12.8.11

John Maus - "We Must Become The Pitful Censors Of Ourselves"


Como complemento do post anterior, aqui fica a crítica ao mais recente trabalho de John Maus

John Maus
We Must Become The Pitful Censors Of Ourselves
Upset The Rhythm CD/DL

“Copkiller/Let’s kill the cops tonight”. Não é que estas coisas não tenham sido já cantadas, mas neste caso não estamos em presença de um artista gangsta rap nem de punk hardcore. Com os seus sintetizadores açucarados, neuróticos, carrancudos, baixo à la Associates, pancadas de caixa de ritmos, impulsos e estalidos, é a contradição entre as palavras de John Maus e a sua paleta musical habitual que produz uma aura misteriosa. Encerradas num envelope de reverberação, cantadas num murmúrio de cronista, as letras são normalmente espaçadas nas gravações de Maus, aparecendo à superfície apenas de forma gradual. Mas em “Cop Killer” elas são atiradas à face do ouvinte, como se alguém que estivesse a falar durante um sonho de repente dissesse uma frase coerente, ou como se um cantor de cabaret tipo Vic Reeves se tivesse tornado de repente num cantor de hinos anarco-punks incitadores de ódio.
Em todo o disco, em We Must Become The Pitless Censors of Ourselves, as palavras refugiam-se no seu estado habitual de semi-submersão.
A música de Maus sempre foi uma proposição paradoxal. Ao mesmo tempo irónica e sonhadora – a ironia vinda da forma de cantar de Maus, que sugere quer troça, quer inibição, ou ambas, ansiedade em ser ouvida, talvez reflectindo a sua própria ambivalência acerca de se deve fazer música pop ‘apropriada’ ou não. O tom de sonho advém do contraste entre a voz nebulosa e manchada e o lustro antigo dos sintetizadores analógicos.
Como sempre, a utilização dos sintetizadores por Maus está ancorada no ponto, algures na década de 1980, em que deixaram de ser modernos e angulares e ficaram subsumidos nas superfícies livres de atrito da década do AOR e Eurodisco. Enquanto as vocalizações são sombrias, os sintetizadores possuem uma sobre-claridade enjoativa, situada algures entre o repelente e o sublime
Mark Fisher





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