30.5.16

Memorabilia: Revistas / Magazines / Fanzines (213) - prospectos / anúncios de jornal, etc. de concertos ond estive












29.5.16

Fernando Magalhães - Recortes (1) - 15.03.2002










27.5.16

Memorabilia: Revistas / Magazines / Fanzines (212) - Posters: Can + Ramones + Siouxsie + Júlio Pereira


Posters: 
Can 
Ramones 
Siouxsie 
Júlio Pereira


 
 

 
 

 
 
 




26.5.16

Memorabilia: Revistas / Magazines / Fanzines (211) - prospecto concerto de Click Click no Rock Rendez Vous


prospecto concerto de
Click Click no Rock Rendez-Vous (+ Ocaso Épico - 1ª parte)
31 de Outubro de ????

and I was there!









Memorabilia: Revistas / Magazines / Fanzines (210) - Catálogo "Cantigas do Maio" 1998


Catálogo 
IX CANTIGAS DO MAIO _ Seixal - 1998
Catálogo / Programa com 48 páginas 23x13,5 cm a p/b, excepto capa a cores.
Papel pesado (reciclado) com muito bom aspecto e com todas as informações sobre o festival (programa, artigos sobre todos os grupos e artistas participantes, indicações de como chegar, actividades paralelas, etc.)
Nesta edição fui a quase todos os concertos... ver cartaz no poster abaixo.











Memorabilia: Revistas / Magazines / Fanzines (209)



O ROCK EM PORTUGAL .... nº 1
- suplemento de um dos Pop_Clube que foram recenseados em posts anteriores
- localizado na parte traseira das páginas centrais, que eram um poster do Cliff Richard.

O ROCK EM PORTUGAL .... nº 1
por: Juvêncio Pires e Carlos Lobo


Entrevista com o grupo TANTRA

PC - Em primeiro lugar, porquê Tantra, o nome do grupo?
T - O nome de Tantra tem muito a ver com o espírito do conjunto e da música. A ideia que está por detrás do nome, é mais ou menos a nossa. É, digamos, uma forma de YOGA que era praticada antigamente na Índia, hoje em dia está praticamente morta, e que se baseia exactamente em estar num estado constante de êxtase, e que era utilizado principalmente pelas artistas, e por todos aqueles que procuravam uma forma sublimada de experiência da realidade, portanto a música é uma forma tantrica, uma forma de extase. E todo o espírito do nosso conjunto está em comunicar esse exatse, que nós tentamos conseguir em nós, ao tocarmos, comunicá-lo a todos os que nos ouvem.
PC - Vocês sempre tocaram Rock?
T - Nós sempre tocámos Rock em português, embora tenhamos dois temas em inglês, um é um tema de country, é mais um tema simbólico não representativo da nossa música, e temos um outro tema cantado em inglês (por acaso), porque a letra foi feita em princípio em inglês, e ainda não nos demos ao trabalho de a pormos em português.
PC - Vocês só interpretam música vossa?
T - Sim, e quase na totalidade portuguesa.
PC - E porquê música portuguesa?



T - Nós partimos do princípio que a lírica portuguesa serve e dá.
Sendo a música Rock universal, nós somos absorvidos por isso, e como somos portugueses, a lírica é em português.
PC - Qual é o género de Rock que vocês adoptaram, e se possível comparem a algum conjunto conhecido internacionalmente.
T - Nós estamos a procurar uma forma de Rock progressiva, isto é, no sentido em que, de termos para tema hoje uma progressão tanto em qualidade como em técnica, em riqueza harmónica ou melódica, portanto a todos os níveis. Por isso é bastante difícil, dizer que nós nos comparamos com um conjunto, ou com outro.
PC - Quais são as influências de cada um de vós?
T - António José Almeida - baterista. Não cheguei a participar no disco, no meu lugar estava um percussionista e um baterista que saíram, (Sicóio e Lindo) por razões particulares.
Sou um aluno do Conservatório, já há alguns anos, e agora estou a tentar juntar o que sei, com o que estou a aprender.
Manuel Cardoso - viola e sintetizador. Comecei pelo folk depois passei aos blues, rock, jazz, tenho também algumas influências clássicas, não há nenhuma influência específica.
Luís Silva - baixo. Tenho algumas influências de Rock.
Hermando Gama - teclas. Influências clássicas e rock.
PC - Quem compõe as vossas letras? São todos ou algum em especial?
T - Até agora têm sido o Manuel Cardoso e Hermando Gama, mas agora há mais um compositor que é o baterista.
PC - A hipótese do disco, terá sido alguém conhecido no V.C., ou foram vocês que contactaram o V.C.?
T - Fomos nós, fizemos algumas gravações e levámos ao Mário Martins, ele gostou, e apareceu a possibilidade do disco.
PC - Essa gravação vocês antevêm que seja comercial ou isso não vos preocupa como primeiro disco?
T - Nós preocupamo-nos que seja comercial, pois é isso que pretendemos, ir até às pessoas e mostrar um pouco o que nós somos.
PC - Vocês dedicam-se apenas à música? Ou estudam, trabalham?
T - Não estamos todos entregues a vida profissional de músicos. Trabalhamos 8 horas por dia.
PC - Têm alguém que vos financie?
T - Não, foi à custa de cada um de nós, que pudemos comprar uma aparelhagem que em princípio será a melhor aparelhagem dum conjunto Rock português, para podermos em qualquer sítio que formos actuar, termos o som mais aproximado do disco.
PC - As letras são em português! Isso não vos leva, apesar de ser Rock, introduzirem-se em política?
T - A vossa política é a música, nós queremos que a nossa música seja uma «ponte» que ligue tudo o que está separado, seja a que nível for.
PC - Individualmente, qual o grupo ou artista preferido?
T - Gama - Principalmente Chick Corea embora haja mais.
Luís Silva - Genesis.
Manuel Cardoso - Jimmy Hendrix.
António Almeida - Chick Corea.
PC - Vocês querem acrescentar mais alguma coisa que não tenham dito, e achem que tem interesse?
T - Sim, um apelo à malta nova, e não só. Que procurem colaborar dentro do nível de corresponderem às tentativas que há, e que estão a ser feitas, por uma certa camada de músicos.
Entrevista conduzida por: Juvêncio Pires e Carlos Lobo




Festival de Outono

Por iniciativa do grupo «PERSPECTIVA» realizou-se no Barreiro no passado mês de Outubro o 2º Festival de Outono. Com a elaboração de um programa diverso e atraente, tudo fazia antever um verdadeiro sucesso musical, um verdadeiro sucesso comercial para esta iniciativa musical: Conjuntos «Sequência», «Apolo» e «Sound Five», o grupo «Araripa e Very Nice», Paco Bandeira, o grupo Pandemónio e o grupo organizador - «Perspectiva».
Inicialmente previsto o começo para as 21H30, o espectáculo apenas se iniciou uma hora depois, com o recinto completamente «pelas costuras».
O programa abriu com uma primeira parte dançante a cargo dos grupos, «Apolo» e «Sound Five». Uma primeira parte de alegria e franco convívio. Seguiu-se-lhe a actuação de Paco Bandeira, artista muito desejado pela população daquela simpática vila, que actuou com pleno agrado.
Veio depois a «sensação» deste II Festival de Outouno, a actuação do grupo organizador - Perspectiva. Ultrapassando todas as nossas perspectivas, o «Perspectiva» provou o seu extraordinário poder de criação e interpretação demonstrando que em Portugal existem bons grupos de Rock que deveriam ser executados e acarinhados pelas nossas editoras discográficas. «Perspectiva» é um grupo sensacional, com a extraordinária particularidade de só ter interpretado composições originais e de língua portuguesa!
«Perspectiva» merece a tua atenção, leitor. O máximo da tua atenção! Eis a composição do grupo: António Manuel - viola (elemento de um poder criador maracnte), Luís Miguel - baixo, Vítor Ferrão - bateria e Vítor e José Manuel - vocais.



