título: Cadernos De Divulgação - Teoria E Prática 1.2
isbn: N/A
data: 2024
1ª Edição - Primeira tiragem de 60 exemplares
P2
THE SOUND OF THE DRUM
DRIVES OUT THOUGHT. FOR
THAT REASON IT IS THE
MOST MILITARY OF INSTRUMENTS.
P3
«Querem discorrer sobre o slogan ‘Conformar Para Desformar’?
Não, isso foi o Stevo… não tem nada a ver connosco! Isso foi uma coisa que lixou tantas bandas. Tantas bandas disseram ‘Temos óptimas ideias, vamos ser mesmo diferentes e vamos mudar as atitudes das pessoas… mas o que faremos é seguir a norma, conseguir que as pessoas se interessem e depois então desviá-las’. Em 90% dos casos, as pessoas que se conformam nunca chegam à fase do desvio porque têm de manter o seu público. A noção de ‘Conformar Para Deformar’ é maioritariamente uma treta.»
Stephen Mallinder (Cabaret Voltaire) em conversa com Richard Jevons para a revista Overground, 1984
«O prazer é uma coisa que o escuro não tem. Tem doer; faz doer. A música do escuro é o som de um sofrimento que se ouve e se condói consigo mesmo. Não fala da simples tristeza, do arrependimento, da chuva, do Outono no coração. Não fala – grita. Grita para que doa ouvir o grito do que lhe dói. Como as imagens de uma morte alheia, no grão intocável de um «écran» de televisão. E deste escuro, deste desespero que não se conteve, nenhuma luz, nenhuma saída se consente ou espera.»
Miguel Esteves Cardoso, “A Noite Nacional”, jornal Blitz, 19 de Novembro 1985
Todas as imagens digitalizadas para escala de cinza a partir de objectos de arquivo pessoal.
José António Moura: textos (excepto onde creditado ou óbvio), recolha e manipulação de imagens, composição gráfica, paginação, tradução, revisão (assistida por Pedro Santos).
Na face: Rascunho de carta para Mike Keane
(Royal Family And The Poor), 1988.
Página 2: Cassette Ecstasy Under Duress (Test
Dept, 1984).
Página 99: Composição a partir do papel de carta da Antler Records.
No verso: 12” Junk Funk (SPK, 1984).
Impresso em risografia no estúdio DESISTO. Primeira tiragem de 60 exemplares.
Marte Instantânea, 2024.
P4
Imagem dos TEST DEPT.
(tirar foto)
P5 col. 1
Páginas de texto e imagens que assinalam muitos anos de divulgação de música. Demonstra-se como, a partir da perspectiva de fã, se circula para outros papéis mais activos. Nada se inventa, propriamente, mas tudo se ergue do nada. Como em outros percursos, são as ligações que se fazem que identificam a personalidade, são as escolhas de umas coisas em detrimento de outras, incontáveis vezes, que distinguem o nosso percurso de outros. Curiosidade, anotações, cópia, iniciativa e aprendizagem com quem já fazia o mesmo. Benefício da generosidade de pessoas que abriram portas, facilitaram contactos, gravaram e emprestaram música, deram oportunidades. Sem elas, tudo seria mais difícil e menos interessante.
Absorver informação e reflectir sobre ela. Comunicá-la. A sua música e os discos continuavam a dar formação artística, social e política. Rasto de cassettes bem importante para primeiras abordagens, uma verdadeira fundação para o trabalho de divulgação. A correspondência com artistas e editoras, iniciada em 1987, começa neste número a ser apresentada de forma a completar a narrativa. A apresentação não é sempre integral mas sobretudo focada em certos assuntos relacionados com histórias pessoais, iluminação de algum detalhe técnico interessante ou pormenor histórico inserido na cena portuguesa da época. Este património segue em edições seguintes dos Cadernos.
P5 col. 2
PARTE 3
Test Dept, SPK, cassetes, correspondência, Antler, Siglo XX, The Klinik, Vomito Negro, Interrail, Electronic Body Music, etc.
Assumida a opção estética principal no gosto e na divulgação, passagem para a experiência imersiva da documentação, conhecimento, descoberta do que parecia estar do outro lado da camada de verniz que reveste a realidade consensual. Uma certa reprogramação. Escola do submundo. Contactar com aspectos feios, violentos, reprimidos na sociedade. Questionar a “normalidade”.
Muito novo para viver Throbbing Gristle e a sua doutrina de subversão do Normal, abracei com entusiasmo outros grupos com teoria suficiente sobre assuntos controversos e/ou com carga política. Na geração seguinte, Neubauten pareciam bastante directos, a sua acção e a sua música eram o programa, mas Test Dept e SPK, por exemplo, geravam explicitamente mensagens de (re)acção, revolta e esclarecimento através de textos e frases nos discos. Alguma dessa informação foi apanhada a posteriori para enriquecer programas de rádio ou textos publicados. O primeiro contacto com essas bandas foi através de cassetes gravadas com os discos. O som bateu primeiro, só depois a teoria.
A prolongada luta dos mineiros ingleses em 1984-85 gerou música de apoio e comentário sócio-político, desde a via mais tradicional de Billy Bragg ao acompanhamento electrónico de Robert Calvert (Hawkwind) e As tácticas de choque dos Test Dept. Estes últimos representavam na ideologia mas também no som o combate das classes trabalhadoras na indústria pesada. Simbolicamente, gravaram um álbum com o coro de mineiros grevistas do sul do País de Gales (Shoulder To Shoulder, 1985) mas foi em The Unacceptable Face Of Freedom (1986) que o grupo melhor expressou artisticamente a sua posição política na questão dos mineiros e outras preocupações socio-políticas da época.
