“Zeuhl”
Parte 4 – O Zeuhl À Volta Do Mundo
Nota: Como o Zeuhl é um conceito tão abstracto,
recomendamos vivamente que, antes de ler este artigo, leia os anteriores
(partes 1 a 3). Depois, então, pode ser que tudo faça mais sentido.
Nos três anteriores artigos você leu, sem dúvida, tudo o
que há para saber sobre o Zeuhl, e se este for um tema de interesse para si,
certamente que os leu com atenção redobrada.
No anterior vimos o legado do movimento e, reparámos,
entre muitas outras coisas, que o Zeuhl permeou também o RIO, para além de
outros movimentos.
Mas... e no mundo? Bem, você conseguirá encontrar
referências Zeuhl nos lugares mais improváveis, e existem inúmeras dedicatórias
bizarras ao espírito dos Magma, à linguagem Kobaia e ao Zeuhl em geral. Neste
artigo vamos tentar destilar o interessante e o curioso, numa qualquer forma de
viagem coerente, ao longo do globo.
Bélgica
As estrelas Zeuhl mais óbvias na Bélgica são os Univers
Zero e os seus correlatos Present. Ambas as bandas forçaram o modelo Zeuhl a
tomar formas mais complexas, reescrevendo as regras à medida que iam produzindo
as suas obras, fazendo a ponte com tudo, desde o heavy rock até à música
clássica.
Mas talvez você não conheça (os também relacionados) Cos.
Começaram como Classroom (em 1966) tocando uma mistura de música jazz e
clássica. O fundador Daniel Schell era apaixonado por novas ideias aplicadas à
música, sendo também um dedicado fan de música jazz. Uma reformação dos
Classroom, em 1970, contou na sua composição com o extremamente talentoso
Pascal Son. Então a música dos Classroom mudou quando eles descobriram os
Magma, tendo tocado como sua banda de suporte em vários concertos que aqueles
deram na Bélgica na altura. Nesta fase, os Classroom eram formados por Jean-Luc
Manderlier, anteriormente nos Arkham (pre-Univers Zero) e depois nos Magma.
Demos gravadas para a CBS nesta altura
foram incluídos no CD dos Cos que reedita o seu primeiro LP, composto por uma
mistura de fusão-jazz e neo-classicismo, tendo ainda um pé no psicadelismo dos
anos 60.
Mudando o nome para Cos, eles apoiaram os seus amigos
ex-Magma, os ZAO, em digressão e no trabalho POSTAEOLIAN TRAIN ROBBERY,
combinando muito mais do que Zeuhl assimilado, jazz, clássica e elementos rock.
A sua música intricada misturando de forma igual características do Zeuhl e
estilismos Canterbury/RIO. Em VIVA BOMA o estilo de canções bizarras de Pascal
e modo de cantar em ‘scating’ tornaram os Cos reconhecíveis aos primeiros
acordes, e aqui, o senhor “Aksak Maboul” Marc Hollander substituiu Charles Loos
nos teclados (ele saiu para os Julverne), tornando os Cos tão confusos
estilisticamente que é como se por vezes os ZAO tivessem Phil Miller e Hugh
Hopper na sua formação, tocando por cima de uma louca canção pop-funk! De admirar
e francamente a sério, este era o paradoxo que mais tarde esteve na origem do
desmembramento dos Cos, mas com os álbuns que apontámos, cada momento foi um
sucesso.
Mais tarde, Daniel Schell formou outra banda chamada
Karo, explorando o seu novo brinquedo, o Chapman Stick, com uma fusão
instrumental que era um passo atrás em relação aos primeiros Cos, sem muita
influência Zeuhl. Charles Loos’ Julverne trouxe o lado sério da música de
câmara dos Cos, criando uma música que era mais Satie que Zeuhl, mas ainda
assim dentro do campo Zeuhliano.
O seu segundo LP, A NEUF (“É novo”, em Português),
mergulhou o anterior folk dos Wallon num pot-pourri de fusionismo, parecido com
o lado mais soft dos Univers Zero.
Mais recentemente, os Cro Magnon apareceram a tocar uma
música que é uma mistura de todos os estilos e referências citadas acima, uma
espécie de híbrido de rock de câmara/clássica/RIO, e muito mais séria do que a
sua imagem. Em essência, o oposto dos Cos, que projectavam uma imagem de
seriedade mas eram, na realidade, totalmente excêntricos.
Cos –
VIVA BOMA (LP: IBC 4B 062-23.605) 7/76
1976 (CD: Musea FGBG 4159.AR) «plus 4 bonus tracks» 1997
Cos –
BABEL (LP: IBC 4C 058-23.794) 1979
Cos –
SWISS CHALET (LP: IBC 4C 064-23.902) 1980
Cos –
PASSIONES (LP: Boots 08 1804 ou Lark INL 3539) 1983
Cos –
Hotel Atlantic (12” EP GeeBeeDee 60-1815) 1984
Cro
Magnon – ZAPP! (C: Het Verkeerde Been 9201) 992
Cro
Magnon – BULL? (CD: Lowlands LOW 008) 1996
Julverne
– COULONNEUX (LP: EMI 4B 58-99069) 19??
Julverne
– A NEUF (LP: Crammed CRA 274) 1981
Julverne – EMBALLADE (LP: Igloo IGL 037) 1983
Julverne – NE PARLONS PAS DE MAHLEUR (LP: Igloo IGL 089)
1994
Julverne
– LE RETOUR DU CAPTAIN NEMO (CD: Igloo IGL 089) 1994
Daniel
Schell & Karo – IF WINDOWS THEY HAVE (LP/CD: Made To Measure MTM 13) 1986/1988
Daniel
Schell & Karo – THE SECRET OF BWLCH (CD: Made To Measure MTM 27) 1992
Daniel
Schell & Karo – GIRA GIRASOLE (CD: Materiali Sonori MASOCD 90057) 1994
Sem comentários:
Enviar um comentário