20.4.07

Krautrock por um grande crítico - homenagem a Fernando Magalhães



“Krautrock” Around The Clock

Este artigo foi publicado no jornal Público de 07.05.1997, por um dos maiores críticos musicais portugueses de sempre, Fernando Magalhães, que, infelizmente já não se encontra entre nós.
A sua publicação aqui é uma pequena homenagem e a formulação um desejo para que os seus escritos não se percam nos discos dos computadores e se tornem acessíveis a todos. Bem o merecem. O Krautrock é usado aqui como veículo dessa pretensão, uma vez que é um género musical riquíssimo e de que o Fernando Magalhães era, eventualmente, o maior especialista no nosso país.
(link útil no fim)



O “krautrock” está vivo e recomenda-se. A estagnação a que chegou grande parte da música popular neste final de século levou a uma procura exaustiva de fontes que pudessem revitalizá-la. Havia um manancial à espera e por explorar. Local: Alemanha. Época: anos 70. Chamaram-lhe na altura “krautrock”, na falta de um termo melhor que pudesse designar a explosão de criatividade que entre 1986 e a eclosão do “punk”, em 1976, abalou o império pop anglo-saxónico.
Decorridos quase 20 anos, músicos e público partem de novo em busca da pepita dourada, numa corrida pelo tempo que confunde e estimula ao mesmo tempo. Julian Cope, com o seu manifesto em defesa do “krautrock”, acendeu o rastilho. Que estranhos nomes e não menos estranhos discos eram estes que o homem dos Teardrop Explodes defendia com unhas e dentes, com o entusiasmo de um fanático? Como uma rajada, entrava pelo final do século o relato de experiências insanas levadas a cabo por cientistas e magos loucos oriundos de uma nação, ainda e secalhar para sempre, marcada pelos fantasmas do pós-guerra. Faust, Amon Düül II, Can, Neu!, Cluster, entre uma multidão de outros nomes, chamam a atenção e os ouvidos para um admirável mundo novo que volta a despontar.
A pequena revolução que estes grupos operaram no seu tempo faz-se sentir hoje talvez ainda com mais intensidade do que há 20 anos. As bandas do pós-rock prestam-lhe vassalagem. Nos Estados Unidos, em Inglaterra, na alemanha, grupos como os Tortoise, Ui, Trans AM, Kreidler, To Rococo Rot, Tarwater, Rome, Gastr Del Sol (de Jim O’Rourke, produtor de “Rien”, dos Faust), Stars of the Lid, Fuxa, Him, Jessamine, Earth, Sabalon Blitz, Magnog e Fridge assumem e expandem o lado mais experimental e tecnológico do “krautrock”, ao proclamar a importância de grupos como os Cluster, Neu! E La Düsseldorf.
Antes, já a “new age”, através dos novos planantes da Califórnia (Steve Roach, Robert Rich, Michael Stearns), buscara alento e alimento nos anos 70, na chamada “Escola de Berlim”, representada por Klaus Schulze, Tangerine Dream e Ash Ra Tempel. O mesmo se podendo dizer dos Kraftwerk, que influenciaram toda a cultura “tecno” dos anos 80. Anos 80 cujos corredores clandestinos foram percorridos, na Alemanha, por gente como Palais Schaumburg (de Holger Hiller), Pyrolator, Die Krupps, Der Plan, Einstuerzende Neubauten, Asmus Tietchens, Conrad Schnitzler, Peter Frohmader, Propeller Island, D.A.F., Klaus Krüuger, H.N.A.S., Cranioclast, P16.D4, Peter Schaefer ou Strafe Für Rebellion.
Mas a fatia maior e mais apetecível do bolo estava guardada para os pioneiros que nos anos 70 fizeram a síntese da memória e da melodia pop dos anos 60 (Beatles e Beach Boys) com o romantismo wagneriano, o espaço sideral, o LSD e a tecnologia electrónica (então analógica) mais sofisticada.
Em 1997 assiste-se, finalmente, a um fenómeno que se julgaria impossível há poucos anos: a ressurreição dos grupos clássicos. Os Faust voltam a reunir-se e a gravar (“Rien” e “You Know FaUSt”). Os Amon Düül II regressam igualmente com um novo álbum, “Nada Moonshine”. Os Neu!, de Michael Rother e Klaus Dinger, idem com “Neu!4”. Mais recentemente, os La Neu Düsseldorf (designação um pouco redundante, reconheça-se...) gravaram também um novo disco. O mundo volta a ser dominado (mas alguma vez deixou de o ser?...) pela Alemanha.
O Poprock entrou na guerra entrevistando Stefan Schneider, o homem que manda nos Kreidler e To Rococo Rot, e Jaki Liebzeit, baterista de uma das bandas mais importantes do “krautrock” original, os Can, que os anos 90 agora homenageiam no duplo álbum de remisturas “Sacrilege”, por Brian Eno, The Orb, Sonic Boom e Bruce Gilbert, entre outros. Fornecemos ainda uma discografia e notas sobre os principais intervenientes, bem como alguma bibliografia geral disponível sobre o tema.

GRUPOS E DISCOGRAFIA FUNDAMENTAIS DO ROCK ALEMÃO DOS ANOS 70
Agitation Free
Influenciados pela música árabe no primeiro álbum, “Malesch”, cósmicos no segundo. Com Lutz Albrich, dos Ash Ra Tempel, Michael Honig (futuro Tangerine Dream) e Peter Michael Hamel, “2nd Edition” (1973).
Amon Düül II
Do grupo communal designado por Amon Düül I derivou este n]ucleo dos que sabiam tocar. Rock inclassific]avel, gerado dos piores pesadelos do LSD. Reza a lenda que, nos concertos, cada músico estava sob o efeito de uma droga diferente. Os álbuns reflectem esta mistura de universdos paralelos, alternando longas improvisações anarco-cósmicas com canções surreais. “Yeti” (1970), “Tanz der Lemminge” (1971), “Wolf City” (1972).
Annexus Quam
Oriundos de Düsseldorf. Dos deslumbramentos psicadélicos do primeiro álbum, passaram ao “free jazz”, não menos empanturrado de alucinações, do segundo. “Osmose” (1970), “Bezeihungen” (1972).
Ash Ra Temple / Ashra / Manuel Göttsching
A guitarra eléctrica que veio do espaço por um dos nomes mais importantes da “Kosmische muzik”. Os Ash Ra Tempel eram os meninos bonitos do guru Rolf-Ulrich Kaiser, com as suas “acid jams” apontadas ao infinito. Já só, como Ashra, Göttsching aproximou-se da galáxia de Klaus Schulze, com passagem pela pop, o cinema de Phillipe Garrel e aterragem no minimalismo. “Schwingungen” (1972), “Inventions for Electric Guitar” (1974), “New Age of Earth” (1976).
Can
Mestres do ritual e dos ritmos do corpo. Filhos de Stockhausen, do “fre jazz” e dos Velvet Underground, inventaram a música do espaço interior. No seu caso não faz sentido falar de música “cósmica”, mas sim de “música microcósmica”. O “beat”, enquanto átomo da hipnose. “Monster Movie” (1969), “Tago Mago” (1971), “Ege Bamyasi” (1972), “Future Days” (1973), “Unlimited Edition” (1976).
Cluster
Representam o lado mais experimentalista do “krautrock”. Primeiro chamaram-se Kluster, industriais “avant la lettre”. Joachim Roedelius, o romântico, e Dieter Moebius, o conceptualista, formaram uma das duplas recorrentes da música electrónica alemã das últimas três décadas. Eno e Bowie assumem a sua influência, bem como a geração actual de bandas dos pós-rock. Fizeram trio com Brian Eno. “Cluster” (1972), “Zuckerzeit” (1974), “Cluster & Eno” (1977).
Harmonia
Associação dos Cluster com Michael Rother, dos Neu!, banda da qual exploraram o lado mais electrónico e minimalista. Juntamente com os Neu! Constituem uma referência fundamental do movimento “punk”, pela redução do ritmo a uma batida primordial. “Musik von Harmonia” (1974), “DeLuxw” (1975).
Holger Czukay
Teórico dos Can, congeminou mil estilos e inovações. Com os Technical Space Composers Crew, na colagem de sons concretos e ambientais com fitas de “world music” na reciclagem do “dub”. Com a voz do papa. Com um sintonizador de rádio e um “dictaphone”. O último dos alquimistas. “Cannaxis” (1969), “Movies” (1979).
Faust
Com Frank Zappa e os Henry Cow, um dos nomes que declararam guerra à música pop do século XX. Popularizaram o termo “krautrock” num tema com este nome do álbum “Faust IV”. Na sua música, o paradoxo faz sentido e alógica exige a criação de novas linguagens. Recentemente voltaram a gravar, radicais coko sempre, agora que o tempo finalmente os apanhou. “Faust” (1971), “So Far” (1972), “The Faust Tapes” (1973), “Faust IV” (1973).
Edgar Froese
O guitarrista e líder dos Tangerine Dream experimentou a solo o lado mais acusmático da música do grupo. “Aqua” (1974).
La Düsseldorf
Emblema da cidade, na visão mecanicista do percussionista Klaus Dinger, ex-Kraftwerk e ex-Neu!. “La Düsseldorf” (1976), “Viva” (1978).
Liliental
Supergrupo que juntou Dieter Moebius, dos Cluster, Conny Plank, produtor determinante no desenvolvimento do “krautrock”, Johannes Pappert, saxofonista dos Kraan, e o industrialista Asmus Tietchens. “Liliental” (1978).
Neu!
A máquina de ritmos binários de Klaus Dinger, sempre na sombra do que melhor eclodiu em Düsseldorf, aliada ao melodismo viciante e “easy listening” de Michael Rother. “Neu!” (1972), “Neu! 2” (1973), “Neu! 75” (1975).
Popol Vuh
Florian Fricke foi dos primeiros a levarem o grande “Moog” para dentro de uma catedral, mas depois a descoberta do cristianismo levou o seu piano para o céu. Um dos místicos da música alemã. Compositor de serviço de Werner Herzog. “In Der Garten Pharaos” (1972).
Klaus Schulze
Pai da música cósmica. Tocou bateria nos Psi Free e Tangerine Dream, estudou o catálogo do VCS3 nos Ash Ra Tempel e desapareceu, finalmente, entre os circuitos do sintetizador, abraçado a um busto de Wagner. Há quem adormeça ao escutar os seus “mantras” electrónicos de 30 minutos e quem jure viajar com eles por outras dimensões. “Cyborg” (1973), “Mirage” (1977), “X” (1978).
Kraftwerk
Ralf Hütter e Florian Schneider estiveram sempre um pouco à margem do “krautrock”. Ainda experimentaram o ruído, nos Organisation e nos dois primeiros álbuns, mas com “Autobahn” aboliram a portagem que impedia a livre circulação nas auto-estradas da música de dança do mundo. Depois transformaram-se em robôs e fecharam-se no estúdio Kling Klang, de onde saem de vez em quando para fazerem pontos de ordem à música tecno. “Ohm Sweet Ohm”, “Kraftwerk” (1970), “Kraftwerk 2” (1971), “Ralf & Florian” (1973), “Autobahn” (1974), “The Man Machine” (1978).
Tangerine Dream
Papas da Escola de Berlim. Música onírica, banda sonora das divagações sobre a relatividade de Einstein. A religião dos electrões. Tiraram o ritmo aos Pink Floyd abrindo no seu coração um pulsar. A primeira fase é “free rock” para tripar ao gosto de Julian Cope. Preferimos os espaços mais amplos rasgados pela formação quintessencial dos TD: Edgar Froese, Peter Baumann e Chris Franke. “Zeit” (1972), “Atem” (1973),”Phaedra” (1974), “Rubycon” (1975),
Walter Wegmüller
Wegmüller era um artista e mago cigano que o acaso fez cruzar com Timothy Leary, profeta e ideólogo do LSD, e com a turma inteira dos Cosmic Couriers, numa aldeia suiça onde teve lugar uma das desbundas de ácido de todos os tempos. “Tarot” (que inclui um baralho de Tarot desenhado pelo próprio) reflecte todas as vertentes, virtudes e defeitos dos primeiros anos da “Kosmische Musik”. “Tarot” (1973).
Whithüser & Westrupp
“Acid Folk” que entusiasmou Rolf-Ulrich Kaiser, dando origem ao selo Pilz, subsidiário da “Ohr”, sede de todas as aventuras cósmicas. “Trips und Traume” (1971).
Nota: todos os discos disponíevis em CD.
À atenção dos curiosos
: Achim Reichel, Brainticket, Bröselmaschine, Cosmic Jokers, Cozmic Corridors, Joachim H. Ehrig (Eroc), Embryo, Emtidi, Eulenspygel, ExMagma (naõ confundir com os franceses Magma), Gila, Golem, Sergius Gollowin, Grobschnitt, Guru Guru, Hoelderlin, Kraan, Mythos, Novalis, Out of Focus, Parzival, Pell Mell, Phantom Band, Release Music Orchestra, Sand, Thirsty Moon, Wallenstein, Xhol, Yatha Sidhra.
BIBLIOGRAFIA
“Krautrocksampler: One Head’s Guide to the Great Kosmische Musik – 1968 Onwards” – Julian Cope (ed. Head Heritage). Manual.
Um dos responsáveis pelo recrudescimento de interesse pelo “krautrock”. O entusiasmo e a linguagem de verdadeiro apreciador com que Cope nos descreve as suas descobertas contagiam. Alguma falta de rigor é compensada pelas histórias deliciosas que se lêem como um romance, por exemplo todo o episódio do retiro suiço com Timothy Leary ou a paranóia de poder de Rolf-Ulrich Kaiser (“the kaiser”, como a dada altura lhe chama Cope), patrão e mentor dos Cosmic Couriers. Na discografia seleccionada é evidente o gosto do “acid head” pelas obras mais “tripantes” (mas também mais desconjuntadas...) do “krautrock”, privilegiando, quase sempre, os primeiros álbuns de cada artista, de que são paradigmáticos a inclusão da estreia dos Tangerine Dream, a profusão de discos dos Ash Ra Tempel das “acid jams” ou a totalidade da dispensável série dos Cosmic Couriers.
“Cosmic Dreams At Play – A Guide to German Progressive and Electronic Music”, de Dag Erik Asbjomsen (ed. Borderline Productions). Enciclopédia.
Notas informativas extensas, embora demasiado subjectivas e reveladoras da propensão do autor para valorizar discos pouco representativos. Vê-se que o autor aprecia acima de tudo o progressivo mais lamechas, na área do “sinfónico”... Discografias completas. A quantidade de entradas é razoável embora haja lacunas. Uma obra que perde, sobretudo, por um grafismo e “lettering” infelizes, como consequência de ser mais uma compilação de um amador do que um trabalho metódico. Reprodução, a cores e a preto e branco, de capas escolhidas de forma aleatória, com pouca atenção ao grafismo geral da obra.
“The Crack In The Cosmic Egg – Encyclopedia of Krautrock, Kosmische Musik & Other Progressive, Experimental & Electronic Musics from Germany”, de Steve Freeman e Alan Freeman (ed. Audion Publications). Enciclopédia.
O melhor e mais completo livro sobre “krautrock” editado até à data, ao contrário dos outros dois, estendendo-se pelos anos 80 e 90. Organizado metodicamente, inclui um mapa da Alemanha com a sinalização das cidades onde tiveram origem alguns dos grupos mais importantes, àrvores genealógicas, um “top-100”, editoras, tópicos gerias e um glossário. As discografias são acompanhadas, para cada álbum, pela lista completa dos músicos participantes. Os textos são informativos, rigorosos e excitam a curiosidade. A selecção de capas, todas com reprodução a cores, é, por si só, um prazer à parte.