Esperava-se ansiosamente a actuação do grupo «Araripa» com Very Nice. Chegado que foi a altura da sua actuação, começaram a ouvir-se, pouco depois, alguns protestos que, a pouco e pouco aumentariam, chegando a atingir momentos de franco repúdio pela actuação do grupo. E porquê? Que fazia com que o público apufane um dos melhores grupos portugueses? Muito simples. A hora era já muito avançada, qualquer coisa como quatro da madrugada, por outro lado há cerca de três horas que os espectadores se encontravam sentados ouvindo Paco Bandeira e depois o grupo Perspectiva. Surgiu-lhes então um grupo interpretando Afro-Jazz o que exigia a sua atenção e concentração.
Eles desejavam neste momento como é hábito dizer-se, «desopilar»! Desejavam algo como música para dançar.
Foi assim, num ambiente de franca hostilidade que o grupo Araripa e Very Nice, demonstrando enorme clama e respeito por quem o não respeitava, actuou cumprindo o seu contrato. Por tudo isto o grupo seguinte - Pandemónio, recusou-se a actuar por concluir que a sua música não era a mais desejada pelo público presente.
Deste modo, fazendo das «tripas coração», o grupo Perspectiva teve de voltar ao palco para interpretar alguns números de dança (?). E foi a primeira vez que vimos tanta gente dançar (satisfeita!) numa colectividade ao som de músicas de Pink Floyd e Camel.
Eram seis da madrugada quando abandonámos o recinto e... a «farra» continuava!
Juvêncio Pires
e Jorge Marreiros






Saga - Homo Sapiens

Saga é o nome do grupo vocal que nos aparece como responsável pelo 33 rotações recentemente divulgado - «HOMO SAPIENS»! Mas... a verdade é que este trabalho nacional é quase da inteira responsabilidade de JOSÉ LUÍS TINOCO, homem inteligente e de uma concepção poética extraordinária. JOSÉ LUÍS TINOCO é um arquitecto, pintor, músico e compositor. Não é um desconhecido para o leitor, pois são dele algumas das canções presentes em Festivais da TV e, em 1975 «MADRUGADA», interpretada por Carlos Mendes, chegou a Estocolmo. No presente ano eram dele as composições «OS LOBOS», «NO TEU POEMA» e «NINGUÉM». Para se conhecer JOSÉ LUÍS isso não é suficiente, torna-se necessário ouvir agora este magnífico trabalho e, então sim... ficar-se-á a conhecê-lo um pouco melhor.


Falemos agora dos restantes elementos que colaboraram neste trabalho de longa duração. Ainda integrados no grupo SAGA, encontramos os nomes de ZÉ DA PONTE (baixo) e FERNANDO FALÉ (baterista); o primeiro é já nosso conhecido através da gravação de um single que surgiu no mercado em Novembro de 1975, integrado no grupo vocal - «OS AMIGOS DO ZÉ»; o segundo é o ex-baterista do agrupamento «INÉDITUS».
Passemos agora à extensa lista de colaboradores: ZÉ T. BARATA e CLARA são duas vozes que também fizeram parte do ex-grupo vocal «AMIGOS DA ZÉ»; CARLOS RODRIGUES foi um dos fundadores do agrupamento vocal - «EFE 5», pertencendo posteriormente aos «AMIGOS DO ZÉ»; JOSÉ FARDILHA e DULCE NEVES são os únicos elementos novos nestas andanças, pois não temos conhecimento que tivessem anteriormente qualquer experiência em outro grupo; FERNANDO GIRÃO (mais conhecido por VERY NICE) é um nome sobejamente conhecido que ainda muito recentemente esteve presente no Festival de Jazz de Cascais e participou no longa duração de RÃO KYAO - «MALPERTUIS»; VASCO HENRIQUES é um jovem que toca para prazer pessoal e para os amigos, o que de modo algum quer significar que seja inexperiente, é um bom músico! Finalmente aparece-nos RÃO KYAO, o saxofonista, tenor, alto e soprano e flautas. Começou a tocar saxofone em 1963 e desde 1965 que se apresenta em público. Um dos nomes mais conhecidos e famosos do novo JAZZ.



Depois da apresentação dos componentes deste trabalho, falemos agora sobre o disco em si. Que é, afinal, HOMO SAPIENS?
Não é mais que um trabalho muito bem imaginado e executado sobre o Homem. O Homem/HUMANIDADE.
Em resumo: um bom disco a adquirir sem falta. Um enriquecimento para a canção portuguesa.
Carlos Lobo





19.5.16

Memorabilia: Revistas / Magazines / Fanzines (208) - Lime Lizard - Agosto de 1993


LIME LIZARD
UK

Agosto de 1993
Preço: £2,95
Editor: Patrick Fraser

Nº páginas: 92
Papel um pouco maior que A4 a cores e papel brilhante fino





Telefonei a Ivo para escritório da 4AD da Califórnia, onde ele se encontrava a passar duas semanas. Eu, entretanto, estou instalado nos escritórios deles, em South London, numa sala bela e espaçosa, dominada por uma extraordinária pilha de equipamento hi-fi. Ivo é amigável e loquaz, orgulhoso e entusiasta acerca da música que edita.
Em 1986, disseste que estavas a editar a música mais original e excitante dessa época; pensas que ainda o continuas a fazer , nos dias de hoje?
“Sim, na maioria dos caos. Especialmente durante este ano.”
Que bandas me particular?
“Os Red House Painters, para o meu gosto pessoal. Mas, sabes, tudo o que editámos ou finalizámos até aqui faz-me ficar delirantemente feliz com: The Breeders, Dead Can Dance (novos álbuns serão editados no Outouno), Belly... pessoalmente gosto muito do disco do Frank Black – sei que não é a coisa mais popular na Inglaterra neste momento – e His Name Is Alive, claro.”
Parece que o álbum dos Red House Painters preencheu um vazio; é um álbum realmente incrível...
“É – apesar de eu não pensar que vá vender muito. É como, eu olho para a mentalidade futebolística e isso não existe no meu interior algo que consiga compreender porque é que as pessoas vão assistir a jogos de futebol. Da mesma forma, compreendo que não existe no íntimo da maioria das pessoas algo que os faça responder e compreender e gostar do tipo de música que o Mark Kozelek faz.”
A 4AD alterou, ao longo do tempo, aquilo que tu imaginavas que iria ser?
“Nunca pensei nisso, mas não poderia nem conseguiria acreditar que iria editar a quantidade e qualidade de discos que foi feito. Foi tudo muito para além do que os meus melhores sonhos poderiam fazer-me esperar.”
Agora que tens bandas com tanto sucesso na editora, estás já acima dos constrangimentos financeiros com que te costumavas preocupar?
“Oh, não. Foda-se, não, porque o que aconteceu então é que toda a gente se envolveu com agentes e advogados. O tipo de fundos que as pessoas precisam antecipadamente multiplicou de valor por vinte ou trinta vezes. É absurdo. Tens uma situação onde uma banda venderá milhões e milhões, e a indústria é atraída, como que magneticamente, para esse tipo de música, sem discriminação, sem qualquer tipo de entendimento.
Não podes acusar as pessoas por lucrar, por tentar tirar dividendos da absurdez desta indústria, mas penso que isso não é saudável para a música.
“É fácil para mim dizer que o barómetro do sucesso é o artigo acabado antes de alguém sequer o ouvir, mas a maioria das pessoas precisa e quer ter a aclamação de todo o mundo, posições nas tabelas de venda, etc. Assim, de forma a manter e aguentar tudo isso, foda-se, nós somos apenas como uma companhia de gravação tradicional!”
Tens planos para fazer mais coisas sob a capa “This Mortal Coil”?
“Não, This Mortal Coil já não existe como projecto e por agora comecei os Son Of This Mortal Coil, ou que diabo seja que lhe iremos chamar! – Não tenho intenções de trabalhar com ninguém da 4AD, de facto é bastante importante que assim seja.”
Então estás a trabalhar em coisas novas.
“Pensei nisso durante anos, e Deus abençoe Warren DeFever por me ter dado um pontapé no cu mensalmente e dizer ‘Faz qualquer coisa!’ Fui para um estúdio na Escócia por alguns dias e ensaiei algumas peças, interpretações de músicas de outras pessoas, conseguindo 5 canções. Espero que seja principalmente acústico, e quero trabalhar com muito menos pessoas num disco. Tive um monte de ideias este fim de semana no deserto. Um dos grandes bónus de se viver na Califórnia é que o deserto está tão acessível, e tu podes ir para lá e pensar nas coisas...”
Tens algumas teorias sobre a razão de ter uma tal explosão da música ‘indie’ a transformar-se em mainstream nestes últimos anos – porque me parece que isso aconteceu com a 4AD e com os Pixies muito antes dos Nirvana.
“Haverá sempre alguém que incorporará uma data de trabalho e criatividade que foi feita antes. Ninguém é único, e obviamente os Pixies pagam tributo a bandas como aquelas em que esteve Bob Mould – É apenas uma questão de tempo para que as coisas sejam filtradas. E depois há sempre uma segunda e terceira geração depois dos originais... os Velvet Underground são o exemplo clássico. Ou os Big Star, foda-se! Mesmo até há 4 anos atrás ninguém conhecia os Big Star. Às vezes isso preocupa-me, obviamente não por mim, porque eu estou a tirar prazer disso, mas por causa de pessoas como Kurt Ralske ou His Name Is Alive. Quantos Velvet Underground ou Big Stars trabalhámos nós?”

