2.2.16

Memorabilia: Revistas / Magazines / Fanzines (156) - Lime Lizard#???


Lime Lizard
Nº????
OCTOBER - 1993
£2.95

UK
92 páginas
formato um pouco maior que A4

Revista totalmente a cores e de papel brilhante, tudo de alta qualidade. Capa com papel mais grosso e interior de papel mais fino, menor pesagem.
POSTER em formato A2: One Dove



Stereolab
stere'o babies
Os Stereolab já editaram tantos discos na sua curta carreira que eles próprios já não sabem quantos foram. Nick Terry deu um salto a Brixton para falar com Tim e Laetititia acerca do situacionismo, da crise e da 'repetição espontânea'.

"Eu gosto disso como um caroço denso, uma protuberância primitiva da música, " diz Tim Gane. "O modo como fazemos o disco não é nada projectado. As canções vêm frequentemente do som que eu imagino que estará ali, como o som de... não de um instrumento em particular, mas uma espécie de caroço daquele bloco de música, com um ritmo sob ele. Eu não quero fazer parte de uma banda de guitarras."
É um músico raro de facto que descreve o seu trabalho como primitivo, mas no caso dos Stereolab, não é assim tão inadequado. Os Stereolab têm tudo a ver com o drone - o efeito hipnótico de uma canção pop, um riff de teclado marado, um pântano lo-fi.
"Eu gosto do facto de teres carradas de pequenas melodias, " continua Tim, "para mim é como um milhar de pequenas melodias a cristalizarem um pouco e desaparecerem e não irem nunca para iriam de uma forma mais normal. Não são realmente as canções que são importantes, é a ideia da banda. Alguém me perguntou recentemente qual era a minha canção ideal, favorita, e eu disse que não tinha uma canção favorita, é um som."
"Ali está aquilo," interpõe-se Laetitia, "mas também como compositora de canções que escreve a canção, podemos obter belos sons, mas se não há canção por detrás isso pode tornar-se um pouco aborrecido. Também escreves canções. Penso que estás a tentar obscurecer esse facto!"
Isto acontece muitas vezes.. O Tim fará queixas expansivas e vagas acerca dos da música dos Stereolab, apenas para fazer-se de criança, criticado e corrigido por Laetitia. Isso torna a entrevista engraçada; Também deixa lugar para uma variantes de interpretações.
Ao vivo, os Stereolab evocam uma série de descrições parciais e semi-contraditórias. O grupo de cinco elementos, groove, drone, palpitação, canções vocalizadas, melodias, mantras de uma nota só. Pontos de referência incluem os Band of Susans, Spacemen 3, Flying Nuns, bandas como os Snapper e The Chills (o ex-baixista dos Chills Martin fez uma perninha recentemente na banda); comparações com bandas mais antigas poderão conduzir aos Modern Lovers ('Roadrunner'), Beach Boys, Velvets, Neu, Faust, Can. Ainda que para cada grupo Tim admita essas influências que são depois deformadas na sua ideia original, há todo um outro conjunto de razões pelas quais os Stereolab não soam como essa banda.
"Eu não me importo se sabem que eu gosto dos Neu," encolhe os ombros Tim. "Pensam que eles chegaram até nós aos trambolhões, mas nós somos mais originais que uma banda que se diz original. As pessoas suspeitam realmente das influências. Tudo está aberto a ser usado e reutilizado, através, por exemplo da colagem ou montagem."
"Não penso que as pessoas pensem que nós somos dos Sixties," diz Laetitia. "Ouço mais pessoas a dizer que a nossa música é nova do que as que dizem que é antiquada."
A grande diferença entre os Stereolab e uma banda retro é a sua elevada taxa de produtividade, and, fluindo nesse aspecto, a sua quase completa falta de preciosidade.
"Uma coisa que eu não gosto no facto de editar álbuns é que tens aquela pressão psicológica para fazer um disco peculiar e eu odeio fazer isso," diz Tim, "porque nós apenas gostamos de fazer os singles quando temos um dia para os gravar."
"Penso que a melhor energia que podes obter na música é a primeira vez, a primeira depois de teres praticado, de forma a poderes captar isso no disco," diz Laetitia. "Nós fizemos ainda melhor recentemente gravando um single para a Sub Pop, sem nenhum ensaio prévio, basicamente ninguém sabia nada, excepto o Tim e eu, o que estavam a tocar como deveria sequer soar.. Quantos singles já fizémos, Tim?"
"Não sei. Reconheço que devemos ter escrito cerca de cem canções em disco."
"Verdade?! Tantos! Não, não... talvez setenta."
"Bem, pensando, creio que fizemos 4 álbuns CD compilação cheios de singles. Devido ao facto de gravares tantas canções, tendes a não te focar em nenhuma coisa em particular. Se alguém lança um outro álbum que demorou dois anos a gravar/fazer e toda a tensão estará concentrada aí, não é? Eu prefiro as faixas que fazemos à primeira, como o single com os Nurse With Wound."
Vêem? Eles podem até concordar na quantidade que já gravaram, deixemos de lado pois o modo como soa a música.


