18.9.15

Livros sobre música que vale a pena ler (e que eu tenho, lol) - Cromo #55: Luís Jerónimo e Tiago Carvalho (compilação) - "Escritos de Fernando Magalhães - Volume II: 1992/1994"


autor: Luís Jerónimo e Tiago Carvalho (compilação, introdução e prefácio)
título: Escritos de Fernando Magalhães - Volume II: 1992/1994
editora: Lulu Publishing
nº de páginas: 460
isbn: none
data: 2015
prefácio: Miguel Augusto Silva


sinopse:  

Prefácio


O PÓ DAS ESTRELAS


Devia ser um daqueles fins de tarde como o de hoje, em que um Verão atrevido nos dá uma vontade terrível de ir estudar para os exames de fim de semestre… Deixei a Alameda e rumei ao Príncipe Real. Nesse tempo – 1992 ou 1993 – já havia poucas edições naquele formato grande, com capa de cartão… Por entre um lote fabuloso de novas edições de música tradicional em CD – distribuídas pela Etnia, Mundo da Canção ou Megamúsica –, na VGM ainda restavam alguns exemplares em LP de etiquetas irlandesas ou escocesas, como a Claddagh ou a Springthyme.


Detivera-me nos discos mais pequenos, com caixa de plástico. Ao meu lado estava um garimpeiro mais velho. Todos sabemos como vemos aqueles que já passaram os 30 quando nós ainda andamos nos 20; nisso os ingleses são os mais radicais, e lapidam-nos o “teen” antes de lá chegarmos. Os dedos deste colega de aventuras deslizavam rapidamente pelos CDs, como se tivesse com eles uma relação antiga… Mas poderia haver qualquer coisa nova lá pelo meio, que tivesse escapado na última jornada. Não era, para mim, um comportamento estranho. Quando encontrou Kaksi!, de uns tais Hedningarna, falou comigo: “Este é muito bom!”. Parecia saber o que dizia. Acho que apenas sorri. De facto devia ser um belo disco… O Fernando Magalhães já tinha feito uma crítica muito boa no suplemento “Pop/Rock” do Público.

Quando deixou a loja perguntei ao Orlando quem ele era. “Não sabes?”, respondeu. “A sério?!”, perguntei. Talvez a cara me fosse familiar, não sei… Ele tinha trabalhado na Contraverso no final da década de 80, altura em que eu estive no liceu mais bonito de Lisboa, o Passos Manuel. A Travessa da Queimada era logo ali e a Contraverso uma aventura. Os seus textos – nos jornais LP, Blitz e Público – uma alegria que aguardava ansiosamente.
Passados uns tempos voltei a cruzar-me com ele. Achei estranho por estar a apanhar o autocarro na paragem onde eu morava… Recordei-lhe esse dia e fiquei a saber que a sua casa era num prédio atrás do meu. Fomos a caminho de Entre Campos, a falar de música e de discos. Música tradicional, da Hungria, Sebő Ensemble, Muzsikás e Márta Sebestyén… Ficámos amigos. Eram tempos apaixonados em relação às músicas tradicionais, que os festivais Cantigas do Maio, Encontros da Tradição Europeia e, principalmente, o Intercéltico, no Porto, contribuíam para complementar a forte distribuição de discos e consolidar uma paixão. A viagem durou menos do que habitualmente.
Recordo-me quando fomos jantar à Taverna dos Trovadores, em S. Pedro de Sintra. Ao balcão, disse-me que aí preparavam uma bebida especial, em que misturavam Irish whiskey, azeite… Quando viu que eu estava a acreditar, desatou a rir, incrédulo; no fim um sorriso de criança. Almoçámos juntos mais vezes quando o século decidiu mudar. No Mercado do Peixe, nas Picoas, um empregado fazia lembrar o grande José Mário Branco (que ambos muito admirávamos). E dizia-me com um sorriso matreiro: “Ó Sr. José Mário Branco! Pode trazer-nos a ementa, por favor?”. Era o mesmo sentido de humor dos seus amados Monty Python.

