3.12.08

Michael Rother - Entrevista


INVISIBLE JUKEBOX
MICHAEL ROTHER
TESTED BY MIKE BARNES
WIRE 290 – ABRIL DE 2008


LINK 1: Lust (1983)
LINK 2: Sterntaler (1977)
LINK 3: Flammende Herzen (1976)
LINK 4: Harmonia & Brian Eno - Tracks & Traces / Harmonia 76
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LINK 5: Harmonia - Musik Von Harmonia
LINK 6: Harmonia - Deluxe
LINK 7a: Michael Rother - Esperanza
LINK 7b: Michael Rother - Esperanza
LINK 7c: Michael Rother - Esperanza





Michael Rother está na posição privilegiada de ter sido membro de três dos grupos mais influentes do movimento Krautrock dos anos 70. Após a aprendizagem efectuada no grupo Spirits of Sound, de Düsseldorf, entrou em digressão numa primeira encarnação dos Kraftwerk, formados então pot Florian Schneider, Klaus Dinger e ele próprio. A ligação com Dinger, um baterista, conduziu à formação dos Neu! Em 1971. O seu som era caracterizado por um ritmo implacável, que os críticos baptizaram de ‘motorika’ (‘cacacidades motoras’ em alemão), apesar de os seus três álbuns oficiais – Neu!, Neu! 2 e Neu! 75 – também explorarem aproximações mais abstractas. Para além dos Neu!, Rother também tocou com o duo Cluster de Dieter Moebius e Hans-Joachim Roedelius nos Harmonia, que editaram dois álbuns – Musik From Harmonia e Deluxe – de exploração proto-electrónica, entre 1973-1976. Uma colaboração entre os Harmonia e Brian Eno, Tracks and Traces, foi gravada em 1976 no estúdio dos Cluster, na cidade de Forst mas permaneceu sem edição até 1997. Um álbum concerto dos Harmonia, Harmonia Live 1974, foi apenas desenterrado em 2007.
Depois dos Neu! terem terminado, Rother iniciou uma bem sucedida carreira a solo com Flammende Herzen (1977), Sterntaler (1978) e Katzenmusik (1979), todos com a participação do baterista dos Can, Jaki Liebezeit. Desde então editou mais sete álbuns, o último dos quais em 2005, Remember (The Great Adventure), no qual colaboraram a vocalista e violoncelista britânica Sophie Williams e a estrela rock alemão Herbert Grönemeyer (fundador da editora Grönland), Asmus Tietchens, Andi Toma dos Mouse on Mars, Jake Mandell e outros. Em 2007, os Harmonia reataram a sua actividade depois de um hiato de 31 anos, com um concerto na Berlin’s Haus Der Kulturen Der Welt.
A Jukebox teve lugar no escritório do amigo e colaborador de Rother, Thomas Beckmann, em Hamburgo.

