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THE SOUND OF THE DRUM
DRIVES OUT THOUGHT. FOR
THAT REASON IT IS THE
MOST MILITARY OF INSTRUMENTS.
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«Querem discorrer sobre o
slogan ‘Conformar Para Desformar’?
Não, isso foi o Stevo… não tem
nada a ver connosco! Isso foi uma coisa que lixou tantas bandas. Tantas bandas
disseram ‘Temos óptimas ideias, vamos ser mesmo diferentes e vamos mudar as
atitudes das pessoas… mas o que faremos é seguir a norma, conseguir que as
pessoas se interessem e depois então desviá-las’. Em 90% dos casos, as pessoas
que se conformam nunca chegam à fase do desvio porque têm de manter o seu
público. A noção de ‘Conformar Para Deformar’ é maioritariamente uma treta.»
Stephen Mallinder (Cabaret
Voltaire) em conversa com Richard Jevons para a revista Overground, 1984
«O prazer é uma coisa que o
escuro não tem. Tem doer; faz doer. A música do escuro é o som de um sofrimento
que se ouve e se condói consigo mesmo. Não fala da simples tristeza, do
arrependimento, da chuva, do Outono no coração. Não fala – grita. Grita para
que doa ouvir o grito do que lhe dói. Como as imagens de uma morte alheia, no
grão intocável de um «écran» de televisão. E deste escuro, deste desespero que
não se conteve, nenhuma luz, nenhuma saída se consente ou espera.»
Miguel Esteves Cardoso, “A
Noite Nacional”, jornal Blitz, 19 de Novembro 1985
Todas as imagens digitalizadas
para escala de cinza a partir de objectos de arquivo pessoal.
José António Moura: textos
(excepto onde creditado ou óbvio), recolha e manipulação de imagens, composição
gráfica, paginação, tradução, revisão (assistida por Pedro Santos).
Na face: Rascunho de carta para Mike Keane
(Royal Family And The Poor), 1988.
Página 2: Cassette Ecstasy Under Duress (Test
Dept, 1984).
Página 99: Composição a partir
do papel de carta da Antler Records.
No verso: 12” Junk Funk (SPK,
1984).
Impresso em risografia no
estúdio DESISTO. Primeira tiragem de 60 exemplares.
Marte Instantânea, 2024.
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Imagem dos TEST DEPT.
(tirar foto)
P5 col. 1
Páginas de texto e imagens que assinalam muitos anos de divulgação de música. Demonstra-se como, a partir da perspectiva de fã, se circula para outros papéis mais activos. Nada se inventa, propriamente, mas tudo se ergue do nada. Como em outros percursos, são as ligações que se fazem que identificam a personalidade, são as escolhas de umas coisas em detrimento de outras, incontáveis vezes, que distinguem o nosso percurso de outros. Curiosidade, anotações, cópia, iniciativa e aprendizagem com quem já fazia o mesmo. Benefício da generosidade de pessoas que abriram portas, facilitaram contactos, gravaram e emprestaram música, deram oportunidades. Sem elas, tudo seria mais difícil e menos interessante.
O arquivo espelha o percurso e as sensações com bastante evidência e, por isso, o texto está ao seu serviço, não funciona em autonomia nem se reclama biográfico. Por isso, também, encontra-se fragmentado de acordo com a sequência cronológica / temática das imagens, frequentemente como legenda. Ainda assim, espera-se fluído e suficientemente elucidativo.
Absorver informação e
reflectir sobre ela. Comunicá-la. A sua música e os discos continuavam a dar
formação artística, social e política. Rasto de cassettes bem importante para
primeiras abordagens, uma verdadeira fundação para o trabalho de divulgação. A
correspondência com artistas e editoras, iniciada em 1987, começa neste número
a ser apresentada de forma a completar a narrativa. A apresentação não é sempre
integral mas sobretudo focada em certos assuntos relacionados com histórias
pessoais, iluminação de algum detalhe técnico interessante ou pormenor
histórico inserido na cena portuguesa da época. Este património segue em
edições seguintes dos Cadernos.
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PARTE 3
Test Dept, SPK, cassetes,
correspondência, Antler, Siglo XX, The Klinik, Vomito Negro, Interrail,
Electronic Body Music, etc.
Assumida a opção estética
principal no gosto e na divulgação, passagem para a experiência imersiva da
documentação, conhecimento, descoberta do que parecia estar do outro lado da
camada de verniz que reveste a realidade consensual. Uma certa reprogramação.