Do outro lado do espelho do universo do seu ecletismo musical, onde habitavam todas as músicas, estava aquele que ele mais admirava. Lembro-me que fomos vê-lo uma vez ao Teatro São Luís, em Lisboa. Ele e a Filipa, eu e a Ana. O meu amigo parecia muito ansioso, tal como eu estava – nesse tempo, agora e sempre nos seus concertos. Um dos seus textos que sempre recordarei foi precisamente sobre ele, na coluna “Valores Selados” do Blitz, a 7 de Novembro de 1989. 11/11 estava próximo. “É difícil escrever sobre a perfeição. É difícil, sobretudo, relatar em pormenor e com um mínimo de distanciação aquilo que de essencial existe na música dos Van Der Graaf Generator e de Peter Hammill em particular. Será talvez difícil para os leitores, confundidos por tanta veneração, acreditar na palavra do crítico. Pois é, aqueles que desde o início têm acompanhado o percurso de Hammill e companhia sabem decerto do que se trata. Para esses, na posse de todos os segredos, a música e poesia da banda representam muito mais do que o habitual nestas coisas dos discos, quase se revestindo com as roupagens do sagrado.”

Os discos. Sempre os discos. Um dia disse-me que era “em discos” que lhe pagavam na Contraverso. Mais tarde, vim a saber que a vida dele tinha mudado quando uma amiga lhe ofereceu Liege & Lief dos Fairport Convention. Sobre a diva Shirley Collins, a propósito de For As Many As Will (o disco que tem a mais bela capa de sempre da folk inglesa), só ele teve o dom de conseguir descrever a sua voz: “Uma voz sem grandes predicados técnicos mas que guarda em si uma sabedoria acumulada de séculos. Uma voz com a textura de pano antigo, musgo, mel e madeira”.

Um dia, no início do século XXI, veio ter connosco. Saiu do comboio no Tamariz e veio pelo paredão ao nosso encontro, até ao Jonas. Era um fim de tarde, quente, como o de hoje… Vislumbrei-o ainda ao longe, num tempo em que o Estoril-Sol ainda forçava o entardecer. Ao ombro a gaita-de-foles galega que tinha ficado de trazer; um amigo tinha-lha arranjado em Ourense, no Obradoiro dos Seivane. Era uma imagem surreal à beira-mar. Dizia-me que era um instrumento telúrico, mas o único que mantinha uma ligação constante entre o céu e a terra.

Depois foi embora. Há sempre tempo para partir. No seu caso, chegou demasiado cedo, fez ontem dez anos. Os seus textos continuam a ecoar por aí. Talvez no Castelo dos Mouros, no solstício ou no equinócio – quando o vento leva as cinzas do Verão –, uma gaita-de-foles anime as noites quentes de festins Druidas.

Ao Fernando.

https://www.youtube.com/watch?v=lurkbaKAikY

Miguel Augusto Silva, 17 Maio 2015


 






Livros sobre música que vale a pena ler (e que eu tenho, lol) - Cromo #54: Luís Jerónimo e Tiago Carvalho (compilação) - "Escritos de Fernando Magalhães - Volume I: 1988/1991"


autor: Luís Jerónimo e Tiago Carvalho (compilação, introdução e prefácio)
título: Escritos de Fernando Magalhães - Volume I: 1988/1991
editora: Lulu Publishing
nº de páginas: 288
isbn: 5-800107-609398
data: 2014
prefácio: Vítor Junqueira


sinopse:  

Prefácio



Textos de autor

«Decerto repararão que desta lista constam muitos nomes estranhos e desconhecidos. A culpa não é minha. Procurem-nos e talvez cheguem à conclusão que nem sempre a melhor música é a mais badalada.»
(in Blitz, 16 de janeiro de 1990, lista dos melhores discos da década de 80)