The Monks
“We Do Wie Du”
From Black Monk Time (Repertoire) 1966

Não conheço a canção. Soa muito anos 60, algo como os Sam The Sham And The Pharaohs.
Na realidade são os The Monks em 1966. Eles eram militares americanos estacionados na Alemanha.
Sim, eu ouvi os The Monks, só não estou familiarizado com as canções.
Como descreveria a cena rock alemã dos meados dos anos 60?
Não havia praticamente qualquer cena de música pop ou rock alemã a acontecer naquela altura. O meu pai trabalhava na Lufthansa e nós tínhamos vivido em Karachi desde 1960. Quando regressei do Paquistão em 1963, os Beatles tinham aparecido e aquele era o tipo de música que me interessava na altura. Depois em 1964 adquiri a minha primeira guitarra, tocava os Beatles, os Kinks, a maioria das bandas inglesas famosas. Vi os Pretty Things em 1965, o que realmente me impressionou. Gostei da imagem do menino-mau [risos].
Na Alemanha havia bandas, como os The Lords, que eram ridículas. Tu ouve-las e pensas, ‘Não, vocês não podem fazer uma coisa destas’. Foi esse o modo como entrámos na música, quando me juntei aos Spirit of Sound em 1965, com a minha primeira guitarra eléctrica. Tinha 15 anos, por isso tinha heróis e nós tentávamos copiá-los o melhor que conseguíamos. Não tínhamos qualquer ideia de compor qualquer coisa nossa.
Ouvir Hendrix deve ter sido um choque…
Não me lembro bem da primeira vez que vi Jimi Hendrix… Penso que foi na altura de “Hey Joe”, quando ele apareceu no Beat Club, um programa de TV alemão. A sua apresentação foi diferente, e o seu primeiro álbum impressionou-me realmente. Era tão experimental, a maneira como ele usava e tratava a guitarra. Penso que foi a minha maior inspiração naqueles anos. Ainda o é, de certo modo. Não podes dizer que é uma coisa datada, na verdade.
Quando é que começou a olhar para além dos músicos que copiava?
Isso foi um processo gradual. Durante dois ou três anos melhorámos. Éramos famosos em Düsseldorf e arredores, tocando frequentemente em festivais e bailes de escolas. Foi uma coisa paralela com o desenvolvimento da minha personalidade. Quando 68 chegou com a turbulência política, e a guerra do Vietname, isso também nos levou a pensamentos acerca da individualidade. Começámos a improvisar mais e a desenvolver novas ideias e estruturas durante 1969 e 1970.
Na altura eu trabalhava num hospital psiquiátrico, realizando serviço cívico como objector de consciência. Por isso foi uma feliz circunstância, na verdade, quando encontrei ali outro guitarrista. Sendo ambos guitarristas e trabalhando no mesmo local semi-fechado no hospital onde atendíamos pacientes em terapia da arte, também fazíamos, ocasionalmente, música com alguns dos pacientes mais novos que sabiam tocar algum instrumento.
Infelizmente não recordo do seu nome, mas ele tinha um convite para se juntar a uma banda de estúdio chamada Kraftwerk, para fazer música para um filme. Juntei-me a ele e terminei a falar com o Ralf Hütter. Foi a primeira vez que havia outro músico com os mesmos sentimentos de harmonia e melodia. Não tínhamos de dizer tudo, começávamos apenas a tocar e descobríamos que não havia notas azuis ali. Ralf Hütter deixou o projecto por seis ou sete meses – e o Florian Schneider queria colocar os Kraftwerk em palco. Ele e o Klaus Dinger tinham ouvido a nossa improvisação e por isso convidaram-me. E assim uma coisa levou à outra.

David Bowie
“V2-Schneider”
From Heroes (EMI) 1977

[Ouvidos bem atentos] Soa como Neu!. Pode entrar no “Negativland” a qualquer momento. Bem, nunca ouvi isto antes. Vai descobrir que eu raramente conheço qualquer música. É uma mistura interessante: um pouco dos dias de hoje, um pouco de baixo negro dos anos 70 e uma bela melodia dos anos 60, princípios de 70. Por favor, diga-me o que é.
É David Bowie, do seu período Berlim, no fim da década de 70.
A sério? Já não o ouvia há que tempo. Habitualmente tenho uma memória melhor que isto, devo dizer. Soa um pouco como [o grupo de Klaus Dinger] La Düsseldorf.
Não disse uma vez que o David Bowie o convidou para tocar no Heroes e você declinou?
Isso ainda se diz. E não é verdade [risos]. O estranho é que o David parece ter acreditado nisso até 2001 mais ou menos, quando nós trocámos alguns emails. Porque algumas pessoas lhe contaram que eu tinha mudado de ideias, aparentemente, e a mim contaram-me que ele tinha mudado de ideias acerca da nossa colaboração. O que eu sinto é que algumas das pessoas à volta de David Bowie estavam um pouco receosas do caminho que ele estava a tomar, mais experimental. Um músico contou-me recentemente que os seus fans o odiaram por ele ter mudado e as vendas terem ido por aí abaixo. Provavelmente os seus agentes pensaram ‘Agora ele está a convidar o Michael Rother, outro daqueles alemães loucos. Quem sabe a influência que ele irá ter na sua música?’ Talvez eles tenham querido ajudar o David e talvez isso tenha sido feito com a melhor das intenções comerciais, mas, claro, negligenciando a sua vertente artística.
Falou com ele acerca de algumas ideias?
Detalhes não. Falámos por telefone, e tudo era muito entusiástico. Eu até propus que deveríamos convidar o Jaki Liebezeit [baterista dos Can]. Na altura já tínhamos gravado o meu primeiro álbum a solo, Flammende Herzen, e eu sabia que ele seria um baterista perfeito. Perguntei ao David que ideias ele tinha, o que queria que eu tocasse, mas nada de detalhes. Eu dificilmente faria o que ainda hoje não faço. Nada de muitas conversas sobre música, apenas fazê-la. Quando ouço hoje o Heroes, penso que soa muito bem. Talvez eu o tivesse estragado? Nunca o saberemos.