“Eu fiz uma grande porcaria às dez e meia desta manhã”, começa a responder a uma particularmente estúpida questão acerca da peça preferida da sua própria obra.
Não a espécie de comportamento que esperes do príncipe do redemoinho, capa misteriosa, Vaughan Oliver. A sua auto-depreciação da própria inteligência (a citação de Tommy Cooper “vidro, garrafa, garrafa, vidro” do prefácio do seu catálogo de exposição em França, ao lado de outra do fotógrafo parisiense Robert Doisneau) meramente se adiciona ao enigma que ele criou para a companhia de discos que emprega os seus serviços. Nos últimos 12 anos Vaughan coordenou e realizou o design das capas para a famosa etiqueta independente 4AD, envolvendo a música dos Pixies e dos Lush, entre outros, com profundidade de ideias e também alguma provocação à mistura.
Capas genuínas de discos mantêm-se em alta estima de todos, formando parte da recente exposição Twentieth Century, no V&A.
Apesar dele e da sua equipa de designers, a V23, tenha também feito trabalhos para outras áreas (capas de livros, posters de exibições e, de forma bizarra, designa de apresentação para o agora em dúvida ramal ferroviário de King’s Cross / Chunnel) ele é ainda mais conhecido por aquilo que criou para a 4AD e dentro dos quadrados de 12 polegadas de cartão que envolvem os discos – trabalho que destrói a imagem do disco como mero produto de consumo.
Ele fornece um lado físico à música que a imagem complementar é escolhida para rodear – uma pista visual dos sons no interior, ajudando o ouvinte a apegar-se mais ao disco e à arte da capa como uma entidade artística única.
“A razão principal por que faço isto é que eu irei comprar a maior parte da música, de qualquer forma. Não é como se estivesse a trabalhar. Sou genuinamente inspirado pela música e coloco uma capa num disco que estará na minha colecção em casa e por isso quero que seja uma coisa que valha a pena. Não há nada pior do que uma peça de música com uma capa de merda nela – apenas te afasta dela. Eu pretendo tornar a música o mais próxima das pessoas possível.”
O cliché acerca da arte das capas da 4AD é que é um cliché por si próprio. Sobre-desenhadas, imagem de marca da etiqueta discreta sem lugar a preocupações com o seu baixo custo, um beco indie lo-fi. Mas a marca semigenérica dada por Vaughan e os seus contemporâneos dos anos 80, a etiqueta Postcard Records da Escócia e Peter Saville na Factory, formaram os Mandamentos para a adesão quando se pensa em formar uma pequena etiqueta independente. A Too Pure, Wiiija e a Sub Pop dos seus inícios, têm todas as suas capas com um débito a esses pioneiros na sua abordagem. A influência de Vaughan alargou-se ainda mais. As páginas do catálogo do obscuro designer de moda belga Wim Neel’s, supostamente feitas nos escritórios de todo o mundo, são quase-reproduções do trabalho de Vaughan para o primeiro LP dos This Mortal Coil e para os Cocteau Twins, era Garlands.
E isto é apenas um exemplo entre dezenas de capas de discos, capas de livros e catálogos que incorporaram a sua arte gráfica. Vaughan reconhece a frequentemente criticada consistência entre as suas capas para artistas individuais e para a 4AD como um todo, mas apesar disso dar a uma empresa “sem face” identificativa e que está no mercado, alguma identidade e personalidade, ele arrepende-se o efeito que frequentemente lhe é apontado.
“Em certo sentido, eu devia ter evitado essa identificação da editora porque entra depois em conflito com as personalidades de cada banda de per si. No final do dia, se as pessoas respondem ao logótipo na contracapa, o facto é que é um disco da 4AD, então isso é bom. Mas isso tende a dar às pessoas uma ideia pré-concebida de como tudo será e soará. Mas numa análise sobre a criatividade, é muito difícil fazer tudo completamente diferente.”

Vaughan colabora com uma vasta gama de artistas na sua empresa V23 e a sua equipa parece toda ela partilhar os mesmos ideais quanto à boa arte, enquanto trabalham num contexto de artes gráficas comerciais. É o que faz a V23 tão diferente e única e permite que um humilde designer de uma capa de disco seja aclamado nas suas aparições em França (com apoio do Ministério da Cultura Francês) e no Japão.
Quer a sua opinião seja a de que o que Vaughan realiza é realmente arte, o seu impacto é indiscutível e criou uma imagem que se destaca no meio da infinidade de edições discográficas. Ele acredita firmemente que “não consegues ter o mesmo impacto com as capas dos CDs. Toma como exemplo as capas dos Pixies, onde existe uma fotografia de um cão, ou de um bebé a chorar, ou o que quer que seja. Há um elemento de choque numa coisa como essas – que é incrementado quando passas para o tamanho do poster. Se o passares para o tamanho do Cd fica logo inestético e diluído”.
Podemos estar a falar de tecnologia ultrapassada, mas há qualquer coisa de orgânico quando se trata do tal quadrado de cartão com 12 polegadas de lado. Tu precisas e queres ter muito cuidado com ele, o que te dá um envolvimento muito mais pessoal com o objecto/disco, se fores um velho sentimental como eu. Ou Vaughan.
“Sabes, levas o teu disco para casa, tiras a capa interior e metes de novo o vinilo dentro dela e oh! É um sentimento muito forte e agradável! Muito mais do que abrir uma caixa de plástico de um CD e ficares com uma coisa pequena na mão. Como objecto é muito mais apetecível.”
Pronto para dar a sua contribuição artística em outros media (o actual calendário da 4AD e uma série que vai sair de capas para livros para a editora Serpent’s Tail, só para citar dois exemplos), Vaughan e V23 transformam artigos de consumo em artigos de que tu nunca mais vais querer separar-te. Ele está a lutar na retaguarda contra a pressão para consumir e dispensar cada vez mais os objectos – simplesmente colocando o seu amor à música em utilização e de uma forma construtiva.
“Sabes, eu passei/dei doze anos da minha vida a peças de cartão quadradas com doze polegadas,” diz Vaughan, “falando muito a sério acerca de uma peça de memorabilia.”
O terceiro poster da série 23 Envelope, será disponibilizado ainda este ano.



A 4AD está a celebrar 30 anos como incubadora natural de música de qualidade, esplendidamente apresentada. Lucy Cage e Razor olham para trás sobre a história lustrosa da editora, Lucy Cage falou com Ivo Watts-Russelll acerca das suas inspirações, enquanto Gareth Grundy se encontrou com Vaughan Oliver, da 23 Envelope.