Devo ter começado a ler o Fernando Magalhães na altura em que os seus textos começaram a aparecer em jornais como o Blitz ou o LP, em finais da década de 80, como aqueles que encontramos nesta coletânea. Mas julgo que terei ainda deixado virar a década antes de começar a reparar com olhos de ver no seu nome na assinatura – ou tão só a sigla «FM». Sei porém que desde cedo aquela assinatura se tornaria para mim um selo de qualidade, uma garantia de que ali iria encontrar uma abordagem profunda, incisiva, abrangente, ora apaixonada, ora destrutiva, quase sempre divertida. Eram, se a expressão existisse, verdadeiros «textos de autor».
Dizia que a abordagem era profunda, porque não se reduzia à identificação do óbvio e do superficial. Ele encontrava os substratos que não se liam habitualmente nas críticas assinadas por outros. Era incisiva, porque quase sempre encontrava aquilo que realmente importava dizer, permitindo ir ao fundo do tema mesmo quando tinha meia dúzia de linhas como limite. Era abrangente, porque conseguia inserir o objeto de análise em vários planos contextuais, no tempo, na história da música, nas artes em geral, no plano dos afetos, nos diferentes terrenos culturais, na religião. O crítico que encontramos nestes textos de 88 a 91 já era um nerd da música, perdão, das músicas, mas um nerd com vistas muito largas. Coisa rara, pois.
Facilmente se vê – e podemos voltar a senti-lo nestes textos iniciais – que o Fernando escrevia com paixão e boa disposição. Com o tempo, creio que veio a sentir-se cada vez mais à vontade para impregnar os seus escritos de humor e até de doses bastas de ironia e alguma malícia servida em jogos de palavras que não raras vezes me deixavam de sorriso na cara, jornal aberto à frente, mesmo quando não concordava. Poucos críticos conseguiam entrar na graça sem se deixar cair em desgraça. Anos mais tarde, sempre que havia algo em disputa nas nossas conversas infindáveis sobre música e sobre tudo o resto, tentava desarmá-lo com argumentos que julgava fortes – nem sempre, admito – e o Fernando, tranquilo, mandava-me ir ouvir um qualquer grupo obscuro dos anos 60 ou 70, trazia a filosofia à mesa ou ridicularizava o assunto em discussão de tal maneira que acabávamos em gargalhadas e a pedir mais uma rodada de canecas. Mistas. E, claro, ele até tinha a sua razão.
Não posso dizer que o Fernando fosse absolutamente único. Nas páginas dos jornais ou nas ondas hertzianas havia mais um punhado de gente boa e conhecedora a saber expressar-se, a saber motivar-nos, a saber instigar-nos e guiar-nos para descobrir o que de mais interessante se fazia no mundo da música. Ou o para o que havia sido feito naquelas décadas passadas que não tinham chegado a nós ou aos nossos pais e irmãos mais velhos com o relevo que mereciam. Os apaixonados pela música da minha geração, adolescentes à data da publicação dos textos que compõem este volume, seguiam estas vozes públicas com toda a atenção. As novas gerações terão que imaginar o que era um mundo desprovido de informação imediata e à distância do visor dos apêndices ciborgues que hoje são o telemóvel ou o computador.
Gosto de reconhecer o valor nos vários professores que tive ao longo da vida, em diferentes áreas de conhecimento. E o Fernando foi um desses pedagogos, mais do que um mero crítico. Pelo punho do Fernando, muitos de nós terão entrado nas cenas folk portuguesa e europeia, terão aprendido o que era o kraut rock e a kosmische muzik, ou quem eram Peter Hammill e os Van Der Graaf Generator, seus velhos favoritos: «Hammill nunca alcançou a glória que já há muito merece. A sua obra é conhecida apenas por um clube de iniciados, felizmente com cada vez mais sócios.» (in Blitz, 21 de novembro de 1989). A propósito, oiço o “Pawn Hearts” enquanto escrevo isto. Descobri-o, e lembro-me perfeitamente disso, através do Fernando.
Assim era. Leitores como eu tornavam-se sócios deste clube de melómanos iniciados. Deve ser sublinhado que aquela era uma sociedade de apreciação que não se fechava numa corrente ou numa cultura musical específica. Habituei-me desde cedo – e acredito que o Fernando pode ter tido uma influência marcante nisto – a não me satisfazer num género, não por regra, mas porque facilmente ficava encantado na folk, no rock, na eletrónica, onde quer que alguém fosse fiel à sua musa. Esta abertura de horizontes estava patente na coleção de discos, nos textos e nas paixões musicais do Fernando. É fácil de reparar como nesta compilação de textos, e citando apenas alguns casos, convivem nomes como os de Tuxedomoon («esta ‘sonata fantasmagórica’ demonstra até que ponto os Tuxedomoon são hoje dos grupos mais importantes da cena alternativa situada na convergência do rock com a música erudita»), de Neil Young («Ouve-se ‘Weld’ com a sensação de se assistir ao cataclismo iminente, à erupção de um vulcão, ao colapso de qualquer coisa que não ousamos interiorizar»), de Legendary Pink Dots («Herdeiros legítimos da música progressiva dos anos 70, os Legendary Pink Dots representam uma das vertentes mais heterodoxas e estimulantes da cena alternativa actual»), de R.E.M. («Com ‘Out of Time’ os R.E.M. tocam o céu da perfeição»), de Negativland («são os maiores inimigos da Coca-Cola, da Levi’s e dos mísseis Patriot. Só pelo nome se vê que são do contra. Vêm da contracosta americana. Voltam tudo de pernas para o ar.»), de Naked City («Os cinco intérpretes, não se duvide, são fabulosos, independentemente de conseguirem ou não alguma vez condensar a história completa da música numa única espira») ou do Grupo de Cantares de Manhouce.
