A Dansa do Som era a editora e distribuidora associada ao Rock Rendez-Vous.
Foi aí, em conjunto com a Contraverso, que comecei a comprar os meus primeiros discos, principalmente por correio.
Fica aqui a primeira homenagem com um dos seus folhetos originais e o logotipo que aparecia, entre outros locais, nas cartas/envelopes que continham os catálogos, folhetos e toda a outra correspondência da companhia.
Uma das maneiras originais a Symbiose promover as suas edições / discos, aqui com uma tira em papel cartonado brilhante, como o das capas dos LPs. Aliás a tira parece uma capa de LP cortada na parte central.
Neste caso temos a promoção de uma edição dos Neuro-D, pela subsidiária da Symbiose, a Warning Inc.
Fui no dia dos Membranes mas já não consegui apanhar bilhetes pois estava esgotado :-(
Lembro-me de ver, na volta, para casa, o Rafael Gouveia da Rut (e Ama Romanta ?), que devia fazer parte da organização e alguns membros dos Membranes - vestidos ao bom velho estilo punk, de roupas rasgadas, cabelos em crista,...).
Tim Tim por Tim Tum
Programa - Concerto dos Tim Tim por Tim Tum - CCB (Centro Cultural de Belém)
10 e 11 de Abril de 1997
12 páginas papel cartonado 15x15 cm a 3 cores.
Tim Tim por Tim Tum:
José Salgueiro
Alexandre Frazão
Acácio «Salero» Cardoso
Marco Franco
Assistido, embora já não me lembre se foi a 10 ou a 11, embora tenha uma pequeníssima ideia que foi o primeiro dos dois espectáculos.
Festival Número 2007
Programa - 20 páginas A5 (A4 dobrado e agrafado profissionalmente), com capa e contracapa em papel brilhante e interior a preto e branco, papel pesado.
Este Festival Número teve várias edições na primeira década deste milénio.
Neste caso, assisti aos espectáculos de Sábado: Atomic Tour Project; Oriol Rossel; Ikue Mori; Sutekh; D-Fuse.
Ficou a frustração de ter deixado passar os Cluster, mas a noite a que assisti foi bastante prazenteira a nível musical (e de música electrónica muito mais calma, sonolenta até, no bom sentido, do que os clips do youtube que encontrei e postei abaixo), se a minha memória ainda vale alguma coisa :-)
Catálogo / Programa com 74 páginas 23x13,5 cm a p/b, excepto capa a cores.
Papel pesado (reciclado) com muito bom aspecto e com todas as informações sobre o festival (programa, artigos sobre todos os grupos e artistas participantes, indicações de como chegar, actividades paralelas, etc.)
Não fui a nenhum espectáculo desta edição.
Na sequência de um post anterior, descobri no meu arquivo uma folha A3 onde registava os programas interessantes de rádio que se podiam ouvir (que eu ouvia, melhor dizendo) numa certa época.
Aqui fica o registo e a homenagem aos seus autores.
Expresso Avalanche - 13h30 / 16h00 - Segunda a Sexta - R.U.T. (100.7 MHz) (cada dia da semana uma equipa de realização diferente)
Som da Frente - 16h00 / 17h00 - Segunda a Sexta - Rádio Comercial FM-Stereo (97.4 MHz) - ANTÓNIO SÉRGIO
Filhos do Tejo - 18h30 / 19h30 - Segunda a Sexta - R.U.T. (100.7 MHz) - RUI PORTEIRO + IDIOTA CHAPADO + JOÃO PORTELA + LUÍS PORTELA
Registo Criminal - 19h30 / 20h30 - Segundas e Quintas - R.U.T. (100.7 MHz)
Dança Na Lua - 20h30 / 22h30 - Segunda a Sexta - R.U.T. (100.7 MHz)
Crepúsculo Dos Deuses - 22h30 / 23h30 - Segunda a Sexta - R.U.T. (100.7 MHz) - PAULO SOMSEN (SEG/QUI) / FRED SOMSEN (SEX)
Juke-Box - 16h30 / 18h30 - Terças e Quintas - R.U.T. (100.7 MHz)
Sinais de Vida - 19h30 / 20h30 - Terças e Sextas - R.U.T. (100.7 MHz)
Passeio Na Broadway - 19h30 / 20h30 - Quartas - R.U.T. (100.7 MHz)
Um Passeio Pelos Telhados - 23h30 / 01h30 - Quintas - R.U.T. (100.7 MHz) - ANA PAULA COSTA + RICARDO SALÓ
Musonautas - 02h00 / 03h00 - Quintas - Rádio Comercial FM-Stereo (97.4 MHz) - JORGE LIMA BARRETO
Siderurgia - 23h30 / 01h30 - Sextas - R.U.T. (100.7 MHz)
Rebébeu Pardais Ao Ninho - 10h00 / 13h00 - Sábados - Rádio Comercial FM-Stereo (97.4 MHz) - HERMAN JOSÉ
Sons de Fim De Século - 15h30 / 16h30 - Sábados - R.U.T. (100.7 MHz)
Luso Clube - 20h00 / 21h00 - Sábados - Rádio Comercial FM-Stereo (97.4 MHz) - PITA
Sábado Suave - 21h00 /24h00 - Sábados - Antena 1 (95.7 MHz) - RICARDO SALÓ
Sobre as Marcas da Revolução, a Música Continua a Progressão
Humberto Boto - “Dois Pontos” – Rádio Comercial
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Os ecos mais distantes que ainda permanecem na minha memória relativamente à paixão da rádio remontam a finais da década de 70 e ao programa “Dois Pontos”. Relembro perfeitamente a parte (variável) falada do indicativo que, sobre um fundo musical, emergia, provocando uma expectativa enorme, a maioria das vezes recompensada.
Era qualquer coisa como isto: “Dois Pontos hoje vamos ficar, nesta primeira parte, com a audição integral do álbum dos Hawkwind – ...” , ou dos Wire, ou deJacques Higelin, ou de tantos outros, de que já não recordo, mas sempre na linha da qualidade, pertinência e actualidade sugerida pelos nomes mencionados.
A voz (excelente, por sinal) que me lembro era de Humberto Boto, de quem perdi completamente o rasto desde essa altura. Lembro-me que outros realizaram o programa, mas a névoa do tempo passado não me deixa focalizar os seus nomes. Apenas a impressão que um deles era Jorge Lopes, hoje na RTP, departamento de desporto, secção de Atletismo.
Para além do prazer imenso que era sempre ouvir o programa, completamente alheado do resto do mundo durante 2 horas (11h00-13h00), cultivando um gosto e uma exigência musical que me marcaram indelevelmente para resto da vida; era-nos propiciada a possibilidade de gravação integral dos trabalhos (LPs), naquela altura em K7. Confesso que poucas coisas gravei e que nenhuma delas sobreviveu aos tempos, mas a marca permanece cá dentro. O motivo de tão parcas gravações prendiam-se apenas com a prosaica razão de falta de verba na altura, o que me levava a comprar (poucas) K7s, de ferro (porque mais baratas) e, depois, na falta de disponibilidade de fitas virgens, proceder à gravação sobre gravação, o que conduzia, passado algum tempo, à destruição da fita que ficava completamente enleada dentro do aparelho rasca da altura, um Silvano, de mala, 3 em 1 (gira-discos, rádio e leitor/gravador de cassetes). Outros tempos.
Com a fúria e voragem dos tempos, os sound bytes e a publicidade tudo tomaram e deixou rapidamente de ser possível ouvir programas destes na rádio portuguesa; programas de 2 horas com interrupção apenas a meio, para sinal horário e serviço noticioso, e em que o locutor/realizador do programa apenas intervinha, sintética e objectivamente, no início e no fim de cada hora, ora para informar sobre o que iríamos ouvir ora para dizer o que tínhamos escutado, para os retardatários.
Se bem me lembro, o programa passava na Rádio Comercial (antigo Rádio Clube Português), na altura estatal, entre as 11 e as 13 horas dos dias úteis.
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Quando a RDP Antena 1 era Serviço Público do Melhor
Jorge Lopes –Aníbal Cabrita – Maria José Mauperrin - José Manuel Nunes - “Fórum” – “Café Concerto” – RDP Antena 1
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Da mesma altura, ou talvez um pouco mais tarde, recordo, na Antena 1 da RDP, o programa “Fórum”, este sim, com toda a certeza, com realização de Jorge Lopes, com apoio de uma equipa. Ainda relembro o indicativo: sobre um pano de fundo musical, “Fórum”, um trabalho de equipa com a realização de Jorge Lopes”.
Tratava-se de um tipo de programa diferente do “Dois Pontos”. Decorria, se não estou em erro, diariamente entre as 21 e as 24 horas, de 2ª a 6ª, e embora o seu ponto forte fossem os debates que levava a cabo, sobre os mais diversos temas candentes da actualidade, a música que passava primava também pela qualidade iniludível. Será daqui que lembro pela 1ª vez a presença do excelente animador de rádio Aníbal Cabrita? Tenho uma ténue ideia que sim, mas não posso assegurar.Aníbal Cabrita que me voltou insistentemente a acompanhar ao longo dos tempos. Trata-se de um animador radiofónico da “velha guarda”, com um bom gosto extremo a nível musical e sempre a par das novidades mais importantes desse mesmo circuito musical. Não recordo um programa da sua autoria (mea culpa?), antes o preenchimento por si de inúmeros espaços radiofónicos, na RDP, na Rádio Comercial, na XFM, na TSF, sempre aprazíveis para os apreciadores da música de qualidade e actual.
Depois do “Fórum”, lembro-me do substituto “Café Concerto” realizado por Maria José Mauperrin, mais ligado às artes e com formato semelhante ao“Fórum”. Se calhar o Aníbal Cabrita “vem daqui”...
Também deste período de ouro da RDP, salta à minha memória o nome de José Manuel Nunes, um dos homens que mais sabe do média rádio, Presidente daRDP até há pouco tempo (2002), cargo que ocupou durante cerca de 6 anos. O nome dele paira sobre os programas que referi antes, embora não possa assegurar se foi responsável por algum deles ou apenas participante, ou ainda se realizou outro programa da altura. Sei apenas que ouvi, com agrado, programas que o mesmo realizou ou participou activamente.
