5.4.19

Memorabilia: Audion #38 (feat.) Artemiy Artemiev / Julian Cope







NME no NFT
Julian Cope Apresenta um Krautrocksampler
e Alan faz a reportagem

Uma série de primeiras vez esta noite: 1) a mais longa distância que me desloquei para ir a um cinema! 2) A minha primeira visita ao National Film Theatre. 3) Conhecer Julian Cope. Apesar de essencialmente, esta noite foi uma celebração pura do Krautrock, uma oportunidade de ver dois filmes substanciais nunca apresentados no Reino Unido, assim como alguns clássicos do arquivo do "Beat Club".
Penso que Julian parecia um bocado nervoso por ter sido chamado para apresentar tal evento. Eu nunca tinha pensado nele como sendo completamente tímido, apesar de poder ter acontecido ele estar simplesmente ansioso para ver o que iria ser apresentado. Como Julian disse, havia por ali alguns crânios de verdade do Krautrock e o entretenimento da noite seria admiravelmente inspirador, para não dizer mais. Eis o que nós assistimos:

Can Em Concerto (1972, 53 mins)
Não apenas os Can em concerto, mas mais um "rockumentário" experimental contendo cenas com experimentações em estúdio entrecortadas com um extraordinário e selvagem concerto. A era é a de Damo e Co. Os Can no seu auge, "riffando", latejando, girando maniacamente. Damo gorjeando, berrando, sussurrando, gritando ou apenas dançando acompanhando a batida. Jaki provando, como sempre, ser o mais "cool" e controlado baterista do planeta. Holger parecendo drogado e a tripar com a música. Michael balanceando-se quase imperceptivelmente. E, finalmente, Irmin, atacando os teclados como se fossem ferramentas de precisão. As faixas fluíam incoerentemente de uma para outra, assim como a parte visual, acrescentando até um patchwork da experiência Can, com malabaristas e acrobatas no palco a competir com a latejante urgência da música. Um filme bizarro e extraordinário, perfeitamente adequado a uma das mais extraordinárias bandas.


Amon Düül tocam Phallus Dei (1969, 25 mins)
Um filme antigo dos Amon Düül II ao vivo em concerto, filmado com câmara estática, iluminação líquida e uma atmosfera eléctrica que quase provocava electrocução.
Sem qualquer aspecto visual high-tech ou sequer mistura, mesmo apesar do envolvimento de Wim Wenders, este é um filme minimalista de olhar espartano apenas centrado em Renate e Shrat. Uma energia bruta clássica, abrindo com Renate a chilrear a-la Yoko Ono, construindo o habitual climax, como uma espécie de Third Ear Band encimada pelo maravilhoso violino desafinado de Chris Karrer. Não me quero alongar, todos vocês sabem como se desenvolve Phallus Dei. Apesar de um pouco lo-fi, ver isto foi uma esplêndida experiência de viagem no tempo.


Do Beat Club...
Amon Düül II, Popol Vuh, e Kraftwerk
Apercebi-me que algumas pessoas da audiência já tinham visto este filme anteriormente, mas para mim era a primeira vez, e por isso uma excelente experiência, em ecrã gigante com som stereo. Com efeitos visuais extraordinários, os Amon Düül II pareciam voar numa sopa psicadélica colorida. O show é de 24 de Outubro de 1970, e é basicamente a incarnação entre YETI e DANCE OF THE LEMMINGS sem Renate, com Chris Karrer ao leme, e Karl-Heinz Hausmann a inventar uma electrónica ao estilo dos Ozric Tentacles sem a ajuda de sintetizadores! De forma grosseira, as faixas mostradas pertencem a versões de Eye Shaking King e Between The Eyes. Também no meio de remoinhos psicadélicos se pode considerar a peça rara e de início de carreira dos Popol Vuh, chamada Bettina, com Florian Fricke escoando padrões sonoros a partir do seu Big Moog, enquanto (nunca visto) Holger Trülzsch e um outro percussionista que adicionava a batida étnica. Isto data de 24 de Abril de 1971, e apesar de ser inconfundível e único Popol Vuh da mesma época, é totalmente diferente de qualquer coisa de AFFENSTUNDE. Finalmente, uma peça clássica dos Kraftwerk, e uma peça que eu conhecia bem do CD dos Organisation, intitulada Truckstop Gondolero (de 22 de Maio de 1971) com a formação bizarra dos Kraftwerk, constituídos por Florian Schneider, Klaus Dinger e Michael Rother, quase mais proto-Neu! do que Kraftwerk, e de novo espantosos efeitos visuais. De todo em todo, brilhante.
Depois do entretenimento, tive de dizer adeus a Julian, tivemos uma pequena conversa que envolveu outros fanáticos do krautrock. Estávamos todos numa grande excitação. Que grande noite!





