar bem dele, devido ao que se passou. Ele disse "Ah, eu posso pagar-te agora, mas apenas tenho comigo uma nota de 500 Marcos. Tens troco?"

Risos de todos nós.

Steve: E sobre o Conny Veit?

Chris: Ele anda perdido no espaço, ninguém sabe por onde anda ele.

Steve: Ele estava também nos Amon Düül.

Chris: Sim, esteve, mas por muito pouco tempo.

Steve: Descobrimos recentemente que uma das primeiras formações que actuaram ao vivo incluíam Reinhold Spiegelfeld e outro membro dos Virus.

Chris: Oh, sim, sim, isto é como uma parada de corpos mortos na cave, sabem! (risos). Naquela altura havia montes de formações aventureiras. Por vezes era apenas o John e eu, e nós tínhamos assinado um contrato para não sei onde e tínhamos de ir, ensaiávamos com outras pessoas que andavam por ali. Com muitas dessa pessoas nós não tínhamos feito nenhuns discos na altura, apesar de mais tarde o tenhamos depois feito. Apenas os usávamos para a nossa música ao vivo.

Alan: Sempre foi assim?

Chris: Bem, para vos dar um exemplo, naquela vez quando tocámos no Japão (o que aconteceu depois de termos tocado num festival na Alemanha, no ano passado) tocámos com o Peter Leopold e o teclista do estúdio em que tínhamos trabalhado. Sem Falk Rogner. Sem John Weinzierl, porque ele queria despedir Lothar antes de tocar. Antes, fizemos um concerto teste em Munique, com outro guitarrista, Nandio (que havia tocado em "Made In Germany") que saiu também, mas não foi nada como nós esperávamos, porque quando tu reformas uma banda dás o teu melhor para que tudo corra bem. Assim, ao longo de todo este ano fizemos um disco, houve este encontro psicótico com o Lothar e eu, porque todos nós derivámos por diferentes caminhos. E depois há a questão que é diferente fazer um disco e tocar ao vivo.

Alan: E acerca dos concertos recentes? Estava a falar da digressão ao Japão:

Chris: Decidimos fazê-los metade em palyback, com algum desse playback misturado de forma diferente, e bateria-baixo. Mas pudémos ver que o Peter Leopold, que é um excelente baterista, não conseguia tocar mais. Ele é um tipo porreiro, mas quando o seu pai morreu, começou a ficar louco, a tomar ácidos, com depressões, isto e aquilo, e ele tinha uma mulher e família, sabem. Assim, contratámos outro baterista. Ficámos então com quatro novos membros e três dos antigos. A coisa é a seguinte: tens de escolher entre os velhos amigos que podem não estar já fiáveis e aqueles que conseguem executar o trabalho. De certa forma isso leva-nos atrás ao Reinhold Spiegelfeld, ele está agora na Índia, ele toca para o Bagwan, como Deuter. Foi-lhe dito que o seu fígado estava lixado quando ele deixou a Alemanha e que não tinha muito mais tempo de vida, mas isso foi há um ano atrás (um ano e meio) e ele ainda está vivo. Ele chama-se Ananda agora. Ele era um junky da pesada, sabem, muito da pesada.

Alan: Como é que vê as coisas agora, quando comparadas com os primeiros tempos dos Amon Düül?