A menos que seja confrontado por uma daquelas perguntas de questionário “Que Discos Mudaram A Sua Vida?”, não é provável que a evolução do seu gosto musical venha à tona e seja objecto de escrutínio público. E mesmo assim, pode sempre mentir. Mas não se você for o patrão da 4AD, Ivo Watts-Russell. A história da sua estética pessoal está gravada em vinilo para todos poderem ouvir. Felizmente, quer para ele quer para nós, o seu ouvido conduziu-o a trabalhar frequentemente com as melhores bandas de diversos géneros, ou até, frequentemente, com bandas cujos discos e aparição na cena musical definiram elas próprias um novo género. A 4Ad tornou-se num símbolo de qualidade e integridade num mercado geralmente com menos cuidados com o consumidor.
Oh My Goth
É fácil esquecermo-nos que a etiqueta que renovou os gostos, com música etérea de bandas como os Cocteau Twins, os naquela época deliciosamente sensaborões Bauhaus e os Birthday Party. Claro que, naqueles tempos até os Cocteau Twins eram góticos. O seu álbum de estreia – Garlands (1982) – é marcadamente repetitivo, carregado de ira e geralmente fornecia razões para comprar antes (ou a par) o EP dos Sisters Of Mercy “Reptile Houde”. Os Birthday Party utilizavam uma abordagem mais guerilheira, espalhando cacos de horror como o lentamente triturador “The Friend Catcher” ou a lasticidade monstruosa de “Mr. Clarinet”. Algures no meio encontramos os Bauhaus de Peter Murphy, mestres do humor negro em vez da magia negra, com canções doidas mas sem expressividade como “God In An Alcove”, “Small Talk Stinks”, “Telegram Sam”. Quando os Bauhaus partiram para a companhia mãe Beggars Banquet, em 1981, levaram consigo o co-fundador Peter Kent com eles e a 4AD tornou-se (virtualmente) uma editora autónoma sob o domínio de Ivo.
Atacados Pela Imprensa
Sem surpresa, a maioria das edições iniciais da 4AD foram singles. Ao lado de discos de bandas como os Modern English e os Birthday Party – a espinha dorsal da sua lista em desenvolvimento – estiveram lá muitas bandas de um só disco, o que fazia parecer que a editora estava a flexibilizar o seu estilo. Entre eles estava o 12” pelos já extintos Rema-Rema, uma das canções que seria mais tarde refeita e editada no primeiro LP dos This Mortal Coil, e cuja formação incluía Marco Peroni, que mais tarde se juntou aos Adam & The Ants e Gary Asquith, agora com os Renegade Soundwave; enquanto Mark Cox e Mick Allen formaram equipa com Andy Gray para constituir os In Camera -  - um outro grupo estranho da 4AD, que trabalhava nas franjas do pop psicológico – para formar os Wolfgang Press. Considerando que Allen descreve ele próprio a banda como “quase um hobby” durante os primeiros anos da sua existência – quando ela produziu uma linha de, moderadamente, - discos inacessíveis – isso é testemunho da força de Ivo e da sua forte convicção neste último sobrevivente da 4AD, neste período de “Raincoat”, em que os Wolfgang Press sairam com um álbum de brilho incontestável: o subtil Bird Wood Cage, de 1988,. Com “Queer”, o qual – paradoxalmente – Allens reconhece como o mais experimental depois do seu primeiro, Foi o que fez os Wolfgang Press atingirem o mainstream, vingando retrospectivamente anos de ostracismo imerecido.
Pinte Com Qualquer Cor Excepto O Preto
O que tem de especial o dubpop cool de caixas de ritmos dos Colourbox que atraíram a atenção de Ivo no mesmo ano em que assinou com os Cocteau Twins? “Não faço a mínima ideia”, revela elusivamente Martin Young, o líder da banda na sua primeira entrevista da última meia década. Na altura, eles eram conhecidos como uma editora negra e assustadora. Nós nunca lhe envia ríamos uma demo tape.” Mas um nosso amigo enviou, e os Colourbox puseram cá fora um álbum que, com um fluxo lento mas constante, no meio do material da 4AD, alcandorou o sucesso entre ’82 e ’86.
Aplicando chocantes excessos de efeitos de estúdio – atrasos de voz sonantes, estranhas paragens, efeitos electrónicos fantasmáticos – Às suas canções pop cheias de soul, ou passando meramente diálogos de filmes, iluminou as suas canções de forma infecciosa (uma vez ouvidas..., tentem o seu “Official World Cup Theme”, nunca mais nos saem da cabeça). Mas foi preciso esperar por 1987 e a colaboração entre MARRS e A.R.Kane para os Colourbox conseguirem os seu primeiro (e da editora) número um no top.
“Eu não quero acreditar que o Martyn e o Steve Young – tão talentosos – não tivessem encontrado a inspiração para acabar alguma coisa”, diz Ivo tristemente. Não houve produção dos Colourbox desde “Pump Up The Volume”. Paguei-lhes adiantadamente para fazerem o álbum seguinte. Se Martyn alguma vez acabasse alguma coisa, eu editava, mas parece-me que cada vez mais isso se está a tornar menos provável.”
Martyn admite: “Eu passei por um longo período em que o meu interesse pela música foi nulo”. Mas ele está agora a trabalhar em material novo, embora não deva sair sob o nome de Colourbox. E já não se sente mais intimidado pelo seu hit. “Certamente que não devo e não vou tentar repeti-lo. É melhor que tenha morrido e fique enterrado, na verdade”. Dito isto, à custa dele foi-nos permitido viver durante seis anos. Esse aspecto da questão está ok!”
Vivendo Num Mundo Etéreo
Depois de Garlands, foi-se tornando gradualmente claro que os Cocteau Twins tinham um lado mais forte na sua música. Nos EPs “Lullabies” e “Peppermint Pig” os sons da bateria eram ainda mais crocantes, a guitarra de Robin Guthrie ainda guinchava e dava a base, mas as harmonias começaram a ser mais quentes, e essa característica vocal de contraponto, obtida com a técnica de overdub, de Liz Fraser veio para a frente. Em Head Over Heels (1983), o processo de género-fracassado estava concluído quando eles prenderam a máquina de ritmos através de um efeito de reverberação em vez de apenas um delay. O resultado? Um afofamento. Mas que magnífico, apocalíptico afofamento ele foi: o espírito do Etéreo estava entre nós.
Elevar A Morte
Os Cocteau Twins tornaram-se a banda da 4AD que mais vendia e a principal banda no papel de atrair novos ouvintes para a editora (com a qual eles estavam fortemente identificados). Além deles, isto é, de um duo Australiano – largamente ignorado até aqui, mas certeiramente incensado no resto do mundo – conhecido como Dead Can Dance. Se os Cocteau Twins tinham as suas raízes no Gótico, a principal inspiração dos DCD era estritamente gótica: tímbalos e pandeiretas, metais e instrumentos chineses combinados com a voz angélica de Lisa Gerrard e mais os tons base de Brendan Perry, que relembra a história:
“Na Austrália não havia muito interesse no tipo de música que estávamos a fazer, por isso decidimos vir para a Europa – Conhecíamos a 4AD através dos dos Birthday Party. Apesar de termos enviado uma demo para quatro companhias, a 4AD foi a única que nos deu uma resposta positiva. Recebemos uma carta do Ivo, mas na altura ele não estava em posição de nos ajudar. Isso foi por volta de 1982. Mas mantivemos o contacto.”
Em 1984 quer a banda (orquestra é uma palavra que talvez mais se ajustasse) e a editora estavam prontos para uma relação de trabalho. Apesar de o seu álbum inicial ser um pouco sombrio, não é exagero dizermos que todos e cada LP subsequente dos DCD é perfeito. Desfalecimento.
Dreampop
Na altura em que fizeram Heaven Or Las Vegas, os Cocteau Twins redefiniram-se novamente: Com as suas fortes linhas que agarravam o ouvinte, batidas balanceantes e grandes vendas, este é um álbum eminentemente pop. Ao lado de My Bloody Valentine, o som dos Cocteau – apesar de inimitável – influenciou uma onde de novas bandas, desde a muito analisada ‘blissed-out pop’ dos A. R. Kane, Lush e Pale Saints e os shoegazers, Guthrie mostrava progressivamente sinais de suaves mudanças e os arpeggios tornaram-se definitivamente um tipo particular de indie-pop.
O Céu Vermelho Não Pode Esperar
Quando as Throwing Muses assinaram, em 1986, elas representaram uma mudança definitiva de direcção por parte da editora. “Ivo, que é o único executivo editorial, que conheci, que ouvia realmente as demos – e ainda o faz – chamou-nos”, relembra Kristin Hersh.
“Nós éramos um bando de miúdos a viver em Boston – havia dezanove pessoas a viver no mesmo apartamento – e tínhamos todos dezassete anos ou perto disso. Ele chamou-nos e disse “Isto é Ivo”, e eu não percebi o que ele queria dizer. Pensei que era um dos namorados de Leslie (Langston, a baixista original dos Throwing Muses). Nós mantivemos uma lista de todos os namorados de Leslie e que eram suposto saberem, algum deles, onde Leslie se encontrava quando precisávamos dela, e que era suposto mentirem também. Assim, eu limitei-me a sussurrar “Uh-huh...?” Ele disse que tinha gostado da demo, mas que não assinava com bandas americanas. Eu fiquei tipo “Ok, bem, seja. “Bye ‘Ivo’”. Eu nunca tinha ouvido aquele nome também. Então ele voltou a contactar umas semanas depois e disse. “Ainda é uma boa demo, mas eu também ainda não assino com bandas americanas”. Eu fiquei tipo “Quem é este maluco?” Então, finalmente, ele chamou-nos de novo e disse “Okay, eu vou assinar com uma banda americana MAS apenas para um disco.”
No seu aclamado disco de início, as canções de Hersh desgastavam e impacientavam entre arrebatamentos delirantes e dançáveis de estábulo, country e western lamentoso e ritmos nervosos, tudo com uma cativante imprevisibilidade. Na altura da edição de Real Ramona em 1991 a banda soava mais segura e confiante mas ainda assim inclassificável, produzindo canções pop entre os seus dentes e preocupações introduzidas com uma guitarra frenética e harmonias bizarra, de tão assustadoras que eram.
De Barriga Lisa
A meia-irmã de Kristin, Tanya Donelly, abandonou as Muses em 1992 para se concentrar na sua própria banda. Belly conquistou o seu caminho para os corações dos ouvintes com a voz sussurrante de Tanya e a força pura dos seus ganchos pop. Canções como ‘Low Red Moon’ e ‘Dancing Gold’ do primeiro EP utilizam guitarras límpidas que deslizam e arranham à volta de vocalizações sussurrantes que nos contam histórias de forte desolação. Belly tem na capa um sorriso tão grande como uma talhada de melancia, e as linhas de guitarra são tão irresistivelmente charmosas que até as letras torcidas como eram soavam doces na terra da MTV.
Baixando Até O Bunuel
Tal como as Throwing Muses, os Pixies eram originários de Boston e trouxeram a 4AD na direcção pop/rock, apesar de sempre à beira do precipício. Ivo relembra: “Lembro-me da altura em que me deram a primeira demo dos Pixies: estava em Nova Iorque, fazendo uma caminhada e divertindo-me imenso, mas a pensar “Será que isto é muito próximo do rock & roll? Será que me quero envolver com isto?” Foi a Deborah, que trabalhava na 4AD, que me disse que eu não devia ter esse tipo de dúvidas estúpidas. “Os ganidos inarticulados de Black Francis e a guitarra guinchante de Joey Santiago formavam um apreciável conjunto apesar assombrar a audiência. Os caracteres fora de ordem que habitavam as canções dos Pixies poderiam muito bem trepar até contos de fadas de um mundo paralelo esquisito. Mick Allen dos Wolfgang Press rogou para que assinasse com eles um contrato. “Eu penso que ele trouxe para a frente pessoas que possivelmente nunca ninguém teria ouvido, e em certo sentido os Pixies foram o princípio do grunge. Com toda a certeza, Surfer Rosa é um dos melhores discos desse tipo de música. Uma série de grupos pegaram no que eles estavam a fazer e nas possibilidades que eles levantaram.”
A Comichão Do Décimo Terceiro Ano
O gosto impecável de Ivo conduziu-o recentemente a um ângulo mais orientado para as canções: “Eu penso que o mundo já não precisa de mais grupos americanos liderados por um guitarrista, em que tu não consegues perceber as palavras. Eu agora estou mais numa de música mais espacial e acústica.” O seu projecto This Mortal Coil é patente o testemunho reverente que ele presta em The Song – em cada um dos três álbuns dos TMC encontramo-la estirpada profundamente até aos ossos frágeis, tocada e cantada com uma elegíaca (e apropriadamente gótica) adoração, embelezada com veludo auditivo. As assinaturas recentes da editora foram Heidi Berry e Red House Painters, ente outros, que exemplificam a nova onda da editora. As canções elegantes e gentilmente nostálgicas de Berry, com um fundo plangente de cordas e piano, são reminiscentes do herói de Ivo, Nick Drake, assim como de Joni Mitchell; enquanto Mark Kozelek dos Red House Painters escreve com uma melancolia autobiográfica, as suas letras desconfortavelmente abertas, complementadas subtileza calma da sua música baseada na guitarra.
A nova estrela da editora é o freak Mark Robinson dos Unrest, que tem a sua própria editora em Washington DC – TeenBeat – que ainda mantém os direitos para editar os singles 7”. Os Unrest acabaram de gravar um novo álbum para a 4AD, apesar de Mark vangloriara-se “Vamos editar uma caixa de seis 7” do álbum na TeenBeat”. O seu pop aparado tem mais em comum com os preferidos pelos fanzines, como os Tsunami ou os Velocity Girl do que com os colegas de editora, mas estando na 4AD tem as suas vantagens: “Tínhamos sempre pelo menos uma pessoa em cada concerto nos Estados Unidos com uma t-shirt dos Cocteau Twins ou dos Lush vestida. As pessoas iam aos nossos concertos só porque estávamos na 4AD”.
Apesar da partida dos Cocteau Twins e da fragmentação dos Pixies, é ainda muito cedo para demover a 4AD de ser a editora independente mais vital em todo o mundo. Ivo está excitado o suficiente com a sua lista de bandas para pôr juntos alguns artistas menos conhecidos nos concertos de Julho no ICA, sob o lema “A Sarna dos Trinta Anos”: “Isto pode ser um momento breve em que uma grande parte destas pessoas podem tocar juntas e divertir-se; O ICA é suficientemente pequeno que não importa quem é o cabeça de cartaz ou outra coisa qualquer. Apenas interessa aparecer e dizer, “Bem, isto é aquilo que nós fazemos”, e sentir-se muito orgulhoso por isso durante uma semana.”