Como se vê, o Fernando tinha sempre coisas interessantes para dizer sobre gente tão díspar. Desde que estas (ou os seus trabalhos, para ser mais rigoroso) o encantassem. Mas o Fernando não tinha também quaisquer papas na língua para destilar críticas destruidoras a quem ou ao que o aborrecia. Acredito que essa faceta, essencial a qualquer crítico que queira desempenhar o seu papel em justiça para com o mundo que descreve e para consigo mesmo, lhe dava um certo gozo (e aos seus leitores, pelo menos a mim). Descobri-lhe, anos depois, que toda esta acutilância e este descaramento faziam afinal parte essencial do seu próprio carácter divertido e irreverente, particularmente notado na forma como se dava com as pessoas que conhecia e com as que não conhecia, como daquela vez, em que à porta da ZDB dizia a quem passava pela rua que ali ia tocar uma «banda pop francesa», os... Dat Politics. Tal como a vontade de picar os que o ouviam. Uma vez, enquanto víamos a bola na cervejaria onde nos encontrávamos regularmente, confessava-me: «sabes que às vezes penso que sou mais anti-benfiquista do que sportinguista?». Talvez sirva de algum propósito aqui dizer que, além da preferência clubística, ambos partilhávamos um fascínio muito especial pela “How To Irritate People”, uma série televisiva diabólica do John Cleese, precursora dos Monty Python (dos quais passávamos aliás noites e noites a percorrer de memórias todos os sketches). O Fernando não tinha quaisquer problemas em entrar neste jogo potencialmente perigoso nas críticas que escrevia. Mesmo quando o artista ou grupo em causa fosse português, o que também o distinguia face a outros críticos ou, em episódios decorridos posteriormente às datas da presente coleção de textos, quando a editora de alguns dos discos visados era importante para as receitas de publicidade do suplemento em que escrevia.
Não resisto a citar alguns trechos de textos deste volume, onde o Fernando já discorria alguma da sua, digamos, alegre truculência:
«Mas o pior de tudo foi o final, quando os Duplex se afundaram no seu próprio pretensiosismo. Subiram ao palco uns instrumentistas ‘da clássica’, com instrumentos ‘a sério’ como o violoncelo, a flauta e o trompete e, finalmente, um coro de senhoras, todos juntos para um final pretensamente grandioso. O resultado foi assistirmos a uma aula de alunos do Conservatório, com todos os participantes desunhando-se para não desafinarem ou saírem do compasso.» (In Blitz, 17.10.89, reportagem de concerto dos Duplex Longa)
«Chapéus há muitos. Bons músicos portugueses já há menos. Bons músicos portugueses a trabalhar na área da música popular contam-se pelos dedos. (...) Musicalmente são dados vários passos atrás, mais parecendo ter-se voltado aos tempos de Pedro Homem de Mello e aos ranchinhos de acordeão e vozes esganiçadas para turista ouvir e comprar.» (In Pop Rock, suplemento do Público, 1 de maio de 1991, crítica a álbum de Maio Moço, “Histórias de Portugal, de Dom Afonso Henriques a Dom Sebastião”)
«Começa a fartar, a década de 60. Tudo o que é ‘Sixties’ é bom. Nesse tempo é que era. Os ideais, a luta contra o ‘establishment’, gozar à brava, enfim, a grande farra. A música desses anos conturbados reflecte a confusão. Desde os percursores aos mártires, passando pelos oportunistas, há de tudo um pouco.» (In Pop Rock, suplemento do Público, 29 de maio de 1991, crítica às reedições dos Jefferson Airplane)
Os músicos continuavam a respeitá-lo, tanto quanto sei. Uma vez, terá ido a casa de um músico com créditos firmados (e merecidos) na nossa praça. Antes mesmo de passar a porta de entrada, se ainda me recordo da história, terá exclamado “oh pá, este teu novo disco é uma merda!”. Alegadamente, continuaram amigos.
Conheci, como se percebe de alguns parêntesis que não consegui deixar de ir abrindo e fechando neste prefácio, o Fernando-crítico e o Fernando-amigo. Tenho uma imensa saudade de ambos. Esta compilação de textos, edição rara no panorama português, a que o Tiago e o Luís dedicaram tanto trabalho de pesquisa e pelo qual aquele clube de melómanos de que o Fernando falava a propósito do Hammill deve toda a gratidão, vai ajudar a matar saudades do Fernando-crítico. Na maior parte dos casos, continuam a ser textos sem data, válidos para as gerações daquela altura, para as novas e para as futuras. Venham daí mais volumes.
Lisboa, 14 de dezembro de 2014
Vítor Junqueira