ARTEMIY ARTEMIEV
Artigo / crítica por Alan Freeman
THE WARNING
(Electroshock ELCD 001) CD 73m
COLD
(Electroshock ELCD 002) CD 73m
POINT OF INTERSECTION
(Electroshock ELCD 003) CD 75m



Filho do famoso músico pioneiro da electrónica e compositor de bandas sonoras, Eduard Artemiev, parece que Atemiy aprendeu bastante com o seu pai. Artemiy, de facto, tem tentado ao longo do tempo estabelecer a sua própria etiqueta / editora, e tem muitas outras ambições, em cinema, TV, etc. Ele saiu do underground, contactando vários músicos que praticavam uma música electrónica e experimental com sintetizadores, por todo o mundo. Assim, nós tivemos conhecimento que estes CDs estavam para saída iminente a qualquer altura. De qualquer forma, apesar do nome da editora, Artemiy é um artista com gosto, e nenhum destes CDs é chocante de todo, apesar de serem todos diferentes no seu foco.
THE WARNING é o seu álbum de estreia, no qual recolectou todo o seu trabalho anterior, e ficou nas estantes durante 4 anos. Eu sei que houve muitas demo cassetes deste material a circular por algum tempo, mas apenas agora surge a edição oficial. THE WARNING mostra estas influ~encias de forma muito extensiva, nas quais ele trabalha sobretudo com o cinema e a TV, eis pois aqui a influência do seu pai, através de intensiva utilização de melodias e formas. É realmente "picture music", e adequadamente conseguimos associar os títulos com a música de forma fácil. Abundam pinceladas do velho Vangelis e do recente Klaus Schulze, o primeiro devido à riqueza das melodias, o último na utilização do sampler e texturas não usuais. Um pouco "muito bonito" para o meu gosto pessoal, mas para álbum de estreia não está mal.
COLD é um trabalho composto entre 1994 e '95, e é um desenvolvimento dos elementos mais etéreos do álbum anterior, com uma música menos focada na melodia, virando-se mais para o lado da música new-age. Particularmente na faixa A Polar Night há um forte aceno de cabeça na direcção do trabalho de bandas sonoras compostas pelo seu pai nos anos 70. Essencialmente leve e relaxante (com pinceladas de Sven Grünberg e Igor Len), o único tipo de "frio" que esta música significa para mim é aquela contendo gelo cristalino e fragmentos de neve, uma beleza fria e frágil, não gelada e rígida, e dessa forma um pouco à la Klaus Schulze de novo brilha outra vez de vez em quando.
Muito mais sombrio do que os dois CDs anteriores. POINT OF INTERSECTION documenta o seu trabalho mais recente, e é a tentativa de Artemiy para criar uma música composta por culturas contrastantes, misturando electro-acústica com elementos mais melódicos a partir de sintetizadores. Os resultados são de certa forma subjugados e estranhos, um pouco como Lightwave, e há muito mais sampling óbvio (pode-se pensar que se trata de Kosmische Krautrock) e o mau humor de tudo isto misturado quase que pode ser comparado aos trabalhos do seu companheiro moscovita, explorador de sons, Mikhail Chekalin, havendo aqui também resquícios de Lightwave também. Com um pouco mais de diversidade e desenvolvimento dos temas e ideias, esta é a direcção que Artemiy deverá seguir no futuro. Esperemos que sim!








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