Revista / Magazine
A4 - papel de jornal - a corres capa e contracapa
56 páginas
Publicação Trimestral
Distribuição Gratuita
Ano VI
Nº 22
Março de 2005
Clássicos
DISCOS
SPACEMEN 3
Playing With Fire (CD Fire Records, 1989)
Rugby é uma pequena povoação cravada na Inglaterra profunda. A vila é também conhecida como “Drugby” devido à quantidade de agarrados às drogas duras por metro quadrado que por lá (sobre)vivem. No início dos anos 80, dois miúdos com uma impressionante quantidade de coincidências entre si (nasceram no mesmo dia do mesmo ano e viveram, ambos, infâncias problemáticas, por exemplo) juntaram-se para fazer barulho com guitarras. Nos primeiros anos, ninguém lhes prestava atenção. Ou, então, eram alvo de manifestações de violência por parte das assistências nos concertos. Até que, em Fevereiro de 1989, depois de “The Sound Of Confusion” e “The Perfect Prescription”, Pete Kember e Jason Pierce – já em fase de ruptura – lançaram o seu terceiro álbum: “Playing With Fire”. E da noite para o dia, toda a gente passou a ouvir “Revolution”, talvez a mais conhecida faixa dos Spacemen 3: seis minutos de furacão eléctrico em rodopio minimal e crescente. Sem nunca esconderem as influências absorvidas de uns MC5, Stooges, Suicide ou Velvet Underground, os Spacemen 3 não se preocupavam em disfarçar um romantismo que caminhava de mãos dadas com referências nem sempre subtis às drogas e a Deus. “Playing With Fire” esvoaça, também, entre amores naïfs (“Honey”), mantras de ecos minimalistas e acentuadamente hipnóticos (“How Does It Fell?”), teclados de igreja em pré-trip de Rohypnol (“I Believe It”), apelos ao céu e ao Senhor estendidos em canção de embalar (“Lord, Can You Hear Me?”), ou desarmantes atmosferas de uma tristeza cintilante estupidamente belas (“All Of My Tears”). Hoje, mais de década e meia volvida desde “Playing With Fire”, Jason Pierce é um compositor de créditos firmados devido aos magníficos trabalhos com os Spiritualized e já não sente necessidade de provar o que quer que seja – o seu futuro, diz-se, oscilará entre o garage rock polvilhado de gospel e blues com uma tendência crescente para colidir, cada vez mais, nos meandros do free-jazz. Pete Kember, por seu turno, estagnou. E não mais se libertou de uma inércia química: lança discos de qualidade duvidosa afogados no pantanoso território do drone rock, prossegue um programa de tratamento de drogas e vai amealhando libras à custa dos discos por si autografados que ele próprio coloca á venda nos leilões do Ebay. Isto, alguns anos depois de ter andado por Londres a vender frascos de metadona com a sua assinatura no rótulo…
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