«Como certamente repararam, estive ausente desta página a passada semana. Outros deveres jornalísticos impuseram que me deslocasse à República do Alto Volta para fazer a reportagem sobre os pequenos-almoços de Paul McCartney nessa mesma República.

«Mas eis que regresso são e salvo, já refeito do choque McCartney e pronto para mais prosas sobre os «Valores», talvez não tão interessantes como as refeições do ex-Beatle, mas olhem, faz-se o que se pode.»
(in Blitz, 21 de novembro de 1989)



Outros textos de outros anos, no meu blogue: http://www.profelectro.info/fm/
Livro disponível em: http://www.lulu.com/shop/lu%C3%ADs-jer%C3%B3nimo/fm-volume-1-pb/paperback/product-21956790.html . Mas quem quiser o pdf free, basta solicitá-lo para o meu email.











5.9.15

Chappell - post para as edições desta editora (6º lote 51 @ 60)


Ver o enquadramento deste post aqui

51.  Various – "Chappell Mood Music Vol. 12" 
Chappell - CMM 212

52.  Roger Roger Et Son Grand Orchestre – "Chappell Mood Music Vol. 13" 
Chappell - CMM 213


53.  Various – "Chappell Mood Music Vol. 14" 
Chappell - CMM 214


54.  Electronic Studio Orchestra – "Chappell Mood Music Vol. 15" 
Chappell - CMM 215


55.  Nino Nerdini / Roger Roger – "Chappell Mood Music Vol. 16: New Sounds!" 
Chappell - CMM 216



56.  Roger Roger Et Son Grand Orchestra – "Chappell Mood Music Vol. 18" 
Chappell - CMM 218


57.  Roger Roger / Nino Nardini – "Chappell Mood Music Vol. 20" 
Chappell - CMM 220





58.  Roger Roger – "Chappell Mood Music Vol. 21" 
Chappell - CMM 221




 
 
