autor: Luís Jerónimo e Tiago Carvalho (compilação) - Prefácio: Luís Jerónimo
título: Escritos de Fernando Magalhães - Volume X: 2002
editora: Lulu Publishing
nº de páginas: 428
isbn: none
data: 2017
PREFÁCIO
Este livro, ou melhor esta
colecção de 13 livros, com uma média de mais de 400 páginas cada, é uma
homenagem a um dos críticos que, em Portugal, mais fez pela divulgação das músicas
não comerciais e não convencionais, sobretudo as músicas de cariz electrónico, experimental
e industrial, do rock progressivo, do krautrock e da folk, não sem uma pitada
de admiração e fascínio pelo obscuro e bizarro do lado humano vertido em notas
musicais e ruído puro.
Aliás, os terrenos que mencionamos
e que constituíam o especial interesse do crítico, falam por si. Alguns aparentemente
antagónicos (a folk e o krautrock, por exemplo), eles encerram toda uma
filosofia e modo de estar na música: O prazer e inquietude da descoberta, mas
sempre assente em bases sólidas do passado, da história de toda a música. O seu
conhecimento enciclopédico, no bom sentido do termo, permitia-lhe discorrer com
facilidade sobre quase todos os géneros musicais e, por vezes (temos pena!)
desmascarar críticos e músicos que julgavam estar a “descobrir a pólvora”
quando há décadas que alguém já tinha feito o que eles agora julgavam inovador e
original.
Também o Krautrock foi sempre uma
das suas (e minhas, já agora) enormes paixões e seguiu este movimento inovador
desde a sua explosão nos anos 70 até às ramificações que ainda hoje fazem
sentir os seus efeitos no panorama musical.
Precocemente desaparecido do nosso
convívio, em 2005, é importante que o seu trabalho não caia no desconhecimento
e seja divulgado (por vezes recordado) entre aqueles a quem ele abriu novas
portas de conhecimento e sonho, bem como a todos os jovens, e menos jovens, que
amam a música e que nestes milhares de páginas que já publicámos encontrarão um
“emaranhado” de onde, uma vez entrados nunca mais sairão… sentindo-se felizes
pelas maravilhosas descobertas musicais que o caminho percorrido lhes
desvendará. É esse o sentido do trabalho que temos (eu e o Tiago Carvalho)
vindo a desenvolver há quase uma década. Este é o volume 10, respeitante aos
escritos do ano de 2002. Faltam-nos três volumes (ano de 2003, ano de 2004 e
2005 e volume extra, com sobras, intervenções no fórum sons, famosas listas de
melhores discos (há muitas e boas) e um índice remissivo de todos os volumes.
Pouca coisa nos terá escapado, temos quase a certeza. Uma obra quase completa,
portanto. Milhares e milhares de páginas duma escrita fluida e inteligente,
corrosiva e afectuosa, sobretudo apaixonada e sapiente.
Senhor de um conhecimento musical
infindo, estamos na presença de um crítico superlativo, devido a vários factores,
dos quais saliento a enorme capacidade de exposição das suas ideias através da
sua escrita bastante criativa e original, sempre fundada num enquadramento
histórico, sociológico e filosófico (ramo da sua formação universitária) só ao
alcance de uma pessoa com uma formação sólida naqueles domínios. Tudo isto
sempre com uma enorme humildade e prontidão em informar com rigor, criticar com
conhecimento de causa e esclarecer os humildes leitores que se lhe dirigissem
com qualquer tipo de dúvida ou pedido.
Conheci‐o nos anos 80, quando o
encontrei algumas vezes no atendimento da discoteca Contraverso, no Bairro
Alto, sempre pronto a aconselhar a audição e a perorar, sobre as novidades
musicais que mais o tinham impressionado, duma forma apaixonada.
Mais tarde tornar-se‐ia jornalista
do diário de referência Público, até ao fim da sua vida, onde segui desde
sempre os seus escritos nesse jornal, colecionando-os avidamente.
Lembro‐me de uma vez atender o
telefone e perceber, atónito, que, do lado de lá, o jornalista me contactava
para me responder a umas questões de âmbito musical que tinha colocado, por carta,
para o jornal. Tinha indagado o meu número de telefone pela morada (penso) e
prontificou‐se a contactar‐me. Esta atitude de permanente disponibilidade diz
muito do profissionalismo e dedicação à causa.
A esmagadora maioria da produção
escrita que realizou foi publicada no jornal Público. Já antes acompanhava os
seus textos e sei assim que escreveu no jornal Blitz e no saudoso jornal LP,
além do fanzine de referência Ibérico, dos irmãos Somsen, ligados à RUT (onde o
FM chegou a ter um programa) e à Ananana, para além de outros projectos
radiofónicos e não só. Chegou a participar num programa radiofónico da XFM, que
colocámos no Mixcloud. Foi ainda o maior animador do fórum sons, aberto na
internet pelo Público, onde moderou e participou activamente em discussões
intermináveis e interminavelmente interessantes sobre tudo o que à música diz
respeito. No entanto, também o fórum foi encerrado, pelo que termos de procurar
aí pela net, nas caches do google. Recuperámos alguns desses textos mais
interessantes, que publicaremos no futuro, como acima referimos. Mas, neste
caso, se alguém tenha gravado os / alguns dos posts e esteja pronto a
disponibilizá‐los, agradecemos. Nesta versão digital da sua intervenção não
temos tudo, nem lá perto, ao contrário da produção escrita e publicada em
papel. Caso exista mais alguma publicação em que tenha espraiado o seu
conhecimento e paixão musicais, seria bom, na minha opinião, que alguém que
tenha acesso a esses textos, os publicasse também.
Para que a memória não se perca.
indiceFM_Vol10 by luisje on Scribd
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