16.2.10
Position Normal - Tudo menos normais
Position Normal
por David Stubbs
Sabemos que é perverso dizer neste contexto, mas os Position Normal são esquisitos.
Pronto, está dito!
Mesmo num mundo conhecido de sons que incluí tudo, e de que fazem parte desde os Residents até Merzbow, há ali uma estranheza incomum acerca das suas origens e intenções, e as suas fatias de som, cómicas ou sinistras, som esse encontrado por aí a vaguear e feito em gravações lo-fi.
Muito do que é realizado por eles é inglês, desde samples de documentários a gravações de campo de negociadores de bolsa.
Mas, mesmo sabendo que se trata de Inglaterra, isso é experienciado com perspectiva externa.
Os Position Normal fazem o mundano e familiar parecer ímpar e fascinante.
“Penso que o material mundano é esquisito, com certeza,” diz Chris Bailiff, que, com a ajuda do amigo e vocalista John Cushway, formam os Position Normal.
“E a Inglaterra tem os seus hábitos enraizados – talvez não sejam bem tradições, na realidade. Se encontrarmos japoneses pela primeira vez, os seus costumes e hábitos parecerão esquisitos – mas depois isso equilibra-se a si próprio, tu percebes quão estranhos são os teus próprios hábitos e comportamento, se vistos de fora.”
O ‘Normal’ nos Position Normal é tão irónico como verdadeiro.
Canções como “Jimmy Had Jane” são ao mesmo tempo intimistas, guitarra lo-fi, entregues num desafectado tom Cockney assim como adequados para nos perdermos num mundo perdido de gravações encontradas e pedaços de ‘spoken word’ do passado.
Tentando de forma vã classificar a sua música pode envolver termos de marcar um espaço delineado por Baby Bird e Badly Drawn Boy nos dias em que a sua existência era feita de demo tapes voando à volta na escuridão do anonimato; ou os primeiros This Heat e Throbbing Gristle como em London Everyday, que recontextualizam com um efeito tão inquietante.
De certeza que nenhum destes artistas influiu no desenvolvimento de Bayley. De facto, ele fica frequente e sinceramente desnorteado pelas respostas das pessoas ao seu trabalho.
Baillif tem alguns alter egos. A sua primeira encarnação, nos anos 80, como The Bugger Sod, foram afinal como emissões de teste para os próprios Position Normal, que se formaram em 1993 com Stop Your Nonsense.
Este álbum, tornou-se claro, foi o resultado criativo de uma convulsão doméstica. O pai de Baillif foi um professor no East London’s Upton Park. “Tudo caiu sobre a nossa família, que ficou então com os fusíveis todos fundidos,” relembra Baillif. Depois de perder o emprego e sofrer com a separação da sua mãe, o seu pai contraiu a doença de Alzheimer com a idade de 58 anos. Apesar de apenas ter falecido no ano passado, com a idade de 80 anos, Baillif sentiu que só conheceu o seu pai quando era uma criança, antes do Alzheimer o ter tirado deste mundo.
O seu pai fora um ávido coleccionador de vinilo, particularmente de material “Spoken Word”, incluindo documentários, gravações caseiras (algumas com base na criança Baillif, ele mesmo) e colecções de rimas. “Tratava-se de crianças a recitar, com óptima pronúncia, coisas do tipo ‘apanha a raposa, põe-na numa caixa’,” diz ele. “Aquilo não fazia sentido na altura, e também não o faz agora. Foi este o mundo absurdo em que cresci.” Antes de ter abandonado a casa da família, Baillif esvaziou o sótão destes discos. “Eu estava a arquivar a minha própria história,” diz. Tudo isto, lembrança de um passado em turbilhão na East End, cheio de vozes de crianças (algumas das quais foram gravadas a partir da série de documentários 7 Up, dos anos 60), foi a matéria sonora essencial de Stop Your Nonsense. “A música de dança samplou muita ‘spoken word’ na altura, mas eram apenas filmes americanos,” diz Baillif. “Era perfeiramente óbvio de onde vinham – e não tinham nada a ver com as suas vidas, certamente nada a ver com a minha.”