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80’s – O AUGE DA MAGIA
Águas Paradas Não Movem Moinhos
António Sérgio – “Som Da Frente” – Rádio Comercial
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Se tudo o que foi referido antes se passou na adolescência, com a chegada da idade adulta, coincidente com a entrada na Universidade e consequente abertura de horizontes a todos os níveis, um nome e um programa tornaram-se todo um mundo de novas descobertas musicais: O “Som da Frente” e o seu mentor António Sérgio.
Coincidiu tudo com a transformação do punk (que nunca me disse nada e que aliás via como o principal responsável pelo ensombramento dos meus anteriores heróis progressivos) em new wave.
Dessa época relembro as tardes passadas fechadas no quarto, sem quaisquer obrigações, estudando e aguardando pelas 16 horas para escutar o programa religiosamente em silêncio absorvendo todos os sons emitidos pelo rádio. A voz rouca e mágica do apresentador, as músicas de nomes como JoyDivision, Cure,Feelies, SistersofMercy, REM, U2, ComsatAngels, AlteredImages, DeadKenedys, Bow Wow Wow, PigBag, YelloMagicOrchestra, GangOfFour,Echo& The Bunnymen, NewOrder, TheThe, TeardropExplodes, SimpleMinds (de então), Smiths, JohnCale, entre muitos outros.
Todos nós, nas fases da vida em que estamos mais susceptíveis à absorção de influências marcantes para o resto da nossos dias, apanhamos com alguma coisa. Eu apanhei com o “Som da Frente” pela frente. Ainda bem. É sobretudo devido a ele que ainda hoje adquiro carradas de música, sempre à procura, qual graal, da batida, da melodia, do efeito, do ruído, enfim... do som perfeito.
O sistema de armazenamento continuava artesanal, como anteriormente, em que as K7s de ferro desempenhavam o papel principal, não tendo sobrevivido nenhuma para contar como foi.
Para quem quiser apreciar os sons dessa época, a compilação, no formato de CD Duplo, “António Sérgio apresenta Som da Frente 1982-1986”, editada em 2002 é um bom ponto de partida, valendo também como recordação nostálgica para aqueles que, como eu, ouviram as músicas na altura da sua edição.
Era a altura dos “vanguardistas”, figuras vestidas preferencialmente de negro, com a imprescindível gabardina preta ou cinzenta sempre presente, deslizando subrepticiamente pelas ruas da cidade, num mimetismo importado da enevoada Londres.
Segundo me lembro, o programa manteve o formato 16h-18h na Rádio Comercial por vários anos. O António Sérgio esse não era um novato nestas andanças da rádio. Antes tinha realizado o famoso “Rotações” na Rádio Renascença, onde a inovação foi já nessa altura a palavra chave, passando música que mais nenhum programa da rádio portuguesa passava, designadamente o emergente punk. Seguiu-se o “Rolls Rock” já na Rádio Comercial, entre as 0H e as 2H da madrugada.
Depois do “Som da Frente”, o John Peel português seguiu o seu caminho e ainda hoje possui o seu programa “A Hora do Lobo” dedicado ao rock que se vai fazendo por estes dias.
Este seu humilde admirador alterou significativamente os seus gostos musicais, a sua vida pessoal também foi sempre mudando, como é natural, e o acompanhamento da carreira do mestre deixou de ser efectuada.
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Nem Praxe, Nem Fitas, a Universidade Pode Ser Uma Coisa Diferente
Paulo Somsen, Fred Somsen, Eugénio Teófilo – “ O Crepúsculo dos Deuses” – “DDD60M” – R.U.T. + Manuela Paraíso
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A ligação forte seguinte aconteceu com o advento das rádios piratas, na década de 80, sobretudo da RUT – Rádio Universidade Tejo. Sediada no edifício da Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico e herdeira do pioneirismo da secção Sonora que emitia internamente aquando da minha passagem por aquele estabelecimento de ensino, foi, do ponto de vista de influência pessoal, a estação mais importante de todos os tempos, tendo contribuído duma forma incomensurável para o gosto e formação musical que nunca mais esmoreceram. Nessa altura, a maior parte do tempo que passava em casa, estava a ouvir música (sobretudo, mas não só) na RUT. E digo ouvir mesmo, não apenas como música de fundo mas com uma atenção e concentração totais e prazer imenso.
Os programas excelentes sucediam-se em catadupa. A todas as horas passava música excelente, nova, original, que não conseguíamos ouvir em mais lado nenhum, a não ser, um pouco, no “Som da Frente”. Mas este ocupava apenas 2 horas diárias, enquanto na RUT havia uma continuidade difícil de acreditar. E não se pense que os programas eram todos iguais. Realmente nunca mais (a única comparação será a futura XFM, de que falarei adiante) houve uma tal concentração de programas tão originais, pessoais, diversos. Ainda por cima, feitos exclusivamente por amadores, ou quase.
Bom, querem nomes. Tenho imensa pena de não ter escrito este artigo há mais tempo. Os nomes que me lembro, obviamente porque me marcaram mais, são o“Crepúsculo dos Deuses” dos irmãos Paulo e Fred Somsen e ainda do hoje, segundo julgo saber, médico Eugénio Teófilo. A par do “Dois Pontos”, do “Som da Frente” este foi um dos 3 programas estruturantes da forma como hoje aprecio a arte musical, a nível ideológico, formal e de conteúdo.
Foi com este programa que descobri a cena industrial e os seus nomes mais importantes como NurseWithWound, Coil, DeathInJune, EsplendorGeométrico,CabaretVoltaire, In The Nursery, Whitehouse e tantos outros, que passaram a fazer parte do meu dia a dia.
Lembro-me que o programa passava todas as noites, no horário nobre, e que nessa altura, obviamente não via muita televisão. A minha memória relembra vários programas a abrir com o 3xLP dos Nurse With Wound – “SoliloquyFor Lilith”, um disco composto por Steve Stapleton para a sua filha e que é formado por 6 partes completamente minimalistas com um “drone” lento e leve, mas obscuro, sobre o qual sobrevinham ao longo do tempo alguns esparsos efeitos eléctrónicos e pequenas variações, num estilo completamente contemplativo e hipnótico . Aquilo que muitos pode considerar “uma grande seca”, mas que, na altura, fazia as minhas delícias e que ainda hoje revisito amiúde.
Recordo ainda os programas especiais dedicados a editoras como “CramnedDiscs”, “SomeBizarre”, “Play It Again Sam”, etc.
Infelizmente o movimento das rádios piratas foi abafado e a RUT desapareceu ao fim de uns poucos anos. Alguns dos seus elementos, como por exemplo os citados responsáveis pelo “Crepúsculo dos Deuses”, ainda realizaram outros programas noutras pequenas estações, como o saudoso “DDD60M”, na Rádio Mais ou naRádio Nova (só me lembro que ficava ali antes do Príncipe Real, do lado esquerdo de quem sobe) mas, neste momento, não tenho conhecimento que algum deles esteja no activo.
Foram eles que criaram depois, a partir de casa, a Ananana, loja de discos e editora hoje no Bairro Alto, herdeira do Monitor, iniciado aquando da actividade da RUT. Também penso que já não estão ligados a esta loja especializada em importações e edições musicais menos comerciais.
Mas a RUT não era só o “Crepúsculo...”. Aliás a grelha era completamente louca mas duma qualidade, energia e criatividade como nunca se alcançou em Portugal (lá perto apenas chegaria a XFM). A aposta forte era na música, em que se ouvia tudo o que era inovador no campo da música popular e onde não passava nada do que as outras 1358 estações passavam. A inteligência, espontaneidade e diversidade grassavam naquela estação universitária.
Durante este período de relevo da RUT nos meus hábitos radiofónicos, num jornal musical de relativamente curta duração (comparado com o Blitz), o LP, deliciava-me com as palylists de um programa conduzido por uma senhora (raro neste meio, ainda hoje) de seu nome Manuela Paraíso. O seu programa, de que não recordo o nome, ia para o ar na setubalense Rádio Azul que, infelizmente não conseguia captar. As Playlists semanais eram compostas por nomes como 93 Current 93, Coil,Nurse With Wound, Danielle Dax,Wiseblood, Foetus, o que me deixava sempre a salivar e com imensa pena de não poder ouvir o programa.
Entretanto ela saiu da estação e foi trabalhar para a Rádio Marginal, que eu conseguia apanhar. Embora nessa altura, por força da vida de estudante já ter terminado e assim as responsabilidades serem outras, não pudesse acompanhar a programação radiofónica como pretendia, lembro-me de ouvir algumas vezes o seu programa, sempre com música excelente. Ainda cheguei a gravar alguns programas em K7, que preservo. A propósito, vou agora ouvir algumas delas para rememorar alguns dos nomes e músicas aí presentes.
Desde essa altura, já lá vão mais de 10 anos, nunca mais ouvi falar da Manuela Paraíso. Alguém sabe se ainda continua ligada aos meandros radiofónicos?
(novo) 12-04-2006
Através de um reparo feito por um visitante desta página fui chamado à atenção para o imperdoável esquecimento da referência a um dos programas mais importantes e inovadores da rádio portuguesa, no ar na Rádio Comercial FM, se não estou em erro, entre meados da década de 80 e inícios da década de 90. Trata-se do programa "Musonautas" da autoria do músico das vanguardas da música electrónica improvisada e experimental, musicólogo e professor universitário, crítico e escritor, professor universitário, entre outras actividades. Falo, obviamente, de Jorge Lima Barreto.
E o que lembro agora sobre a audição assídua e sempre ansiosamente esperada do seu programa. Bom, recordo os longos (no bom sentido do termo) e completos intróitos à música que nos iria apresentar na sequência, verdadeiros enquadramentos históricos e teóricos sobre a música e os autores da música que emergiria no éter logo de seguida. mas estas introduções ainda tinham mais sal e pimenta pois o autor conseguia ainda encaixar, em pleno discurso erudito, diversos comentários políticos e sociais irónicos, ácidos e certeiros, para além de frequentes outras diatribes sobre a música comercial em geral e sobre a música e os músicos que vogavam pelo Portugal desse tempo. Consigo lembrar-me, por exemplo, de uma crítica em que "desancava" completamente os GNR, particularmente o músico daquela banda pop, JorgeRomão, ou antes uma crítica em que o músico era classificado de músico hiperactivo e hiperenergético, ou algo do género, em que Jorge Lima Barretoquestionava "o que é isso de um músico hiparactivo" eh, eh; isto a propósito, se bem me lembro, do lançamento de um álbum de VitorRua, como PSP, na altura das polémicas guerrilhas sobre a legitimidade do uso do nome GNR entre aquele músico e a banda de Rui Reininho.