Máquinas Em Movimento
Entrevista com Stefan Schneider
Kreidler e To Rococo Rot são dois projectos liderados por Stefan Schneider, um natural de Düsseldorf que transportou para os anos 90 os sons mecânicos do “Krautrock” da década de 70 com berço nessa cidade: Kraftwerk, Neu! e La Düsseldorf. Vizinho de Klaus Dinger, denominador comum destes três grupos, Stefan Schneider faz o ponto da situação.
Apontados como representantes da ala mais electrónica e radical do “pós-rock”, os To Rococo Rot gravaram até à data dois álbuns, o último dos quais, distribuído em Portugal pela Música Alternativa, tem por título “Veiculo”. Mas Stefan Schneider, com quem o PÚBLICO conversou, concentra a maior parte do seu tempo nos Kreidler, cujo novo álbum, intitulado “Weekend” (distribuição Megamúsica), embora igualmente apaixonado pelos sintetizadores e pelos ritmos maquinais, oferece canções para cantarolar num piquenique do fim dos tempos.
FM – Por que motivo reparte a sua actividade por duas bandas que até nem são radicalmente diferentes uma da outra?
SS – São bastante diferentes. A música dos To Rococo Rot (TRR) é muito mais experimental e minimalista, enquanto os Kreidler se movimentam numa área pop, com canções estruturadas. Os TRR estão mais próximos da electrónica e da tecno.
FM – Segue métodos de composição diferentes em cada um dos grupos?
SS – Sim, até porque os Kreidler são a formação mais estável e os seus membros vivem todos na mesma cidade, em Düsseldorf. Ensaiamos e realizamos espectáculos com assiduidade. Com os TRR, isso é impossível, uma vez que os dois outros elementos vivem em Berlim. Sempre que queremos fazer alguma coisa juntos, sou obrigado a deslocar-me lá.
FM – Tanto os Kreidler como os To Rococo Rot fazem música exclusivamente intrumental...
SS – Não é bem assim, nos Kreidler integrámos algumas letras no primeiro álbum. O segundo, “Weekend”, é efectivamente instrumental, mas pensamos regressar aos textos no próximo.
FM – Vive em Düsseldorf, cidade que deu origem, nos anos 70, a grupos como os Kraftwerk, Neu! e La Düsseldorf. A cidade tem alguma mística especial?
SS – Há com certeza uma ligação. Mas não queremos fazer nenhum resumo dessa tradição. Essa ligação sente-se mais pela cidade em si, pelo seu ritmo. Há nela uma indústria da moda, uma proliferação de “Design” artístico, tudo isso nos influencia, bem como a forma de relacionamento entre as pessoas, a forma como se vestem e se apresentam. Existe um nível de vida bastante caro. Em Berlim é diferente, todas as pessoas têm um emprego, é difícil sobreviver aí de outra forma. Continuam a chegar a Berlim pessoas provenientes de outras cidades da Alemanha, porque continua a ser uma cidade atraente, ideal para quem não pretenda fazer coisas especiais.
FM – Na ficha técnica de “Weekend”, dirige um agradecimento a Klaus Dinger, que pertenceu àquelas três bandas. Assume a sua influência?
SS – Klaus é meu vizinho. Às vezes vem ter comigo, de bicicleta, para conversarmos um bocado. Há cerca de dois anos convidou-nos para ir ao estúdio que tem em sua casa. Gravámos algumas coisas juntos. E em Novembro do ano passado fez dosi espectáculos no Japão com o baterista e teclista dos Kreidler.
FM – O que acha da música dos Cluster, outra das bandas dos anos 70 que marca, cada vez mais, toda uma geração de novas bandas de música electrónica?
SS – Os discos dos Cluster são muito difíceis de adquirir na Alemanha. Pura e simplesmente não se encontram nas lojas! Quando muito, existem os discos mais recentes, editados em CD, mas estes destinam-se mais a um tipo de público apreciador de música ambiental. Conheço alguns dos seus trabalhos mais antigos, como “Zuckerzeit”, um álbum impressionante. O problema é que há hoje muita gente a fazer deste tipo de música sem nunca a ter ouvido. As pessoas lêem os artigos nas revistas, mas não têm possibilidade de ouvir os discos! Penso que deve acontecer o mesmo na Inglaterra ou nos Estados Unidos, onde se encontram discos dos Kraftwerk e pouco mais...
FM – O fenómeno é algo mais que uma moda passageira?
SS – Penso que os jovens estão a começar a explorar uma música, feita há 20 ou 25 anos, que tem muitos pontos de contacto com a música que se faz hoje em dia. Por isso faz sentido recuar até esse período. Pessoalmente, acho fantásticos como os dois primeiros dos Neu! bem como toda a música dos Kraftwerk.
FM – Os Can...?
SS - Fazem parte de outro universo. Gosto imenso de “Tago Mago”, mas têm outras coisas que acho extremamente aborrecidas.
FM – Existe hoje algo parecido com um movimento organizado de música electrónica feita na Alemanha?
SS – Bem, estão a aparecer alguns nomes novos e interessantes, como os Mike Ink, que fazem música electrónica e minimal para dançar. Também apafreceu recentemente uma nova revista de música chamada “Art Attack”, com uma loja de discos e uma editora própria, a Profane. Em Berlim, há os Oval (N.E. – fizeram remisturas dos Tortoise)...
FM – E o circuito da música de dança?
SS – Aqui em Düsseldorf existem clubes de “tecno” que passam a música dos Kreidler, mas são sítios não comerciais, nada que se pareça com uma “rave”. Em Colónia, os clubes são maiores e as pessoas podem sentar-se a ouvir música, conversar ou ver filmes. Claro que os nossos discos podem ser passados nas pistas de dança, mas ela não é, de forma alguma, música de dança convencional. O que distingue o que está a acontecer por aqui é a produção de música electrónica que não se destina a ser dançada mas a ser ouvida em casa, embora também não seja nada parecido com música ambiental.
FM – Existem pontos de contacto entre alguma das suas bandas e as bandas de Chicago como os Ui e Tortoise?
SS – Os TRR gravam na mesma editora dos Tortoise, a City Slang. Gosto de alguns temas deles, com os quais os TRR podem até ter algumas semelhanças. Mas só no nosso primeiro álbum, no qual também usávamos equipamento analógico, assim como baixo e bateria convencionais. “Veiculo” vai numa direcção diferente, no sentido da electrónica total.
FM – Uma electrónica fria e minimalista. A música dos novos homens-máquina do fim do milénio?
SS – Sim. O “robot” que tocará com os TRR no final do milénio não vai acabar numa grande explosão, com um clamor enorme, mas sim quebrar-se em pequenos pedaços. O fim será muito calmo...