59.  Roger Roger – "Chappell Mood Music Vol. 22" 
Chappell - CMM 222


60.  Roger Roger Et Son Grand Orchestre – "Chappell Mood Music Vol. 23" 
Chappell - CMM 223





Memorabilia: Revistas / Magazines / Fanzines (128) - Música & Som #78


Música & Som
Nº 78
Janeiro de 1983

Publicação Mensal
Esc. 100$00

Música & Som publica-se à 5ª feira, de quinze em quinze dias.
Director: A. Duarte Ramos
Chefe de Redacção: Jaime Fernandes
Propriedade de: Diagrama - Centro de Estatística e Análise de Mercado, Lda.
Colaboradores:
Ana Rocha, Carlos Marinho Falcão, Célia Pedroso, Fernando Peres Rodrigues, Hermínio Duarte-Ramos, Humberto Boto, João David Nunes, João Freire de Oliveira, João Gobern, João de Menezes Ferreira, José Guerreiro, Miguel Esteves Cardoso, Nuno Infante do Carmo, Manuel Cadafaz de Matos, Pedro Ferreira, Raul Bernardo, Ricardo Camacho, Rui Monteiro,Trindade Santos.
Correspondentes:
França: José Oliveira
Holanda: Miguel Santos e João Victor Hugo
Inglaterra: Ray Bonici

Tiragem 16 000 exemplares
Porte Pago
56 páginas A4
capa de papel brilhante grosso a cores
interior com algumas páginas a cores e outras a p/b mas sempre com papel não brilhante de peso médio.


O Leitor Escreve
A Paixão Heróica Dos Anos 80
"What are we fighting for?"