Polémicas, bastas, à parte, recordo, quando o programa passou a ser transmitido em horário para guardas-nocturnos (madrugada), de, com enorme sacrifício (pois trabalhava e levantava-me muito cedo), esperar ansiosamente pelo programa. Muitas vezes acabava por perdê-lo porque entretanto me deixava dormir; outras vezes conseguia estar acordado na hora do seu início, o suficiente para colocar o gravador de K7s no REC e ouvir o programa, ou parte dele, no dia seguinte.
Era um programa de divulgação das músicas mais experimentais, avantgarde, e em que a música pop comercial não tinha qualquer hipótese de ser adimitida. Foi lá que consegui tomar conhecimento da existência e da beleza de movimentos como o minimalismo (música minimal repetitiva), a música improvisada, as franjas mais avançadas do jazz e ouvi, pela primeira vez músicos como Philip Glass, Wim Mertens (o "Maximizing The Audience", a sua obra-prima, em minha opinião, foi lá que contactei em priomeira mão), Glenn Branca, etc.
Lembro-me ainda, penso que após a partida dos Musonautas para outro planeta, de ouvir mais ou menos regularmente um outro programa similar, da autoria doRui Neves. Aqui a memória trai-me completamente e não consigo sequer recordar o noma do programa. Segundo informação de um visitante desta página, poderá tratar-se do "mesmo" Musonautas herdado de Jorge Lima Barreto ou realizado em regime de "conluio". Ou terá sido isso e depois terá havido também um outro programa? Bem, não consigo precisar, apelando à vossa prestimosa ajuda para esclarecer estes pontos nebulosos.
Muito agradeço se alguém conseguir completar esta informação, fornecendo mais elementos sobre esse programa (nome, horário, estação, anos em que foi transmitido, etc.) ou outros dados sobre o que (não) digo no parágrafo anterior.
ver ainda, sobre este ponto, as preciosas informações complementares prestadas por um visitante desta página.
90’s – O CONTACTO MAIS SUPERFICIAL
XFM – Para Uma Imensa Minoria
XFM – José Carlos Tinoco – “Auto-Retrato Sobre Transístor Molhado” – Aníbal Cabrita – Ricardo Saló
ver ainda, sobre este ponto, as preciosas informações complementares prestadas por um visitante desta página,
Seguidamente há um hiato da minha relação com a rádio portuguesa derivado e ter estado a trabalhar 2 anos e meio fora do país. Quando regressei, embora a vida já não permitisse um acompanhamento intensivo, entusiasmei-me ainda com o projecto da XFM, onde pontuavam nomes enormes da nossa rádio, como Aníbal Cabrita, António Sérgio e Ricardo Saló, entre outros. Se a escuta foi esporádica e errante no que toca à maioria dos programas, pela sua regularidade semanal, a horas em que podia ouvir, e porque a música era muito do meu agrado, acompanhei sistematicamente o programa “Auto Retrato Sobre Transístor Molhado” da autoria de José Carlos Tinoco. A programação consistia na evolução natural de programas como o “Crepúsculo dos Deuses”, acompanhando as novas edições dos músicos que cultivavam a música electrónica de cariz mais ambiental industrial e sombrio. O programa tinha o patrocínio da discoteca portuense “A Orelha de van Gogh”, especializada nessa área.
Passado pouco tempo, a XFM fechava as suas portas.
ver ainda, sobre este ponto, as preciosas informações complementares prestadas por um visitante desta página,
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Bom, nesta fase da minha vida ( e a curva, por enquanto, tem tido sempre o mesmo sentido) ouvia cada vez menos rádio. O único projecto que, apesar de todos os altos e baixos que vem revelando já há alguns anos, depois do fecho da XFM, vale a pena manter debaixo de olho, é a Voxx. Nos seus tempos áureos, há cerca de 2 anos, chegou a contar no seu seio com a participação de Ricardo Saló, Rui Vargas, Carlos Cardoso, Miguel Quintão, Silvia Alves e outros, que asseguravam uma programação moderna e de grande qualidade.
Hoje a coisa está um bocado em piloto automático e, apesar de ainda por lá se ouvir música que não se ouve nas outras estações, é tudo um bocado anódino, sem, praticamente, programas de autor, limitando-se a passar música a metro (ainda que acima da média) durante a esmagadora parte do dia. Parece-me que o único programa que ainda vale a pena é o “Galinhas no Horizonte” do Ricardo Saló, uma sumidade em tudo o que diz respeito a música soul/dance/electrónica.
Da fase áurea da Voxx e porque o horário coincidia com o final da tarde, início da noite, altura para um pequeno período de relaxe após a chegada de um dia de trabalho, acompanhei com assiduidade e prazer enorme o programa “Radar” (18h-21h) , sobretudo quando a responsabilidade do mesmo esteve a cargo de Carlos Cardoso, um DJ que caracterizo como tendo um extremo bom gosto. Se para alguns a música de dança soa toda ao mesmo, a prova de como as coisas não são bem assim podia ser tirada ouvindo diariamente o programa Radar. É que embora eu próprio reconheça que, hoje em dia, com a avalancha de produtos musicais (“dançáveis”) que sai cá para fora, a maioria deles de duvidosa qualidade, se corre o risco de nos perdermos nesse labirinto de edições e de as músicas poderem começar a parecer todas idênticas, anódinas, sintéticas e inócuas, o “Radar” era um programa que nos orientava nesta selva editorial, com uma selecção extremamente criteriosa e deliciosa.
O Carlos Cardoso, fez também, por essa altura, durante um período considerável, o programa “Gerente Comercial” e a sua influência era por demais notória, perdendo o programa todo o seu fulgor sempre que era substituído, fruto da indecisão editorial, motivada pela falta de meios que sempre caracterizou a estação.
É ainda de salientar o programa “Casa, Bateria & Baixo” que veio ocupar o espaço do “Radar” e que, embora menos do meu gosto, especialmente devido à maior variedade de estilos apresentados, isto é, dentro do panorama das edições de música de dança, a selecção nunca foi tão criteriosa como a do programa seu precedente; manteve sempre uma bitola acima da média, contando com a responsabilidade, principalmente, de Rui Vargas.
ver ainda, sobre este ponto, as preciosas informações complementares prestadas por um visitante desta página,
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Para terminar não queria deixar de falar numa rádio local aqui da zona do Seixal, ou antes de um ou dois programas (sobretudo um) que o seu proprietário sempre permitiu, apesar do notório deslocamento que manifestavam face à restante programação. Falo da Rádio Baía, onde recordo, há algum tempo já, a audição do programa “Refúgio” da autoria de Zé Moura (José António Moura), nome ligado à cena da RUT que descrevi acima (é bem possível que também tenha realizado algum ou alguns programas naquela estação – a memória atraiçoa-me). O programa, musical, passava essencialmente música dita electrónica, tipo mais industrial, entre outras vanguardas da música popular. Nomes como Front 242, Front Line Assembly, Cabaret Voltaire, Klinik, Memorandum, Mental Destruction, e outros menos conhecidos, eram presença assídua nas antenas daquela estação, por via do "Refúgio". O programa, ao que julgo saber teve uma passagem relativamente curta pela programação da estação.
Pelo contrário o “Opus Nigrum”, da autoria de Desidério Murcho manteve-se no ar durante cerca de 7 anos, numa regularidade metronómica, todos as noites de sábado para domingo, das 0 às 2 horas da madrugada. Embora num registo mais especializado, o programa repetiu em certa medida o espírito do saudoso “Dois Pontos” no que toca à passagem frequente de discos completos, sem interrupções para publicidade ou de qualquer outra espécie. Conheço quem tenha aproveitado para fazer umas boas gravações.
A temática do programa era a música electrónica de pendor mais relaxante e ambientalista, mas sem nunca cair na xaroposa new age. Nomes como Kraftwerk,KlausSchulze, PeteNamlook, STOA, RadioMassacreInternational, RedShift, Dwellerof the Treshold, entre outros, marcavam regularmente presença.
O programa terminou a sua actividade há cerca de 2 anos, por força da ida do seu mentor para fora do país, para aí seguir uma carreira académica.
ver ainda, sobre este ponto, as preciosas informações complementares prestadas por um visitante desta página.
(a continuar e a completar, num processo iterativo e incremental)
NOTA FINAL
Estes apontamentos devem ser entendidas como um “work in progress”. Regurgitações de memória serão acrescentadas ao sabor da disponibilidade. Apela-se ainda à colaboração externa no sentido de corrigir imprecisões, clarificar ideias, acrescentar dados/informações, contraditar opiniões, e tudo o mais que vos ocorrer. Obrigado.
Caro Luís,
Estive a ler atentamente as considerações sobre a rádio feita em Portugal desde finais de setenta e resolvi acrescentar duas ou três coisas que respeitam, principalmente, à segunda metade de oitenta e princípios da década seguinte.
Antes, gostaria de dizer que me "formei", numa primeira fase, a ouvir o "Som da Frente" e depois, numa posterior, a acompanhar o tal boom das "estações piratas".
Quanto ao histórico programa do António Sérgio, julgo que é justo afirmar que foi o mais influente entre todos aqueles que foram realizados no âmbito da música Pop, facto que se fundamenta em dois aspectos:
- tinha dimensão nacional;
- arriscava de forma invulgar: recordo de ouvir pela primeira o tema "To Drown a Rose" dos então obscuros Death in June numa das emissões do programa...à tarde, o que seria impensável nos dias tristonhos que vão correndo.
No entanto, parece-me que as compilações que recordam o programa dão uma pálida imagem do que por lá se passou, ou seja, não revelam o tal factor risco, verdadeira alma do "Som da Frente".