Discografia Essencial, Tal Como Recomendado Próprios Integrantes da 4AD
IVO:
Cocteau Twins – Heaven Or Las Vegas LP
Red House Painters – Red House Painters LP
His Name Is Alive – Home Is In Your Head LP
MICK ALLEN:
Pixies – Surfer Rosa LP
Dif Juz – Huremics LP
Cocteau Twins – Heaven Or Las Vegas LP
BRENDAN PERRY:
A.R.Kane – Lolita EP
The The – Burning Blue Soul LP
Michael Brook – Sleep With The Fishes LP
MARTYN YOUNG:
Modern English – Swans On Glass
Cocteau Twins – Head Over Heels LP
Pixies – Velouria EP
KRISTIN HERSH
Pixies – Come On Pilgrim LP
(“Prefiro não dizer mais pois seria injusta para muitas outras pessoas que teriam de ficar de fora”)
MARK ROBINSON:
The Tintwistle Brass Band – 7” of two Pale Saints’ songs as played by a brass band...
In Camera – 13 (Lucky For Some) LP
Lush – Scar LP
Modern English – After The Snow LP






6.5.16

Memorabilia: Revistas / Magazines / Fanzines (207) - Filhos De Viriato - Nº 1 - Agosto de 1989


FILHOS DE VIRIATO
PUBLICAÇÃO MENSAL DE MÚSICA MODERNA PORTUGUESA
PORTO
Nº 1
Agosto de 1989
Preço: 100$00
Impressão: 1000 exemplares
Nº páginas: 20
+ (mini)encarte de 8 páginas A6 (A5 dobradas ao meio) com o Roteiro - Verão 89
Papel normal de fotocópia A4 (A3 dobrado ao meio e encadernado mas sem agrafos), tudo a p/b



Director e Proprietário: Ricardo Alexandre
Redacção: Ricardo Alexandre, Cândido Resende Alves da Silva, João Nuno Coelho, António Pedro Pombo e Marco Fernandes
Colaboradores: Marta Correia, Ivone Santos
Lay-out: Paulo Alexandre, Ricardo Alexandre
Desenhos: Carlos Miguel, Álvaro Manuel
Fotografia: Nuno Olaio

