autor: J. P. Robinson
editora: Few Press
nº de páginas: 214
isbn: N/A - Edição de Autor
data: 2020
Este é um livro que conta várias histórias de personagens peculiares, de forma entrelaçada, ou seja, cada capítulo é uma parte de uma história que depois é retomada mais à frente, noutro capítulo. Em vários caso, as próprias vidas das personagens retratadas se entrecruzam, o que dá um certo élan ao percurso que é a leitura do livro. Os retratados, em histórias, por episódios, estão muito bem escritas, com elevado grau de sensibilidade e afecto. Essas personagens são colecionadores e fanáticos, como o título do livro explicitamente refere, mas todas estão de alguma forma, ou melhor de uma forma profunda, imersos no mundo da música. São músicos, fãs, pioneiros do colecionismo e da formação de sociedades musicais. De alguma forma são todos pioneiros. Querem nomes? Aqui vão:
William Jellett (“Jesus”), “freak” omnipresente em “todos” os concertos realizados em Londres e outros locais do Reino Unido, desde os anos 60 aos 90’s, que depois desapareceu misteriosamente. O autor descobriu que habita num asilo para idosos, já padecendo de doenças próprias da idade; Helen Oakley, a amante pioneira do jazz, no início do século, na organização e promoção de eventos relacionados, pioneira também da crítica musical (jazz), e que chegou ainda a deixar obra de referência, mas que abdicou muito desta sua vertente activa para tomar mais conta da família, cedendo o seu lugar interventivo na cena musical ao seu marido Stanley Oakley, que prosseguiu e desenvolveu a sua obra; A longa história do “punk” que é muito mais remota do que pensamos, sendo a palavra originária do século XIX e cujo significado sofreu algumas alterações ao longo dos tempos; Alexander Dorokupetz, o tipo que atirou uns ovos podres, e lhe acertou em cheio com alguns, ao Frank Sinatra, num dos seus concertos, operação cuidadosamente preparada e executada, fruto do seu ódio ao cantor, mais por via do ódio ao grupo de fãs femininas “histéricas” que pululavam por toda a América, no tempos áureos do cantor. Alexander Dorokupetz, que não existia em qualquer registo civil do país, o que constituiu um enigma durante muito tempo, pois os jornalistas caíram de imediato sobre o caso, sem conseguirem avançar muito. O autor acabou por descobri-lo também, como membro presidente de um coro, na sua reforma, e que veio a falecer em 2013.
Chuck Berry, colecionador de fãs menores para fins sexuais menos lícitos, passando por isso alguns anos com os costados na prisão. Neste aspecto é de referir que a história é toda ela (embora tenha tido outras semelhantes) sobre a sua pequena indiana Janice Escalanti, por uns tempos famosa, e que acabou por regressar à sua reserva, aí casar e “ser feliz” até aos dias de hoje.
Finalmente, se é que não me escapa algum, o primeiro colecionador de discos, neste caso de discos do início do século até aos anos 40, que chegou a juntar dezenas de milhares deles, sobretudo de jazz e blues, a música da época, 78 RPM. Irascível, como todos os colecionadores, Brian Rust, escreveu as primeiras e mais completas (algumas ainda hoje inultrapassáveis) bibliografias críticas sobre discos e a sua música. É famosa a sua prodigiosa memória – uma vez foi-lhe roubado um disco e ele acabou por descobrir quem foi, tendo provado no tribunal que era aquela a sua cópia pois na 17ª espira havia um pequeno salto sonoro, quase inaudível -.
Pelo meio Cliff Richard e Dennis Wilson acabam por ver partes menos conhecidas da sua biografia aqui desvendadas e entroncadas no espírito que paira sobre todo o livro, apesar das diferentes personagens a partir do qual é construído.
Um livro muito agradável de ler, sobre factos e personagens todos relacionados com o mundo musical e a sua História, mas que também se pode ler como uma novela com um enredo único.
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