Canibalismos
Jaki Liebzeit recorda os Can a propósito de álbum de remisturas
Os Can foram um dos grupos mais importantes da cena musical alemã dos anos 70. A sua música, marcada pela espontaneidade e pela inovação, tinha a força de um ritual. Muito por culpa da batida hipnótica do baterista Jaki Liebzeit, um dos poucos “homens-máquina” de carne e osso. Entre histórias de vómitos, vodu e futebol, uma certeza: “Os Can nunca foram um grupo de ‘krautrock’!”
Admirador dos Kraftwerk e dos Einstuerzende Neubauten, sem nunca ter ouvido os Faust, Jaki Liebzeit compara a música dos Can a um jogo de futebol. As regras são conhecidas mas, iniciado o jogo, nunca se sabe o que vai acontecer. É esse sortilégio da incerteza e a precisão com que dominaram o acaso que fizeram a mística do grupo. Liebzeit desfez, diante do PÚBLICO, alguma dessa magia: “A música dos Can tornou-se inofensiva.”
FM – Nos Can, ficou célebre a batida metronómica da sua bateria. Tratou-se de uma reacção contra as suas raízes no free jazz?
JL – Em parte, sim. Toquei free jazz durante um ano, mas não me sentia satisfeito, sentia necessidade de um ritmo que permanecesse constante. Foi nessa altura que tomei a decisão de tocar d euma maneir amais “monótona”.
FM – Desenvolveu alguma técnica especial?
JL – De início, tocava oa mesmo tempo que uma caixa-de-ritmos. Ao fim de 20 anos, posso dizer que consigo tocar como uma máquina.
FM – O efeito que a sua bateria provocava era equivalente ao das batidas electrónicas da actual música tecno?
JL – É a mesma coisa. Estou actualmente a tocar bateria convencional numa espécie de tecno, ao lado de dois jovens músicos, em computadores de ritmo e sintetizadores. Vai sair em breve um disco.
FM – Nos anos 60 e 70 um concerto dos Can podia estender-se por sete ou oito horas...
JL – Acontecia, de facto, quando o público e o ambiente eram propícios. era um divertimento! Em todos os concertos tocávamos sempre de uma forma espontânea, não havia qualquer alinhamento prévio de canções, como acontece hoje. Às vezes tocávamos um único tema durante meia hora ou mais. Era tudo bastante improvisado, talvez “improvisado” não seja o termo indicado, mas essa tal espontaneidade. Como se conversássemos ou discutíssemos em palco. Podemos compara com um jogo de futebol. As regras do jogo são conhecidas, mas, antes do jogo começar, nunca se sabe o que irá acontecer. era esse o nosso sistema. O fundamental era o modo como fazíamos música no próprio instante. Ainda aqui há semelhanças com a cena tecno. Apesar de o som não ser o mesmo, existe uma idêntica abordagem na forma de criação, com a dispensa da escrita. Os Can nunca escreveram uma única canção. a música desenvolvia-se toda no estúdio, a partir de uma ideia qualquer.
FM - As pesoas costumavam falar de uma comunicação telepática entre os cinco membros do grupo. Era assim tão profuno?
JL - Não era telepatia, mas, na realidade, a partir de certa altura, a comunicação entre nós era tão boa que podia dar de facto essa impressão...
FM - Corria também uma estranha história acerca de certos ritmos vodu que lhe teriam sido ensindos por um certo personagem, mas que não podiam ser tocados ao vivo sem autorização, sob pena do infractor ser executado...
JL - Essa é outra história, mas que nunca aconteceu com os Can. A personagem de que fala era um tocador cubano de congas que veio para a América nos anos 50, chamado Chano Pozo. A mim nunca me ensinou nada...
FM - Mas há quem jure que você era capaz, num concerto, de voluntariamente fazer vomitar qualquer elemento da assistência...
JL - Mas isso pode acontecer com qualquer músico, se tocar muito mal! [Risos.] Bem, fiz de facto algumas experiências, quando tocava free jazz, mas as pessoas vomitavam por causa do som péssimo, penso eu...
FM - O LSD ajudou a criar a música dos Can?
JL - Não. A música é que devia parecer de tal modo estranha a certas pessoas que as levava a pensar que andávamos a tomar LSD a toda a hora. Admito ter tentado algumas vezes, mas sempre sem qualquer relação com a música. Música e drogas não combinam. A droga não faz tocar melhor, a única coisa em que pode melhorar aexecução é o que vem de entro do músico. A droga excita e revela apenas o lado cerebral.
FM - Tantas histórias em redor do grupo apenas comprovam que este se tornou uma lenda, não é verdade?
JL - Sim, mas apenas na maneira como fazíamos música. É isso que interessa aos jovens, saberem que não é preciso escrever primeiro, como aconteceu oa longo dos últimos séculos. Depois, nós e os Kraftwerk fomos os primeiros grupos a ter os nossos próprios estúdios, no nosso caso, um pequeno castelo nos arredores de Colónia. Mais tarde, mudámo-nos para uma sala de cinema.
FM - Até que ponto a música étnica influenciou a sua forma de tocar?
JL - Tirei, evidentemente, imensas ideias da música indiana, da árabe ou da espanhola. Vivi durante algum tempo em Barcelona, onde ouvia flamenco. Impressionou-me, pelso dançarinos, não pela dança em si, pelo modo como conseguem tocar o ritmo com os pés no chão, como se fosse uma bateria.
FM - O que ram exactamente as “Ethnological Forgery Series” (“séries de falsificação etnológica”) que apareceram nos álbuns “Limited” e “Unlimited Edition”?
JL - Foi mais uma piada. Sentávamo-nos a tocar umas músicas estranhas, em instrumentos acústicos, e acontecia que, por vezes, acabavam por soar a música étnica...
FM - Sentiu que a entrada de Rosko Gee e Reebop Kwaku Bah para os Can, em 1977, significavam o fim do grupo?
JL - Sim, mas não por causa desses músicos. Acabar, era apenas uma questão de tempo. Um grupo tem um tempo aproximado de vida, em termos criativos, de cerca de sete anos. Depois e sete, oito, na melhor das hipóteses, dez anos, a criatividade e a tensão entre os músicos desaparecem. Toda a gente conhece toda a gente. É como estar casado. Nos sete primeiros anos é bom, epois as pessoas divorciam-se. Os Can deixaram de tocar juntos, mas continuam a ser amigos, talvez até agora mais do que antes.
FM - Com qual dos dois vocalistas gostou mais de tocar, com Malcolm Mooney ou Damo Suzuki?
JL - Eram ambos excelentes músicos. Mooney trouxe para o grupo uma influência americana. Suzuki era mais caótico, mas também mais espontâneo, inventava as palavras enquanto cantava. Por exemplo, num tema como “Blue bag”, ele simplesmente viu, no chão do estúdio, uns sacos de lixo azuis e isso foi suficiente para fazer deles uma letra...
FM - Depois dos Can, envolveu-se noutros projectos e com outros músicos. Peço-lhe um comentário breve sobre cada um. Michael Rother...
JL - Fez parte de uma espécie d ecomunidade que existia em Düsseldorf, em torno dos Kraftwerk. Toquei com ele, como com muita outra gente, em estúdio, desde os Eurythmics, no início da sua carreira, aos Depeche Mode...
FM - Phantom Band...
JL - Um projecto breve que durou apenas dois anos. O conceito que esteve na sua origem nunca ficou bem claro.
FM - Phew...
JL - Gravei dois discos com ela. O primeiro, initulado “Phew”, com Holger Czukay e Conny Plank, que, entretanto, já morreu. O segundo, “Our Likeness”, com membros dos Einstuerzende Neubauten, um dos grupos mais loucos da Alemanha.
FM - Jah Wobble...
JL - Um dos melhores baixistas que encontrei, sem dúvida um dos meus favoritos. Por norma, não gosto muito de tocar com baixistas, mas Jah é dos poucos com verdadeiro sentido rímico. Fizemos alguns concertos juntos, no ano passado. Há uns meses tocámos juntos em Inglaterra, com a Orquestra Filarmónica de Liverpool.
FM - O novo álbum de remisturas de temas dos Can, “Sacrilege”, o que lhe parece? Concorda com Irmin Schmidt quando ele diz que, no fundo, é apenas o mais recente desenvolvimento do “work in progress”, que foi, desde sempre, toda a música do grupo?
JL - Concordo. Se tivéssemos continuado a tocar juntos, talvez chegássemos a fazer algo parecido com a música deste disco, provavelmente até mais cedo... O espírito dos Can está completamente presente no álbum: uma espécie de liberdade.
FM - Os Can estão maispróximos, hoje, do seu tempo, do que estavam há 30 anos?
JL - Evidentemente. Nos anos 70, era mais difícil às pessoas assimilarem e aceitarem um som que era capaz de lhes soar um bocado alucinado. Quando ouvimos, hoje, a música dos Can, não soa, de modo algum, louca, mas como perfeitamente normal. Nos primeiros tempos do grupo, foi difícil arranjar um contrato para gravar. Achavam que era uma música demasiado excessiva. Hoje, pode-se considerá-la bastanre inofensiva...
FM - O que pensa da actual onda de interesse em torno do chamado “krautrock”?
JL - Grande parte deve-se oa interesse suscitado plo livro de Julian Cope [“Krautrocksampler”, citado na bibliografia deste dossier”]. “Krautrock” que é, de resto, uma expressão bastante infeliz, inventada por um inglês maluco. “Krauts” era como chamavam aos alemães durante a II Guerra Mundial. O mais estranho é que os próprios alemães acabaram por aceitar o termo. A verdade é que os Can nunca foram uma banda de krautrock, pela simples razão de que nunca foram uma banda de rock!

link útil: http://fmstereo.awardspace.com/




19.4.07

Os Guru(s) Guru(s) do Psicadelismo



30 anos de...
Guru Guru
Celebração da história da lendária banda de krautrock por Alan Freeman
Texto publicado na Audion - ISSUE 40 / Agosto 1998
link útil no fim do post
Entre as mais inovadoras, prolíficas e seminais bandas a emergir do Krautrock, os Guru Guru desde há muito que desafiam e espantam quem tente seguir as suas edições. E, para aqueles que pretendam seguir todos os passos e projectos conexos tuido se torna numa matriz imensa de música que por si própria poderia definir o Krautrock como uma entidade por direito próprio. Explorando a história dos Guru Guru entraremos quase todo o tipo de música progressiva e/ou experimental possível, desde o free-jazz até música verdadeiramente esquisita, psicadélica-ácida, passando por sam,ba-jazz-rock e música pop off-beat. Está tudo lá! Os Guru Guru têm sempre algo para quem quer que seja – a menos que se goste apenas de música convencional e comercial, que os Guru Guru nunca (bem... raramente) fizeram!


Quando lerem estas linhas, os Guru Guru estarão a celebrar o seu 30º aniversário como banda, como muma série de concertos e super-sessões especiais em festivais. Ouvi os Guru Guru em gravações ao vivo em várias das suas encarnações, desde os finais dos anos 70 até aos anos 80, apesar de nunca ter conseguido vê-los ao vivo em carne e osso. As finanças e o tempo disponível nunca se combinaram de modo a permitir tal desiderato. É realmente irónico, que onde os Guru Guru são melhor conhecidos (assim o creio) por erstes dias, na Grã-Bretanha, nunca tocaram ao vivo. Penso que, novamente, tal terá aver com tempo disponível e finanças. Mesmo numa União Europeia aberta tudo pode ir abaixo devido a factores limitativos de viagens e organização – e da falta de alguém sugficientemente confiante para investir o seu dinheiro em tal aventura.

Ok, então para nos actualizar em certos assuntos, e para sacarmos coisas, da perspectuiva de Mani Neumeier (como leader dos Guru Guru desde há 25 anos) decidi que o melhor seria contactá-lo e fazer uma espécie de entrevista. Isso ajudaria também a preencher alguns dos pontos mais nebulosos da sua história. A entrevista abaixo é compilada de uma troca de mensagens escritas (fax) e uma conversa telefónuica com Mani Neumeier (no passado Junho), na qual ele levanta alguns pontos muito interessantes, as duas misturadas numa lógica de conversação cronológica.

Entrevista Mani Neumeier

É imperativo celebrar os 30 anos dos Gjuru Guru. Que nem sempre estiveram activos, penso?
MN – Foi o único grupo germânico que foi fundado em 1968 e esteve sempre activo até agora. Todos os anos tivemos 25 a 30 concertos! Eu não toquei em mais lado nenhum (ou tive qualquer outro trabalho) até 1982.

Sempre tive a impressão que os Guru Guru se foram separando e se foram reformando ao longo dos anos, com algumas grandes interrupções de actividade.
MN – No que respeita aos discos, sim, isso pode transparecer. Mas sempre mantivemos a actividade.

Como analisa o desenvolvimento dos Guru Guru ao longo dos anos? Guru Guru Groove, Guru Guru, Guru Guru Sun Band, etc.
MN – No início (em 1968) viemos do free-jazz, indo na direcção do Hendrix. Apanhámos influências do Rock’n’Roll (1974), apanhámos influências do funk, ethno/world-music, espacial – tudo. Fizemos montes de actuações de 1976 a 1980. E, além disso, fomos comuna musical que viveu mais tempo junta, de 1971 a 1982.

Era Uli que controlava, no período inicial?
MN – Ele queria que fizéssemos a mesma coisa para sempre. Uli dirá, provavelmente, outra coisa, mas no fim tivémos que lhe pedir para partir. Ele queria que nós fizéssemos isto e aquilo, sempre com ele no controlo. Nós não podíamos aceder.

Assim, os Guu Guru mudaram com as modas do tempo?
MN - Tivémos que fazer isso, para podermos ganhar para viver. Mudámos com o tempo, mas mantendo-nos sempre a fazer a “nossa coisa”.

Vocês vieram do underground, via jazz e música pop a voltaram de novo ao início, com os Guru Guru! mesmo na fase mais comercial havia ainda alguma experimentação na vossa música.
MN - Nós apenas tentámos quase tudo o que era possível, como combinar estilos de música, como nos mantermos populares - e sobreviver - e ainda nos divertimos imenso com isso.

É difícil estar no controlo dos Guru Guru sendo um baterista?
MN - Não é muito fácil, explicar aos músicos as ideias e as cnações sem sabermos ler as notas. Mas agora é melhor, poque encontrei maneiras de o fazer e sou aceite.

Nos anos 80 trabalhou com outras bandas: Moebius & Plank, Spacebox, L.S. Bearforce, Radio Noisz Ensemble, etc. Algum pensamento?
MN - O LP SERO SET dos Moebius-Plank-Neumeier é uma lenda, kilómetros e anos à frente de tudo. Mas não era uma banda para tocar ao vivo. Ainda trabalho com Möbi! Os L.S. Bearfoce e os Radio Noisz Ensemble foram apenas dois discos e muito divertimento. Bandas bem reais eram: (1986-1989) Unknownmix e (1988-91) Blauer Hirsch-Cyberpunk (ambas Suiças) com 1 LP e 1 CD.