A relação dos Stereolab com a Too Pure (através da qual lançaram Peng! e o mini-álbum The Groop Played Space Age Bachelor Pad Music) agora fechada, obrigou a banda a assinar um acordo global com a Warner, deixando de lado o seu United Kingdom para a sua própria editora, a Duophonic. Tal como a música que tocam, a sua carreira até agora tem sido sobretudo um deixar andar e percorrer o caminho que lhes surge pela frente, de tal forma que é extraordinário e difícil de compreender o como se tornaram grandes duma forma tão discreta. Também torna difícil sacar as edições correntes para fora do continuum e manteres-te a par de todas elas, como fazes com qualquer outra banda normal, mas o single 'Jenny Ondioline' e o álbum Transient Random Noise Bursts With Announcements são, diga Tim o que disser, excepcionais. Abrangendo toda a gama de comparações mencionadas até aqui, embelezamentos como samples, pedaços de fita magnética, efeitos de vocoder, deixa-o numa indecisão firme entre o lo-fi e a precisão estilo-MBV, como os His Name Is Alive no seu melhor.
"Não sei," diz Tim, "o modo como o gravámos, tudo foi escrito e ensaiado em duas semanas antes de gravarmos o LP, não havia nada escrito antes disso, foi realmente tudo muito rápido."
Muitas pessoas associam a música espontânea com improvisação, espalhando-se por tudo e mais alguma coisa, mas a vossa é uma espontaneidade repetitiva.
"Essa é a restrição que obtivemos. Não se trata de sair dos limites, ou se é, é acerca de de fazer as coisa muito... tu podes improvisar com apenas uma nota. Uma improvisação de trinta notas significa pôr o mais que puderes na música, e eu realmente gosto disso, como os Thinking Fellers, mas nós não somos bons nisso, é tão simples como isto."