Marianne Faithfull in "Broken English"
O Rock, nas suas díspares emoções, sempre se tem comportado como um movimento flexível, sujeito a amores fugazes, a modas estranhas, a ciclos destemidos, a concepções flutuantes. Quando o rock, nos primeiros anos da década de 70, se começou a disciplinar, tornando-se uma execução ritual de sons que assim haviam sido baptizados, a paixão generosa dos jovens achou-se momentaneamente órfá, sem a vocação de insubmissão que marcava o rock, como mais do que um qualquer movimento musical.
Assim, essa imagem enevoada a que ainda se chama rock (mais até por uma questão de definição), foi perdendo a inocência que os jovens movimentos loucos e nihilistas transportam. Ginsberg e Warhol, Velvert Underground e Jefferson Airplane passaram a fazer unicamente parte de um mito que alguns (já poucos) reverenciam e que a maior parte olha como se de uma cicatriz adiada se tratasse. O rock havia-se tornado uma indústria obcecada pela perfeição, gingando entre correntes amorfas e doentias (a primeira metade de 70 é de uma pobreza quase confrangedora) e opções que se identificavam com uma evolução negativa.
Quando em 1976 rebenta o fenómeno Punk, há finalmente a clara demarcação de eixos tendenciais da evolução da música. O Punk, mais do que uma sacudidela na saturação que o rock apresentava, foi uma opção, em termos de novas vias, para o percurso musical dos nossos dias. O Punk trouxe à música rock aquilo que ela há muito tempo já não conhecia: inquietação. Ignorou a harmonia, mas saudou o imediatismo rítmico. Mas, mais do que isso, trouxe-lhe o esclarecimento profissional que, curiosamente, havia sido a base de contestação sonora punk (é espantoso como um movimento que nasce nas ruas, de jovens sedentos, da recusa de tecnicistas, será hegemonizado pelos futuros tecnocratas que hoje pululam pelas maiores editoras conhecidas e dos quais Malcolm McLaren, no seu exotismo, é o mais conhecido).
No fundo, o punk estabeleceu novas opções, não só musicais, mas, fundamentalmente, traduziu-se em propostas inovadoras no savoir-faire comercial (vide as editoras que conhecem o seu salto, a Virgin e a Stiff, e a nova geração de "independentes" que se lançam no rescaldo do pandemónio punk), ao chocar com as concepções musicais dominantes nas editoras estabelecidas. Mas, a insubmissão punk (curioso como as suas "eminence grise" estão hoje no topo do universo musical britânico) durou pouco tempo. Depois disso, quase todas as bandas, estrangulando o movimento, se dirigiram para uma área bem mais frutuosa: o pop.
Não gostar, pelo menos minimamente, do som que hoje as ilhas britânicas produzem é um passo muito tentador, a que só os resignados defensores da geração hippie ainda têm a coragem de opor o dogma da nostalgia. É impossível resistir ao fascínio que emana das bandas pop de hoje e da sua ideologia (simples) de lazer e prazer. O nosso cepticismo face ao valor da simplicidade que elas nos trazem é o discurso possível para quem (como nós) se recusa cada vez mais a seguir unicamente os ímpetos racionais (não gostar) e se lança numa aproximação incómoda porque unicamente emocional (gostar). Mas isto é algo que geralmente se sente em cada meteórica pista de dança e que não ultrapassa a mera paixão idiota. Na verdade, a lírica pop é insípida e o seu imediatismo musical é esquecível a curto prazo. As suas propostas sedativas são trabalho excelente de produtores (Trevor Horn, Martin Rushent) e, cada vez menos, de músicos. Mas, as correntes pós-punk a que a sua raiz ainda consegue dar uma consistência mínima, debatem-se hoje com o pavor quase chocante de serem ultrapassados pela Moda. No fundo, na sua renovada arqueologia de um exotismo esclarecido, caem (ressalvando as diferentes causas e efeitos) nos erros que os esforçados (mas pouco convincentes) defensores do paradigma hippie também caíram: o serem ultrapassados pelas circunstâncias.
A crise, apesar de tudo, é visível, mas as distracções são ainda mais evidentes. Hoje já não se mete em questão a problemática da vanguarda musical e o pop é antes vocacionado para receber juízos apressados. Gosta-se e gasta-se. E é isso: crítica de música hoje (assim como o consumidor) já não pensa o que ouve (apenas julga que ama). Mas o nosso amor compreende, hoje, um período bastante restrito. O pop é de tal maneira efémero que surpreende como os discos vulgarmente designados de importantes se sucedem vertiginosamente nos nossos pick-ups. Hoje, a originalidade é algo que se procura incessantemente, através de rasgos de exotismo, geralmente desastrosos (vide os Modern Romance ou os Blue Rondo à la Turk). Felizmente, nos últimos dois anos, surgiram algumas propostas que ultrapassaram a banalização de sons gerada pela secura de opções com que se debatia o rock: o caso da Joy Division, dos Specials, dos Young Marble Giants ou, agora, de Rupert Hine, Peter Gabriel, Durutti Column, New Order ou Dexys prova que ainda existe encanto inovatório. O que não deixa de ser reconfortante...
Porque, não nos iludamos, o rock, hoje (sobre)vive através de um novo paradigma: a venda. Mas nem por isso é correcto falar apressadamente (e pejorativamente) de "comercialismo". O sempre honesto Kevin Rowland dizia, recentemente, que dava entrevistas porque estas eram razão sine qua non para vender os seus discos e que continuara  trabalhar para meia dúzia de iluminados não valia a pena, já que era necessário que todos conhecessem os seus trabalhos (e todos sabemos que assim deveria ser). O comercialismo tem sido um tabu que artistas (geralmente falhos de imaginação) sempre t~em combatido. E outro tabu, não menos incrível, é o da defesa das editoras independentes. E ambos têm servido enquanto alibi vulgarmente chamado de ideológico.
Tomemos o caso das "independentes" britânicas: a sua táctica é simples (descrevia há tempos um dos seus homens de ponta: uma mistura de Marx - analisar as movimentações de infra-estrutura - e de Maquiavel - como conseguir os tops e lá se manter). No fundo, muitos dos discos das independentes (vide Joy Division, Depeche Mode ou Yazoo!) vendem mais que os das grandes editoras (o único óbice é sua entrada nos tops normais é o sítio onde vendem). Ora, se se seguir a lógica (sedutora e, ainda que nos custe, correcta) de que tanto se suja as mãos com lucro, seja este muito ou pouco, vale mais aderir às grandes editoras. As "independentes" têm assim funcionado como verdadeiros indicadores de mercado, conseguindo lucro onde e como as "gtrandes" nunca conseguira (devido à sua estrutura burocrática e pouco adaptável a conjunturas que as ultrapassem), devido à sua elasticidade num mercado móvel como é o actual (ao contrário do que havia sido no período anterior à revolução punk). As linhas de força da compreensão do fenómeno rock residem hoje em como vender (segundo os modelos tradicionais ou segundo os alternativos) e em fazer produtos que resistem ao tempo, como abstracção possível da moda que hoje nos submerge. E é só isso que conta.
Dizia Malcolm McLaren que "um homem que se senta no seu escritório, vendendo discos, não é um homem muito criativo". E nós, pragmaticamente, não podemos deixar de concordar.
Fernando Almeida Sobral



