autor: Alexandre Vargas (versão, selecção, introdução, entrevista, poema, biblio-discografia e notas)
título: Peter Hammill - Camaleão Na Sombra Da Noite
editora: Assírio e Alvim (colecção Rei Lagarto - 19)
nº de páginas:117
isbn:972-37-0251-7
data: 1990
sinopse:
Peter Joseph Andrew Hammill nasceu no seio de uma família irlandesa, no País de Gales, no dia 11 de Novembro de 1948 (dia de S. Martinho), tendo pois, hoje em 1990, quarenta e um anos feitos. Uma data de nascimento que surgiria posteriormente explicitada na canção «Darkness (II/II)», escrita e gravada muitos anos depois: «Voando em grupo, voando com medo....... perverso Escorpiãozinho...» Tal é então o signo do zodíaco do seu ex-libris, sendo o outro seu signo, o oriental, o do Rato, encontro que, como esclarece Suzanne White no seu livro A Astrologia Chinesa, predispõe um tal nativo a intensa sabedoria...
Falar de Peter Hammill é também falar dos Van Der Graaf Generator, o grupo que, nos finais da sua adolescência, ele haveria de fundar com alguns amigos, quando estudavam na Universidade de Manchester, cidade mais a norte do País de Gales, no condado de Lancashire, com actividade industrial, comercial e marítima intensa, estando ligada por não muitos quilómetros de canal artificial, o Ship-Canal, ao porto de Liverpool, outra cidade obviamente importante para a música popular.
Manchester, com a sua catedral gótica, as suas fábricas de seda, as suas indústrias de algodão e de maquinaria, seria o berço da banda de «The Aerosol Grey Machine», que dava os seus primeiros passos no ano de 1967, constituída já por Peter, na escrita de canções, voz, guitarra acústica e piano, Nick Pearn, Guy Randolph Evans na bateria, e Chris Judge Smith, o qual, tendo sido o primeiro membro do grupo a abandoná-lo, lhe tinha dado o nome, juntamente com P.H. Os dois faziam estudos científicos, Física, Química, Matemática, e nesse ano, tendo falecido, aos sessenta e seis anos, Robert J. Van Der Graaf, o físico inventor de um gerador electroestático que tem o seu nome, resolveram baptizar assim o conjunto em homenagem àquele.
O gerador de Van Der Graaf consegue produzir até quinze milhões de volts e provocar uma faísca de seis metros de comprimento. Um tal epíteto para um grupo de rock não era facilmente assimilável, mas exprimia bem a energia electrizante que os rapazes queriam transmitir na sua música.
A formação original, entretanto, desfez-se no ano seguinte, tendo gravado um single com o tema «Boat Of Millions Of Years», posteriormente incluído na primeira compilação do grupo, «68-71». Peter Hammill viu-se assim, em 1968, a ter de cumprir, a solo, contratos angariados em nome do grupo e arranjando ainda mais alguns. Depois, surge-lhe uma oportunidade de gravar, para a etiqueta Charisma de Jonathan King, um primeiro elepê seu. Encontra-se então com os amigos no estúdio, ara o registo, e propõe-lhes: «Porque é que não nos voltamos a reunir?» Os outros aceitam e assim nasce o primeiro álbum do grupo, «The Aerosol Grey Machine». Na contracapa, Peter explica: «Em Junho, desfez-se a formação original dos Van Der Graaf Generator, por um certo número de razões, entre as quais não se encontrando qualquer conflito de personalidades». E mais adiante: «Não é o mesmo que o velho Van Der Graaf... Por altura de irmos de novo para a estrada, a composição do grupo terá mudado também». Estas mudanças seriam uma constante na vida do conjunto. Com efeito, os músicos eram agora Peter, Hugh Robert Banton nos teclados, Keith Ellis no baixo, e o mesmo Guy Evans. Posteriormente, seria a Keith Ellis que o primeiro dedicaria a canção «Not For Keith», no álbum «ph7», assim como continuaria, até hoje, a compor com Chris Smith, o que mostra que nunca se desligou completamente de alguns dos seus velhos amigos, apesar daquilo que observa no álbum «Chameleon», na canção «Easy To Slip Away». O novo agrupamento separa-se em 1969 e reforma-se pouco tempo depois no mesmo ano, tendo Nic Potter substituído Keith Ellis no baixo, e nele tendo também ingressado David Jackson, nos sopros (saxofones e flautas). Este tinha sido apresentado aos outros elementos por Chris Smith. A banda grava o eu segundo álbum «The Least We Can Do Is Wave To Each Other» (frase que Peter Hammill, nas notas da capa, revela citar de um certo John Minton), que sai no início de 1970. Esta formação contém já os elementos que gravaram o seus mais importantes elepês, embora, no espírito do grupo, desde sempre os seus membros tenham preferido uma posição associativa sem relevância especial para qualquer deles, excluindo mesmo Peter a ideia geralmente aceite de ser ele o líder efectivo, apesar da sua natural posição de destaque devida ao facto de escrever canções, tocar instrumentos a solo, cantar, e a ter muitos discos com o seu nome. Também a banda se habituava a trocar ideias e a fazer