31.10.16

Memorabilia: Revistas / Magazines / Fanzines (254) - Fazedores de Letras - Magazine


Fazedores de Letras

Jornal da Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

Mensal
Ano VII
Fevereiro de 1999
Nº 25

32 páginas A4 (A3 dobrado e agrafado) a preto e branco e com papel pesado.
Fotocopiado mas de aspecto cuidado...

Inclui suplemento musical Subcave - 8 páginas centrais, de onde foi extraído o texto abaixo.



Ficha Técnica
Direcção:
Anick Ribeiro
Francisco Amaral Frazão
Omar Dutra
Pedro Barros
Direcção de Internet:
Luís Pedro Fernandes
Grupo de Trabalho:
Ana Dupont
Ana Sofia Bacalhau
Claúdia Neves
Dália Barreto Lopes
Inês Fernandes
João Carlos das Neves Figueiredo
Luís António Coelho
Mariana Vieira
Mário Gomes
Sílvia Prazeres
Solange Cosme
Escrevem:
Artur Marcos
Eduard Fão
Francisco Frazão
José fer
Jota
Luís Pedro Fernandes
Maria João Soromenho
Patrícia Espinha
Ricardo Faria
Rui Pedro Saraiva
Susana A. R. Alves
Zé Maria

Tiragem:
5000 exemplares

Custo total do número – 372.500$00
Percentagem suportada por patrocínios e subsídios: 59,7%


Distribuição Gratuita



Hertzoskópio
Em estreia

HERTZOSKÓPIO é o nome do espaço que irá procurar, no Subcave, retractar objectivamente o horizonte da música electrónica contemporânea (erudita e não erudita).
Todos os meses serão seleccionados pelo HERTZOSKÓPIO, um ou mais trabalhos, que pelo seu conteúdo, unicidade e originalidade merecem uma análise cuidada e descritiva, visto representarem algo de incontornável dentro da facção musical em que se inserem. Serão igualmente focados neste espaço trabalhos de edição recente.
As abordagens realizadas pelo HERTZOSKÓPIO pretenderão abranger diversos motivos dentro da música electrónica, sendo exemplo disso a seguinte descrição de géneros, ou “subgéneros”, que irão, certamente, figurar em números próximos: Trip-Hop, Drum & Bass, Pós-Rock, Dub, electro-acústico contemporâneo, electrónica experimental, etc...
Neste primeiro HERTZOSKÓPIO as selecções escolhidas têm por objectivo estimular os ouvintes para as composições electrónicas criadas pelos OVAL, com o álbum 94diskont e por David Tudor, com a peça musical Rainforest Parts ! & IV.
O primeiro registo a destacar, 94diskont, foi editado em 1995 pela mille plateaux, tendo sido composto na Alemanha (Colónia) por Markus Popp, Sebastian Oschatz e Frank Metzger.
OVAL é o nome que descreve o carácter musical deste (ex)trio alemão que, através do tratamento electrónico de vários “samples”, isto é, de várias amostras de sons, consegue criar paisagens, ambientes e cenários idílicos, carregados de uma simbologia subjectiva e mística. A desconstrução do som e a sua transmutação e saturação constituem os métodos com os quais, os OVAL criam os seus sons, métodos estes que têm, essencialmente, por instrumentos o sampler e o computador (com o software adequado).
94diskont apresenta-se como sendo um convite a uma profunda e especulativa viagem pela existência. O seu primeiro tema, do while assim o sugere. Durante 24 minutos e 4 segundos temos a hipótese de apreciar uma estranha viagem por uma paisagem rica em cores e movimento, sendo particularmente interessanate entender que a complexidade da evolução melódica, ao longo do tema, é o resultado do tratamento diverso de um mesmo “sample” ou “loop” melódico. As delícias do stereo balance, evidentes com o constante despertar e aflorar de pratos metálicos electronicamente tratados ao longo de toda a faixa, serão mais perceptíveis se se proceder a uma audição relaxada e com auscultadores, o mesmo se recomendará para uma melhor audição das opacas, vaporentas e disformes ressonâncias presentes em do while.
Os restantes quatro temas, a saber store check, line extension, cross selling e do while (short version), completam adequadamente o itinerário desta turbulenta viagem. Sem dúvida que 94diskont é um pequeno grande disco (dura apenas 42 minutos e 10 segundos).
Rainforest é uma peça musical que foi originalmente criada por David Tudor em 1968 em chocorua, New Hampshire. Esta peça realizada pela primeira vez num celeiro da localidade acima referida, consistia num amplo espaço onde estariam estrategicamente dispostos e suspensos ao nível do ouvido da altura média de um adulto, vários objectos como: bidões, grelhas metálicas, madeiras várias, etc... com a particularidade de todos esses objectos estarem munidos de microfones de contacto, o que permitia a Tudor captar as vibrações protagonizadas pelo movimento no perímetro total da sala onde pessoas se movimentavam e interagiam directamente com os objectos. Ao captar as vibrações verificadas pelos objectos suspensos, através dos microfones, mesas misturadoras e de equipamento electrónico diverso, David Tudor, trabalha-as e reenvia-as para o ar criando assim um ambiente electro-acústico rico biodiversidade sonora.
Esta peça criada em 1968, foi destinada a um bailado coreografado por Merce Cunningham, tendo sido interpretada bastantes vezes pelo mundo inteiro, por David Tudor e Takehisa Kosugi. A duração da peça é de 21 minutos e 47 segundos e é a primeira faixa do cd aqui analisado.
Rainforest existe em 4 versões ou partes distintas: a primeira é a que acima referi; da segunda não existem gravações, e a terceira consistia numa actuação simultânea de David Tudor, The Merce Cunningham Dance Company e John Cage a cantar um tema de nome Mureau (um texto adaptado, por Cage, de uma imensidão de escritos da autoria de Henry David Thoreau). A quarta versão foi o resultado de um grupo de compositores nascido de um “workshop” realizado em 1973 (John Driscoll, Phil Eldstein, Bill Viola, Andre Zravic e Michael Quigly) que teve lugar no mesmo celeiro onde em 1968 teria sido criada a 1ª versão de Rainforest. Esta 4ª versão de Rainforest tem uma duração bastante extensa (aprox. 52 minutos), mas representa de uma forma diferente e inventiva a peça original de David Tudor. A descrição mais fiel a este trabalho é a que se pode ler no folheto do cd: “... it is a timeless sonic environment, full of rich textures, offering the listener an infinite variety of aural densities and spacial effects.”.
João Pinto

Discografia dos OVAL
Wohnton / Ata Tak 1993
Systemish / mille plateaux 1994
94diskont / mille plateaux 1995
Dok / thrill Jockey 1997
Distribuição Ananana

Discografia de David Tudor
Rainforest Parts I e IV / Mode records 1998
Neural Synthesis nos. 6-9 / Lovely Music 1995






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