Num encontro que tivemos há tempos, numa festa do ano passado, Tim confessou-me que citaria movimentos artísticos como Dada e o Situacionismo como influências, inclinando-se contra o balcão do bar e discutindo o surrealismo, e sem ser conversa de bêbedo.
"Obviamente não do ponto de vista musical, mas do ponto de vista inspiracional, sim. É apenas a ideia de fazer algo que não foi ainda feito, ou coisas melhores do que tu provavelmente és capaz. Com os Situacionistas, havia a ideia de pôr dois elementos completamente opostos e juntá-los num só, ou mudar as coisas de forma subtil, tal como mudar algumas letras num aviso pode alterar completamente o seu significado. Esse tipo de pequenas travessuras atrai-me... tal como eles quando iam em manifestações e em vez de gritar 'revolução!' gritavam 'chocolate quente, comprem o vosso chocolate quente aqui' Uma outra coisa é a ideia da anti-estrela. Eu penso realmente que alguém com uma ideia pode realmente fazer coisas boas, o que não tem nada a ver com a ideia que nasceste para ser uma estrela. O que de facto essas pessoas acabam por transmitir é que que soam a toda a gente que é realmente uma estrela, uma visão muito estreita do que uma estrela é."
"Enquanto que algumas pessoas realmente têm carisma," acrescenta Laetitia.
"A tirania da musicalidade é também algo a ser combatido frontalmente, aquela ideia que a menos que estejas treinado e sejas bom tecnicamente..."
"Mas a também a tirania em sentido lato," acrescenta Laetitia. "Apenas tirania e ponto final. Há a tirania que infligimos a nós próprios também, aquela que começa em casa até à do estado, que deve ser combatida ferozmente."
Laetitia é como um tição de sossego e calma. Já notada por uma linha de Peng! que diz qualquer coisa como "civilização cristã burguesa", ela escreveu algumas letras para 'Jenny Ondioline' que parece voar na face da superfície do som. Mas como disse Tim, justaposição e paradoxos são uma grande parte dos Stereolab, e se isso significa uma clama, não proselitista mas antes um forte conjunto de convicções políticas, que assim seja.
"Metade das letras neste álbum são pessoais," explica Laetitia, "metade são políticas. Decidi que se quero mudar o mundo, tenho de me modificar a mim primeiro, assim estou naquela fase em que foi mais fundo e agito as coisas de forma a mudá-las, e escrever letras é uma excelente forma de tornar isso tudo de forma a que faça sentido. Assim a outra metade é ainda socialmente conscenciosa, ainda sabendo que acções precisam ser tomadas, a forma como devemos manter a esperança na luta, e, como para mim própria, o capitalismo é vencível, depende apenas de nós, e se construirmos isso significa também que podemos destruí-lo. Na realidade o sistema não está a funcionar, está a colapsar por todos os lados.
"'Jenny Ondioline' é uma espécie de paralelo com os anos 30 e o que está a acontecer agora, sabes, uma crise, uma daquelas mesmo profundas. E é aqui que a comparação pára. É verdade que o fascismo está a crescer, mas não é suficientemente importante que ele tome conta do mundo. Penso também que as pessoas estão, em geral, numa espécie de mancha política; mesmo o fascismo não lhes traz o que elas procuram, nem sequer clarifica o que que eles gostariam, assim a esse respeito não penso que o fascismo seja um grande inimigo."
"Há certamente agora um clima propício para evitar a política," acrescenta Tim. "A política não resulta, não funciona, seja lá o que quer que isso queira dizer, deve ser deixada às pessoas que percebem desses assuntos, pensam as massas, e isso significa que eles ganharam quando estamos nesta situação. To apanhas com estas ondas argumentos de política e música indo e vindo, e a essência é que tu fazes a música que queres fazer, e assim as pessoas cantam acerca de coisas políticas o que é pop como qualquer outra coisa. Também põem no mesmo pé política dura com música dura, é esta a metáfora simples do que acontece. Porquê? Será que as pessoas com pontos de vista políticos não gostam de ouvir música melódica? O perigo de misturar a política com a música na imprensa musical é que é tudo uma coisa superficialmente tratado, as contradições ou o significado analítico foi perdido..."
"É tudo superficial em todo o lado!" exclama Laetitia.
É tudo superficial no Guardian... ou no Living Marxism. Eu não posso pois pretender que seja muito mais profundo no Lime Lizard, ou na 'Jenny Ondioline', ou que possas subscrever os pontos de vista dos Stereolab como o farias com uma facção de partido. De certo modo, o que os Stereolab fazem é mais do que admirável - pôr as suas crenças e interesses no todo da banda, nesse contexto primeiro e principal, com nada em primeiro plano, e se isso significa escrever canções acerca da crise num mantra pop de três minutos, então devemos saborear a contradição. Chega a té ti em stereo, ao fim e ao cabo.







Artigos de fundo interessantes, eventualmente a transcrever no futuro:
- Cocteau Twins
- The Other Two
- Dead Can Dance




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