Quanto às ditas locais, destaco obviamente a aventura RUT, acrescentando ao "Crepúsculo dos Deuses" o sensacional "Estranhas Frequências" do malogrado jornalista Fernando Magalhães, que trabalhou no Blitz, no LP e, nos últimos anos, no Público. Foi publicado no Blitz um célebre balanço do melhor de oitenta pelo autor do programa que traduz bem a sua invulgaridade melómana, muitas vezes demonstrada com o seu entusiamo enquanto colaborador da loja Contraverso.
Quanto à Manuela Paraíso, o seu programa na Rádio Azul chamava-se "O Fogo e o Gelo" e era um dos meus preferidos- a minha condição de almadense permitia-me ouvi-lo-, principalmente pela energia transbordante que a autora conseguia transmitir. Queria também dizer que as tais listas- interna e externa- eram publicadas no Blitz e não no jornal LP. Nos últimos tempos, a Manuela Paraíso trabalhava na Rádio Paris-Lisboa.
No que respeita ao José António Moura, actualmente um dos responsáveis pela loja Flur e membro dos Major Eléctrico, queria recordar que ele começou na almadense Rádio Urbana (onde hoje se encontra um fast-food...) com o seu Refúgio, do qual recordo a estranha sensação de ouvir o "Planet Earth" dos Duran Duran quase emparelhado com os Coil. Depois, o Moura prosseguiu as suas ideias na RUT e no Seixal.
Finalmente, uma palavra para outro histórico, Ricardo Saló. A emergência de novas tendências com origem na música negra permitiram-lhe uma visibilidade que não tinha tido durante o período de tom mais acinzentado que ocupou uma boa parte da década de oitenta. No príncipio de noventa, dois programas por si realizados na Antena 1 foram uma lufada de felicidade no éter nacional: "Em busca do acorde perdido" e "Janela Indiscreta". De certa maneira, a década de noventa pertenceu-lhe e ele moldou-a na rádio e no jornal Expresso.
Um Abraço!!
Pedro Miguel Pereira
2. Domingos - Guimarães 05-03-2004
Viva Luis!
Olha tive a ler alguma coisa na tua página e, chamuo-me a atençao isto:
"Os ecos mais distantes que ainda permanecem na minha memória relativamente à
paixão da rádio remontam a finais da década de 70 e ao programa "Dois Pontos".
Relembro perfeitamente a parte (variável) falada do indicativo que, sobre um
fundo musical, emergia, provocando uma expectativa enorme, a maioria das vezes
recompensada.
Era qualquer coisa como isto: "Dois Pontos hoje vamos ficar, nesta primeira
parte, com a audição integral do álbum dos Hawkwind - ..." , ou dos Wire, ou
de Jacques Higelin, ou de tantos outros, de que já não recordo, mas sempre na
linha da qualidade, pertinência e actualidade sugerida pelos nomes
mencionados."
Eu também ouvia este programa do Humberto Boto aliás cheguei a trocar
correspondencia com ele. Ele gostava era do Michael Rother. Mas passou também
o Romance 76 do Peter Baumann. O dos Wawkwind que to fazes referência
foi "Sonic Attack" este lembro-me eu muito bem.
É curioso não fazeres referência ao programa "Os Musonauatas" do J.L.Barreto e
Rui Neves, na Rádio Comercial. Penso que foi o programa que mais diversificou
nos estilos de música.
Saudações
Domingos
3. Anónimo - 30-01-2004
Caro Luís
Muitas das suas referências de Rádio e também gostos coincidem com os
meus.
Aqui ficam algumas notas Que podem ajudar a "enquadrar" alguns dos nomes
referidos. Humberto Boto depois do Dois Pontos realizou " O Rock Pode Esperar".
Continua na RDP mas deixou os programas para se dedicar à Informática. Aníbal Cabrita foi "animador" do CONTRAPONTO (RDP1 até 1978)realizado por José Manuel Nunes.
Depois esteve ainda em 1978 e 1979 no FÓRUM de Jorge Lopes com o Humberto Boto. No mesmo período eram também os responsáveis de HORA DE PONTA ,isto
no Programa 4 da Rdp que deu origem á Rádio Comercial em 1980.
De 1980 a 1983 Aníbal Cabrita foi co-realizador do CAFÉ CONCERTO (Rádio
Comercial) com Maria José Mauperrin.
Em 83-84 ainda realizou na Comercial RIMAS e RUMOS da Música Portuguesa
com Eduardo Pais Mamede.
EM 84-85 Aníbal Cabrita realizou na Antena 1 NOITES DE LUAR . Na equipa
estava entre outros Ricardo Saló.
Em 86 voltou à Comercial para realizar GENÉRICO (onda média) e também MIL
UMA NOITES (fm).
Nos anos 90 passou pela VIGÉSIMA (onda média).
De 93 a 97 na XFM realizou CAFÉ VIRTUAL e HETEROFONIAS.
De 97 a 2000(?) na TSF realizou ZONA RESERVADA e também durante algum
tempo deste período ESTA INQUIETANTE ESTRANHEZA com Carlos Amaral Dias.
Actualmente continua na TSF como "animador de antena". Não é responsável
por qualquer programa.
Quanto à Manuela Paraíso suponho que continua na Paris Lisboa.
Um Abraço e boas audições
Electronic The Ultimate Electronic Music Magazine Nº 1 July 2012UK 132 páginas a cores
papel brilhante
formato A4 (um pouquinho maior)
Editor: Push
Deputy Editor: Mark Roland
Art Editor: Isabel Cruz
Preço:...
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Entrevistas/Artigos de Fundo (muito) Interessantes:
- Underworld
- Silver Apples
- The Human League
- Minimal Wave
- Radiophonic Workshop
- Gary Numan
- Twin Sahdow
- CAN
Radiophonic Workshop The Return Of The Room 13
Oscilar, educar, organizar: O co-fundador do Radiophonic Workshop, Desmond Briscoe, em pelna laboração, 1960.
O lendário Radiophonic Workshop, a equipa que criou o tema original de Doctor Who, e muitas outras estranhas paisagens sonoras televisivas, no infame Room 13 nos estúdios da BBC, está a ser ressuscitado pelo inovador electrónico Matthew Herbert - e ele tem como missão redescobrir sons que nós nunca ouvimos antes. Texto de Bethan Cole
Se você era uma criança nos anos 60 ou 70, a BBC Radiophonic Workshop foi com certeza a banda sonora dos seus sonhos e dos seus pesadelos. Um círculo de radicais sónicos, incluindo inovadores como Delia Derbyshire, Daphne Oram e John Baker, a equipa Radiophonic Workshop (RW) estava por detrás da melodia vibrante e oscilante do tema Doctor Who, das ondas rotativas de The Tardis, e de uma outra centena de estranhos e experimentais efeitos sonoros e temas ouvidos na BBC. Desde os anos 50, a sua foi uma forma peculiar de Música Concreta Britânica na qual recorrentemente usavam sons descobertos no dia-a-dia, extraídos de peças de corda e de abajures metálicos, tampas de caixotes do lixo, etc., para criar inabituais músicas de fundo para dramas e documentários. Se há um argumento que possa ser usado de que não é a música pop que define certas épocas, mas a música incidental, temas de TV e o ruído ambiente da vida de todos os dias, então o trabalho do Workshop pode ser usado para caracterizar uma grande parte da modernidade dos meados do século XX.
"Tal como a maioria dos miúdos dos anos 60, eu cresci com o Doctor Who", diz o lendário músico ambient e experimental, o DJ Mixmaster Morris. "A sequência original homónima da série, com o seu feedback de vídeo e os misteriosos sons electrónicos, feitos por Delia Derbyshire, pareciam mesmo uma transmissão a partir do futuro."
O Grime compensa: Mica Levi, a metamorfoseadora radiofónica do século XXI
O RW existiu originalmente entre 1958 e 1998 e ficou localizado no pequeno, constrangido, infame Room 13 nos estúdios da BBC de Maida Vale (embora o Room 12 e 14 também tenham sido utilizados). O seu auge é comummente aceite como tendo sido durante os anos 60 e 70, quando obtiveram grande êxito com as bandas sonoras de Doctor Who, Quatermass, The Body In Question e um grande número de espectáculos de ficção científica e programas escolares. Mas este ano, ele existirá novamente, no novo site de arte digital da BBC, The Space.
O renascimento foi o resultado de uma conversa entre o músico Matthew Herbert, os vários executivos da BBC encarregados do The Space, e Ali Cole do Arts Council.
"Eu disse que a altura era perfeita para relançar, porque as coisas mudaram tanto desde o Radiophonic Workshop original," relembra Herbert. "Disse-lhes, 'o que devemos fazer é recomeçar o Workshop de novo mas com novas pessoas de todo o mundo que sejam especialistas em música e especialistas em software - projectistas de apps e coisas do género - e termos um local onde se poderia experimentar ao vivo... em público... basicamente uma comunidade.' Eles ficaram excitados com a ideia e disseram, 'Bem, queres ser tu a tratar disso?', e assim encontrei-me a mim próprio, de repente, no papel muito humilde e excitante de uma posição para lançar o projecto!"
É totalmente especial que seja Herbert a comandar este projecto. Desde as suas primeiras edições como Wishmountain, Dr. Rockit e Herbert em 1995 e 1996, ele foi pioneiro de uma cepa vital de música house avant-garde, assim como engendrador de várias experiências sonoras - desde utilizar o crepitar de um pacote de batata frita para uma das primeiras perfomances dos Wishmountain, até documentar os sons de esforços culinários no seu álbum de 2005 The Plat Du Jour (incluindo a faixa presciente Truncated Life Of A Modern Industrialised Chicken) e a duração de vida útil de um porco de quinta no seu One Pig de 2011. Herbert não só trouxe todo um novo léxico de texturas aurais e timbres para o género musical house, ele iniciou inclusive uma nova forma, subtil, de comentário político sónico. Ouçam a sua faixa Royal Wedding Part 2, por exemplo, e ouvirão toda a pompa e circunstância do casamento do Príncipe William com Kate Middleton, mas as palavras que ressoam na tua cabeça no final da faixa são do 'encantamento para os ricos' de Rowan Atkinson, durante os votos do casamento. Ele também abriu os nossos ouvidos para o bem-estar dos animais e todo o processo de produção alimentar, talvez de forma ainda mais inteligente e sedutora do que os activistas alimentares experientes como Hugh Fearnley-Whittingstall e Jamie Olivier.