O terceiro álbum dos Position Normal, e o seu primeiro desde 2003, é mais baseado em canções e tem o nome de Goodly Time (publicado na editora Japonesa San San San), segue um padrão familiar de se prender ao não familiar – pedaços de vinyl e gravações de campo do além/quotidiano; colagens oníricas que, por vezes, se juntam a momentos de lucidez em forma de balada, com Baillif a bater na guitarra e Cushway nas vozes. No contexto da relação problemática com o seu pai, a voz paternal documentada em alguns momentos é pungente, especialmente na faixa “Fart in a Bottle”, que incluí um sample de um velho Albert Finney a voar em direcção a uma raiva, frustrado com um mundo que já não é o dele. Logo de seguida aparece a inexpressiva “Got To Be A Good”, com a sua injunção lúgrube, “Tens de ser um bom marido e um bom pai…”
Em todo o lado, faixas como “New Biz”, com o seu estilo lustroso, à la Lalo Schifrin, tipo banda sonora e vocais, dissolvido no seu próprio reverberar metálico; ou o majestático, e cheio de confusão psicadélica de “Grundigs”; a exotica e não-inglesa “Kaidan Wig Out”, são todas justaposições inesperadas que atingem com o seu surrealismo a cabeça do ouvinte, como velhas canecas de souvenir a cair de lareiras muito altas.
Esta é uma música que optou por estar fora do seu tempo, do habitual arco do progresso – e optou certamente ficar de fora das convenções do design, apresentação e gravação.
Os Position Normal são frequentemente retratados usando cabeças amarelas gigantes, ao estilo Residents, mas isso é simplesmente um dispositivo para evitar a necessidade de qualquer ou conceito visual: “Eles foram suficientemente estúpidos para fazer o trabalho.”
O desejo de Baillif em editar o último álbum em cassete ou como download foi marcadamente prático também – o vinilo é muito caro, os CDs demasiado pobres. “Isso leva as coisas até ao essencial,” diz. “Seja uma fita barata, com chiadeira, ou o irritante MP3.”
Tal como para gravar. A originalidade dos Position Normal está no facto de “o microfone ser um bocadinho fofo, as ligações serem um pouco duvidosas, a fita magnética um pouco chiadora”. O sentido de redemoinho circumambiental sou “eu a andar às voltas com um microfone na mão. Algum do eco e reverberação vem de estar na casa-de-banho. Reverberação de casa-de-banho: é difícil de replicar num verdadeiro estúdio.”
Baillif desconfia das replicações doces do estado da arte dos processos de gravação, dos botões, configurações e dos incompreensíveis engenheiros de som, preferindo “o pontapé físico que precisas para gerar um loop num pedal de guitarra, os ruídos de um quatro-pistas, tendo feito todos os samples no meu grande e antigo teclado Emax, com as suas teclas em falta, como uma cara de alguém a quem faltam alguns dentes”.
As suas gravações de campo, por exemplo, no mercado de Walthamstow foram feitas com discrição, o microfone escondido na sua parka gigante. Ele acha que é mais conspícuo por terem sido feitas no pino do Verão. “Há uns tipos hilariantes naquele mercado,” diz. “Não é o caso de nos pormos a rir deles – mas as suas conversas são mesmo engraçadas. Eu preciso de as gravar mas não lhes digo, a não ser no final, pois de outro modo elas deixariam de ter graça.
Não são coisas de estalo, apenas bom-humor e maneirismos. Porque faço isto? Suponho que é porque me faz rir,” diz ele franzindo a cara.
Position Normal já saiu em cassete e em download.
http://positionnormal.com/
http://positionnormal.com/music.html (tudo a 5 libras)
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