Editorial
Razões De Querer
A falta de conteúdo na grande maioria das publicações musicais é, actualmente, um dos muitos “cancros” que afectam a imprensa periódica portuguesa. Nem mesmo as publicações marginais, os chamados “fanzines”, escapam a uma mediocridade de ideias, que é, por vezes, irresponsavelmente colmatada com “malabarismos” gráficos e visuais. É, no entanto, impossível dissociar este facto da actual situação do país, no que respeita à mentalidade e consciência social dos cidadãos. Num país onde o vazio ideológico assume proporções assustadoras, onde o tecnocrata bate o intelectual aos pontos, onde as pessoas são progressiva e gradualmente levadas a pensar, não em função de si próprias, mas em favor das estruturas que as integram, das máquinas, como será possível a existência de uma imprensa jovem idónea, coerente, militante e minimamente rica em termos de conteúdo?
O nosso objectivo é precisamente esse. Tentar quebrar as barreiras do superficialismo, tentar conquistar uma nova maneira de ler por parte do público, ainda que não possamos aliar a nossa assumida militância e contestação a uma componente gráfica de qualidade superior. Mas vamos por certo tentar. Coloca-se a questão: qual o papel da Música Moderna Portuguesa em tudo isto? Os músicos, a música, pela sua capacidade de (de)formação de opinião, pela sua função socializante, não podem, de forma alguma, ser abstraídos da realidade em que se inserem; cumpre a quem escreve, igualmente pela sua função socializante, inserir a Música Moderna Portuguesa ajudando-a, acarinhando-a, criticando-a, na realidade em que nos movemos.
Em suma, é para tal que aqui estamos. Procurar lutar contra a falta de condições, contra a falta de tempo e contra a acomodação. E estamos aqui porque gostamos. Sabe bem.
Ricardo Alexandre

Rui Reininho
Ressacadamente
“Posso Falar”?
O monólogo ocorreu há alguns meses atrás quando Rui Reininho e Miguel Esteves Cardoso promoveram uma sessão sobre o amor num conhecido bar portuense. Reininho autorizou-nos a carregar no “record” e perguntou “posso fala?”
Antes do “Amor”...
* Nunca fiz política, nunca votei, sou um anarquista.
Sou duro, para mim não há rei nem lei.
Faço as coisas por Amizade e por Amor.
Hoje venho cá só para falar de Amor.
Depois do “Amor”...
* Fui um idiota hoje, não fui? Falar de política! Eu quero é ver sangue, quero acção. Quero acordar de manhã e ver acção. Já tenho meio quilo na cabeça e queria ter lá fora um helicóptero à minha espera. Mas tenho um “espada”, um Mercedes, não é bom?
O meu Mercedes está aqui estacionado e eu hei-de ser sempre um bandido... Nunca hei-de pactuar com esses gajos da televisão...
* GNR é um grupo de bandidos. Não somos detectives. Somos Padrinhos da Mafia... O Padrinho é um dos meus filmes preferidos.
GNR é instituído? O caraças. Eu detesto essas merdas. Eu quero o poder, quero dirigir o poder, dar cabo daquela merda toda. E posso fazer isso.
* O GNR não é uma coisa acabada. É um verme que viaja. É um verme que escapa ao Estado, à Europa.
O nosso disco é muito cuidado? É.. é... na medida em que eu hoje falei de ternura e fui assobiado, acho que a ternura passa pela eficácia. Hoje em dia... posso ser sincero? É assim... hoje ouvi Mão Morta, eu adoro o Adolfo... e punhais e não sei quê... Acho que a eficácia passa por um certo conservadorismo em relação às instituições. Hoje expus-me aqui. Hoje fui uma “puta”. Fui a única gaja nua aqui. A certa altura pensei: isto não me interessa. Não me interessa a pátria... eu quero é crueldade. Quero sentir uma comoção. Eu trabalho para isso.
* Serei sempre o Rui Reininho. Hoje fiz de palhaço. Mas faço porque gosto de acção. Gosto de guarda-costas. Gosto de ir com eles para o Swing. Gosto dessa merda toda. É um filme. Sou o Al Capone do Rock. Acompanhei a subida dos UHF, dos Heróis, dos Xutos. Os GNR sempre estiveram um bocado à parte disso tudo, não foi? Eu sou muito mais decadente que eles todos!
Hoje em dia está tudo doido. Vai haver crimes esta noite, vai haver mortes... vocês estão a olhar para um crime. Eu ontem esganei a minha namorada e vocês não sabem... O Reininho estrangulou a namorada... vocês achariam o máximo não era? Se eu tivesse filmado isso num vídeo, vocês achavam que era comercial. Não é esse o limiar dos anos 90. Os anos 90 não vão ser assim... vão ser subtileza.
* A “Valsa dos Detectives” não é um álbum que venda. Há crueldade dentro daquilo. Há o encantamento da serpente, há uma serpente que quero encantar... não me tirem essa merda.
* Eu hoje bebi um litro de gin... é um luxo. Hoje tive uma noite de luxo... Sentei-me ali, bêbedo, (...) coca em casa... e o espectáculo era meu. O público não percebe isso porque é pobre. Não tenho medo dos pobres; eu sou é do ponto de vista do Marquês de Sade: os pobres devem ficar mais pobres para se revoltarem. Devem sofrer para lutarem. Daqui a 5 anos o meu amigo João Peste vai ser apresentado pelo Júlio Isidro nos Amigos Disney.
* Vai haver sangue esta noite... eu tenho 1,90 m, sou forte, vou ver strip-tease, vou ver o ódio, a crueldade, adoro a crueldade. O Teatro da crueldade começou hoje para mim, tenho este estupido relógio da Swatch que roubei hoje.
* Eu quero submeter a ordem deste país. Quero ir ao Alentejo. No Sábado vou a Évora e vou apanhar a alentejana nua... Pode ser o meu crime... e vocês não deixam... com a merda da vanguarda não me deixam cometer o meu crime. Quero o meu crime agora, quero três mil gajos a aplaudir-me, quero ser um ninja, cortar cabeças.
* Adoro o Jacques Brel. Posso cantar trinta músicas dele. Já conheci o Iggy Pop. Foi a semana passada. É um bêbedo, doido e milionário.
Adoro o “New York” do Lou Reed.
Quero conhecer a vida, o mundo, o Gorbachov. A minha missão é essa.
Para a próxima trago aqui o Gorbachov e o Mário Soares... mas são eles que têm que me procurar.
* As Delfin(a)s é um grupo piroso, fazem a nossa 1ª parte, eu vou para o palco e digo: Obrigada pela música de criada de Cascais, às Delfinas. Isso é grave. Um gajo avant-garde não tem coragem para fazer isso. Eu digo e assumo. Há para aí 4 gajos a quererem bater-me. Mas eu gosto disso. Quero ser Mafioso. É um imaginário. Gosto de ver sangue a correr, gosto de confronto.
* Sempre fomos (os GNR) as “putas” mais caras. Acho que é um bom princípio. Hoje expus-me aqui. Faz parte do meu show. É uma intuição. Nós fomos os gajos mais chiques quando estivemos em S. Paulo... eles têm 14 milhões de habitantes.
* Um gajo tem que mexer com a merda desta cidade. Nós somos um grupo do Porto e fazemos essa merda com orgulho. Chegámos a S. Paulo e eles sabiam que éramos do Porto... e não de Lisboa. É bom, não é? Quando um gajo faz uma coisa que acredita, não é piroso.
Ilustrações: Álvaro Manuel Morcela
Recolha de Som: Repórter X


Um Bacano De Chelas
Sob O Signo Da Aldrabice
Farinha:

Foi no passado dia 27 de Julho, no Pinguim Café, que Farinha Master, o popular artista de Chelas, apresentou o seu mais recente trabalho “Desperdícios”. Assessorado pelo divertidíssimo Grazina (que aqui revelou o seu elevado potencial como “entertainer”), Farinha demonstrou, perante uma plateia vibrante de entusiasmo, estar no auge da sua criatividade e imaginação. Apesar da falta de condições (é lamentável a inexistência de uma cuspideira), o mentor dos Ocaso Épico brilhou-nos com um espectáculo ímpar e inovador.
O trabalho pretende ser uma síntese experimental de correntes tão diversas como o fado e o hard-core, a música minimal e até o samba. O resultado excede as expectativas mais optimistas. A genialidade foi uma constante durante quase duas horas de espectáculo, que atingiu o seu auge com o “hit” mais recente deste artista conceptual – “Quero ir ao Frágil” é, acima de tudo, um libelo contra a miséria e a injustiça social, colocando definitivamente Farinha na 1ª linha da chamada corrente intervencionista, lado a lado com nomes como os Heróis do Mar e os Ibéria.
Na verdade, a crítica social foi uma constante – o preço dos medicamentos e o problema dos hospitais, a superlotação dos estabelecimentos prisionais, a questão premente da Selva Amazónia – tudo Farinha interpelou e questionou, formulando hipóteses, propondo iniciativas e sugerindo soluções. Enfim, uma noite de inspiração para uma das promessas mais sólidas da nossa música moderna. Gostaria de deixar uma última nota para a decoração – excelente! – e para o cuidado com que tudo foi planeado até ao mínimo pormenor, evitando demoras e quebras no ritmo do show.
O NOSSO MUITO OBRIGADO!
Ivone N.