Chris: Eu não penso que as coisas tenham mudado assim tanto. É mais nos modelos que as pessoas têm. O modelo comunidade. O modelo de sistema político. Isto é muito dogmático. Tinhas de ter o cabelo comprido. Tinhas de ter trips de ácido. Tinhas de mudar de namorada todos os dias, e por aí fora. Era uma espécie de te pores à parte. Mas era muito duro para nós, pois éramos atacados do exterior nessa altura, sabem, do tipo quando estávamos às compras não conseguíamos comprar o que queríamos, em restaurantes nós não éramos servidos. A polícia aparecia sempre uma vez por semana, quando qualquer coisa acontecia eles vinham ter connosco. Assim do lado de fora nós torna´mo-nos muito arrogantes, snobes, muito como um círculo fechado e não deixávamos as pessoas entrarem a menos que os conhecêssemos, ou se eles fossem muito especiais, aí entravam, do tipo ficarem de cabeça para o ar a dizer um longo poema (risos). Nós éramos tão fodidamente arrogantes, com grandes Cadillacs, e cobertos de prata e ouro. Mas, por outro lado nós estávamos mesmo lixados com a "política normal" da sociedade civilizada. Não aceites, sabem. Se alguma coisa era roubada a Polícia vinha logo ter connosco, se uma rapariga fugia de sua casa, eles vinham também.
Então mudámo-nos para uma casa ainda maior, no campo, como um castelo com 30 divisões. Assim, então era "há estas outras pessoas com quem nós queremos participar emj festas" e arranjámos algumas groupies de estrelas da pop e por aí fora. Mas nós tínhamos que escapar por vezes por causa dessas pessoas, digamos - os amigos. Porque havia outras comunidades, todas elas se nos juntavam ao fim de semana, porque nada acontecia por lá com as mulheres, e pelo menos nós tínhamos esta coisa das groupies a funcionar em pleno. Por isso nós tínhamos que sair aos fins de semana por causa da chegada de todas essas pessoas. Mas mesmo esta estratégia não funcionava, por causa do lixo, como por exemplo quem seria o responsável por isso, e quem seria o responsável pela comida. Todas essas pequenas coisas, como se quando Renate precisasse de novas meias tinha de escrever isso num papel, e uma vez por semana as pessoas liam esse papel, diziam sim ou não "Ela não precisa de meias novas, ela obteve algumas na semana passada" (risos) e muitas coisas como esta. Porque havia famílias e não-famílias, não era fácil

Alan: Obviamente a coisa não resultou no longo prazo.

Chris: Mas eu sou diferente de certa maneira. Eu não nasci rico nem sou rico ainda. Mas conheço algumas pessoas ricas, como esse pintor, o Ernst Fuchs, que tinha um grande palácio em Viena. Há muitas pesoas que apenas querem sugar o que puderem a partir da sua imagem, obter a sua assinatura e coisas do tipo. Mas esse tipo, ele veio visitar-me como um amigo real, e quando nos encontrámos, eu era o Guru para ele. Fiquei surpreendido.

Alan: Ele entrou no teu último álbum.

Chris: Sim, ele é também um cantor amador, eu trabalhei com ele, e ele precisava de mim para garantir que tudo ficava certo musicalmente falando. Assim, por um lado, para mim era uma honra, mas ele também precisava de mim. Como eu também sou um pintor que também faz música, eu compreendia o que ele queria dizer. As suas letras, a maneira como ele cantava. Se ele dissesse toca como "Toledo" no século 16 em Espanha, eu sabia o que ele queria dizer, eu conhecia todos os quadros, atmosferas. Ele é o Duke dos pintores, sabem, depois da morte de Dali, ele é o único do mundo surreal que ficou.

Alan: E agora?

Chris: Temos esta coisa com o nome. Como no meu trabalho a solo, o meu agente faz posters com o meu nome e "Mr. Amon Düül", mas eu digo-lhe "Não podes fazer isso, não me podes "vender" dessa forma, porque isso causa embaraços na banda". O que faço de forma privada  sempre mantenho separado completamente do que faço com os Amon Düül. No meu primeiro álbum a solo toquei com Curt Cress e um baixista francês. Quando fiz o segundo, em 1991, não trouxe nenhum dos elementos dos Amon Düül. Aconteceu o mesmo com o álbum de Ernst Fuchs, e de novo com o último. Claro que houve o problema com todos os outros membros, todos queriam chamar às suas bandas Amon Düül, e editar sob o mesmo nome, e foi realmente um problema. Como John Weinzierl, ele nunca usou o seu nome como pessoa, ele sempre se chamou a si próprio Amon Düül, como os LPs que gravou em Inglaterra, como o "Hawk Meets Penguin", e deixou assim quase toda a gente completamente confusa. Eu tenho de dizer "Não, eu não tenho nada a ver com isto". Estou verdadeiramente zangado com isto. Essa foi a razão por que ele não tocou nunca mais com a banda. Chega a um ponto que não podes confiar mais neste tipo de gente, por isso...

Alan: Bem, temos que ir embora. Temos encontro marcado com o Peter Frohmader.

Chris: Oh, digam-lhe "Olá" por mim!

E assim dissemos adeus e saímos para tentar encontrar um sítio para comer. Era um momento adequado para sair na verdade, pois eu sei muito sobre as brigas no campo dos Amon Düül II que se passaram na última década (+/-) e sei que elas causaram realmente inúmeros problemas.
Um par de meses depois desta entrevista encontrámo-nos de novo com o Chris em Londres, e foi quando ele nos anunciou este último CD que sairá em breve. Até agora não tivemos mais novidades mas mantervos-emos a par do que se for passando.