uma vida muito próxima entre si. Aquando da dissolução final, em 1978, P.H. afirmou que já não era possível continuarem, devido não apenas às suas idades respectivas, mas também ao facto de o grupo lhes ocupar o tempo todo,para além de as coisas não poderem continuar eternamente. Este segundo álbum continua e aprofunda a saga do primeiro, os seus temas torturados,o que lhes valeria, ao longo das suas sucessivas formações, o serem abundantemente adjectivados por todos aqueles que acerca deles foram escrevendo: «Banda dos Pesadelos», «Antecipação-Loucura-O Cosmos Sonoro», «Motivos de alienação, paranóia, solidão e loucura, sobre uma música furiosa, aterradora e gelada», «Espírito de Ficção Científica», «Música cósmica, angustiada, planante, eléctrica, abissal, dançante, aventurosa, bela, etc., etc...» «Darkness», o belíssimo «Refugees» (onde a voz de Peter se apura até à mais extrema sensibilidade), «White Hammer com a sua ambiência pesadamente medieval e a sua corneta king-crimsoniana ou o lúgubre «After The Flood», também com David Jackson a disparar um solo-citação de tema principal do «twenty-First Century Schizoid Man» do primeiro elepê dos mesmos King Crimson (para além da citação de Einstein), são temas inesquecíveis e clássicos da banda. Entretanto, esta vai dando concertos, o que sempre fizera regularmente, de início inclusivamente inspirados pelo show-happening de Arthur Brown. E, mais para o fim do mesmo ano de 70, é editado o terceiro álbum «H To He, Who Am The Only One», com a fórmula química da transformação do hidrogénio na contracapa junto dos poemas de Peter. Este último escreverá, até ao final de 78, quase sempre os temas musicais das canções e praticamente todos, senão mesmo todos, os poemas delas, interpretadas pelo agrupamento. Nic Potter apenas toca baixo em dois dos temas do disco, «House With No Door» e «Pioneers Over C», tendo abandonado a formação a meio da gravação do mesmo. Nesta, participa pela primeira vez Robert Fripp, guitarrista fabuloso e um dos líderes dos King Crimson, com um solo majestático em «The Emperor InHis War-Room». E em «Killer» David Jackson começa a tornar-se um executante cada vez mais controladamente estridente, evolução que continuaria pelos anos e discos fora, e que a alguém faria dizer que a banda se orientava para uma espécie de delírio free das sonoridades, que seria acentuada especialmente depois da reformação de 75. Aquando da separação definitiva de 78, Hervé Picart escreveria na Best: «Este grupo era o mais belo símbolo dessa violência apaixonada que a poesia e o rock gostam de transmitir.» Realmente «H To H» é espantoso e será seguido em 71 pela, em geral, unanimemente considerada obra-prima da primeira fase, senão de toda a carreira do grupo, o célebre «Pawn Hearts» e os seus três temas magníficos: «Lemmings» (os roedores suicidas das regiões setentrionais), «Man-Erg» e a suite-de-lado-inteiro (muito em voga nos elepês da época.
«A
Plague Of Lighthouse Keepers». Todo o disco é de um nível fantástico, em
todos os aspectos, e trata do princípio ao fim da tragédia e divindade da
condição humana. Isto é o que a banda sempre fizera, mas nunca, como aqui,
levara os paradoxos e os dramas a uma expressão tão inaudita. Todos os músicos
ultrapassam o que de melhor se poderia esperar deles: Guy Evans, o baterista de
sempre, apura os rufares do tambor e as batidas com precisão milimétrica, tudo
isto sem nunca se mostrar tecnicista nem frio. Apenas «gelado», quando os temas
a isso se prestam. Hugh Banton, para além dos acordes vertiginosos, é, como de
costume, a eminência parda da tessitura sonora desta fase do grupo. Assegura
agora o baixo, não só com guitarra mas também com pedais, uma vez que a
formação, a quarta, não conta já com a presença de Potter.
Não muito tempo depois, no mesmo ano de 1971, Hammill
grtava o seu primeiro álbum a solo, «Fool’s Mate», também com a presença de
Fripp e dos restantes elementos do grupo. Aquele será, excepcionalmente, o
único músico exterior à banda a ter alguma vez participado nos seus elepês. Aqui,
delineia Peter os seus primeiros temas solitários (mas não o terão sempre
pacientemente sido as peças dos Van der Graaf?), como «Happy», «Child»,
«Candle», «Imperial Zeppelin».
Ao longo do ano, o grupo continua nas suas digressões,
mas no ano seguinte, 1972, depois de uma actuação no Olympia de Paris, os seus
membros decidem dissolver o grupo, enquanto tal, por não considerarem a
formação da altura capaz de evoluir.
E assim, durante quase três anos, deixa de existir aquele
que, no contexto dos grupos da voga então do «Rock Progressivo», tinha sido o
mais estranho e devastador, que (tal como Peter Hammill a solo) manteve, até ao
seu desmembramento último, no fim dos anos setenta, um público sempre muito
fiel, mas nunca conseguindo impor-se junto de uma audiência mais alargada.