Concerto de Peter Hammill
Para Além De Todas As Palavras

por Ana Rocha
Fotos: José Tavares

Há nomes que nunca mais se esquecem. Há figuras que se libertam da lei do esquecimento, pela qualidade das obras que transportaram a sua chancela. Peter Hammill faz parte desse Panteão de Heróis. Distancia-se do grupo de funcionários que faz música para vender, para entreter, para se escutar enquanto se deglute o almoço no snack. A sua música exige uma concentração total. Não é possível estar a ler um livro enquanto se escuta os VDGG. Uma actividade exclui a outra. Opta-se. Impreterivelmente.
Fazendo progredir a sua música, extirpando-lhe arremedos sinfónicos, Peter Hammill, muito inteligentemente, constrói música dos anos 80, mantendo-lhe no entanto uma dimensão muito pessoal (quase mística), sem ceder a modas e tendências de momento. É actual e moderno sem estar na moda. Soube terminar os VDGG num momento em que tal decisão se impunha. Soube encetar uma carreira a solo sem recorrer aos conceitos expressos nos LPs dos Van Der Graaf Generator.
O último concerto de Dezembro foi o seu. A temporada de 82 fechou-se com chave de oiro.
Milhares de adeptos dos VDGG e de Peter Hammill reuniram-se no Pavilhão de Alvalade para escutar ao vivo um dos mais interessantes músicos destes últimos 12 anos. E não saíram desiludidos. Interpretando temas dos seus três últimos LPs (PH7, Sitting Targets e Enter K), acompanhado por dois ex-Van Der Graaf Generator - na bateria Guy Evans, um veterano, e no baixo Nic Potter - e por um terceiro elemento vindo dos lados de Peter Gabriel, o guitarrista John Ellis, Peter Hammill agarrado à sua guitarra, seca e nervosa, envolto numa camisola com o Frank Sinatra gravado, a todos envolveu na sua aura de mistério e emoção, atingindo momentos de verdadeiro delírio num Pavilhão cheio de adeptos e convertidos. Três calorosos encores - por exigência do público, que nestas coisas, manda - terminaram uma actuação límpida e grandiosa.
A primeira parte foi preenchida pela actuação da Lena D'Água & Banda Atlântida, que, em tempo breve, interpretaram seis dos seus temas mais conhecidos do público. Deu direito a um encore.







Alguns artigos interessantes, para futura transcrição:
. artigo sobre os Magazine, de autor não identificado
. artigo / coluna: Prosas de Fogo e Água - "O Rock e a Droga: Elogio do Quotidiano (2ª parte)"
. Discos em Análise:
.. The Durutti Column - «LC» [Factory VFACT 111-18], por Carlos Marinho Falcão
.. Kate Bush - «The Dreaming» [AMI IIC 078 64589], por Manuela Paraíso





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