Apenas recentemente ouvi os Unknownmix, e descobri que tinha trabalhado com eles. Acerca dos L.S. Bearforce, para mim esse era o espírito dos velhos Guru Guru revitalizado nos anos 80.
MN - Lembro que os L.S. Bearforce foram apenas um dia da minha vida ou quase isso, e não eram muito bons músicos, excepto um, Edgar Hofman.

E acerca dos seus trabalhos a solo?
MN - Os meus trabalhos a solo começaram em 1981, quando tive o desejo de fazer música ao vivo sem ajuda de outros músicos. Escondi-me em casa por semanas, com todos os instrumentos à minha volta e tentei tudo (bateria, percussão, sintetizadores, etc.) No primeiro concerto a solo os meus joelhos tremiam, mas as pessoas gostaram. Assim, desenvolvi esta faceta, até aos dias de hoje.

E os Tiere Der Nacht? Radicais como os primeiros Guru Guru?
MN - Este é o meu grupo favorito. Nunca encontrei um guitarrista como o Luigi Archetti, ele é um grande improvisador - radical, melódico, ruidoso. E fazemos toda a música no momento - não há programações. É um bocado como os Guru Guru iniciais, mas sabemos tocar melhor. E há muito divertimento e poder.

WAH WAH foi uma grande surpresa. Uma mudança fresca e espantosa.
MN - É um bom CD, ainda gosto dele. Foi a primeira vez que os Guru Guru trabalharam com o engenheiro Chris Lietz e com o Jürgen Engler dos Die Krupps.

MOSHI MOSHI resultou de uma viagem ao Japão?
MN - MOSHI MOSHI é dedicado aos nossos fans japoneses, e também uma viagem global. É uma viagem através de diferentes estilos e grooves dos Guru Guru. Na primeira faixa e em Koto podes ouvir a influência japonesa. Quisemos dizer com este CD “Obrigado” pelos entimentos calorosos e entusiásticos que tivemos na nossa digressão de 1996 ao Japão.

E acerca da Damo’s Network?
MN - Damo telefonou-me em Março de 1997 “Olá Mani - daqui é Damo Suzuki. Podes vir em Maio ao Japão?” E eu disse, espontaneamente “Sim2. Tocámos uma noite juntos em Colónia - para ver como funcionava - de uma forma totalmente improvisada. É o que eu gosto. Foi uma coisa bonita encontrar Michael Karoli de novo, 25 anos depois. E a música fuiu bem. Assim, fomos até ao Japão por 10 dias e realizámos 3 belos concertos, que gravámos em CD.

Você esteve sempre entre os bateristas mais criativos.
MN - Obrigado. E ainda gosto de experimentar, tentar novas coisas, novos sons, novas combinações.

Você inventou os seus próprios instrumentos. Um dos primeiros mais notados foi o “Mani tom” - o que era isso? Tem mais algumas invenções?
MN - O “Mani tom” foi uma invenção minha para variar o pitch de um tom, soprando-lhe ar para dentro (com um tubo e um pedal). Um outro foi o “Maniscope”, feito de partes de metal e alumínio. Soa como uma marimba profundamente electrificada.

Espanta-me que consiga ainda solar durante mais de 20 minutos, e constantemente (como na Damo’s Network), sem parar! Fica cansado?
MN - Capto tanta energia cósmica (ou que quer que seja) de tocar bateria, e das pessoas, que consigo ser constante e bombar durante muito tempo. Claro que fico cansado (depois de 40-60 minutos) mas antes abrando, mudo o ritmo ou páro!

Posso acreditar que a próxima Space Explosion pode contar com a presença de Damo e Karoli?
MN - O Michael Karoli juntar-se-à a nós. Mas não penso que o Damo goste de gravar em estúdios - ele precisa de atmosfera exterior.

Que pensa do boom recente no que toca ao interesse pelo Krautrock?
MN - Até recentemente, não apercebi nada desse interesse.
O Uli disse-me uma vez que os velhos Guru Guru vendem mais agora do que na altura. Penso que esta música estva “tão à frente” no seu tempo e agora as pessoas estão a ser apanhadas por ela.
Penso que as pessoas mais novas repararam que esta música é muito colorida e possui grande liberdade e fantasia. Tantas bandas tiram ideias do Krautrock. Espero que o boom recente torne possível trazer de volta a única peça que não é de museu Krautrock, a banda Guru Guru, para tocar ao vivo em digressão por Inglaterra. Alguma ideia?

Parece que está sempre a trabalhar em muitos campos, simultaneamente, isto é, recentemente trabalhou com (a pianista de free-jazz) Irene Schweizer de novo. Foi a primeira vez desde os anos 60? Ou isto é uma coisa que é para manter que nós não sabíamos?
MN - Eu não toquei com a Irene entre 1968 e 1990. Então demos concertos no Japão em 1990-92, e depois em 1994 (na Alemanha e na Suiça) e em Abril de 1998 no Japãp.

Que planos tem para o futuro?
MN - Celebramos os 30 anos dos Guru Guru no festival de Finkenbach, em 24 de Julho, com mestres ex-Guru tais com Ax Genrich, Hans Refert, Ingo Bishof, também o Damo, Karoli e outros. Gravaremos tudo e faremos um duplo CD. Há um nvo CD “Terra Amphibia” (Captain Trip Records, Tokyo). Eu irei com a Damo Network em digressão na Grã-Bretanha (11 a 15 de Setembro). Com os Guru Guru, haverá actuações em festivais e uma digressão no Outono. Darei concertos a solo ma Alemanha e na Suiça, e tamb´m com os Tiere Der Nacht. Tocarei com Irene Schweizer num festival de jazz em Deidesheim. E irei, de certeza, voltar ao Japão.

O entusiasmo de Mani sobre tudo o que aconteceu com os Guru Guru, e para além deles, mostra um comprometimento para com a banda que muito poucas pessoas se podem orgulhar. Mani continua com um carácter forte, dedicado, até musicalmente idealista, no sentido que vai a todas - só para ver se resulta - se consegue ter alguma diversão com isso. E isso é tudo o que importa aos Guru Guru, parece, divertir-se!
Esta evolução dos Guru Guru foi o que os manteve vivos. Contudo, não ficaria surpreendido se, tal como muitas outras pessoas, a minha reacção inicial aos Guru Guru tivesse sido comum a muita gente. Fiquei perplexo! Primeiro, o meu irmão Steve comprou uma compilação THIS IS GURU GURU retirada dos seus terceiro e quarto álbuns. A faixa Banana Flip, ouvida na compilação BRAIN HISTORY OF GERMAN ROCK, não gostei de todo! Mas, passei-me realmente com o fogo dos Mahavishnu de DANCE OF THE FLAMES. mesmo o duplo de 1978 LIVE continha alguma música espantosa, apesar de que o mais mágico dos Guru Guru foi o primeiro LP para a Ohr e a “acid trip” excêntrica KANGURU. Os Guru Guru dos primeiros tempos eram nirvana!

Aqueles primeiros tempos foram quando Uli Trepte estava ao leme. Como se sabe, Uli saiu logo depois, após a gravação do terceiro álbum, KANGURU, desejando perseguir a sua própria visão e depois entrando para movos projectos. A sua “trip” inovadora correu em paralelo aos Guru Guru, e ele encontra-se em actividade ainda hoje. A realização deste artigo pareceu-me o ideal para ouvir o seu lado da história, e descobrir o que tem feito nestes últimos 25 anos.

Entrevista com Uli Trepte

A - Uli, você ajudou a definir o som dos Guru Guru nos primeiros tempos. Como vê a sua participação no estabelecimento daquilo que se tornou uma lenda?

UT - A coisa mais importante foi a química natural e perfeita entre o Mani e eu quando tocávamos juntos. Essa foi a razão principal para tudo o que aconteceu a nível musical fosse cheio de energia e fantasia. Mani nunca se apercebeu disso. Eu olho para mim próprio como o cérebro musical dos Guru Guru dos primeiros tempos. Definitivamente.
O conceito musical foi desenvolvido praticamente só por mim. Assim, toda a composição musical e as letras dos primeiros dois discos, e cerca de 80% do terceiro, foi feita por mim. Foi a minha influência que transformou o estilo free e anárquico do princípio nas macroformas mais definidas com uma tonalidade modal menor distinta, uma alteração que refinei constantemente.

A - Como vê o desenvolvimento dos Guru Guru ao longo dos anos? À medida que você foi trabalhando com os Neu!, Faust, Spacebox, etc.

UT - Na minha opinião, depois de eu sair, os Guru Guru deterioraram-se constantemente tornando-se no mediano grupo rock que, desde 1980, apenas sobreviveu devido às piadas do Mani no palco e ao uso de efeitos, e ao estado cada vez menos crítico da audiência.

O lugar de baixista é um bom foco para se ser um líder de uma banda inovadora?
No meu ponto de vista musical: Sim! O que siginifica: enquanto o baixo na música tradicional raramente tem uma chance de obter qualquer saliência, no meu conceito a guitarra baixo é o instrumento mais importante porque carrega os temas/motivos musicais, e todos os outros instrumentos têm de se relacionar com ele.

A - Você veio do jazz para o krautrock e depois regressou ao jazz, sem realmente se comprometer com nenhum deles.

UT - Realmente, tendo começado no baixo-duplo com o jazz (free-jazz para ser exacto), tendo mudado em 1968 para a guitarra baixo fazendo um tipo de free-rock, tocando o assim chamado krautrock na primeira metade dos anos 70, descobri as fundações do meu conceito musical de uma autêntica música europeia eléctrica tocada ao vivo (improvisação colectiva, estrutura ciclica, dominda pelos tons menores, harmónico-modal), que desenvolvi desde então, mais e mais, e isso cristalizou-se em muitas formas diferentes ao longo do tempo.

A - E acerca dos Kickbit Information? Creio que lançou um CD?

UT - A Kickbit Information foi uma tentativa de continuar o espírito do conceito básico que estva subjacente aos Guru Guru quando eu estava com eles. O baterista foi o Carsten Bohn (ex-Frumpy) e numa formação de quinteto tocávamos duma forma maravilhosamente livre numa espécie de instrumentais krautrock psicadélico. O seu poder está claramente documentado no CD que saiu agora.

A - E os Spacebox?

UT - Com a Spacebox trouxe o meu conceito musical, pela primeira vez, para a totalidade. Ainda regulado fortemente pelo Rock, com a Spacebox eu fiz uma música que se desenvolve com uma música eléctricaccom “beat” (como oposição à música electrónica), recusando o uso do domínio harmonia funcional tradicional e também da atonalidade, mas usando antes a harmonia modal. Isso permitiu uma improvisação colectiva sintonizada baseada no motivo básico, expandindo-o até à destruição do tradicional formato canção, trazendo para plano principal formas largamente instrumentais onde as vocalizações não lideravam mas eram parte do todo, usando loops e sobretons (fornecidos por gravadores de cassetes e de fita) e até rádios, e distorcendo a voz de forma extrema. Antecipámos, de certa forma, a estrutura musical que emergiu desde os finais dos anos 80, com toda a sua estética “noise” ou práticas de “sampling”.

A - Então, sempre redefiniu o seu som. O seu mais recnete trabalho foi um jazz desmaiado e um híbrido blues, mas ainda com algumas daquelas marcas incofundíveis dos Guru Guru / Spacebox.

UT- Eu definiria o meu trabalho mais recente como uma música com o “feeling” jaz, a estética de som rock, e as formas da música pré-clássica (também a minha estrutura constante modal menor - o blues - sendo outra coisa). É a redução do meu conceito às suas raízes mais básicas. Não usando processadores de som electrónicos nem teclados, ou conjuntos de bateria convencionais, nem fontes de harmónicos, ela desenvolve-se até uma música geralmente instrumental, orgânica, improvisada, multifónica, com uma estrutura, batida e tonalidade que não é guiada pelo “swing” nem pelo “rock”, mas pelo “groove” - a música do futuro.

A- Tem alguns novos álbuns/projectos iminentes? Que planos tem para o futuro?

UT - Desde 1966 que estou a construir um grupo que traz o meu conceito até ao seu ponto básico. Gravei e misturei material para um CD que, felizmente, aparecerá no próximo ano. Ele mostrará claramente do que se trata. O nome do quinteto é Uli Trepte’s Move Groove, e conta com Edgar Hofmann nos clarinetes e flautas, Hans Hartmann no Chapman Stick, um tocador de djembe feminina, e um vocalista também do sexo feminino. O único plano que tenho, e sempre tive, é continuar com a minha música.