"Matthew é único na sua aproximação ás coisas", diz o autor e compositor David Toop. "Claro que há outros artistas a trabalhar com gravações de som ambiente como forma de fazer política - Peter Cusack vêm-me logo à cabeça. Mas o Matthew tem acesso a uma audiência diferente, provavelmente uma audiência inquiridora, de mente aberta, mas não tão bem versada na história da arte sonora e sua prática."
"Voltando a 92, eu fui júri de uma competição de talentos e tive de ouvir centenas de cassetes/demos", relembra Mixmaster Morris. "Escolhi Matthew como vencedor e ele ganhou aquele que eu penso ter sido o seu primeiro sampler. Ele tem tido uma carreira estelar nos últimos 20 anos, constantemente inovadora e confundindo todas as expectativas. Ele nunca saltou para um comboio em andamento: ele faz uma espécie de música com arte e com coração. Apesar de algo devedora da escola House de Chicago e Ibiza, també."
Apesar de Herbert ser o instigador do novo Radiphonic Workshop, ele trabalhará como parte de um colectivo. O que for editado será anónimo, creditado como "Sounds by the Radiophonic Workshop", e Herbert diz que os seus colaboradores foram todos seleccionados pelo mérito em vez de pela fama ou serem mais ou menos conhecidos. São eles Max De Wardener (compositor, produtor e multi-instrumentista conhecido pelas suas bandas sonoras para filmes e televisão); Mica Levi (escritor de canções e cantor com formação clássica, compositor e produtor que obteve alguma proeminência através da cena grime); Anthony Churnside ( Engenheiro de Pesquisa e Desenvolvimento da BBC que será o director técnico), Patrick Bergel (especialista de software que é dono da companhia de tecnologia criativa Animal Systems), James Mather (editor de som dos filmes do Harry Potter), e Yann Seznec (artista, sonoplasta, músico e instrumentista).
Olhando para a lista, uma crítica que pode ser feita a Herbert é que aparecem poucas mulheres envolvidas. Parte de visão utópica do Radiophonic Workshop original era o facto de incluir muitas mulheres inovadoras e, simultaneamente, muito activas e competentes - e isso durante uma época em que as mulheres eram proibidas em muitos estúdios de gravação. A produtora feminina mais famosa do RW foi Delia Derbyshire, a figura de culto por detrás da melodia do tema de Doctor Who. Havia também a co-fundadora do Workshop, Daphne Oram e, depois da saída de Oram. Maddalena Fagandini, que prestou a sua colaboração entre 1959 e 1966.
"Há mulheres envolvidas, sendo a principal a brilhante Mica Levi," contraria Herbert. "Mas estamos à procura de mais."
Digitalmente enriquecido: O novo chefe do nvo RW está pronto para fazer andar a coisa.
Matthew Herbert e os seus colegas não irão simplesmente retrabalhar o velho material do anterior Radiophonic Workshop, o que parece ter desiludido alguns entusiastas mais retro. Devido ao facto de alguma da música produzida no RW ter sido editada em álbuns no passado, ela foi samplada já muitas vezes por produtores, sendo um dos casos mais notáveis a novidade que foi o single pop Doctorin'The Tardis, pelos Timelords (aka The KLF). Mas o facto de este projecto ir estar mais focado em material novo é a maneira mais óbvia de manter o espírito original do RW, que foi sempre o de forjar paisagens sonoras futurísticas, e não revisitar bandas sonoras arquivadas.
"É muito mais acerca de trabalho novo", explica Herbert. "Também, uma grande parte do arquivo não está digitalizado - há milhares e milhares de fitas magnéticas que são muito frágeis e é um longo trabalho digitalizá-las todas. Eu não sou responsável pelo lado de legado dessas gravações, isso é parte do trabalho/processo que está a ser feito por alguém chamado Mark Ayres, um arquivista cujo trabalho é ir através desse catálogo."
O que o novo Radiophonic Workshop fará está actualmente no segredo dos deuses, À medida que Herbert e a sua equipa continuam sem nos dar uma agenda. "Infelizmente, eu não posso dizer-te o que iremos exactamente fazer, mas posso dizer-te, no sentido lato, que serão bandas sonoras para eventos ao vivo, bandas sonoras para conteúdo online, curtas-metragens e teatro radiofónico, e poderemos até desenvolver algum software," diz Herbert. "Vamos ser uma instituição que irá produzindo música para conteúsdos que já existem."
Uma das principais diferenças entre o Radiophonic Workshop original e a sua nova incorporação é a geografia. A localização da versão do século XXI do Room 13 será virtual, com o colectivo espalhado por todo o Reino Unido, desde a casa da cidade onde mora Herbert, em Whitstable no Kent, até Manchester e Escócia. Mas significa isto que será perdido algum do foco e intensidade da unidade original? Ou é uma libertação que a tornará mais inovadora, algo que agarra o talento avantgarde qualquer que seja a localização? Herbert espera que seja esta última hipótese a prevalecer.
"Nós vamo-nos encontrar para workshops e aparições ao vivo," diz ele. "Também pretendemos, na verdade envolver talento venha ele de que parte do mundo vier."
O revivalismo do nome Radiphonic Workshop sugere a criação de um diálogo entre as novas maravilhas da técnica que temos agora e o peculiar retro futurismo do RW original. Durante a última década, nós temos fetishisado épocas do passado, em que o futuro era frequentemente visionado duma forma inocente, e o RW parece ser o epítome desta atitude. Visões do futuro que foram criadas no passado dizem-nos mais, habitualmente, acerca do imaginário colectivo dessa época do que o futuro visionado seria na realidade. Como o teórico musical Milton Babbitt comentou sobre o Radiophonic Workshop original: "nada envelhece mais depressa do que um novo som".
Animal Magic: O novo colaborador do novo RW, Yann Seznec (à esquerda) e Matthew Herbert tocam "One Pig" ao vivo
Durante a primeira década deste século ficámos obcecados com a era moderna de meados do século passado, em todos os ramos, como a arquitectura e mobiliário, mas também a música, moda e filmes. Isto deve-se, eventualmente, porque à medida que a digitalização avança, nós lamentamos a perda de uma verdadeira avantgarde na cultura. Em 2003, a BBC4 passou um documentário acerca do RW chamado Alquimistyas do Som - e isto foi apenas o começo. Por volta de 2005 uma nova onda de electrónica chegou, incluindo a editora Ghost Box e os produtores Mordant Music, que pareciam reviver e manter a estética moderna do RW dos meados do século passado, não apenas através de uma certa inocência e naiveté, mas também através de uma qualidade sonora quase-orgânico presente na tecnologia analógica primitiva.
"O mundo mudou muito desde que o Workshop começou," considera Herbert. "A maioria do que era produzido pelo RW era-o para a BBC, para o seu teatro radiofónico e, devido aos sons com que eles trabalhavam, uma boa parte dele acabou por ter a ver com o desconhecido ou com o futuro. Uma boa parte dos sons do Workshop foram utilizados para ficção científica, sendo um exemplo o The Tardis do Doctor Who, assim uma boa parte era acerca de uma paisagem imaginária. O ponto importante disso tudo, filosoficamente, é que atingimos o tal futuro que eles imaginavam. Podemos enviar música através do ar e os nossos computadores são um milhão de vezes mais poderosos que eram os deles, por isso nós chegámos de certa maneira ao futuro e podemos fazer algumas das coisas com que eles sonharam naquela altura."
Será interessante ver como o novo colectivo Radiophonic Workshop realizará os seus imaginativos conceitos. Há um sentimento geral de que o colectivo original RW foram na verdade compelidos a ser mais criativos devido às restrições tecnológicas. A fita magnética pode ter sido inventada nos anos 40, mas os sintetizadores só apareceram quando Robert Moog disponibilizou comercialmente o seu primeiro sintetizador, em 1965, e os samplers não eram ainda sequer imaginados. Adrian Utley, dos Portishead observou, no documentário Alchemists Of Sound, as constrições que os produtores originais do RW enfrentaram foi precisamente o que os levou aos grandes níveis de criatividade, imaginação e inovação que atingiram.
A preocupação é que, quando confrontados com a infinidade de novas formas de avantgarde culturais, as pessoas frequentemente optam por aquilo que é seguro e conhecido por eles. Daí a popularidade do Daily Mail e dos LOLcats online, quando uma infinidade parecida de fenómenos culturais estimulantes estão aí para serem explorados. Daí, também, o domínio do muito conservador (e, na verdade, datado) Euro-trance, nas nossas tabelas de mais vendidos (algum do qual mascarado de R&B) num tempo de grande expansão de música inovadora que está agora disponível na internet - e muita dela de graça.
"Penso em como é conservadora a indústria da música neste momento, se pensarmos quão à frente está o potencial tecnológico," diz Herbert. "Está a haver uma revolução sobre o que a música pode ser, apesar de isso ainda não parecer visível a ninguém!"
Mas Herbert está optimista que o novo Radiophonic Workshop será tão progressista e inventivo como o anterior. Da mesma forma que o Workshop original sofreu as constrições e limitações da tecnologia da época e assim criou por si próprio todos os sons que usavam em vez de usarem sintetizadores ou samplers, Herbert faz questão de ele próprio não samplar música de outras pessoas.
"Os desafios agora são completamente diferentes dos que foram enfrentados então," diz Herbert. "Eles estavam limitados por aquilo que a tecnologia podia fazer, enquanto nós, agora, temos a tecnologia a roçar o infinito, de várias formas, e a nossa imaginação foi deixada cá muito para trás. O desafio é realmente a nossa imaginação evoluir."
De facto, Herbert acredita que os gostos do consumidor inteligente / com discernimento ficará cada vez mais extremo, aventuroso, conceptual e avant-garde, uma vez que aconteceu que o leftfield e a música alternativa
ficaram submersas no mainstream graças à digitalização.. "Porque tudo está agora facilmente acessível, penso que o gosto de algumas pessoas vai evoluir para ideias mais desafiantes," diz ele. "Os consumidores inteligentes vão querer experienciar coisas mais cerebrais."