A entrada no disco foi imediata, o espírito ficou cativo. Aprender sobre a luta dos mineiros em Inglaterra, quem era Enver Hoxha, tentar entender e descodificar os excertos de rádio ou TV incluídos no álbum, “The Crusher” e “Fist” como veículos de adrenalina. Saber mais para transmitir mais. Depois, descobrir que metade do single de estreia de Test Dept (Compulsion, 1983) era produção Kirk / Mallinder (Cabaret Voltaire). Beating The Retreat mais rude, sombrio, fetichista – “Sweet Sedation” com batida 4/4 que, passados 20 anos, se misturava com techno, e a voz irada que suplantava Nitzer Ebb; “Total State Machine” como protótipo da percussão industrial em forma catártica, energizante; “Spring Into Action” como comando para agir. Ecstasy Under Duress, o entusiasmo na adversidade e um monte de postais evocativos da onda. Tudo reforçado na imaginação, com o corpo a seguir em privado.
Ainda sobre The Unacceptable Face Of Freedom, em artigo pára o Blitz n.º 90, (22 de Julho de 1986), Ricardo Saló descrevia «a sensação que, uma vez por outra, todos nós experimentamos quando se nos depara um disco cuja superioridade nos esmaga, deixando-nos tragicamente a meio caminho entre a impotência para desencadear uma abordagem sabida e a recusa de lhe tocarmos sequer com as pontas do dedos com receio que isso possa perturbar a sua imaculada perfeição. (…) Que corpos estranhos são estes que tão superiormente se borrifam para a música tal como a conhecemos e – pior ainda – a respeitamos?» Conseguem-nos «deixar a pensar como teria sido o Triunfo da Vontade se realizado por Eisenstein no cenário de Metropolis.»
THERE IS A HAIL OF EVENTS UNDER WHICH EVERY
PERSON STANDS UNSHELTERED, UNABLE TO COMMAND THE STORM’S WITHDRAWAL. WHAT MINOR
PROTECTIONS WE CONSTRUCT ARE EPHEMERAL, SHACKS AGAINST THE CONSTANT ONSLAUGHT.
I HAVE NO PACIFIST’S DREAM OF MUSCLE. ACTION MUST BE ANSWERED BY BETTER ACTION.
DECONSTRUCTION BY CONSTRUCTION. WHEN THE ENEMY ATTACKS YOU MUST INDUCE HIM TO
TURN THE WEAPON AGAINST HIMSELF. ALL THE POWER WHICH STANDS AGAINST YOU IS YOUR
POTENTIAL POWER AGAINST WEAKNESS BECOMES POWER AGAINST POWER; RUNNING FOR COVER
IS NO SOLUTION. SAFETY CAN ONLY BE ACHIEVED BY TURNING THE STORM BACK ON IT
SELF.
A5, 100 páginas, escala de cinza, impressão em risografia, papel de textura rude, lombada segura.
Terceiro capítulo de uma série em progresso. Conhecer processos de divulgação de música através de arquivos de gente que o faz (ou fez) com suficiente dedicação e atenção às margens. Os "Cadernos de Divulgação" não terão regularidade assente e pretendem documentar actividades e artefactos resultantes da vontade em divulgar música num país largamente periférico em relação às principais e mais excitantes movimentações do mercado e da imprensa. Por onde se começava? Como se fazia? Com que se fazia? E o que se fazia?
Nesta edição, fase de contacto com discurso político, social e psicológico, portas para um submundo de resistência e denúncia do socialmente seguro e instituído. Muita teoria consumida. Início sério de correspondência com artistas e editoras.
Série com numeração 1 entregue a José Moura, um dos sócios co-fundadores da Flur (www.flur.pt), Holuzam (holuzam.bandcamp.com), Príncipe (principediscos.bandcamp.com), também parte de Major Eléctrico e outras estruturas / equipas mais ou menos duradouras desde a década de 1980. DJ, artista sonoro com CDs editados, fez rádio, escreveu, entrevistou, programou, coleccionou, arquivou, inventou, experimentou, vendeu discos, desenhou flyers, fez a editora Marte Instantânea em 2020 e é no simbolismo desse selo que se lançam os "Cadernos de Divulgação".
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A5, 100 pages, greyscale, risograph print, rough textured paper, solid spine, Portuguese language.
Part three in a series dedicated to the act of divulging music, based on physical archives kept by people who did it with enough dedication in a country (Portugal) always largely on the periphery of the most interesting scenes and press. Where to start? And how? With what? And doing exactly what?
In this issue: a period of contact with political, social and psychological discourse, open doors to an underworld of resistance to the socially safe and established. A lot of theory was consumed. Also, the beginning of serious correspondance with artists and labels.
Issue 1.2 continues to focus on the archives of José Moura, co-founder of Flur (www.flur.pt), Holuzam (holuzam.bandcamp.com), Príncipe (principediscos.bandcamp.com), also part of Major Eléctrico and other structures/teams since the 1980s. DJ, sound artist with 2 CD releases (Discmen at soundcloud.com/discmen), he was a radio host, wrote about music, interviewed people, programmed, collected, archived, invented, experimented, sold records, designed flyers, did the Marte Instantânea label in 2020. Most of the activities described above are still ongoing. less
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