1.5.16

Memorabilia: Revistas / Magazines / Fanzines (206) - Op. - Nº 18 - Primavera de 2006


Revista Op. (visões da matéria)
#18: Primavera de 2006 : ano 6, 2006: 3.50€76 páginas
papel maior que A4, toda a cores em papel de luxo brilhante.

Ver o enquadramento desta revista neste post


O Melhor de 2005
Início de ano que se preze não pode deixar de ter os balanços dos momentos altos da edição e criação cultural. Apresentamos aqui a nossa contribuição para essas ousadias de sistematização histórica.

Bruno Bènard-Guedes
Tom Zé “Estudando O Pagode”
Common “Be”
Ablaye Cissoko “Le Griot Rouge”
William Parker Quartet “Sound Unity”
M. Ward “Transistor Radio”
Quasimoto “The Further Adventures Of Lord Quas”
Sharon Jones & The Dap-Kings “Naturally”
Isolée “We Are Monster”
Ed Motta “Aystelum”
Seu Jorge “Cru”
FME “Cuts”
Pierre Boulez / Ensemble Intercontemporain “Boulez – Le Marteau Sans Maître, Dérive 1 & 2”
One Self 2Children Of Possibility”
Electrelane “Axes”
Beck “Guero”
Delia Gonzalez & Gavin Russom “The Days Of Mars”
Boubacar Traoré “Kongo Magni”
LCD Soundsystem – “LCD Soundsystem”
Jan Jelinek “Kosmischer Pitch”
James Finn Trio “Plaza De Toros”
Pete Philly & Perquisite “Mindstate”
Smog “A River Ain’t Too Much To Love”
The Vandermark 5 “The Color Of Memory”
Daedelus “Exquisite Corpse”
Jon Hassell “Maarifa Street – Magic Realism 2”

José António Moura
[45 em 2005]
Atom TM “Acid Evolution 1988-2003”, álbum
Delia Gonzalez & Gavin Russom “The Days Of Mars”, álbum
“Fragments Of Fear” mixed with blood by Quiet Village, mixtape
Jackson, primeira meia hora na festa da Rádio Oxigénio, ao vivo
Janie Lidell “Game For Fools”, canção
Lindstrom & Prins Thomas “Lindstrom & Prins Thomas”, álbum
Map Of Africa “Black Skinned Blue Eyed Boys”, single
New Young Pony Club “The Get Go”, single
“O Castelo Andante”, Hayao Miyazaki, filme
Strawberry Force Fields Forever, acid house / bleep techno no Passos Manuel, Porto e Lux, Lisboa
Peter Shapiro “Turn The Beat Around – The Secret History Of Disco”, livro
Tim Lawrence “Love Saves The Day – A History Of American Dance Music Culture 1970-1979”, livro
“Rub n Tug Present Campfire”, compilação
DJ Harvey de novo no spotlight
Wax Poetics, revista
Loosers em mudança permanente
Songs Of The Green Pheasant “Nightfall (For Boris P)”, canção
Bobbie Marie “Stay Away”, canção
Whatever We Want, editora
Konono Nº 1, Sines, ao vivo
Sleeparchive”1-4”, singles
“Acid: Can You Jack?”, compilação
Omar-S & Shadow Ray “Oasis Collaborating I”, álbum
Omar-S, Detroit new school
Jamal Moss, Chicago new school
Fiery Furnaces “EP”, álbum
Sterolab “Interlock”, canção
Liars “ItFit When I Was A Kid”, single
Mark Broom “Any Number Between 1 & 17”, remistura de Autechre
Tokyo Black Star “Violent Rush”, música
Ennio Morricone “Crime And Dissonance”, compilação
BBI Elite Force, action figures
“Beat Street” (Atan Lathan), dvd
Ceephax Acid Crew “Fak005”, mini-álbum antigo
Bunker, editora
Kenner, figuras Star Wars vintage
“Das Boot”, Wolfgang Petersen, dvd
Sahko, editora + mixtapes
The Residents “Diskomo”, single antigo
Frankie Valli “Grease”, single antigo
Sei Miguel no concerto de Pop Dell’Arte no Lux
Black Leotard Front “Casual Friday”, single
Andre Agassi vs James Blake quartos de final US Open Ténis

Mário Lopes
[2005 visto e (reouvido)]
!!! @ Paredes de Coura
Adam Green “Gemstones”
Ali Farka Touré @ Monsanto
Amadou & Marian @ Músicas do Mundo, Sines
Andrew Bird @ Lux, Lisboa
Animal Collective “Feels”
Animal Collective @ Floresta do Ginjal, Cacilhas
Arcade Fire “Funeral”
Black Mountain “Black Mountain”
Black Rebel Motorcycle Club “Howl”
Bright Eyes “I’m Wide Awake, It´s Morning”
d3ö “7 Heartbeat Tracks”
Dan Sartain “Dan Sartain vs. The Serpientes”
Destroyer @ ZDB, Lisboa
Devendra Banhart @ Sudoeste
“Dig” Ondi Timoner
The Fall “Fall Heads Roll”
Fiery Furnaces “EP”
Franz Ferdinand “You Could Have So Much Better”
Gary Higgins “Red Hash”
The Go! Team “Thunder Lightning Strike!”
Howling Hex “You Can’t Beat Tomorrow”
Jamie Lidell “Multiply”
Joe Bataan “Call My Name”
Kaiser Chiefs “Employment”
Kanye West “Late Registration”
The Kills “No Wow”
Kings Of Leon “Aha Shale Heartbreak”
Konono Nº 1”Congotronics”
LCD Soundsystem “LCD Soundsystem”
LCD Soundsystem @ Lux, Lisboa
Loosers “For All The Round Suns”
Magnolia Electric Co. “What Comes After The Blues”
Matt Elliot “Drinking Songs”
“No Direction Home” Martin Scorsese
Old Jerusalem “Twice The Humbling Sun”
Panda Bear @ ZDB, Lisboa
Paul McCartney “Chaos And Creation In The Backyard”
Pop Dell’Arte @Fórum Lisboa
Sagas “Rostu Limpu”
Six Organs Of Admittance “School Of The Flower”
Six Organs Of Admittance + Joanna Newson @ Lux, Lisboa
The Skygreen Leopards “Life And Love In Sparrow’s Meadow”
Sons And Daughters “Reputation Box”
Stephen Malkmus “Face The Truth”
Vários “Tropicália: A Brazillian Revolution In Sound”
Weird War “Illuminated By The Light”
The White Stripes “Get Behind Me Satan”
Willy Mason “Where The Humans Eat”

Nuno Galopim
[música > discos > internacional]
Arcade Fire “Funeral
Sufjan Stevens “Illinoise”
Rufus Wainwright “Want Two”
Brian Eno “Another Day On Earth”
Animal Collective “Feels”
Antony And The Johnsons “I Am A Bird Now”
Patrick Wolf “Wind In The Wires”
Franz Ferdinand “You Could Have It So Much Better”
Editors “The Back Room”
Khonnor “Handwriting”

[música > discos > nacional]
Bernardo Sassetti “Alice”
Mariza “Transparente”
Clã “Vivo”
David Fonseca “Our Hearts Will Beat As One”
Rocky Marsiano “The Pyramid Sessions”
Mafalda Arnauth “Diário”
Kátia Guerreiro “Tudo Ou Nada”
The Ultimate Architects “Soma”
Post Hit “Post Hit”
Bernardo Sassetti “Ascent”