Criando loops: Delia Derbyshire a cortar fita magnética no Radiophonic Workshop
Pergunto a Herbert se ele sente que a música / som se parece com outras formas de arte, como a literatura, onde há um sentimento distinto de um declínio pós-moderno, uma ideia invasiva de que "tudo já foi feito" e que não há mais nada a explorar. Ao fim e ao cabo, uma das características que definiam o Radiphonic Workshop original era a novidade. Há ainda sons para serem descobertos?
"Não tenho qualquer dúvida sobre isso!", refere ele. "Nós apenas fizemos gravações de sons nos últimos cem anos - e que foi, predominantemente música ou pessoas a falarem. Antes disso, nós não sabemos como soava o antigo Egipto ou os tempos medievais, ou os tempos de Shakespeare. Temos "pautas" escritas, mas ainda assim não sabemos como soavam."
Herbert está convencido que há ainda muita coisa mais que ainda não ouvimos. "Provavelmente já ouviste uma porta a fechar-se mais de 100 000 vezes, mas ouviste alguma vez 100 000 portas a fecharem ao mesmo tempo?" pergunta ele. "Há todo um modo de escutar que nós ainda nem começámos a pensar nele - a um nível macro grupal ou a um detalhe mínimo."
Herbert calça facilmente os sapatos dos visionários do primeiro Radiophonic Workshop por mais que uma razão. Não apenas ele é um dos artistas e produtores mais consistentes e progressistas da sua geração, como ainda tem alguns daqueles princípios fora-de-moda dos primeiros dissidentes sónicos, que eram primordialmente entusiastas, inovadores prodigiosos motivados pela adrenalina das aventuras sonoras por oposição aos seus magros salários pagos pela BBC. Similarmente, Herbert está mais perto, na sua prática, de um artista como Jeremy Deller do que, digamos, do actual super-homem da dança, David Guetta. Seria quase um insulto fazer qualquer ligação dele com este último.Herbert, inclusive, recusou um negócio para um anúncio, no valor de 2 milhões de libras, porque não que a peça de música que ele produziu num lugar de extrema ternura emocional ficasse subsequentemente associado para sempre a um shampoo de supermercado.
Para Herbert, um dos factores inspiradores do Radiophonic Workshop original foi o ethos Reithiano (que defendia que a transmissão deveria ser livre) da BBC naquela altura. O RW representava 'edutaiment' (educação e entretenimento): ela expunha a uma larga audiência o que era, essencialmente, música e arte sonora avantgarde.
"O conceito global do Workshop é que ele era - e será novamente - um instituto de ideias," clama Herbert. "A coisa verdadeiramente excitante é que o Workshop era extremamente experimental mas o seu trabalho era para uma audiência mainstream: A melodia do tema do Doctor Who, a Open University, eram produzidas para coisas muito mainstream. Isto é o que, frequentemente, a BBC melhor faz, produzir coisas avantgarde que atingem vastas gamas de público - porque isso é possível."
Claro que a resposta a esta arte avantgarde era muito polarizada como se poderá imaginar. Uma nova paisagem sonora provocava uma nova paisagem emocional nas pessoas e faziam emergir sentimentos que elas tinham dificuldade em articular. Eu falo como alguém que durante a minha infância me lembro que o tema do Doctor Who era a minha dica/pista para me esconder debaixo do sofá e cobrir os meus ouvidos com almofadas, cheio de medo do horror que dali advinha. De volta aos anos 60 e 70, cartas horrorizadas deveriam chegar aos montes à Radio Times a descrever os sons do Radiophonic Workshop como aqueles de uma "prisão Orwelliana" ou de um "asilo de lunáticos".Na nossa época de grande agressividade comercial, uma cultura do Facto X - menor denominador comum, há uma razão muito forte para que estas formas de arte avantgarde aconteçam precisamente por causa de a BBC ser uma organização estatal. E não pode ser coincidência que estas maravilhosas paisagens sonoras do Radiophonic Workshop terem sido feitas durante governos Trabalhistas, potenciados por essa nobre ideologia de que todas as casas/famílias deveriam ter acesso aos mais elevados, mais engenhosos e mais estimulantes fenómenos culturais.
"A cultura avantgarde esteva no seu auge desde o pós-guerra até aos anos 70," observa Herbert. "Assim que foi introduzido os princípios do mercado livre numa coisa cujo principal objectivo não era fazer dinheiro, então tudo começou a decair."
A conjuntura económico-social podia ter sido diferente, assim como a tecnologia, a localização e os colaboradores, mas não haja dúvida que que a grande instigação do Radiophonic Workshop é um projecto completamente de enaltecer. Assim como foi em 1958 - para o som, música, para a tecnologia - é uma grande nova aventura. Mas agora, 54 anos passados, é preciso utilizar toda a radical liberdade que a internet transporta consigo.
Os Engenheiros-Fantasma
Desmond Briscoe e Daphne Oram, fundadores do Radiphonic Workshop
Desmond Briscoe e Daphne Oram co-fundaram o BBC Radiophonic Workshop em 1958, com o objectivo de criarem bandas sonoras para os programas de rádio e televisão da BBC. De origem um engenheiro gestor de estúdio, Briscoe criou os sons para a popular série de ficção científica Quatermass. Ele supervisionou o crescimento do Workshop a partir do pequeno apartamento Room 13 até se tornar num dos mais sofisticados e elogiados estúdios de electrónica do mundo. Abandonou o Workshop em 1983.
Uma engenheira de estúdio da BBC, em 1957 Daphne Oram compôs a música para a peça Amphitryon 38, a primeira banda sonora da BBC completamente electrónica. Ele deixou o RW apenas um ano depois para desenvolver a sua própria tecnologia na Tower Folly, uma pequena mansão convertida, em Fairseat, Kent, onde inventou e construiu a máquina Oramics (agora exposta no London's Science Museum) no qual compôs através de desenhos ou pinturas em fitas de filme de 35 mm.
Fora Do Desconhecido
Delia Derbyshire, A Jogadora Desafiante
Ao contrário da opinião popularizada, Delia Derbyshire não compôs o tema musical para Doctor Who - ela foi na realidade escrita por Ron Grainer. Mas o que ela fez mesmo, em 1963, foi a realizá-lo duma forma que se tornou inesquecível, colocando toda a tecnologia electrónica pioneira disponível no Radiophonic Workshop para criar um som de um estranho presságio, um vibrato oscilatório, 'cantado' em cima por um arrebatador e instantaneamente reconhecível refrão.
Derbyshire nasceu em 1937 e cresceu em Coventry e Lancashire, filha de um serralheiro mecânico. Foi uma criança brilhante que que frequentou a escola primária em Coventry e foi aceite quer para entrar em Oxford quer Cambridge (altamente uma raridade para uma filha de um operário naquela altura), graduou-se em Cambridge em matemática e música. Abordando a Decca para conseguir um emprego em 1959, ela foi rejeitada com a resposta que não aceitavam raparigas nos seus estúdios de gravação.
Juntou-se então à BBC em 1960 como uma gestora de estúdio estagiária e pediu um anexo no Radiophonic Workshop. Durante os 11 anos seguintes criou música para cerca de 200 programas, a maioria deles de forma anónima, sob o guarda-chuva do RW. Compôs para produções teatrais e filmes e criou um álbum pioneiro de música electrónica sob o nome de White Noise. Aphex Twin, The Chemical Brothers, Sonic Boom e os Add N To (X) reconhecem todos a sua influência no seu trabalho, chegando, em muitos casos a fazer versões dos seus trabalhos. Morreu de cancro em 2001.
CAN TAPE DELAY
Na altura do lançamento do conjunto de 3 CDs preenchidos por material não editado, The Lost Tapes, Irmin Schmidt fala acerca dos primeiros tempos da banda, da sua aventura nova-iorquina dos anos 60 e da sua génese como um grupo pioneiro no abastecimento de nova música para o underground.
Can do, will do: (esquerda para a direita) Jaki Liebezeit, Damo Suzuki, Holger Czukay, Michael Karoli e Irmin Schmidt divetem-se com um jogo de cadeiras musical
Era uma linha oportuna naqueles tempos, mas há poucas bandas tão influentes como os Can. Este grupo habitante-de-castelo, futuristas sónicos, pensadores e activistas musicais sem medo produziram um corpo de trabalho a partir de uma metodologia pop-art improvisativa que continua a definir o que significa ser uma banda moderna. As suas composições espontâneas dos finais dos anos 60 e inícios dos 70s permanecem tão frescas e vivas como o foram há 40 anos atrás.
Os álbuns dos Can eram, em geral, o resultado de prodigiosas edições de vigorosas sessões que desovavam milhas de fita magnética. Assim, é realmente uma maravilha termos agora acesso a Lost Tapes, um pacote triplo CD de momentos mais brilhantes seleccionados de cerca de 50 horas de velhas fitas magnéticas que estavam a apodrecer no armazém - não realmente perdidas. Irmin Schmidt, o maestro da teclas dos Can e o principal arquitecto (se se puder atribuir esse papel a qualquer um dos membros) é menos sanguíneo acerca do processo de filtragem por que teve de passar para disponibilizar estas Lost Tapes.
"Veja", diz ele, falando a partir da sua casa, em França, "Eu fiz este trabalho de forma árdua e de sangue-frio, como se o material fosse de outras pessoas. Não está impregnado por emoções acerca dos bons velhos tempos. Eu não tenho essa postura. Eu limitei-me a ouvir o material como se fosse de outras pessoas. Claro que fiquei feliz quando descobri coisas bonitas, algo realmente maravilhoso."
A primeira faixa tentadora para ser editada na selva da Internet foi Millionenspiel, uma fatia do melhor dos Can que explodiu para a vida a uma velocidade de partir o pescoço com aquela precisão leve e delicada em que eles eram tão bons. Millionenspiel soa como uma espécie de melodia de tema de filme psicadélico, free-jazz western-spaghetti, repleto de bongos reverberantes, guitarra fuzz e solo de saxofone. Gravada numa altura em que a banda era ainda conhecida como Inner Space, antes de se lhes juntar Malcolm Mooney, Millionenspiel foi gravado para um filme de TV (Das Millionenspiel), um filme de gangsters/ficção científica que perece ser um cruzamento entre o Fugitivo e o Performance, da mente alterada de Nicholas Roeg.