A - E assim se vê. A atitude de Uli foi sempre esta de explorador avantgard, de radical underground, de cowboy solitário, partindo das suas raízes e perseguindo a sua visã muito própria, não importa o que a moda dite. Assim, apesar da sua enorme produtividade ao longo dos anos com bandas variadas, e como inovador por direito próprio, Uli é ainda o virtualmente desconhecido perdedor. E, com base nos seus mais recentes e mais melodiosos trabalhos, e que ele continua a perseguir a sua visão, eu creio que ele continua satisfeito com isso e assim prosseguirá.

A HISTÓRIA DOS GURU GURU
As raízes dos Guru Guru podem ser encontradas em meados dos anos 60, quando Mani Neumeier (bateria) e Uli Trepte (baixo) se envolveram na cena “free jazz”. De forma mais importante, o duo juntou-se ao Irene Schweizer Trio. O que fizeram com a Irene ao leme pode ter sido revolucionário para o jazz da altura, apesar de não dar uma ideia do que Uli e Mani fariam com a sua própria banda.
Com um grupo de músicos mais alargado, o projecto de Irene JAZZ MEETS INDIA mostrou novas possibilidades nesse tipo de música, e é um excelente exemplo de fusão Indo-jazz. Mani tocou também no Manfred Schoof Quintet, e também na banda de Wolfgang Dauner, em 1967, e ambos se juntaram numa sessão de trabalho com talentos internacionais como Gato Barbieri, Barney Wilen, Mal Waldron, e outros, assim como trabalhou com Alexander von Schlippenbach e Peter Brötzmann. Nestes dias de pré-rock foram forjadas muitas amizades com músicos com que viriam a trabalhar posteriormente.
A banda original: Guru Guru Groove foi formada em Zurique no verão de 1968 por Uli e Mani, juntamente com R. Spoerry (sax eléctrico), Gerd Gewisser (órgão) e alguém chamado “Sax” (vocalista). Um relatório do Essener Song-Tage (26 de Setembro de 1968) cita os Guru Guru Groove como “Free jazz orientado a ruído”. À medida que o tempo passou, eles passaram do free-jazz para o free-rock, desenvolvendo uma música nova e original, riscando o jazz das suas raízes free-jazz e substituindo-o com o rock pazazz, influências de Jimi Hendrix, The Cream, Pink Floyd e outros que tais, progredindo e desenvolvendo um novo tipo de música rock psicadélica. Podem ver, com tais raízes, o foco (ao contrário da maioria das bandas de então) não era nas canções ou qualquer outro tipo de estrutura convencional tipo verso/coro, mas com uma música que era livre de fluir e soar.
Embora muitos outros músicos tivessem entrado e saído da banda, o centro - Neumeier e Trepte - permaneceu constante, desenvolvendo uma música interactiva e quase telepática entre si, com as distintivas estruturas melódicas/amelódicas de Uli a cavalgar o modo ecléctico e único de Mani tocar bateria. Nessa altura mudaram-se para Berlim, reduzindo o grupo a um trio de rock mais convencional, agora com o nemo abreviado para Guru Guru. Os guitarristas do início foram Eddy Nageli e Jim Kennedy, tendo ambos provado ser extraordinários talentos, ambos muito inspirados em Hendrix. Penso que Mani e Uli procuravam alguém muito mais original - alguém que partir as amarras do convencionalismo. Descobriram tal guitarrista a tocar nos Agitation Free, de nome Ax Genrich. Michael Günther (dos Agitation Free) contou-nos que os Guru Guru contactaram-no depois de um concerto. Obviamente que fizeram a Ax uma oferta que ele não pôde recusar! Já vêem, Ax fazia coisas inacreditáveis com a sua guitarra - conseguia até fazê-la falar.
Rapidamente o trio de Uli Trepte, Mani Neumeier e Ax Genrich se tornou uma das melhores bandas ao vivo da cena alemã, e assinaram desde logo contrato com a Ohr Records. O seu álbum de estreia UFO está entre as melhores acid-trips de sempre, com várias camadas de versões de músicas que foram esmagadas e desenvolvidas em concerto durante uma série de anos. De forma competente, numa das mais estranhas editoras por perto. UFO é um estranho e marcante álbum. As notas de capa de P. Hinten curiosamente dizem-nos “Em breve os ovnis aterrarão e a espécie humana irá encontrar-se com cérebros e personalidades muito mais fortes. Estejamos prontos para isso” - hmmm? Títulos de faixas como Stone In e Der LSD-Marsh dizem-mos instantaneamente em que ponto estavam! E, também curiosamente, a instrumentação inclui items como: microfones de contacto, fitas magnéticas, rádios, intercomunicadores e outros que tais, informando-nos pois que não eram um “rock trio” normal! Com bateria agitada, baixo estremecedor, e uma plétora de guitarras e efeitos, uma boa parte do álbum é uma ambiente sonoro de formas livres, tal como é também rock, sem canções enquanto tal, e vocalizações usadas principalmente como efeito. É uma “trip” musical densa, avantgard psicadélico se assim o preferirem, atravessando incrivelmente todo o álbum, directamente para a “space-trip” final. A própria faixa título é um trabalho virtual electrónico/concreto de ambiente electroacústico. O magazine alemão Sounds viram os Guru Guru como os Cream germânicos, mas com uma estrutura ritmíca mais agitada. Na realidade, os Guru Guru eram muito mais esqusitos que isso.!
Com a mesma formação, os 2 álbuns subsequentes trouxeram um refinamento de estilo, com a composição a substituir a anterior improvisação. HINTEN (significando “traseiro”, como adequadamente se mostra através de imagens múltiplas e cus na capa!) ainda não tem propriamente canções, mas é certamente mais baseado no rock, com 4 faixas muito diferentes entre si. As raízes do que seria a era a definição da era de Genrich nos Guru Guru estão em no lado 1, em Electric Junk e The Meaning Of Meaning, tendo ambos uma estrutura de semi-canção, mas frequentemente conduzidas para o espaço por ritmos complexos. Divertidamente, relembro Steven Stapleton contando-nos a história de como Uli passava montes de tempo tentando obter letras pungentes e únicas para uma das suas “canções”. Essas letras tornaram-se em “Bo Diddley” - nada mais - apenas essas duas palavras como simples declaração, deixando ao ouvinte a tarefa de as interpretar. Para mim, sinto que a letra de Uli “Bo Diddley” é uma profanação destruidora - distorcida e profunda. HINTEN é um verdadeiro aperto, radical e explorador, com alguns ritmos quase normais e solos de guitarra, tudo misturado naquela maneira única que constituía o som dos Guru Guru, adequadamente (de novo) conduzindo-nos para o espaço profundo com a faixa final Space Ship. A votação que os leitores da Sounds deu como resultado para os Guru Guru um 10º lugar como banda do ano, e descreveram HINTEN como “música-ácida-espacial com longas improvisações”.
Excelentes documentos ao vivo dos Guru Guru desta era podem ser encontrados na edição em CD de Guru Guru / Uli Trepte, mostrando quão empenhados eram eles nos concertos. Algumas fitas pirata de concertos dos primeiros tempos, e na rádio e TV alemãs (de qualidade muito variável) circulam também por aí. É uma pena que mais deste material não esteja oficialmente disponível, pois trata-se mesmo de Krautrock emocionante, tão intemporal e maravilhoso como o primeiro material dos Ash Ra Tempel.
Tendo passado depois para a Brain, KANGURU é, na opinião da maioria, o mais perfeito em termos de qualidade técnica, complexidade e criatividade, dando a Ax Genrich a liberdade de tocar as linhas de guitarra que quis. Immer Lüstig está entre os mais extraordinários trabalhos que os Guru Guru fizeram, tripando como ele faz, com todo o tipo de complexidades guitarrísticas, trabalho de bateria realmente louco, acompanhados de tapeçarias de percussão complexas como pano de fundo, baixo e grandes doses de efeitos electrónicos. Apesar de as restantes três faixas serem igualmente brilhantes e inovadoras, Ooga Booga com a estrutura de canção bizarramente “catchy” foi a única a continuar desde essa era a pertencer ao moderno reportório dos Guru Guru. Penso que as outras “canções” de Trepte são um pouquinho fora do tom que os Guru Guru seguiram depois disso. KANGURU, a despeito da sua capa maluca, é um trabalho de brilhantismo desde o princípio até ao fim. Adequadamente, os leitores da revista Sounds votaram-no como segundo melhor álbum do ano na Alemanha, colado ao número 1, Zeit, dos Tangerine Dream.
The Guru Mani Era
Não tendo aguentado a pressão de estar num grande banda rock, Uli deixou os Guru Guru depois disto, deixando Mani a tomar conta do barco, como líder da banda. Penso que é um pouco injusto o que Uli disse atrás, que “os Guru Guru deterioram-se constantemente até serem uma banda de rock mediana” a partir daqui, porque o que se seguiu foi uma série de vários álbuns surpreendentes por direito próprio.
Como Mani concorda, ser um baterista a carregar a banda não é fácil, e assim, ele frequentemente deu total liberdade aos outros membros para paraticiparem com o seu próprio som e ideias para o som global da banda. Inevitavelmente, com Uli fora do caminho, Ax Genrich obteve mais espaço para desempenhar o seu papel de herói da guitarra. Bruno Schaab (antes na banda resposta alemã aos Deep Purple: Night Sun) foi trazido para o baixo, e o som dos Guru Guru começou a fragmentar-se por diferentes campos de actuação.
O quarto álbum dos Guru Guru saíu sem título, como sinal de renascimento. Agora o foco era diferente: o fascínio de Ax Genrich com a paródia ao rock’n’roll (haverá sempre um pouco de Eddie Cochran no seu estilo de tocar guitarra) resultou num “medley” bizarro, e o mau humor de Mani revelou-se ele próprio fortemente pela primeira vez. O single Samantha’s Rabbit / Woman Drum que abre e fecha o lado 1 do LP deveria ter sido um hit. É tão distorcido e amargo e tão inteligente como Zappa. O segundo lado volta a um rock ácido mais sério com o hino definitivo dos Guru Guru (pelo menos é nisso que se tornou até hoje) Der Elektrolurch, uma “canção” totalmente não-convencional na qual a música pulsa e salta, conduzida por uma linha de baixo minimal e repetitiva e umas letras esquisitas semi-faladas. Aparentemente, é uma evolução de um ambicioso espectáculo ao vivo chamado “The Clown” com teatralizações em palco, fatos bizarros, comédia excêntrica, etc., acompanhado por percussão extensiva e improvisada por Mani. Isto prova que os Guru Guru continuavam criativos como sempre, assim como o jaz e blues cósmicos (tipo Pink Floyd) de The Meaning Of Meaning, que veio de Oxymoron do álbum anterior.
Depois disto, houve muitas alterações: outra alteração de editora (para a Atlantic), outro baixista (o muito viajado como jazzer, Hans Hartmann, que, coincidentemente está agora a trabalhar com Uli Trepte!), relocalização em Heidelberg, e de novo uma mudança de direcção. Como é tradicional com as editoras maiores, o primeiro passo deveria ser um single. No entanto, tal com previamente na Brain, a ideia dos Guru Guru de um single não era propriamente o que uma companhia editora tinha em mente! O lado A More Hot Juice era uma uma verdadeira paródia e ataque verrinoso ao comercialismo (dificilmente era um single normal rentável) com uma ponta de rock’n’roll e o refrão fora de tom “O que nós precisamos, o que nós precisamos é... Mais sumo quente!” - Oh yeah! O lado B, 20th Century Rock era uma reescrita escandalosa de Der Elektrolurch. Um single obrigatório que de certeza fará brilhar o teu dia.
Das recensões da imprensa que tenho em maõ, os media ficaram muito confusos sobre o que representavam os Guru Guru nesse momento. Frequentemente ouvimos dizer que os alemães não têm sentido de humor, mas a minha experiência prova o contrário (testemunhado em muitos dos álbuns dos Grobschnitt e dos Floh de Cologne), e como os Guru Guru fizeram uma versão germânica de os Quintessence encontram os Monty Python e os Bonzo, os media ficaram perdidos.
De qualquer maneira, se a votação de 1973 dos leitores da revista Schallplatte é algo importante, eles continuaram como a banda número 2 na Alemanha. Totalmente excêntrico, o álbum seguinte: DON’T CALL US pode parecer um show do Ax Genrich (se não me engano), com uma mistura horrenda de estilos misturados com o som típico dos Guru Guru. É-me difícil, por vezes, distinguir entre as vocalizações de Ax e de Mani, mas se escutarem as letras com atenção, é óbvio que eles estavam a “tripar” algo quando fizeram isto! A música também voa e faz tangentes sobre este e aquele som, com canções desafinadas e o banjo muito na ordem do dia, há um pouco de “Hari Krishna” e muita patetice. O resultado é um álbum ainda desafiador e é de facto demasiado ecléctico para muita gente.
Oviamente Ax estava a incubar um plano que não jogava bem com os Guru Guru, e por isso ele saiu e formou a sua própria banda. Ou talvez ele tivesse sido despedido? De qualquer forma, ninguém conseguiria adivinhar o que viria a seguir, com Houschang Nejadepour, dos Eiliff a substituir Ax Genrich. Ok, os eiliff eram uma banda Krautrock incrível de fusão, muito explosiva, mas Houschang era apenas uma das 5 partes do grupo. Nos Guru Guru foi-lhe dado o banco da frente! Instantaneamente os Guru Guru tornaram-se numa mini Mahavishnu Orchestra, com humor e atitude, e editaram o inacreditável e enérgico DANCE OF THE FLAMES. Abrindo com o brilhante Dagobert Duck’s 100th Birthday, algumas faixas depois encontramos os Guru Guru com bateria agitada e guitarras frenéticas, escutando de novo o som dos Guru Guru dos anos 60, mas em picadas que chamuscam. No lado 2 é mais pausado, na forma de Samba das Rosas, e outras diversões étnicas, dando pistas para o que se seguiria. Depois de uma digressão espaventosa pela Alemanha, Houschang saiu ao fim de 3 meses, antes de DANCE OF THE FLAMES ter sido editado. Conny Veit (dos Gila e Popol Vuh) foi sondado para tocar na digressão de promoção do ´lbum (que também foi editado no Reino Unido). O único documento que conheço, com Conny na guitarra, é uma bootleg de fraca qualidade, que o mostra perfeitamente ajustado no material DANCE OF THE FLAMES, dando-lhe o seu toque cósmico particular, e levando a música alhures com longas improvisações.
Apesar de Mani negar, de acordo com o livro “Rock In Deutschland” os Guru Guru desfizeram-se por breve período depois disto. Durante cerca de um ano e meio os Guru Guru entraram num limbo. Como a história nos ensinou, Guru Guru tornou-se sinónimo de Mani Neumeier e a sua banda. Mesmo assim, de tempos a tempos, durante a sua carreira, le sentiu necessidade de fazer música que não fosse realmente Guru Guru. Originalmente editado como um álbum a solo de Mani Neumeier, ou “Guru Mani” (um “Guru” extra foi adicionado na capa da edição britânica e reedições germânicas posteriores) MANI UND SEINE FREUNDE refere-se a uma super-sessão com os amigos dos Kraan, Karthago, Cluster, e ainda com músicos antigos e (então) novos/futuros dos Guru Guru, e outros. Sempre tive sentimentos mistos acerca deste disco, e acho algumas canções do lado 1 irritantes. O melhor material está no lado 2, movimentando-se em territórios surreais com o fornecimento por parte dos Cluster de alguns ruídos maquinais e Mani a levar-nos pela primeira vez para a selva com um maravilhoso conjunto de baterias e percussões. Um álbum comparável é HIGHDELBERG de Ax Genrich, que contava com muitos dos mesmos músicos.
Entretanto, um novo Guru Guru tomou forma e depois assinou pela Brain (uma das poucas editoras de krautrock simpáticas ainda por volta de 1976), e tiveram então um novo e muito diferente som. Mani encontrou um fiel companheiro no talentoso de muitos modos multi-instrumentista ex-Brainstorm Roland Schaeffer. Ambos, ele e o ex-Kollektiv Jogi Karpenski adicionaram um monte de elementos jazz ao som final. O resultante TANGO FANGO é um saco bem variado, com uma mistura de jazz fora de tom, rock, psicadelismo e sátira cabaret/radio, completado com música oom-pah! Este caldeirão de influências estabilizou-se-se algures em 1997 com GLOBETROTTER, apesar de a banda não o ter. Ingo Bischof (dos Karthago= entrou e saiu no entretanto (completando ao menos uma digressão com eles) e apenas Roland e Mani continuaram. Novos elementos entraram, como Dieter Bornschegel (guitarras) e Peter Kühmstedt (baixo) congelando a banda depois, e tal como documentado no duplo LIVE eles tocavam uma série de faixas de música nova, a maioria parecida com a Mahavishnu Orchestra e Santana, trabalhos muito jazzy (a continuação natural de Samba de Rosas de DANCE OF THE FLAMES que mencionei atrás e velhos clássicos como Oooga Booga e Der Elektrolurch, tocados com grande inovação e novas manobras de diversão).
Tendo-se tornado então um verdadeiro supergrupo de músicos de outras bandas, com Geral Hartwig (também originalmente nos Karthago com Ingo Bischof) e Butze Fischer (dos Missus Beastly) a expandir as fileiras até limites ímpares com tal talento, contudo, algo parecia estar torto. Eu creio que era o facto do A&R da Metronome querer alguns “hits”. Para jogar ao seco e puro “queremos que façam um álbum de disco” do fim dos anos 70, eles tentaram criar uma nova imagem com o nome “Guru Guru Sunband”. Virtualmente, isto tornou o Mani Neumeier vocalista principal em HEY DU!, com um pop-rock funky que gerou um single horroroso, e dificilmente, alguma da inovação das incarnações anteriores, guardada para a faixa final Atomolch que era um retorno aos territórios de Der Elektrolurch.
Curiosamente, o resto da banda: Geral Hartwig, Ingo Bischof, Butze Fischer e Roland Schaeffer (sem Mani) continuaram a trabalhar em paralelo, sob o nome de Hausmusik, gravando o estranho EAR MAIL, provando que valiam a pena como banda radical underground. Como surgiu este projecto, não faço ideia. Talvez estivessem à espera do regresso de Mani que estava em digressão, fartaram-se de esperar, e tentaram fazer algo sozinhos? Uma mistura étnica fértil. Músicos Kraut-Punk e Psicadélicos, uma espécie de Embryo, com Ingo a tocar sintetizadores como nunca o víramos fazer, improvisações livres, e ragas soberbos com sitars. Infelizmente, contudo, apenas foi editada uma cassete e é muito obscura. Hartwig continuou a sua veia experimental depois disto, trabalhando com Roman Bunka (no seu álbum a solo), nos Embryo, e como metade do duo realmente estranho Die Wand An. Roland Schaeffer tomou a liderança do seu novo projecto (gravando o desapontador DADADOGS com quase a mesma formação dos Hausmusik) e depois migrou também para os Embryo.
Como com a maioria da cena Krautrock, isto foi o fim de uma era, e parecia que os Guru Guru iriam doravante ficar destinados à obscuridade como banda independente em pequena editora, nunca mais chegando, no futuro, a atingir as suas glória passadas. Podia ter sido assim. E Mani podia ter ficado a gozar os seus louros, ou ter-se tornado facilmente uma estrela pop indie se tivesse querido! Mas, em vez disso, em paralelo com os Guru Guru, começou a trabalhar intensamente e a colaborar com outros projectos. Também começou a trabalhar como artista a solo e como músico de sesão.