Ricardo Sérgio
(música > discos]
Arcade Fire “Funeral”
Architecture In Helsinki “In Case We Die”
Fiery Furnaces “EP”
Sufjan Stevens “Illinoise”
Antony And The Johnsons “I Am A Bird Now”
Franz Ferdinand “You Could Have It So Much Better”
LCD Soundsystem “LCD Soundsystem”
Bebe “Pafuera Telaranas”
Kaiser Chiefs “Employment”
Margarida Pinto “Apontamento”
Frank Black “Honeycomb”
William Shatner “Has Been”
Old Jerusalem “Twice The Humbling Son”
Archer Prewitt “Wilderness”
Factor Activo “Em Directo Do Fim Do Mundo”

Rui Miguel Abreu
[música > discos]
Atom TM “Acid Evolution 1988-2003”
Beat Konducta “Movie Scenes”
Boards Of Canada “The Campfire Headphase”
Common “Be”
David S. Ware “Live In The World”
Dwele “Some Kinda”
Edan “Beauty And The Beat”
Flanger “Spirituals”
Isolèe “We Are Monster”
Harmonic 33 “Music For Film, Television & Radio, Volume One”
Jamie Lidell “Multiply
Joe Bataan “Call My Name”
Kanye West “Late Registration”
Lindstrom & Prins Thomas “Lindstrom & Prins Thomas”
Platinum Pied Pipers “Triple P”
Prince Paul “Instrumental”
Quantic Soul Orchestra “Pushin On”
Quasimoto “The Further Adventures Of Lord Quas”
Roots Manuva “Awfully Deep”
Sharon Jones & The Dap Kings “Naturally”
Shawn Lee’s Ping Pong Orchestra Sound Directions “The Funky Side Of Life”
Steve Spacek “Space Shift”
Thelonius Monk Quartet with John Coltrane “At Carnegie Hall”
Whomadewho “Whomadewho”

[música > discos > compilações]
Juan Atkins “20 Years”
“The Free Design – The Now Sound Redesigned”
“Cold Heat”
“Love’s A Real Thing”
“New Thing”
“Soul Gospel”
The Soulsavers Soundsystem “Staring At The Radio Staying Up All Night”
Mizell Bros “Mizell”
David Axelrod “The Edge”
“Rub ‘n’ Tug present Campfire”
Idjut Boys “Press Play”
Greg Wilson “Credit To The Edit”
“This Is Melting Pot Music”

Vicente Pinto de Abreu
[música > discos]
AGF / Vladislav Delay “Explode Baby”
The Books “Lost And Safe”
Electrelane “Axes”
Jamie Lidell “Multiply”
Jan Jelinek “Komischer Pitch”
Joe Bataan “Call My Name”
LCD Soundsystem “LCD Soundsystem”
Six Cups Of Rebel “Arp She Said”
M.I.A. “Arular”
One Self “Children Of Possibility”
Sharon Jones & The Dap Kings “Naturally”
TBA “Annule”
Who Made Who “Who Made Who”

 
 



A GRANDE ILUSÃO

texto Pedro Santos
ilustração Liliana Mendes

30th century pop

Milhares de horas de polimento acústico nunca poderiam ter criado outra coisa para além do gigante encantamento sonoro que ouvimos na nova obra-prima de Scott Walker.

Scott Walker
“The Drift”
4AD / Popstock, 2006


Não conseguiremos encontrar, hoje, personagem mais enigmática na música do que Scott Walker. Na companhia de Brian Wilson, tem tentado emergir do longo período de reclusão que se seguiu ao fim da época de ouro dos anos 60 – um com Walker Brothers, o outro com Beach Boys. E se os dois norte-americanos são nomes fundamentais para vislumbrarmos uma arquitectura suprema da escrita de canções, um é claramente mais lúcido que outro. Wilson apenas recuperou a sua chama de génio com a remontagem em 2004 da sua obra-prima “Smile”, disco com 40 anos de conceptualização, enquanto que Scott Walker reaparece irregularmente para editar peças-chave da sua muito particular visão musical. Se Wilson é um desajustado em quem notamos um forte desequilíbrio físico e mental, já em Walker é o silêncio que ocupa demasiado espaço nas explicações das suas ausências. Tem sido essa falta de comunicação com o mundo exterior que tem colocado o músico na prateleira dos génios loucos: não dá entrevistas há décadas, conhecem-se poucas imagens e o paradeiro exacto é sempre desconhecido. Enormes suposições tomam o lugar dos factos e quase todas têm sido falaciosas e pejorativas. Numa recente, curta e inesperada entrevista à BBC, a propósito de “The Drift”, muitos são os mitos que caem por terra, mas o principal é vermos o músico totalmente lúcido e comunicativo, mostrando um desarmante humor, explicando todos os equívocos, as ausências e processos de criação e, até, mostrando o desejo em voltar rapidamente aos discos.
Sendo recorrente relembrarmo-nos de Scott Walker como autor dos quatro “Scott”, mais pausa, mais “Tilt”, mais pausa, mais o novo álbum, o discurso demonstra como o mito se sobrepõe à realidade: entre estes marcos, existe um programa de televisão, álbuns menores, incursões pela country, banda sonora para “Pola X”, curadoria do festival Meltdown em 2000 ou a produção dos Pulp. Aliás, não precisaríamos mais do que os factos para perceber que o exílio nunca o foi – talvez tenha sido só o modo mais fácil de lidarmos com o seu peculiar universo. Explicou ainda que os últimos sete anos foram devorados pelo aperfeiçoamento de “The Drift”, deixando que o processo de criação fosse feito com o ritmo adequado. No documentário “Scott Walker: 30 century man”, de Stephen Kijak, ainda por estrear, podemos espreitar o estúdio onde se gravou o álbum durante mais de um ano e perceber o estado de complexa estruturação sonora que foi levado a cabo, compreendendo o trabalho de equipa para uma invulgar montagem e orquestração.
Podemos ver blocos de cimento (ou blocos de som) ou pedaços de carne do talho (ou pedaços de som) a serem testados ao pormenor como elementos de percussão, e esta doentia curiosidade acústica apenas sugere um obstinado desejo de estudo e pesquisa em que os estúdio é, mais uma vez na História da música, o laboratório e veículo principal numa estética sonora vanguardista.
“The Drift” tem de se colocar exactamente onde “Tilt” ficou. Dez anos de pausa, de interregno, mas de progressão silenciosa. De volta ao estúdio para testar novos sons, diálogos, instrumentos, arranjos, mantendo uma voz com impecável detalhe ribombante. O tempo passa a ser uma tela branca sem preparo, sem qualquer esboço que indique o que vai mostrar no final. Vê-se um gigantesco puzzle e uma chuva de sons possíveis que apenas ganham o direito ao seu lugar após exigente escrutínio. Cada som é único e apenas deve servir os seus propósitos imediatos. Scott Walker é livre, a sua música é livre, “The Drift” nasce livre. Não se impõem sentidos proibidos, não vemos setas obrigatórias, nem mesmo indicações que facilitem. Há instinto, é tudo sobre instinto, sobre uma linguagem fluída, nova. Lemos um enredo simples, como uma história com poucas palavras, mas onde todas as palavras têm múltiplos significados. A cada solução é-nos entregue mais uma chave críptica, a cada mistério é-nos confiado um desfecho. Não há castigos ou penitências, é tudo sobre prémios e conqusitas. “The Drift” é um poço vertiginoso de energia condensada que raramente irradia em toda a sua potência. Milhares de horas de polimento acústico nunca poderiam ter criado outra coisa para além de um gigante encantamento sonoro. As suas palavras continuam afiadas, reflectindo uma luz ofuscante no fio do corte. Scott Walker permanece polémico e brutalmente dramático nas citações. Milosevic espreita, o fascínio russo continua presente, “Jesse” fala-nos de alguém que sobrevive à queda das torres em Nova Iorque. Outra torre em Nova Iorque teve um dia um “Cremaster” e a música de Jonathan Bepler – e é esse o único ponto de contacto que consigo fazer com “The Drift”. Dificilmente será um disco para ficar atrás de outro em 2006.






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