É claro que que havia muito mais donde aquela faixa veio. As indústrias alemãs de cinema e TV são a chave para este material nunca editado. Os Can eram procurados como artistas de bandas sonoras e muitas das suas contribuições feitas para essas bandas sonoras foram posteriormente descartadas. E enquanto os Can eram cada vez mais populares fora do seu país, os filmes que eles sonorizavam não o eram - maior é a lástima.
Monster mas: os Can trocam de instrumentos para um momento "Godzilla"
"Eu sabia de antemão que haveria uma grande quantidade de música para filmes que nunca seria editada/utilizada porque isso nunca chegou sequer a acontecer - a realização e comercialização dos filmes," explica Schmidt. Ele fala lentamente e de uma forma rigorosa, um estilo que não convida a uma conversa informal. Quando lhe perguntei se era verdade que ele ia ver antecipadamente todos os filmes para os quais os Can eram convidados para fazer a música, e depois de voltar o descrevia a toda a banda antes de começarem a trabalhar na música, o sua resposta foi, "Sim, era exactamente como você descreve. Era isso mesmo que acontecia. Não tenho nada a acrescentar." Então, havia, hummm, uma razão musical, composicional, para isso?
"Sim, é isso", responde, e depois, graças a Deus, elucida: "Se te sentas em frente do écran e olhas para o filme, és sempre seduzido a comentar o que lá aparece, uma espécie de dobragem da narrativa. Porque eu tive essa experiência antes dos Can, tendo trabalhado muito tempo em música para teatro e cinema, senti que era importante que a arquitectura da música acrescentasse um novo elemento narrativo que não estava no filme em si. E isto passa-se apenas se não o vês e comentas. Especialmente quando compões como nós o fazíamos: quatro ou cinco músicos juntos que se punham a inventar sem qualquer compositor. Se todos tiverem visto as imagens a coisa tornar-se-ia confusa - é esta a razão do nosso modo de proceder."
Feito a partir da concentração: Irmin Schmidt entra no groove
Antes dos Can, Irmin Schmidt era uma estrela ascendente da cena musical clássica Alemã, muito procurado como maestro e compositor de música para peças de teatro.
A sua experiência pré-Can é um extensivo CV de prestigiosas escolas musicais, sucessos em competições de música clássica e um crescente interesse em novos sons.Ele tinha já 31 anos de idade na altura em que formou a banda. Tinha uma licenciatura em composição e condução e continuou os seus estudos em Salzburgo, onde conduziu a Vienna Symphony Orchestra, antes de se mudar para Colónia para estudar com o famoso Stockhausen no seu Kölner Kourse für Neue Musik (Cursod e Colónia para Música Nova). Foi aqui que ele conheceu o futuro baixista dos Can, Holger Czukay. Schmidt também estudou com o famoso compositor húngaro Ligeti, provavelmente mais conhecido na música popular pela sua música que foi utilizada na banda sonora de 2001: Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick.
Em q966, contudo, Schmidt viajou até Nova Iorque para entrar na competição Mitropoulos, um evento internacional organizado como homenagem ao acalamado compositor Grego. Foi aí que tudo mudou.
"Eu fui para Nova Iorque como maestro para participar num concurso de jovens maestros, mas após alguns dias ou semanas, esqueci-me do sacana do concurso," ri-se ele.
Em vez disso, Shmidt foi parar ao epicentro do agitado meio cultural e criativo por que Nova Iorque estava a passar na altura. Uma experiência particularmente importante foi ver, ou antes fazer parte de uma das primeiras performances de La Monte Young, as lendárias peças Dream House, performances e instalações longas envolvendo música e luz e muito "freaking out", num estilo que atravessou os anos 60.
"Eram quatro músicos numa espécie de cave", recorda Schmidt. "Um deles era o John Cale. Eles tocavam uma peça do La Monte Young que consistia num acorde de 4 notas, durante dias, 24 horas por dia. Eles não tocavam 3 dias sem dormir, por isso, por vezes, havia apenas 2 músicos, depois havia três, e por vezes quatro.Nós estávamos por ali, sentados em cadeiras, no chão ou em sofás. A música estava num volume muito alto. Depois de algum tempo, começavas a ouvir todos aqueles sobretons sempre-a-mudar, dentro do acorde, e era com se estivesses a ouvir os anjos a cantar."
Também durante a sua viagem a Nova Iorque, Schmidt conheceu Steve Reich, tocou com Terry Riley, e foi ver o filme de Andy Warhol, Chelsea Girls, e o de Kenneth Anger, Scorpio Rising, qualquer deles várias (muitas) vezes. Schmidt ficou apanhado pela mistura de atitudes e culturas desta cena cultural que encontrou, a uma distância de centenas ou milhares de km, literalmente figurativamente, da abordagem mais académica a que ele estava habituado em Colónia. A quase aleatória justaposição de imagens da cultura popular e música, especialmente evidente em Scorpio Rising, levou Schmidt a pensar acerca das suas ambições artísticas.
"Eu realmente mantive-me mergulhado nesta cena aventurosa de Nova Iorque, e o que me fascinou foi que não havia separação entre a assim chamada música clássica séria e o pop de entretenimento," explica. "Era uma coisa que era uma mistura de tudo. Essa era a minha ideia quando regressei à Alemanha, queria misturar todos esses fenómenos da nova música, como o jazz e o rock e pop, e a nova música clássica, numa única coisa. Assim este tempo que passei em Nova Iorque (cerca de dois meses e meio) teve uma grande influência em mim e fez-me ter ainda mais a certeza de que era este o caminho que eu queria seguir."
Apesar do longo cabelo e enormes patilhas que ele agora tinha, Schmidt não mudou nem abandonou o seu passado, rejeitando inclusive a ideia de que estava a abandonar a sua carreira na música séria.
"Eu não estava a desistir da música clássica," diz Schmidt, "mas a torná-la mais rica, como compositor a trabalhar com os Can. Era uma nova forma de pensar a composição."
De volta a Colónia, Schmidt recrutou Jaki Liebezeit, um baterista fino e de cortar a respiração, que tinha já trabalhado com Chet Baker e vivido em Espanha durante 5 anos. Ele estava assim familiarizado com as estruturas rítmicas latinas e até, dizia ele, alguns ritmos voodoo secretos que poderiam resultar na morte daqueles que os ouvissem. Finalmente, Michael Karoli, "um guitarrista de rock realmente jovem, 10 anos mais novo do que nós", que era um jovem estudante de Holger Czukay e completou o grupo.
"Os Can saíram da constelação que foi constituída em conjunto por estes músicos," diz Schmidt. "Mas claro, foi uma coisa tão única e especial porque tinha esse enorme conhecimento de música, e era algo tão novo e inesperado. Era um grupo rock mas também não era um grupo rock. Era esse o conceito. O que sobressaiu foi uma experiência e uma experiência, deixem-me que vos diga, que funcionou e obteve sucesso."
Entre os muitos prazeres que podemos encontrar nas Lost Tapes estão a mão cheia de canções cantadas pelo cantor Americano Malcolm Mooney. Mooney gravou apenas um álbum com os Can, o primeiro, de 1969, Monster Movie, antes da sua exaustão, doença e uma forte instabilidade levou-o a abandonar a banda e voltar para a sua terra natal.
"Foi uma surpresa que tenha encontrado algum material com o Malcolm que tínhamos esquecido totalmente, e isso foi bom. Eu gostei da surpresa," refere Schmidt.
Mooney (e o seu substituto Damo Suzuki) desempenhavam um inabitual papel rítmico no som dos Can, fazendo parelha com a bateria propulsiva de Jaki Liebezeit. Isso é muito evidente nas faixas Waiting For The Streetcar e Desert, de Lost Tapes. Em ambas, Mooney repete a mesma frase até as palavras perderem o seu significado e se tornarem texturas rítmicas embebidas. Em Desert, a frase 'It's a soul desert' muta gradualmente para uma série de sons, que ele depois altera de novo com o grão da sua voz. Já muito foi dito acerca da natureza hipnótica da música dos Can, e da capacidade de Malcolm Mooney se aprisonar dentro da sua próprias letras em loop é lendária. Para a sua primeira performance com a banda, no lançamento de uma exposição de arte em Castle Nörvenich, ele repetiu a frase, 'upstairs, downstairs' durante uma hora inteira, enquanto andava para baixo e para cima pelas escadas. Holger Czukay disse uma vez que os Can não sabiam bem que direcção tomar, até que Mooney "saltou para o microfone e nos empurrou a todos para o seu ritmo".
A abordagem de Mooney a pertencer a uma banda estava em sintonia com aquela pop art e avantgarde que Irmin Schmidt havia visto e experimentado em Nova Iorque; a mistura livre de alta e baixa cultura, as fronteiras a desaparecerem entre os significados e a expressão da arte e da música.
Ele tanto queria usar rimas de enfermaria como contar histórias ridículas desde que estivesse a criar, aparentemente, ideias para letras profundas para os Can.
O seu sentido de humor, que Schmidt relembra nas notas de Lost Tapes, "tinha um efeito incrivelmente libertador em mim".
"O que fizemos, com e sem Malcolm," diz Schmidt, "foi sempre arte. A música dos Can é como a pop art. Usamos frases musicais muito banais da cultura circundante e juntamo-las de novas e inesperadas formas e o resultado era sempre surpreendente. Isso foi também o que o Malcolm fez. Ele não o fez porque era... Por vezes as pessoas pensam que ele estava num estranho estado mental e um pouco louco, e, por isso, repetia as coisas. Mas essa não era a razão porque o fazia. Essa era a sua forma, uma repetição constante de uma frase banal torna a banalidade da frase moderna e, por vezes, até, assustadora, torna-a alien. Algo a que estás habituado torna-se estranho e era isso o que acontecia com a música dos Can muito frequentemente. Era uma forma muito contemporânea de criar arte."
Sugiro então que eles devem ter sentido uma grande perda quando o Malcolm Mooney abandonou os Can.
