11.3.19

Memorabilia: Audion #39 (feat.) Brian Barritt - Cosmic Couriers - Jokers


AUDION
Nº 49
Dezembro de 1997
Revista com 44 páginas, em papel brilhante de elevada qualidade
Formato A4
Capa a 2 cores - restantes páginas a preto e branco

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MEMÓRIAS DE UM "COSMIC JOKER"
por Brian Barritt

Eu entendo o Krautrock como o acid-rock germânico. Quando eu entrei na cena, em 1971, Berlim era uma ilha cercada pela Rússia, e a juventude, brutalizada pela geração dos seus pais e bombardeada pelas ideias Inglesas e Americanas, estavam a ter problemas de identidade. O Krautrock foi inspirado por uma raiva divina que foi espremida em guitarras, batida em baterias e fumada em drogas, até que o protesto que inspirou toda a coisa implodiu e a Alemanha encontrou a sua identidade de novo.
Quando o Krautrock apareceu estava nascida a Música Cósmica. Não há um protesto óbvio na Música Cósmica. Hartmut Enke chamou-lhe a "Música do Paraíso", de acordo com Julain Cope ela é a "Música que faz tábua-rasa de toda a miséria"! A Música Cósmica é música transcendente, música que acaba em transe, o fim do transe, o fim da magia materialista que existiu não apenas na Alemanha mas em todo o mundo, é um protesto contra a realidade - o maior protesto de todos!

Rebobinando 25 Anos
Estamos em 1972, Time Leary e eu próprio encontramo-nos na Suiça a lutar contra a CIA, que tenta extraditá-lo de modo a cumprir uma pena de prisão de 10 anos nos Estados Unidos. Tim havia fugido da prisão nos Estados Unidos e tinha agora uma postura discreta na Suiça. O Presidente Nixon apelidou-o de "O mais perigoso homem do mundo" e ofereceu uma recompensa de $5,000,000 pela sua cabeça.
Com a ajuda de um exilado francês traficante de armas chamado 'Goldfinger' ele conseguiu evitar os caçadores de recompensas e manter-se ao largo, mas o 'Goldfinger' chantangeou-o para obter os direitos do seu próximo livro "Confessions Of A Hope Fiend" e nós apressámo-nos a finalizá-lo.
Foi com este pano de fundo que conhecemos Rolf-Ulrich Kaiser, da Ohr Records, e um grupo de músicos chamado Ash Ra Tempel, e ficámos apaixonados pela Música Cósmica. Não conseguíamos ouvir mais nada, o que agora é conhecido como música dos anos 60 deixáva-nos frios, vivíamos uma vida aventurosa e necessitávamos de sons apropriados para a acompanhar., que decerto não era o sabor manso e suave que estava na altura a agitar o Reino Unido e os Estados Unidos.

A minha vida foi salva pela Música Cósmica, algo terrível aconteceria decerto se eu não ouvisse estes sons inspiradores. Sentia-me como o Conan o Cimeriano com a Red Sonia e sem música para fazer amor com ela! Uma manhã estava eu a contemplar o lago de Zug, ouvindo um som Zen japonês ao mesmo tempo que desfrutava da vista de picos de montanha gelados, os pássaros e a agitação, quando Rolf e Gille Kaiser voaram como morcegos saídos do inferno e afogaram o meu som japonês com um brutal ataque de Klaus Schulze - Nunca mais recuperei.
A presença de Tim funcionou como uma espécie de íman, e assim rapidamente Rolf e Gille estavam a gravar outros Gurus psicadélicos; assim como Tim, havia o M.P. e místico Sergius Golowin, e o artista de  Gypsy Folk, Walter Wegmüller. Designámo-nos a nós próprios como "Cosmic Couriers".
Cosmic Courier é uma atitude da mente que começa nos inícios dos anos 60. O termo foi pela primeira vez utilizado pela juventude idealista que atravessou a distribuição global do LSD 25, não por razões monetárias mas com o objectivo de expandir o mundo da sua consciência. Eu tornei-me Cosmic Courier em 1963, mais ou menos na mesma altura que Timothy Leary, tendo sido ambos levados a isso por Michael Hollingshed, o courier original e autor do livro "The Man Who Turned-On The World".
Com os Ash Ra Tempel gravámos um disco conceptual, para ilustrar os sete níveis de consciência em que estávamos a trabalhar com o ácido: um lado chamou-se "Time", o outro "Space". Quando era tocado em ácido, o tempo e o espaço juntavam-se para criar o extrasensorial TimeESPace.
TimESPace foi uma fórmula que trabalhámos depois de uma trip de ácido no Deserto do Sahara antes de chegarmos à Suiça. Tim e eu tínhamos ido para o deserto para tripar: recebíamos informações de um outro tempo e sentiamo-nos como se estivéssemos a revivar a história, de forma a obter todas as sincronicidades, coincidências, falhas-no-tempo, etc. Utilizámos o termo TimESPace. Descobrimos um ano mais tarde que tripámos num local chamado Bou Saada, onde, no ano de 1909 Aleister Crowley teve uma série de trips de mescalina.
O Bern-Fest era uma acid-rave gravada nos estúdios que ficavam numa rua chamada Munstergrasse, um teste eléctrico e ácido nada cool - um hino pobremente controlado. Com a ajuda de Kaiser e Gille tentámos colocar TimESPace na forma de disco. Metemos algum ácido "Operation Julie" numa garrafa de 7 UP para ilustrar os sete níveis.
Tim e eu próprio não estávamos principalmente interessados na música como forma de arte, apenas no contexto de ajudar a manter elevados estados de consciência - para esticar a nossa eternidade, da forma que ela era. Não estávamos a tentar fazer música mas mais à procura de caminhos para permanecer "high" e estender os nossos horizontes. Tudo isto aconteceu há muito tempo, de acordo com o relógio do tempo, mas há três níveis acima do tempo-do-relógio - o tempo Extendido (nível 5), o tempo Simultâneo (nível 6), Todo-o-tempo (nível 7), e um lugar que não é um nível, chamado Não-tempo. O nível 7 é aquele onde vês arquétipos e memórias raciais, e era esta a área que pretendíamos atingir com a Música Cósmica.
O ácido fez-nos conhecer os ancestrais nos nossos genes; memórias genéticas e arquétipos lutaram num Armagedão de sensações, as nossas mentes voaram como machados tecnológicos sobre oceanos de estática brilhante. Mais tarde conectámos um novo super-grupo chamado The Cosmic Jokers, uma entidade de cabeça única flutuando sobre os músicos e tocando os seus instrumentos com centenas de dedos que deixavam rastos coloridos quando gesticulavam e estilhaçavam em cacos à medida que atingiam um acorde. Era um puzzle - todos os músicos eram génios e estavam todos em ácido!
Entreatanto; à medida que caminhávamos para a Alemanha um adolescente em Tamworth, Inglaterra estava a par de tudo isto.