Escola do submundo. Contactar com aspectos feios, violentos, reprimidos na
sociedade. Questionar a “normalidade”.
Muito novo para viver
Throbbing Gristle e a sua doutrina de subversão do Normal, abracei com
entusiasmo outros grupos com teoria suficiente sobre assuntos controversos e/ou
com carga política. Na geração seguinte, Neubauten pareciam bastante directos,
a sua acção e a sua música eram o programa, mas Test Dept e SPK, por exemplo,
geravam explicitamente mensagens de (re)acção, revolta e esclarecimento através
de textos e frases nos discos. Alguma dessa informação foi apanhada a
posteriori para enriquecer programas de rádio ou textos publicados. O primeiro
contacto com essas bandas foi através de cassetes gravadas com os discos. O som
bateu primeiro, só depois a teoria.
A prolongada luta dos mineiros
ingleses em 1984-85 gerou música de apoio e comentário sócio-político, desde a
via mais tradicional de Billy Bragg ao acompanhamento electrónico de Robert
Calvert (Hawkwind) e As tácticas de choque dos Test Dept. Estes últimos
representavam na ideologia mas também no som o combate das classes
trabalhadoras na indústria pesada. Simbolicamente, gravaram um álbum com o coro
de mineiros grevistas do sul do País de Gales (Shoulder To Shoulder, 1985) mas
foi em The Unacceptable Face Of Freedom (1986) que o grupo melhor expressou
artisticamente a sua posição política na questão dos mineiros e outras preocupações
socio-políticas da época.
A entrada no disco foi
imediata, o espírito ficou cativo. Aprender sobre a luta dos mineiros em
Inglaterra, quem era Enver Hoxha, tentar entender e descodificar os excertos de
rádio ou TV incluídos no álbum, “The Crusher” e “Fist” como veículos de
adrenalina. Saber mais para transmitir mais. Depois, descobrir que metade do
single de estreia de Test Dept (Compulsion, 1983) era produção Kirk / Mallinder
(Cabaret Voltaire). Beating The Retreat mais rude, sombrio, fetichista – “Sweet
Sedation” com batida 4/4 que, passados 20 anos, se misturava com techno, e a
voz irada que suplantava Nitzer Ebb; “Total State Machine” como protótipo da
percussão industrial em forma catártica, energizante; “Spring Into Action” como
comando para agir. Ecstasy Under Duress, o entusiasmo na adversidade e um monte
de postais evocativos da onda. Tudo reforçado na imaginação, com o corpo a
seguir em privado.
Ainda sobre The Unacceptable
Face Of Freedom, em artigo pára o Blitz n.º 90, (22 de Julho de 1986), Ricardo
Saló descrevia «a sensação que, uma vez por outra, todos nós experimentamos
quando se nos depara um disco cuja superioridade nos esmaga, deixando-nos
tragicamente a meio caminho entre a impotência para desencadear uma abordagem
sabida e a recusa de lhe tocarmos sequer com as pontas do dedos com receio que
isso possa perturbar a sua imaculada perfeição. (…) Que corpos estranhos são
estes que tão superiormente se borrifam para a música tal como a conhecemos e –
pior ainda – a respeitamos?» Conseguem-nos «deixar a pensar como teria sido o
Triunfo da Vontade se realizado por Eisenstein no cenário de Metropolis.»
THERE IS A HAIL OF EVENTS UNDER WHICH EVERY
PERSON STANDS UNSHELTERED, UNABLE TO COMMAND THE STORM’S WITHDRAWAL. WHAT MINOR
PROTECTIONS WE CONSTRUCT ARE EPHEMERAL, SHACKS AGAINST THE CONSTANT ONSLAUGHT.
I HAVE NO PACIFIST’S DREAM OF MUSCLE. ACTION MUST BE ANSWERED BY BETTER ACTION.
DECONSTRUCTION BY CONSTRUCTION. WHEN THE ENEMY ATTACKS YOU MUST INDUCE HIM TO
TURN THE WEAPON AGAINST HIMSELF. ALL THE POWER WHICH STANDS AGAINST YOU IS YOUR
POTENTIAL POWER AGAINST WEAKNESS BECOMES POWER AGAINST POWER; RUNNING FOR COVER
IS NO SOLUTION. SAFETY CAN ONLY BE ACHIEVED BY TURNING THE STORM BACK ON IT
SELF.
Test Dept, Beating The Retreat, 2LP