"Sim", concorda Schmidt, de forma hesitante. "Mas, sabes, nós não estávamos realmente dependentes de termos um vocalista connosco ou não, foi apenas sorte e muito belo ter encontrado o Malcolm e, porque ele era uma óptima pessoa, trouxe um bom espírito para a nossa música. Assim, quando ele teve de sair, foi triste, mas foi triste da mesma forma que um amigo partir. Do ponto de vista musical, nós sentimo-nos tão capazes como antes, continuar a fazer música valiosa. Nós fizemos, por exemplo, o maravilhoso Graublau depois dele ter saído e antes de Damo ter entrado."
Os 16 minutos de Graublau é um dos pontos altos em Lost Tapes, mostrando a banda em voo de cruzeiro. Gravado para o filme Ein Grosser Grublauer Vogel, que soa como outro "must-see" de transgressão psicadélica do cinema Germânico. "É uma história obscura com hippies, amor e gangsters, os vilões vigiam tudo através de monitores, um filme dentro de um filme, mas a vigilância não é fiável..." explica Irmin nas notas que acompanham as Lost Tapes. A música é um épico de força pura, bateria explosiva, cortes abruptos e interferências de ondas curtas de rádio.
Busker do: Damo Suzuki obscurece a coisas
É uma pequena maravilha a capacidade dos Can para actuarem ao vivo, que era lendária. Eles eram levados ao que chamavam 'momentos Godzilla', grandes blocos confrontacionais de ruído. Temos o tema Godzilla Fragment em The Lost Tapes, que é um tema de dois minutos de caos sonoro. O primeiro concerto com Damo Suzuki foi, sob todos os pontos de vista, um Godzilla de grandes proporções. A banda estava sem um vocalista, mas uma tarde Jaki Liebezeit e Holger Czukay viram Suzuki a vaguear pelas ruas. Convidaram-no para actuar com eles nessa noite, num concerto que eles não queriam tocar, marcado por um agente com quem eles se tinham entretanto incompatibilizado.
"Fizemos um espectáculo horrível, um dos nossos mais agressivos de sempre," diz Schmidt. "Nós estávamos tão zangados com as circunstâncias do agendamento e do concerto e de tudo, que fizemos um incrivelmente estranho espectáculo, e o Damo encaixou nele como se já estivesse connosco há muito tempo. Ele apenas gritava de forma verdadeiramente assustadora e eu pus um grande tijolo no teclado, colocando o volume no mais alto nível possível e sentei-me quieto a comer bolo com o Holger."
A performance começou com uma audiência de centenas de pessoas que foi baixando até às 30. Um famoso que estava lá era o actor David Niven. Contudo a reacção foi totalmente diferente quando os Can chegaram ao Reino Unido.
"Nas primeiras actuações na Alemanha, as pessoas ficavam totalmente atordoadas, não sabiam o que fazer e dizer porque estavam habituadas a grupos ingleses que actuavam na Alemanha, e que nós tentávamos imitar," relembra Schmidt. "Mas o facto de não o fazermos foi um grande sucesso em Inglaterra. Na primeira digressão por Inglaterra, em 1970, as pessoas ficavam loucas connosco, porque ouviam algo totalmente surpreendente e novo. A primeira vez que tocámos em Glasgow, as pessoas invadiram o palco e estavam completamente fora de si. Estavam tão entusiasmados que alguém me pegou ao colo e disse-me o quão gostava de nós, e abraçou-me tão fortemente que partiu uma costela. Eu não podia ficar zangado com aquilo, mas no resto da digressão a coisa foi um bocado dura, porque aleijava mesmo."
No fim, que foi em 1978, depois da gravação, mas antes do lançamento do seu décimo primeiro álbum de estúdio, Can, a intensidade que era requerida aos músicos de forma a criar a música Can não poderia ser mantida. Holger Czukay disse uma vez que eles pura e simplesmente deixaram de se ouvir uns aos outros e, de facto, Czukay estava fracamente envolvido com a música dos Can desde 1977. A banda transformou-se numa besta diferente por volta de meados dos anos 70, ainda improvisativa, mas menos urgente, imediata.
"O espírito e o processo de trabalho mudaram," diz Schmidt. "Era precisa uma tão grande concentração que, passados 10 anos, ela como que desapareceu. Jaki comparou o facto a uma fita cola que se vai desgastando e perdendo aderência com o tempo. A tensão partiu e a concentração colapsou e então tivemos de parar com aquilo. Mas ainda assim, o último disco que fizemos, quando nos juntámos nos anos 80 [Rite Time, gravado em 1986 com Malcolm Mooney como vocalista, e editado em 1989] funcionou muito bem."
A revelação que The Lost Tapes foram retiradas de 50 horas de gravações de material aproveitável, coloca-nos de imediato a questão óbvia: há mais preciosidades escondidas e que possam vir a ser reveladas no futuro?
"Não!" diz Schmidt num tom assertivo. "O que extraímos é o que considerámos que vale a pena ser editado. O resto foi-se. Será totalmente esquecido, será perdido, definitivamente." Mas depois ele menciona que há uma grande colecção de gravações ao vivo sobre as quais eles se poderão debruçar um dia para retirar material passível de edição, apesar de nada estar planeado ainda nesse sentido.
Parece improvável que aquelas 50 horas de fita serão verdadeiramente esquecidas e perdidas. Um dia serão desenterradas, da mesma forma que manuscritos perdidos de grandes compositores são descobertos de tempos a tempos. A importância histórica dos Can é demasiado grande para que as suas fitas/gravações sejam deitadas ao lixo. Académicos do século XXII não nos agradecerão se isso acontecer.
The Lost Tapes foram editadas agora na Mute.
CAN'S INNER SPACE
O primeiro estúdio dos Can foi um quarto no Castle Nörvenich (ver imagem), com apenas um par de máquinas de gravação em fita Revox de duas pistas. O espaço foi doado por um mecenas de arte, patrono de Irmin Schmidt, que utilizava o castelo para exposições. O seu estúdio seguinte foi num cinema abandonado, em Weilerswist, perto de Colónia. Chamado Inner Space, a partir de 1972 foi onde os Can gravaram qualse todo o seu material. Hoje em dia preservado no Gronau Rock And Pop Museum na Alemanha, as comodidades e a atmosfera do estúdio dos Can sobreviveram virtualmente inalteradas, diz-nos o porta-voz Inga Fransson.
. Como é que o museu decidiu e comprou o estúdio dos Can?
- Um empregado nosso ouviu dizer que o estúdio estava para venda. Isto passou-se em 2002. O projecto custou 270 000 €, que incluiu a compra e a reconstrução do estúdio em Gronau. Abriu aqui em Novembro de 2007, com uma cerimónia que foi presenciada por Irmin Schmidt e Holger Czukay e o seu velho técnico de estúdio René Tinner.
. Quanto tempo demorou a relocação do estúdio?
- Demorou quatro semanas a desmantelá-lo do velho cinema em Weilerswist, porque teve tudo de ser empacotado. Assim como o equipamento de estúdio, o qual incluía montes de sintetizadores vintage, havia uma cabina de venda de bilhetes de cinema Sarotti, vários discos de ouro. O velho sistema de PA dos Can, uma selecção de fotos Polaroid, uma esteira de cablagem, e alguma mobília de jardim, incluindo uma grelha barbecue. Foi tudo posto num armazém durante cinco anos, e depois demorou outras duas semanas a reconstruir tudo.
. Há visitantes que vêm expressamente para visitar/ver o estúdio?
- Os Can não eram certamente tão populares na Alemanha como o eram noutros países. Contudo, há fans mais duros da banda que visitam o museu especialmente para ver o estúdio.
. O museu tem outras peças da mesma época?
- Temos parte da cozinha do estúdio de Conny Plank e um vocoder seu.
O estúdio dos Can está a trabalhar e disponível para aluguer. Cantactar Andreas Grotenhoff através do email canstudio@rock-popmuseum.de
www.rockpopmuseum.de
Excelente revista de música electrónica, de que este é o número um, que comprei na FNAC Almada. Não sei se teve continuação e, se sim, se manteve a qualidade. Nunca mais vi à venda, embora também não se possa dizer que tenha vasculhado muito.
Fica uma lista dos (muitos) artigos/entrevistas mais relevantes deste número.
. John Foxx - "Under The Influence" - Entrevista - pg. 34/35
. Underworld - "Everything, Everything, Everything" - Entrevista + Artigo - pg. 36/45
. Mark Jones - "The Time Traveller" - Entrevista + Artigo - pg. 46/49
. Silver Apples - "Mr. Oscillator" - Artigo + Entrevista - pg. 50/55
. The Human League - "The Things That Dreams Are Made Of" - pg. 56/63
. Kraftwerk - "Deutsche Disco" - Entrevista (arquivo) - pg. 64/67
. Detroit - "Viva Motor City" - Artigo pg. 68/73
. Minimal Wave - "Say Goodbye, Wave Hello" - EntrevistaVeronica Vasicka - pg. 74/77
. Radiophonic Workshop - pg. 78
. Gary Numan - pg. 84
. Twin Shadow - pg. 92
. Can - pg. 96
.. Herbert Eimert - pg. 19
.. Stephen Mallinder + Steve Cobby - pg. 26
.. The KLF - pg. 28
#60 - "Brian Eno (starsailor)" Fernando Magalhães 08.01.2002 150308 Do período pop: Here Come the Warm Jets (1973) - 9/10 Takin...
Escritos de Fernando Magalhães em Livro
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LULU (versões mais antigas - com alguns textos em falta, entretanto descobertos. Tal já não acontece com as versões mais actuais, publicadas agora na Bubok - Portugal - ver acima)
Volume 1 - 1988/1991
Volume 2 - 1992/1994 (460 páginas, formato maior que A4)
Volume 3 - 1995 (336 páginas, formato maior que A4)
Volume 4 - 1996 (330 páginas, formato maior que A4)
Volume 5 - 1997 (630 páginas, formato maior que A4)
Volume 6 - 1998 (412 páginas, formato maior que A4)
Volume 7 - 1999 (556 páginas, formato maior que A4)
Volume 8 - 2000 (630 páginas, formato maior que A4)
Volume 9 - 2001 (510 páginas, formato maior que A4)
Volume 10 - 2002 (428 páginas, formato maior que A4)
Volume 11 - 2003 (606 páginas, formato maior que A4)
Volume 12 - 2004/2005 (476 páginas, formato maior que A4)