As Novas Aventuras de Mani
Na realidade, o que se passou daqui para a frente pede uma questão: Qual é a diferença entre um álbum de Mani Neumeier e um álbum dos Guru Guru? Enquanto MANI IN GERMANI terminou com a era dos Guru Guru Sun Band, o álbum seguinte NEUE ABENTEUER não foi creditado aos Guru Guru como tais (mas é na realidade parte da sua história) apesar de contar com a presença de Peter Wolbrandt dos Kraan (com outros artistas a esconderem-se debaixo de pseudónimos) soando mais a uma new-wave com especiarias tipo Kraan do que a Guru Guru. Também, os Spacebox desdobraram o projecto L.S. Bearforce (do qual fazia parte Mani Neumeier na bateria) soavam mais aos antigos Guru Guru do que os próprios Guru Guru soaram durante uma década!
Encontraremos montes de outras colaborações e projectos em que Mani se envolveu, na discografia que finaliza este artigo. Mas sabemos muito pouco dos Guru Guru durante os meados e até aos finais dos anos 80. Todas estas edições apareceram e desapareceram sem nós sabermos. A nova incarnação com Hans Reffert (da banda avant-folk Flute & Voice), com recém-chagados: erwin Ditzer (bateria), Uli Krug (baixo), e outros. O que estes álbuns são, não tenho ideia, contudo podemos ter uma pista naquilo que Ditzer e Krug se tornaram ao entrar para a secção rítmica de Ax Genrich por alguns tempos. Há também uma outra encarnação de 1991, de que eu nunca encomendei nada porque o distribuidor germânico com que nós lidamos classificou SHAKE WELL como uma edição “disco”, e disse “Não é a banda prog-rock dos anos 70”. Mas Mani informou-nos de modo diferente! Com uma formação de Mani, juntando também Luigi Archetti (guitarra) e Razem Rübel (baixo e vocais), isso indica algo muito diferente de “disco”.
Demorou muito a chegar (apesar de existirem algumas cassetes da Transmitter), mas, eventualmente, Mani editou a sua primeira obra a solo em 1993. PRIVAT é o resultado de anos de pesquisa em várias formas de música baseada na percussão, e cobre uma espantosa gama de estilos musicais: tribal, étnico, jazzy, electrónica, psicadélica, e não apenas bateria, há até uma reescrita radical do velho clássico dos Guru Guru Woman Drum. Os resultados não são um álbum a solo de bateria chato, mas um trabalho de grande competência e criatividade, com uma dúzia de Manis (multi-pistas) actuando em algumas faixas. Frequentemente creditado com um álbum a solo, ele não o é na realidade, o projecto de cruzamento de culturas Terra Amphibia (que parece ter surgido como resultado do trabalho anterior de Mani nos Radio Noisz Ensemble) é outra surpresa, assemelhando-se a um híbrido de “Apocalypse Now” de Mickey Hart (The Rhythm Devils) e uma mistura de estilo jazzy e étnica características da ECM. Em paralelo com tudo isto, Mani foi também muito solicitado por outros pelos seus talentos como percussionista criativo, em sessão ou colaboração, desigandamente tendo trabalhado juntamente com músicos de jazz como Peter Hollinger e Irene Schweizer. Tudo isto prova que Mani Neumeier se encontra entre os mais eclécticos e imaginativos bateristas.
Mas, estrela do esp+ectáculo nos tempos mais recentes, foi o projecto Tiere Der Nacht, um duo de Mani e o guitarrista italo-suiço Luigi Archetti, que (parece) cresceu depois da encarnação dos Guru Guru de 1991 para o álbum SHAKE WELL. Os Tiere Der Nacht provaram ser o mais radical projecto em que Mani esteve envolvido desde os primeiros tempos dos Guru Guru, fazendo música que faz a ponte entre as estruturas Krautrock/acid rock foram de tom, e novas forma radicais de fusão jazz. Archetti surge como um híbrido entre Fred Frith, Robert Fripp e Ax Genrich, um frock’n’roller/free-jazz/técnico com mau feitio e mau humor na sua forma de tocar. Especialmente inclassificável é HOT STUFF, com a inclusão dos músicos de jazz new-wave The Blech como banda de suporte. WOLPERTINGER consitui ainda um maior desenvolveimento de estilo e aumento de criatividade, como uma música rock sem amarras, e um som mais interactivo e ao vivo. Se Fred Frith tivesse tocado guitarra com os Guru Guru, talvez tivesse soado assim! Mas o mais invador foi EVERGREENS com as suas estruturas quase tipo Faust, como um híbrido entre o free-jazz e o tipo de rock electrónico de Moebius & Plank. Entre eles fizeram quatro álbuns até ao meomento (três dos quais foram recenseados pela Audion no passado) e ainda estou à espera para ouvir o último. Espero ansiosamente que me chegue às mãos. De qualquer maneira, e estranhamente, à medida que Luigi é cada vez mais um dos elementos dos Guru Guru, não serão os Tiere Der Nacht apenas mais uma faceta dos Guru Guru, especialmente porque estão muito próximos do som original dos Guru Guru do que a própria banda original?
Para completar a informação relacionada com os Guru Guru e Mani Neumeier, sugiro que consultem o Index da Audion, e especialmente a Audion #39, que contém um extenso artigo (com entrevistas) acerca do rpojecto Space Explosion, com Mani junto com músicos dos Cluster, Faust e Amon Düül II. Está já planeada uma sequela, e tenho a certeza que lhes traremos notícias quando acontecer. No entretanto temos a Deamo Suzuki´s Network para nos entretermos. Um conjunto de 6 CDs documentando concertos em Tóquio e Osaka (30 de Abril a 4 de Maio de 1997) prova que o espírito dos Can ainda existe, e a força extraordinária de Mani. Com apenas um par de membros fora daquele conjunto vasto (comparado com o CD VERNISAGE que na minha opinião é horrível), este é apenas mais outro projecto a provar que o espírito do Kraautrock está vivo.