Stereolab
“Jenny Ondioline (Alternate Version)”
From Oscillons From The Anti-Sun (too Pure) 1993

Oh sim… claro que os conheço. Vi-os com o Thomas [Beckmann] quando tocaram aqui, em 1995.
O que pensou quando ouviu os Stereolab pela primeira vez?
Eles admitem perfeitamente que se basearam nos Neu!, especialmente nesta faixa, que usa uma linha de baixo de “Hallogallo”. Foi uma experiência estranha porque o Thomas conhecia os Stereolab e disse, ‘Vamos a este concerto’, e eu não os conhecia. Estava ali de pé e pensei, ‘Ih, estou a ouvir-me a mim próprio!’ Claro que adicionaram elementos novos. Adoro as vozes – belas. Adoro esta canção; tem um balanço realmente bonito. De certo modo é inspirador para mim também, por isso andamos aqui à volta. A direcção é directamente para o horizonte, o que era uma das principais ideias por detrás da música dos Neu!. Há uma opinião comum que a música dos Neu!, tal como dos Kraftwerk, tem um sentimento de movimento constante, tal como conduzir na auto-estrada. Mas é diferente com os Kraftwerk. Eu não concordo que a música dos Kraftwerk tenha a mesma direcção para o horizonte.
Dá-lhe prazer que a influência dos Neu!, especialmente, tenha sido tão disseminada?
Tenho de ser honesto e dizer que claro que isso agrada a um artista. É um cumprimento, mas também temos de controlar os sentimentos como esse porque é importante progredir. Isso tende a que fiques parado onde estás se te preocupares muito com as reacções.

Moebius & Beerbohm
“Narkose”
From Double Cut (Sky) 1983

Não faço ideia onde colocar esta música. Tem um bocadinho daquele som de Farfisa adoentado que costumavam usar nos anos 70. Não o ouvia há que tempos mas vem-me à mente os Moondog. Dê-me uma pista.
Participa alguém com quem trabalhou muito.
Conny Plank? Dieter Moebius? É Moebius?
Sim, com Gerd Beerbohm.
Eu devia ter reconhecido o Moebius, mas aquele órgão distraiu-me. Talvez seja a influência do Beerbohm.
Como foi a recente reunião dos Harmonia para um concerto em Berlim? Você brincou e disse que o principal objectivo seria não passarem por parvos.
Eu disse isso muito a sério porque as expectativas eram tão elevadas e tu pensas, a que soarás agora? Devemos soar a como soávamos há 30 anos, ou devemos esquecer tudo acerca do que as pessoas esperam? Há diversas maneira de o fazer. Então, tens de encontrar o equilíbrio entre viver no passado, no presente e no futuro.
Quando fomos convidados para esse concerto, perguntaram-nos se poderíamos aceitar a junção de um coro, porque a Barbara Morgenstern é a líder do coro e eles queriam mesmo participar. Todos nós ficámos um pouco na incerteza porque pensámos que teríamos grandes problemas para ter tudo OK sem um ensaio sequer e depois, ainda por cima, termos um coro que não conhecíamos. Cada um de nós enviou-lhe música e informação. Ela queria tocar uma canção de cada um de nós. Eu estava tão ocupado que apenas lhe dei a informação que seria em B menor e teria 136 beats por minuto. Pela primeira vez desde 1976 trabalhar em conjunto como Harmonia, penso que nos saímos bastante bem, mas sei que temos de melhorar para a próxima vez.
As suas duas perfomances com Moebius foram improvisadas ou a música foi composta?
É mais dois espectáculos a solo no palco, uma faixa do Dieter, uma faixa minha, e por aí fora. O outro pode juntar-se espontaneamente, sempre que possível. Não sei se conseguiremos encontrar uma combinação que funcionemos dias de hoje, pois nós seguimos em direcções diferentes. Se ouvir o Harmonia Live 1974 [editado no ano passado pela Grönland], e pensar que está óptimo, isso é apenas parte da verdade. Aquele foi provavelmente o melhor concerto que demos e nós tivemos muitos concertos em que a coisa não resultou no que toca a encontrar o momento certo no desenvolvimento de ideias.