BRAINTICKET / JOEL VANDROOGENBROECK
CONNECTIONS / FAMILY







5.4.19

Memorabilia: Audion #38 (feat.) Artemiy Artemiev / Julian Cope







NME no NFT
Julian Cope Apresenta um Krautrocksampler
e Alan faz a reportagem

Uma série de primeiras vez esta noite: 1) a mais longa distância que me desloquei para ir a um cinema! 2) A minha primeira visita ao National Film Theatre. 3) Conhecer Julian Cope. Apesar de essencialmente, esta noite foi uma celebração pura do Krautrock, uma oportunidade de ver dois filmes substanciais nunca apresentados no Reino Unido, assim como alguns clássicos do arquivo do "Beat Club".
Penso que Julian parecia um bocado nervoso por ter sido chamado para apresentar tal evento. Eu nunca tinha pensado nele como sendo completamente tímido, apesar de poder ter acontecido ele estar simplesmente ansioso para ver o que iria ser apresentado. Como Julian disse, havia por ali alguns crânios de verdade do Krautrock e o entretenimento da noite seria admiravelmente inspirador, para não dizer mais. Eis o que nós assistimos:

Can Em Concerto (1972, 53 mins)
Não apenas os Can em concerto, mas mais um "rockumentário" experimental contendo cenas com experimentações em estúdio entrecortadas com um extraordinário e selvagem concerto. A era é a de Damo e Co. Os Can no seu auge, "riffando", latejando, girando maniacamente. Damo gorjeando, berrando, sussurrando, gritando ou apenas dançando acompanhando a batida. Jaki provando, como sempre, ser o mais "cool" e controlado baterista do planeta. Holger parecendo drogado e a tripar com a música. Michael balanceando-se quase imperceptivelmente. E, finalmente, Irmin, atacando os teclados como se fossem ferramentas de precisão. As faixas fluíam incoerentemente de uma para outra, assim como a parte visual, acrescentando até um patchwork da experiência Can, com malabaristas e acrobatas no palco a competir com a latejante urgência da música. Um filme bizarro e extraordinário, perfeitamente adequado a uma das mais extraordinárias bandas.


Amon Düül tocam Phallus Dei (1969, 25 mins)
Um filme antigo dos Amon Düül II ao vivo em concerto, filmado com câmara estática, iluminação líquida e uma atmosfera eléctrica que quase provocava electrocução.
Sem qualquer aspecto visual high-tech ou sequer mistura, mesmo apesar do envolvimento de Wim Wenders, este é um filme minimalista de olhar espartano apenas centrado em Renate e Shrat. Uma energia bruta clássica, abrindo com Renate a chilrear a-la Yoko Ono, construindo o habitual climax, como uma espécie de Third Ear Band encimada pelo maravilhoso violino desafinado de Chris Karrer. Não me quero alongar, todos vocês sabem como se desenvolve Phallus Dei. Apesar de um pouco lo-fi, ver isto foi uma esplêndida experiência de viagem no tempo.


Do Beat Club...
Amon Düül II, Popol Vuh, e Kraftwerk
Apercebi-me que algumas pessoas da audiência já tinham visto este filme anteriormente, mas para mim era a primeira vez, e por isso uma excelente experiência, em ecrã gigante com som stereo. Com efeitos visuais extraordinários, os Amon Düül II pareciam voar numa sopa psicadélica colorida. O show é de 24 de Outubro de 1970, e é basicamente a incarnação entre YETI e DANCE OF THE LEMMINGS sem Renate, com Chris Karrer ao leme, e Karl-Heinz Hausmann a inventar uma electrónica ao estilo dos Ozric Tentacles sem a ajuda de sintetizadores! De forma grosseira, as faixas mostradas pertencem a versões de Eye Shaking King e Between The Eyes. Também no meio de remoinhos psicadélicos se pode considerar a peça rara e de início de carreira dos Popol Vuh, chamada Bettina, com Florian Fricke escoando padrões sonoros a partir do seu Big Moog, enquanto (nunca visto) Holger Trülzsch e um outro percussionista que adicionava a batida étnica. Isto data de 24 de Abril de 1971, e apesar de ser inconfundível e único Popol Vuh da mesma época, é totalmente diferente de qualquer coisa de AFFENSTUNDE. Finalmente, uma peça clássica dos Kraftwerk, e uma peça que eu conhecia bem do CD dos Organisation, intitulada Truckstop Gondolero (de 22 de Maio de 1971) com a formação bizarra dos Kraftwerk, constituídos por Florian Schneider, Klaus Dinger e Michael Rother, quase mais proto-Neu! do que Kraftwerk, e de novo espantosos efeitos visuais. De todo em todo, brilhante.
Depois do entretenimento, tive de dizer adeus a Julian, tivemos uma pequena conversa que envolveu outros fanáticos do krautrock. Estávamos todos numa grande excitação. Que grande noite!