Guru Wab Moshi
A mais recente encarnação dos Guru Guru vitualmente viu a banda do duplo ao vivo (com Heinz Gembus no baixo em vez de Peter Kühmstedt) reagrupar-se, criando um híbrido do que estavam a fazer então, com influências etno-jazz (dos dias de Schaeffer com os Embryo), e um contrastante misturada de psicadelia pesada e estruturas de rock moderno e avantgarde. O resultante WAH WAH CD, de 1995, foi uma enorme surpresa. Foi como se os Guru Guru tivessem ressuscitado, e ainda por cima com um vigor criativo enorme! Este álbum causou tão boa impressão internacionalmente que os Guru Guru foram convidados para uma digressão pelo Japão. Foi um sucesso enorme, e desde o seu retorno (agora com Luigi Archetti na guitarra de novo) o álbum MOSHI MOSHI (“Helo Hello” ao telefone, em japonês) surgiu muito esquizofrénico, com todas as faixas em estilos diferentes umas das outras. É muito diverso, indo desde o heavy-krautrock até à mais pura música étnica, apesar de ser um bocado comercial em algumas partes. Mas, tal como com algo como GLOBETROTTER, tem muitos momentos de brilhantismo. Sempre imprevisíveis, onde iriam os Guru Guru a partir deste ponto?

A Spacebox de Uli Trepte e Outras Histórias
Um conceptualista talentoso e revolucionário: Uli nunca ficou parado desde que saiu dos Guru Gur em Abril de 1972. Por algum tempo ele vagabundeou como um nómada, trabalhando com os Neu1 e os Faust. Entre as muitas bandas que ele instigou, a primeira nunca chegou a ter um nome. Foram gravada sessões para uma edição na Brain (viram a superfície como lado A do álbum HOT ON SPOT, nos finais dos anos 80), e continuou a sua visão própria do som dos Guru Guru numa forma mais directa e condensada, apesar de ter usado no grupo partidários dos Embryo e de outros músicos de top. Esta banda levou aos Release Gruppe, uma banda híbrida que formam parte da história dos Tomorrow’s Gift e dos Release Music Orchestra, que, infelizmente, permanece indocumentada. E depois houve a Kickbit Information, que foi um desdobramento de outra banda relacionada chamada Dennis. Tudo tende a tornar-se muito complexo.
Há uns anos, Uli disse-me que não existiam gravações dos Kickbit Information, e que nenhum álbum havia sido feito. É uma pena que uma banda que foi uma plataforma de um cruzamento tão criativo de outras bandas tenha de ficar perdida. Felizmente, contudo, algumas fitas de uma jam-session de Fevereito de 1975 foram redescobertas e viram agora a luz do dia em formato CD, denominado BITKICKS. Na essência, os Kickbit Information foram o núcleo da breve banda de Uli de 1972, com Carsten Bihn (bateria, dos Frumpy e Dennis) a que se juntou Otto Richter (violino) e Fritz Heigi (piano eléctrico). Uma gravação básica, em mono e muito rude (apesar de, para mim, me parecer que alguma dimensão stereo foi acrescentada), é uma rara visão do que o kraut mais underground da altura estava a fazer. Apenas três longas faixas, a de abertura com 29,5 minutos, Psychedelic Review parece (no início) como um híbrido entre a improvisação dos Guru Guru e os Embryo, época STEIG AUS, pois temos um duelo entre o sax e o violino e o maravilhoso piano eléctrico modulado ( à maneira de Mal Waldron ou Wolfgang Dauner) em fundo; ao fim de 15 minutos começa um groove tipo Ozrics. Isto leva-nos atrás, a alguns dos trabalhos intrumentais dos Mothers, ou o similarmente excessivo Lauft, de 26,5 minutos, que se encontra como bonus no CD dos Embryo, OPAL. Os qause 14 minutos de Schnellbedienung, conforme o seu título, é uma faixa de som a alata velocidade, como um velho groove preguiçoso dos Guru Guru tocado ao dobro da velocidade para lhe dar fogo, tudo como base para algumas partes maravilhosas de fuzz-sax eléctrico e violino maníaco. Que ritmo! Finalmente, a mais pequena (apenas 9 minutos) faixa, Hacksack - Serenade soa como se tivesse sido garavada noutro lugar qualquer, com uma batida funky tipo Milers Davis (com tons chocalhados e címbalos) e o piano eléctrico a fazer o papel da guitarra. Um álbum incrível.
A banda mais famosa de Uli foram os Spacebox, um projecto que foi buscar o seu nome da unidade de efeitos montada e configurada por Uli que incorporava, inclusive, rádios, gravadores de fita e toda uma panóplia de dispositivos de procesamento. O álbum epónimo de estreia foi adequadamente empacotado numa embalagem enrugada, e consolidava o som dos Kickbit Information numa música rude e enérgica, no bom espírito do punk da altura. Um híbrido sobrecarregado de Guru Guru e Embryo empurrando para novas fronteiras, estimulado por vocalizações leves e montes de sons estranhos, com a faixa final, Bassomat, totalmente a fritar os sentidos!
Depois de um intervalo de cinco anos, o segundo álbum, KICK UP, refinou o estilo dos Spacebox, com um som muito perto do psicadelismo dos Embryo iniciais, dando mais espaço para os talentos de Edgar Hofmann se espraiarem.
Durante alguns anos, muito poucas notícias vieram de Uli. Apesar de ter estado sempre ocupado (não apenas na música) a gravar PHENOTYPE, um álbum de trabalhos de guitarra baixo, para a United Dairies, nos finais da década de 80, e (mais recentemente) os álbuns JAZZ MODALITIES e REAL TIME. Estes são discos jazzy “low profile” com a presença de Edgar Hofmann, Hans Hartmann e outros, mas ainda se conseguem distinguir descendências das raízes dos Guru Guru.

Outras Ligações
Apesar dos músicos dos Guru Guru terem desaparecido na obscuridade, muitos deslocaram-se para outros projectos, e tudo fica muito complexo para poder ser aqui explicado totalmente todas as interligações com os Cluster, Harmonia, Karthago, Kraan, et., etc., pois é como um molho de esparguete cozido. A maneira mais fácil de racionalizar tudo isto é através do índice de referências cruzadas no nosso livro “The Crack In The cosmic Egg” e tentar obter a visão mais generalizada possível dessa maneira. Tenho medo de desapontar os fans das minha árvores genealógicas (como habitualmente costumo fazer noutros artigos) mas é uma tarefa hercúlea.
Uma última coisa importante que necessito apontar aqui é o regresso do antigo guitarrista dos Guru Guru, Ax genrich, que editou dois dos melhores ábuns de krautrock dos anos 90: PSYCHEDELIC GUITAR and the even better WAVE CUT, captando o espírito daquilo que tornou os Guru Guru especiais, com montes de inteligência e criatividade. Para alguém fan do ângulo krautrock dos Guru Guru, especialmente o pesado e psicadélico, são dois a´lbuns de audição indispensável. Ax está ainda activo, e está a tentar formular novas ideias para outro álbum. contudo, baseado nas fitas demo de esboços que recebemos dele, o lançamento ainda está longe. Para conhecer a história completa dos álbuns dos anos 90 de Ax Genrich, consulte o número anterior da Audion!
Tudo isto remonta a 30 anos de música criativa e inovadora, e uma discografia incluindo mais de 30 álbuns essenciais (e dezenas de mais mereceriam a vossa atenção), resultado dos Guru Guru e dos seus desdobramentos.

Discografia
UFO (LP: Ohr OMM 56005) 6/70 Ó 1970 (CD: ZYX OHRCD 556005-2) Ó 1993 Q
HINTEN (LP: OHR OMM 556017) 7/71 Ó (CD: ZYX OHRCD 556017-2) Ó 1993 Q
KANGURU (LP: Brain 1007) 28/2-6/3/72 Ó 1972 (CD: Brain 517 737-2) Ó 1992
GURU GURU (LP: Brain 1025) Ó 1973 (CD: Repertoire PMS 7056-WP) Ó 1997
More Hot Juice / 20th Century Rock (7”: Atlantic ATL 10402) Ó 1973
DON’T CALL US [WE CALL YOU] (LP: Atlantic ATL 50022) 8/73 Ó 1973
(CD: Germanofon 941084) Ó 1996
DANCE OF THE FLAMES (LP: atlantic ATL 50044 or K50044) 12-20/4/74 Ó 1974
(CD: Germanofon 941073) Ó 1996
TANGO FANGO (LP: Brain 1089) 2/76 Ó 1976 (CD: Repertoire PMS 7060) Ó 1997
2 tracks featured on BRAIN FESTIVAL ESSEN (2LP: Brain 80.013-2) 2/77 Ó 1977
GLOBETROTTER (LP: Brain 60.039) Ó 1977
LIVE (2LP: Brain 80.018-2) Ó 1978 (CD: Think Progressive TPCD 001) Ó 1995
HEY DU! (LP: Brain 60.187) Ó 1979 - credited to Guru Guru Sun Band
MADE IN GERMANI (LP: GeeBeeDee GBD 008) 1980-81 Ó 1981
Cosmic Hole / Ungluck Bei Tiffany (7”: Face) Ó 1986
JUNGLE (LP: Casino 87302) Ó 1987
GURU GURU ’88 (CD: Casino 300.009) Ó 1988
SHAKE WELL (CD: ZYX 20240-2) 12/90 Ó 1991
WAH WAH (CD: Think Progressive TPCD 1.507.002) 12/94-1/95 Ó 1995
MOSHI MOSHI (CD: Think Progressive TPCD 1.705.001) 2/97 Ó 1997
Guru Guru / Uli Trepte HOT ON SPOT / INBETWEEN
(LP: United Dairies UD 024) 1972+4/74 Ó 1986
(CD: TTE 002) Ó 1988
aka: GURU GURU & ULI TREPTE “LIVE & STUDIO” (CD: Admision To
Music ATM 3815) Ó 1996 «with additional Guru Guru track» Q

Edições Relacionadas
LA Luigi Archetti IB Ingo Bischof (selected)
DB Dieter Bornschlegel (selected) ED Erwin Ditzer
BF Butze Fischer AG Ax Genrich
HH Hans Hartmann (selected) GLH Gerald Luciano Hartwig
SJ Sepp Jandrisits JK Jogi Karpenkiel
UK Uli Krug PK Peter Kühmstedt
HN Houschang Nejadepour MN Mani Neumeier
HF Hans Reffert BS Bruno Schaab (selected)
RS Roland Schaeffer UT Uli Trepte