Franco
“Attention Na Sida”
From The Rough Guide To Franco: Africa’s Legendary Guitar Maestro (World Music Network) 1987

Estão a cantar acerca da Sida?
Sim, foi escrito pelo guitarrista do Zaire, Franco, que morreu de uma doença relacionada com a Sida 2 anos após esta música ter sido gravada. Nós queríamos saber se este estilo de ‘rumba’ teve alguma influência em si.
A sério? [Risos] Bem, isso pode ser discutido. Tudo o que me consigo lembrar é acerca do meu último álbum, Remember (The Great Adventure), em que há uma canção intitulada “He Said”, que toquei com um instrumento electrónico, mas tinha sons de guitarra e outros adicionais que talvez fossem mesmo nesta direcção. Eu não sei realmente dizer se fui inspirado [por esta forma de tocar guitarra], mas claro que adoro o fado Português, e penso que tudo aquilo que ouves como músico e que gostas, e a que o teu coração se mostra aberto, deixa algumas marcas. Muitas coisas acontecem por acaso – Eu apenso sigo uma linha de algo que me impressionou. Não sou um caçador, sou um recolector. Permito-me a mim mesmo divertir-me.
Franco está a fazer uma declaração política aqui. Nós ficámos intrigados acerca de uma declaração política sua no renascimento do neo-nazismo na faixa “Die Ganze Welt” na sua compilação de 1993, Radio.
Esse era um dos assuntos principais. Havia alguma coisas terríficas a acontecer no início dos anos 90 na Alemanha, estrangeiros estavam a ser queimados. Ainda é um problema. Os samples que eu juntei a são provenientes de todo o mundo têm o significado de uma declaração a favor de uma maior compreensão política e cultural entre nações e pessoas. Isto é exactamente o oposto do que os velhos e novos nazis tinham em mente – e, infelizmente, não só eles. Encontrei a maioria dos samples na rádio e na TV; algumas vozes são de pessoas conhecidas, outras de perfeitos desconhecidos. Os samples individuais não são importantes per si. É a sua combinação e deve resultar mesmo que não percebas uma única palavra do que essas pessoas estão a dizer.

Justus Köhncke
“Feuerland”
From Safe and Sound (Kompakt) 2007

Sim, eu conheço isto. Eu até o esperava, para ser honesto. Sim, é fantástico, no último Verão o Rene, da Grönland enviou-me um email dizendo que havia um músico, Justus Köhncke
, que gostaria de fazer uma versão de “Feuerland” [do álbum Flammend Herzen, de Michael Rother]. Eu respondi dizendo, porque não? E fiquei completamente espantado com a precisão com que ele reconstruiu a canção original sem usar um único sample original.
Pensa que este pulsar mecânico é como uma versão electrónica dos Neu! Em direcção ao horizonte?
Bem, é muito relaxado. Não penso que “Feuerland” seja um exemplo, na verdade, desse voo ou corrida em direcção ao horizonte, é acerca de um sentimento diferente. Foi tão mágico o que sucedeu com “Feuerland”. Quando a gravámos em 1976, fazia sentir-se uma grande trovoada e uma atmosfera muito eléctrica, a tensão foi subindo e isso resultou nessa canção. Usei uma máquina de tape- delay analógica e durante a gravação avariou e a fita começou a chiar e pouco depois partiu-se, o que mudou a atmosfera completamente.
Gosta do tecno e da música electrónica germânica actual?
Para ser honesto, adoro o som do silêncio, reduzir toda a informação porque estás rodeado e, por isso, sou muito selectivo com o que ouço em casa. Estou provavelmente abaixo da média em relação a ouvir música. Mas há certas alturas em que ouço música muito intensamente. É-me difícil ter música apenas como música de fundo.