ARTEMIY ARTEMIEV
Artigo / crítica por Alan Freeman
THE WARNING
(Electroshock ELCD 001) CD 73m
COLD
(Electroshock ELCD 002) CD 73m
POINT OF INTERSECTION
(Electroshock ELCD 003) CD 75m



Filho do famoso músico pioneiro da electrónica e compositor de bandas sonoras, Eduard Artemiev, parece que Atemiy aprendeu bastante com o seu pai. Artemiy, de facto, tem tentado ao longo do tempo estabelecer a sua própria etiqueta / editora, e tem muitas outras ambições, em cinema, TV, etc. Ele saiu do underground, contactando vários músicos que praticavam uma música electrónica e experimental com sintetizadores, por todo o mundo. Assim, nós tivemos conhecimento que estes CDs estavam para saída iminente a qualquer altura. De qualquer forma, apesar do nome da editora, Artemiy é um artista com gosto, e nenhum destes CDs é chocante de todo, apesar de serem todos diferentes no seu foco.
THE WARNING é o seu álbum de estreia, no qual recolectou todo o seu trabalho anterior, e ficou nas estantes durante 4 anos. Eu sei que houve muitas demo cassetes deste material a circular por algum tempo, mas apenas agora surge a edição oficial. THE WARNING mostra estas influ~encias de forma muito extensiva, nas quais ele trabalha sobretudo com o cinema e a TV, eis pois aqui a influência do seu pai, através de intensiva utilização de melodias e formas. É realmente "picture music", e adequadamente conseguimos associar os títulos com a música de forma fácil. Abundam pinceladas do velho Vangelis e do recente Klaus Schulze, o primeiro devido à riqueza das melodias, o último na utilização do sampler e texturas não usuais. Um pouco "muito bonito" para o meu gosto pessoal, mas para álbum de estreia não está mal.
COLD é um trabalho composto entre 1994 e '95, e é um desenvolvimento dos elementos mais etéreos do álbum anterior, com uma música menos focada na melodia, virando-se mais para o lado da música new-age. Particularmente na faixa A Polar Night há um forte aceno de cabeça na direcção do trabalho de bandas sonoras compostas pelo seu pai nos anos 70. Essencialmente leve e relaxante (com pinceladas de Sven Grünberg e Igor Len), o único tipo de "frio" que esta música significa para mim é aquela contendo gelo cristalino e fragmentos de neve, uma beleza fria e frágil, não gelada e rígida, e dessa forma um pouco à la Klaus Schulze de novo brilha outra vez de vez em quando.
Muito mais sombrio do que os dois CDs anteriores. POINT OF INTERSECTION documenta o seu trabalho mais recente, e é a tentativa de Artemiy para criar uma música composta por culturas contrastantes, misturando electro-acústica com elementos mais melódicos a partir de sintetizadores. Os resultados são de certa forma subjugados e estranhos, um pouco como Lightwave, e há muito mais sampling óbvio (pode-se pensar que se trata de Kosmische Krautrock) e o mau humor de tudo isto misturado quase que pode ser comparado aos trabalhos do seu companheiro moscovita, explorador de sons, Mikhail Chekalin, havendo aqui também resquícios de Lightwave também. Com um pouco mais de diversidade e desenvolvimento dos temas e ideias, esta é a direcção que Artemiy deverá seguir no futuro. Esperemos que sim!








memorabilia - João Peste



João Peste
Pop Dell'Arte
circa lançamento do maxi "M C Holly / 2002" e "Ready-made"






A quem quiser ler os artigos e não conseguir, posoo enviar imagens com melhor resolução, perfeitamente legíveis. Eviar email.













Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...