Aera: TOO MUCH (LP: Spiegelei INT 145.625) 2/81 Ó 1981 PK
Aera: AKATAKI (LP: Spiegelei INT 145.633) 11/81 Ó 1982 PK
Luigi Archetti: GUITAR SOLO (CD: Admission To Music ATM 004) 9/92 Ó 1995 LA
Atlantis: IT’S GETTING BETTER (LP: Vertigo 6360 614) 7/73 Ó 1973
(CD: Repertoire REP 4337-WP) Ó 1993 DB
Brainstorm: SMILE A WHILE (LP: Spielegei 28 505-6U) 8/72 Ó 1972
(CD: Musea FGBG 4215.AR) Ó 1996 «plus bonus radio sessions» RS
Brainstorm: SECOND SMILE (LP: Spielegei 28 596-5U) 3-6/73 Ó 1973
(CD: Germanofon 941090) Ó 1995 RS
Bröselmaschine: PETER BURSCH UND BROSELMASCHINE (LP: Xenophon
161.012) 2+7/75 Ó 1976 MN, RS
Roman Bunka: DEIN KOPF IST EIN SCHLAFENDES AUTO (LP: Goldader 66.7342)
21-28/7/80 Ó 1980
(CD: Admission To Music ATM 3818) Ó 1996 «with bonus live track» GLH
Wolfgang Dauner: FREE ACTION (LP: Saba SB 15095) 2/5/67 Ó 1967 MN
Desperado: HALTEN AUS! DESPERADO KOMMT… LIVE! (LP: Heisse Rillen
HOLSIEDIR 1) 1977 Ó 1978 BS
Eiliff: Ride On Big Brother / Day Of Sun (7” Philips 6003 225) Ó 1971 HN
Eiliff: EILIFF (LP: Philips 6305 103) 6/71 Ó 1971
(CD: SPM-WWR-CD-0067) Ó 1994 HN
Eiliff: GIRLRLS! (LP: Philips 6305 145) 3-4/72 Ó 1972
(CD: SPM-WWR-CD-0068) Ó 1994 HN
Embryo: APO-CALYPSO (LP: April 000010) 12/76+6/77 Ó 1978 BF
Embryo: ANTHOLOGY (LP Materiali Sonori MASO 012) 9/70-9/79 Ó 1980
aka: EVERY DAY IS OKAY (CD: Materiali sonori MASOCD 90039) Ó 1992 BF
Embryo: LA BLAMA SPAROZZI / ZWISCHENZONEN (2LP: Schneeball 1028) 4/79-
9/82 Ó 1982 GLH
Embryo: ZACK GLUCK (LP: Materiali sonori MASO 33026) 2-3/84 Ó 1984
(CD: Materiali Sonori MASOCD 90038) Ó 1992 BF, GLH
Embryo: YORUBA DUN DUN ORCHESTRA (LP: Schneeball 1042) Ó 1985
(CD: Schneeball CD 26) Ó 1989 GLH
Embryo: AFRICA (LP: Materiali Sonori MASO 33036) 2/85 Ó 1987
(CD Materiali Sonori MASOCD 90022) Ó 1992 GLH
Embryo: TURN PEACE (LP: Schneeball 01045/08) 2+6+8+9/89 Ó 1989
(CD Schneeball 01045-26) Ó 1989 «1 bonus track» RS, GLH
Embryo: IBN BATTUTA (CD: Indigo 3052-2) 1/90-7/93 Ó 1994 RS
Flute & Voice: IMAGINATIONS OF LIGHT (LP: Pilz 20 21088-2) 1970 Ó 1971
aka: FLUTE & VOICE (CD: Jack Wiebers Records JWR CD 951004-1)
Ó 1995 «plus 7 tracks from HALLO RABBIT» HR
Flute & Voice: featured on HEAVY CHRISTMAS (LP: Pilz 15 21114-2) Ó 1971
(CD: Second Battle SB 043) Ó 1997 HR
Flute & Voice: HALLO RABBIT (LP: ?) Ó 1973 HR
Flute & Voice: DRACHENLIEDER (CD: Jack Wiebers Records JWR CD 961007-1)
Ó 1996 HR
Free Orbit: FREE ORBIT (LP: MPS/BASF 15 2517-8) Ó 1970 HH
Ax Genrich: HIGHDELBERG (LP: Happy Bird 5017) 11/74-2/75 Ó 1975
(CD Germanofon 941035) Ó 1995
aka: BEST OF AX GENRICH (CD: Admission To Music ATM 3822)
Ó 1997 «with bonus: soloalbum tracks and rare live Guru Guru» AG, MN
Ax Genrich: PSYCHEDELIC GUITAR (CD: Admission To Music ATM 3809)
11/92-7/94 Ó 1994 ED, AG, UK, HR, BS
Ax Genrich: WAVE CUT (CD: Admission To Music ATM 3813) 7/95 Ó 1995 AG
Gurumania: DER ELECTROLURCH (CD EP: Our Choice 19537783) MN
Harmonia: DELUXE (LP: Brain 1073) 6/75 (CD: Polydor POCP-2388) Ó 1997 MN
Alfred Harth: RED ART (LP: Creative Works CW 1044) Ó 1986 MN
Helmut Hattler: BASSBALL (LP: Harvest 1C 064-32 523) 4-7/77 Ó 1977
(CD: Intercord IRS 986 926) Ó 1994 IB, RS
Hausmusik: EAR MAIL (MC: Transmitter 06) Ó 1980 GLH, IB, BF, RS
I.D. Company: I. D. COMPANY (LP: Horzu SHZE 801 BL) Ó 1970
(CD: Germanofon 941083) Ó 1996 HH
Karthago: KARTHAGO (LP: BASF 20 21185-1) 10/71 Ó 1971
(CD: Repertoire PMS 7059-WP) Ó 1997 IB, GLH
Karthago: SECOND STEP (LP: BASF 20 211780-9) 1972 Ó 1973
(CD: Repertoire PMS 7071-WP) Ó 1997 IB, GLH
Karthago: ROCK’N’ROLL TESTAMENT (LP: Bacillus BAC BLPS 19201) 11-12/74
Ó 1975 (CD: Bacillus 288.09.036) Ó 1991 IB
Karthago: LIVE AT THE ROXY (2LP: Bacillus BAC 2040) Ó 1976
(CD: Bacillus 288.09.004) Ó 1991 «3 tracks missing» IB
Kickbit Information - BITKICKS (CD: Admission To Music ATM 3823-AH)
22/2/75 Ó 1998 UT
Kollektiv: KOLLEKTIV (LP: Brain 1034) 3/73 Ó 1973
(CD: Germanofon 941100) Ó 1995 JK
Kraan: LET IT OUT (LP: Spielegei 26542-IU) 7/75 Ó 1975
(LP Gull GULP 1013) Ó 1976
(CD: Intercord IRS 986.950) Ó 1994 IB
Kraan: WIEDERHOREN (LP: Harvest 1C 064-32 110) Ó 1977
(CD: Intercord IRS 986.932) Ó 1994 IB
Kraan: FLYDAY (LP: Harvest 1C 064-45 210) 7-9/78 Ó 1978
(CD: Intercord IRS 986.931) Ó 1994 IB
Kraan: TOURNEE (LP: Harvest 1C 064-45 931) Ó 1980
(CD Intercord IRS 986.930) Ó 1994 IB
Kraan: NACHTFAHRT (LP: GeeBeeDee GBD 0028) Ó 1982
(CD: Intercord IRS 986.933) Ó 1994 IB
Kraan: X (LP: TIS 66.23241) Ó 1983 IB
L. S. Bearforce: L. S. BEARFORCE (LP: Up Art 001) 2/83 Ó 1983 MN
Missus Beastly: DR. AFTERSHAVE AND THE MIXED PICKLES (LP: April 00001)
1/76 Ó 1976 BF
Moebius-Plank-Neumeier: ZERO SET (LP: Sky 085) 1982 Ó 1983
(CD: Sky 3085) Ó 1987 MN
Moira: CRAZY COUNTDOWN (LP: Schneeball 2014) 1977 Ó 1978 BF
Mani Neumeier: GURU MANI UND SEINE FREUNDE (LP: Atlantic ATL 50157 ou
K50157) 4/75 Ó 1975
(CD: Germanofon 941071) Ó 1996 MN, AG, SJ, JK, IB
Mani Neumeier: MANI NEUMEIER (MC: Transmitter TC 20) Ó 1981 MN
Mani Neumeier: NEUE ABENTEUER (LP: Biber BI 6190) Ó 1983 MN
Mani Neumeier: PRIVAT (CD: Admission To Music ATM 3803) 3/92 Ó 1993 MN
Mani Neumeier & Peter Hollinger: MONSTERS OF DRUMS
(CD: Admission To Music ATM 3821) 1994-96 Ó 1996 MN
Mani Neumeier & Peter Hollinger: MEET THE DEMONS OF BALI
(CD: Think Progressive TPCD 1.802.022) 2-14/2/97 Ó 1998 MN
Night Sun: MOURNIN’ (LP: Zebra 2949 004) Ó 1972 (CD: Second Battle 041) Ó 1997 BS
Radio Noisz Ensemble: YNIVERZE (LP: Ubu-Muziek UMS 01) 3-10/3/82 Ó 1982 MN
Roland Schaeffer: UND DIE “DADADOGS” (LP: Biber BI 6070) 1982 GLH, PK, BF, RS
Roland Schaeffer: EAT MEATS WET (LP: Biber BI 6160) Ó 1983 RS
Rich Scwab: FAST IMMER (LP: Biber BI 6050) Ó 1980 RS
Rich Schwab: LIEB DOCH EINFACH MICH (LP: Biber BI 6180) Ó 1983 RS
IreneSchweizer & Mani Neumeier: EUROPEAN MASTERS OF IMPROVISATION
(CD Captain Trip CTCD-068) 5/6/90 Ó 1997 MN
Irene Schweizer Trio: JAZZ MEETS INDIA (LP: Saba SB 15142) Ó 1967 UT, MN
Irene Schweizer Trio: EARLY TAPES (LP: FMP 0590) 1967 Ó 1978 UT, MN
Spacebox: featured on UMSONST & DRAUSSEN PORTA WESTVLOTHICA 1978
(2LP: Maulschnauz MOL 0005/0006) 7/78 Ó 1978 UT
Spacebox: SPACEBOX (LP: Spacebox SP 1) 12/79 Ó 1981 «1000 copy numbered edition»
(CD: Captain Trip CTCD-024) Ó 1996 UT
aka: KICK BACK (LP: Up-Art SP 1) Ó 1983 «picture disc»
Spacebox: KICK UP (LP: Spacebox SP 2) 9/83 Ó 1984
(CD: Captain Trip CTCD-025) Ó 1996 UT
Space Explosion: SPACE EXPLOSION (CD: Captain Trip CTCD-067) 1997
(CD: Purple Pyramid CLP 0175-2) Ó 1998 «1 track ommited» MN
Damo Suzuki: DAMO’S NET WORK (6CD: DNW 001-006) 30/4-4/5/97 Ó 1997 MN
Terra Amphibia: FEAT. MANI NEUMEIER (CD: Transmitter EFA 03535-2) Ó 1998 MN
Tiere Der Nacht: HOT STUFF (CD: Rec Rec RECCDec 4911/89+3/91 Ó 1992 MN, LA
Tiere Der Nacht: WOLPERTINGER (CD: Rec Rec RECCDec 58) 3/93 Ó 1993 MN, LA
Tiere Der Nacht: EVERGREENS (CD: Captain Trip CTCD-069) Ó 1997 MN, LA
Tiere Der Nacht: SLEEPLESS (CD: Captain Trip CTCD-096) due out 1998 MN, LA
Uli Trepte: PHENOTYPE (MC: United Dairies UDT 029) Ó 1987 UT
Uli Trepte: JAZZ MODALITIES (LP: Nebula GN 0002) 1989-90 Ó 1990 UT, HH
Uli Trepte: REAL TIME MUSIC (CD: Admission To Music ATM 3820-AH)
1/90+11/91 Ó 1996 UT
Die Wand An: KEIN NAME+KEIN TITEL (LP: Trikont US-0097) Ó 1982 GLH
Die Wand An: Tanzania/Vaseline/Electric (12” EP: Schneeball 1042) Ó 1985 GLH
Wonderland Band: NO. 1 LP: Polydor 2371 125) Ó 1971 HH
Zeitenwende: ZEITENWENDE (LP: Die Andere Song 200 875) Ó 1979 JK
Zeitenwende: KAUM ZU GLAUBEN (LP: Hansa 203 497) Ó 1980 IB

Notas…
A discografia acima lista apenas álbuns originais e edições correntes normalmente em CDs Germânicos.
Os títulos da Germanofon são não-oficiais de origem incerta.
Originais, não-LPS, singles e curiosidades, i.e., CDs com faixas bónus, e material original em compilações, são listadas. Alguns destes itens tiveram muitas outras reedições.
Q indica outras edições em CD pela Spalax (de França). Há algumas edições em CD na Polydor K. K. ou na Captain Trip (do Japão) que não estão listadas. A Think Progressive (da Alemanha) editou editou alguns títulos dos Guru Guru (e de outros) como LPs de luxo, vynil de 180gr.. Mutos destes tinham sido editados antes pela ZYX em LP na primeira metade da década de 80.
Material não original em singles, compilações ou colectâneas, não estão aqui listadas.
Também a Brain editou muitas compilações dos Guru Guru, incluindo: DER ELECTROLURCH (estranhamente juntando KANGURU e GURU GURU), THIS IS GURU GURU, ROCK ON BRAIN, STORY OF LIFE, etc. Estejam atentos!





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