autor: Jorge Pires (Tradução e Adaptação do Texto)
título: David Byrne - Pontos de Vista
editora: Assírio e Alvim (colecção Rei Lagarto - 16)
nº de páginas: 221
isbn: na - depósito legal nº 20049/88
data: 1988
Prólogo
No início é, por certo, o verbo. Mas de pouco vale a palavra, quando não existe uma voz.
É essa voz, a de David Byrne - o seu ritmo, os seus sons - que instala todos os sentidos possíveis dos textos que se seguem. Porque vejam: estes textos foram construídos para serem cantados. Não para serem traduzidos. E, por uma vez, aquilo que o olho vê fica irremediavelmente aquém daquilo que é dito.
Também por isso, as versões portuguesas acolhem e renegam o sentido literal. Conforme. Também por isso se deve instalar a dúvida.
Depois, podemos deixar em suspenso as perguntas triviais (Será Byrne um poeta? Um génio?). Porque Byrne é, sobretudo, um «workaholic» (trabalhólico), antena viva que capta, assimila e transcreve informações, consoante os estímulos, os momentos, os motivos... Recordemos as suas facetas: letrista dos Talking Heads, compositor, realizador cinematográfico, colaborador da coreógrafa Twila Tharpe, do dramaturgo Robert Wilson, do compositor Philip Glass, parceiro de Brian Eno em diversas alturas.
Por princípio, adoptou-se aqui a fugaz regra da circulação: tudo o que está, está em trânsito; tudo o que é, é sempre outra coisa. Como adivinhar, neste jogo de máscaras, o que separa Byrne de Byrne, o cantor do poeta, a figura do real?
De resto, elaborou-se uma moldura, para enquadrar os textos. Há nove temas genéricos, ao longo dos quais se distribuíram dez anos de canções. Há nove miras, nove pontos de vista. Se fossem outros os pontos, seriam outras as vistas (podiam ter sido: Televisão, Personagens, Mulheres, Ego...). Mas não, estes nove temas têm uma grande vantagem sobre quaisquer outros - acomodam mais ou menos razoavelmente o juízo que o tradutor fez sobre o autor.
Por isso - e para fugir a isso - no final de cada um dos capítulos o leitor encontrará uma breve ficha, que lhe permitirá lançar outras pontes, definir outros percursos e jogar.
Porque o que resta de tudo iso é a indefinição, o passeio, o recreio. O jogo. Para instrução dos mais novos e diversão dos mais velhos, como noutros tempos.
J.P.
Outubro/1987
Sem comentários:
Enviar um comentário