Einstürzende Neubauten
“NNNAAAMMM”
From Ende Neu (Mute) 1996

O início parece-se um pouco com Underworld. Dâ-me um minuto e pode ser que eu reconheça.
É Einstürzende Neubauten.
A sério? Eu não os tinha ouvido até há muito pouco tempo. Um amigo meu faz promoção para eles e deu-me uma cópia do seu último álbum e, ne verdade, gostei do que ouvi. É música pop muito acessível; eu estava à espera de uma coisa completamente diferente. Martelos pneumáticos, algo como isso. Talvez não saiba mas fiz algumas colaborações com o ex-membro dos Neubauten, o FM Einheit e os Air Liquide, um grupo de electrónica germânico, em 2002. Foi fantástico. O Einheit tem uma espiral metálica muito longa e batia-lhe com um martelo e aplicava-lhe alguns efeitos. Eu gostei do que ele fazia. Eu toquei sobretudo guitarra e alguns teclados. Era um diabo de um barulho! Lembro-me de termos dado um concerto em Colónia e os meus ouvidos terem ficado a zunir por alguns dias.
Isto pode ser tomado como um tipo diferente de música motorika, usando gravações de motores de veículos actuais.
Adoro sons ambientais e de motores, por isso compreendo completamente o que eles estão a fazer aqui. Um som interessante mas um pouco inquietante foi o criado por dois molhes no rio Elba, que foram movimentados para cima e para baixo um contra o outro pelas ondas. Numa cavidade entre os dois cais, o som do ferro e da água misturaram-se numa espécie de câmara e eco. Por vezes uso samples desta gravação nas aparições públicas onde as trato com mais alguns efeitos.

John Cale & Terry Riley
“Church Of Anthrax”
From Church of Anthrax (CBS) 1970

Bem, de novo… música que eu desconheço [levanta-se, caminha em direcção ao aaltofalante da coluna de som e ouve] O órgão relembra-me um pouco o Terry Riley…
É o álbum que ele editou em 1970 com John Cale, Church of Anthrax.
Eu vi o Terry Riley com os Harmonia. Fomos até Berlim em 1973. Quando o vimos, estava ele sentado defronte de um pequeno teclado e começou [imita um tocar de teclado constante e rápido]. Não tenho a certeza de ter ficado assim tão impressionado. É justo que se diga que ele não foi uma grande influência para mim.
Apesar de isto ser uma improvisação rock, a música de Cale e Riley foi rigorosamente minimal nesse tempo. Foi influenciado pelo minimalismo de alguma maneira?
Isso é lógico. Para reduzir todos os clichés da tua música tens de ir o méis longe possível, para as estruturas minimais, para tentares voltar e começar de novo, tentar encontrar um caminho sem cair nas mesmas armadilhas. Os meus colegas terão sido inspirados pelo minimalismo mais do que eu. Eu tive de começar do princípio, ir colocando um tijolo sobre o outro, até descobrir a minha própria música. Quando comecei a colaborar com os Kraftwerk nem sequer tinha ouvido falar ainda do Terry Riley. Estava um pouco atrasado então. Como a Alemanha depois da segunda guerra mundial, começar de um ponto chamado zero [risos]. A propósito disso, não consegues esquecer aquilo com que cresceste em termos de sentimentos a modos de pensar, mas como acto intelectual dás o melhor de ti para esquecer.

Pascal Comelade / Pierre Bastien/ Jac Berrocal / Jaki Liebezeit
“To The Last Of Imaginery Solutions”
From Oblique Sessions (Les Disques Du Soleil et de L’Acier) 1997

Quer dizer, o Rother conece uma em dez! Não creio que tenha ouvido isto antes. É o Jaki Liebezeit? Com o Burnt Friedmann?
Os outros músicos do álbum são Jac Berrocal e o Pierre Bastien, mas nesta faixa Liebezeit está a tocar com o Pascal Comelade, que usa vários instrumentos de brinquedo. Foi gravado usando os cânones Oblique Strategies, do Eno.
Para ser honesto eu nunca estive interessado nessas teorias. Quando o Brian visitou os Harmonia em 1976, estava cheio delas. Fazer a música é interessante mas não quero saber nada das teorias. Ele visitou-nos e produzimos alguma música em conjunto, jogámos ping-pong, etc. Do nosso lado não tínhamos como objectivo fazer música para editar em álbum. Ele trazia com ele um pequeno sintetizador SEM, que usou para tratar o som da minha guitarra, e depois saímos com as fitas, com a intenção de prosseguir depois. As coisas correram de modo diferente, e o Brian disse que não conseguia encontrar as fitas. Demorou 20 anos até que o Roedelius visitasse o Brian, e encontrar as fitas no arquivo dele. Há alguns momentos engraçados nesse disco, mas o mais importante para nós foi aquele encontro.
Eu gosto de “Luneburg Heath” onde ele tem aquela linha vocal. De facto, gosto da sua maneira de cantar. Quando ele estava em Forst, estávamos em estúdio e lembro-me de ele ter cantado “By This River” [que aparece em Before and After Science, de 1977] e tocar o acompanhamento. Infelizmente gravaram essa canção sem mim, algum tempo depois. Estou contente de ter reconhecido o Jaki. Ele é único, não muito difícil de reconhecer. O seu kit de bateria foi ficando cada vez mais pequeno ao longo dos anos, mas cada batida continua a ter um significado. Os Club of Chaos fizeram pelo menos um álbum que gostei muito. O seu modo de tocar é mágico. Não tem aquele feeling de correr em direcção do horizonte, mas é também infindável.