Fast-Forward 25 Anos
Refrescado à sombra do círculo de pedras de Avebury, Julian Cope, possuído pelo espírito de um antigo Krautrocker, explodiu na minha casa respirando entusiasmo cósmico como um dragão, com sicronicidades, acidentes e coincidências ligando como lianas através do cérebro.
Eu fiquei deliciado que a música na qual eu toquei algumas partes tenha pelo menos vindo de novo à luz do dia, quando eu finalmente ouvi que a 'música drogada' dos Cosmic Jokers. Rolf Kaiser e Gille Lettmann não foram autorizados a editá-la, a polícia alemã estava interessada em me localizar, e tudo acabou por ficar na obscuridade.
Cope colocou um quadro à volta de uma peça do passado e tornou-a num pedaço de história, o seu livro teve um efeito estranho em mim, e que me levou algum tempo a apagar as minhas memórias negativas, opiniões, etc., antes que eu conseguisse novamente relacionar-me com aquelas leviandades antigas quando, com a ajuda do LSD e da Música Cósmica, nós estávamos convencidos que iríamos mudar o mundo.
Tim Leary ficou também muito satisfeito com o revivalismo da Música Cósmica: Quando o visitei em Los Angeles em 1996, um mês antes da sua morte, a primeira coisa que ele disse foi "Aterrámos junto das pessoas certas na altura certa". "É bem verdade, Tim", disse eu, não fazendo a mínima ideia do que ele estava a falar - mas depois vi que ele estava a ouvir Manuel Göttsching e os Ash Ra Tempel!
A combinação de ácido, música e divertimento actuou como um catalisador para os poderes visionários de Kaiser, ele viu a divindade na sua parceira Gille e ultrapassou o inferno levando consigo a sua filosofia. Rolf-Ulrich detonou uma bomba relógio psíquica dedicada à Deusa, mesmo no meio da Terra dos Pai.
No primeiro ano do revivalismo da Música Cósmica, saíram três livros, "Krautrocksampler" de Julian Cope, "Cosmic Dreams At Play" de Dag Erik Asbjornsen, e "The Crack In The Cosmic Egg", de Steve a Alan Freeman, o que deu muito mais estrutura áquela época.
Ao longo de uma década os irmãos Freeman foram um oásis de sanidade num mundo de ignorância e incompreensão. Enquanto trabalhavam no seu monumental catálogo "The Crack In The Cosmic Egg" uma "enciclopédia de Krautrock e Música Cósmica", a sua loja de discos e o seu magazine "Audion" manteve a luz acesa através dos dias de obscuridade até ao renascimento que aconteceu nos meados dos anos noventa.
Os sons dos The Cosmic Jokers permaneceram hibernados durante um quarto de século - o tempo permaneceu parado, tamborilando os seus dedos com tédio - e então, de repente, no tempo predestinado, a Spalax Records de Paris começou a produzir CDs brilhantes e do passado emergiram os sons sublimes da Música Cósmica, e uma vez mais as Valquírias e heróis, monolitos e stereolitos, super-mitos na forma de arqueosons quadrifónicos, começaram a soprar como túneis de vento através da nossas mentes. Mais uma vez o tempo e o espaço juntaram-se e saíram para a rua, flutuando no nirvana, o espírito de Tim Leary atinge através de um estampido no TimESPace, imprime 7 UP num CD cósmico e com um sorriso perverso, prime o botão de...
PLAY!









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