La Düsseldorf
“Geld”
From Viva (Strand) 1978

Eu conheci-a desde o primeiro Segundo, apesar de já não a ouvir há montes de anos. É “Geld”, não é? Vamos falar de Klaus Dinger? [Risos] Não me importo. Nunca fiquei muito impressionado com os La Düsseldorf; sempre pensei que eram demasiado pop. Mas o Klaus Dinger fez grande música nos Neu!. Não haja qualquer dúvida acerca disso.
Há alguma hipótese de os Neu! Voltarem a reunir-se para tocar?
Já há algum tempo que não temos qualquer contacto. Sabe, o Herbert Grönemeyer da Grönland tem insistido connosco há uma série de anos. Desde o início que o Herbert me disse que tinha esperança de nos reunir de modo a que voltássemos ao estúdio e gravarmos um novo álbum. Encontrámo-nos em Londres e Hamburgo, e tentámos, mas ainda era difícil – e provavelmente sê-lo-à sempre – para mim e para o Klaus. Ele consegue ser realmente charmoso, mas quando chegamos a um ponto em que temos de fazer compromissos artísticos para a tomada de decisões e coisas relacionadas com o ego, tudo tende a tornar-se muito complicado. Era uma decisão já tomada e quase falhámos a reedição dos trabalhos dos Neu! Na Grönland. O Herbert disse-me mais tarde que o Klaus Dinger o mandou parar com as reedições no último minuto. Mas eles pura e simplesmente ignoraram-no e foram em frente, felizmente. Ele é tão cheio de medos, mas eu não quero falar mal dele. De certa forma foi um desafio. Só de pensar na música que eu pude fazer com o Klaus nos Neu! É ainda interessante para mim. Estará para sempre perto do meu coração.
Qual é a história acerca do ‘álbum perdido’, Neu! 4 ?
Começámo-lo em 1985. Fomos para um estúdio em Düsseldorf com dois outros músicos. Depois disso trabalhámos no estúdio do Klaus e também em Forst. Em 1986, atingimos um estado em que enviámos as fitas. O meu advogado tinha um tipo que ofereceu as fitas em Inglaterra. Nos anos 80 ninguém na Alemanha estava interessado em editar os Neu!, e em Inglaterra o interesse era limitado. Então dissemos, OK, vamos continuar com os nossos projectos pessoais e até selámos as fitas com lacre numa cerimónia, como se houvesse sempre um pouco de desconfiança, e eu disse, ‘encontrar-nos-emos no futuro e continuaremos este projecto’. O tempo foi passando e não aconteceu nada em termos de ofertas. Então, de repente o Klaus enviou-me um fax, em 1992, talvez. Dizia, ‘Parabéns, Michael, Neu! 4 será editado no Japão amanhã’.
Mais tarde disse-me que estava desesperado por dinheiro. Eu fi-lo parar de vender o disco. O Klaus tinha feito a capa e manipulado a música e adicionado mais algum material, por isso disse, ‘temos de parar com isso e encontrarmo-nos para discutir sobre uma edição apropriada.’ Eu nunca me opus a editar o material, mas tinha de ser feito de maneira adequada. E depois ele até editou uma gravação em fita de um ensaio como Neu! Live 1972. Algumas pessoas adoraram, mas é apenas um documento do nosso falhanço como Neu!.
O problema com Neu! 4 foi que nos anos 80, O Klaus e eu estávamos sempre a discutir e a lutar. Consigo rir-me agora, mas não éramos capazes de nos concentrar o suficiente nos aspectos criativos. Mas ainda há lá alguma música que deveria ser colocada à disposição de mais pessoas, mas não o podes comparar com os primeiros três álbuns.

Este mês os Harmonia actuam no Ether Festival em Londres. Para ouvir uma faixa rara de Michael Rother, vão a www.thewire.co.uk





1 comentário:

luisj disse...

You're welcome. What's your college assignment about? Just curiosity...

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