O mais estranho e
devastador, para além do caso especial dos já citados King Crimson, a cuja
galáxia agregadora são adjuntos, um pouco, então, como uma espécie de outra
face dos Genesis, grupo muito britanicamente interessante na altura, estando os
dois Peters, Hammill e Gabriel, como que a um espelho gerador de imagens e
sons. aliás, este último, depois de abandonar a banda de «The Lamb Lies Down On
Broadway», afirmaria, num tom algo vandergraafiano, que «estar nos Genesis era
toda a minha vida e é por isso que eu me integrava neles».
Dois anos depois, em 77, noutra entrevista, interrogado
num blindfold test acerca de «Refugees», declararia também: «Vejo muito bem de
quem se trata. Conheço bem o Peter Hammill; quando eu estava com os Genesis,
nós fazíamos tournées juntos, com ele e os Lindisfarne. É um artista que aceita
tomar riscos e que é muito honesto consigo mesmo. Aprecio uma parte daquilo que
os Van der Graaf fizeram, mas uma boa parte não me diz assim muito. Digamos
pois que gosto deles a 50%... É engraçado, recentemente Johnny Rotten, o cantor
dos Sex Pistols, foi entrevistado e escolheu como disco do mês um disco de
Peter Hammill, o que decerto ninguém esperaria... Ainda não vi os novos Van der
Graaf, mas creio que, em público, os prefiro a Peter sozinho. Nos discos isso
não tem uma grande importância; os textos de Peter são muito interessantes; já
há bastante tempo que não o vejo, gostava de estar com ele um dia destes...»
Mas, no princípio dos anos 70, a «Galáxia Crimsoniana» incluía
grupos fortemente empenhados em explorar as virtualidades dos sons dos novos
instrumentos que se iam criando, e dos aperfeiçoamentos dos estúdios e das
concepções de mistura que iam evoluindo. Grupos como os Yes, Gentle Giant, Jethro Tull, Third Ear Band, Emerson
Lake & Palmer, etc., etc.... constituíam a vanguarda de então.
Em meados de 1973, Petrer Hammill encontra-se a fazer a
primeira parte dos concertos de uma tournée dos Genesis, enquanto espera a
saída do seu segundo álbum a solo, «Chameleon In The Shadow Of The Night»,
gravado em Fevereiro e Março desse ano. O disco pormenoriza os interesses do
autor na altura. Uma poesia conseguida e apurada na linguagem, um órgão de
catedral, um diálogo voz-instrumento (guitarra acústica de cordas de metal-guitarra
eléctrica/piano) constante e mostrando intenso drama, uma preferência marcada
pelos acordes perfeitos e pelo tratamento sinfonizante dos arranjos, seja, por
vezes, acompanhado dos amigos habituais, seja com um acompanhamento simples, o
que levou a que alguém apelidasse certas canções suas de «baladas
dramático-sinfónicas». A voz continua as costumeiras variações de timbre, do
tenor ao barítono, com facilidade enorme. O canto também revela uma mudança
camaleónica, ao modificar-se da recitação para a declamação, desta para o
murmúrio, o grito e o «chilrear tesserasquizóide»... Uma música altamente
expressiva, mas contida, teatral e encenada, ao fim e ao cabo, a sua
manifestação artística evoluiu sempre, mas, de certo modo também sempre se
manteve em parâmetros assim. Peter fala muitas vezes de si como que ilustrando
um exemplo das situações da vida levadas ao extremo do arquétipo e, entre as
suas influências principais, podemos encontrar o sentimento trágico de
Nietzsche, Beckett e o seu teatro poeticamente absurdo, Shakespeare e Jorge
Luis Borges, a quem, já nesse ano de 1973, ele se referia numa entrevista,
muito antes daquele estar na moda. Esta fase do «quarto fechado», que aqui se
delineia e se irá, de certo modo, aprofundar nos elepês imediatamente
posteriores, já a poderemos encontrar também me «The Least We Can Do» e «H To
He», especialmente. Tal como nos dois álbuns-solo seguintes, «The Silent Corner
And The Empty Stage» e «In Camera», publicados ambos em 74, o quarto fechado
começa por perder a sua dimensão cúbica, ao nele se instalar a escuridão, a
«Darkness», ficando assim uma casa sem porta. é aqui que encontramos a noite do
grande cavaleiro, em que o camaleão irá mudar de cor até esgotar todo o
espectro e se revelar branco de Amor na sua síntese quase clownesco-bowiana.
Aqui, a relação com jogos tradicionais, como o Tarot (que
se harmoniza) e o xadrez, é fundamental e borgesiana. No labirinto da escuridão
do quarto, as casas brancas mostram-se em relação com os cósmicos peões-piões
do jogo. Pertencem a uma estrutura aleatória que se bifurca, na obscuridade,
através da investida da visão divergente do camaleão-peça que se transfigura,
na sua ânsia de luz, em todos os peões-torres fechados, avançando ao longo do
salto imóvel do cavalo cavaleiro da noite e dia. Este camaleão de Camelot
estende a língua como uma espada e captura o inimigo, as palavras criam o
sentido da queda da torre que perfura o negro. Tal como os joyceanos partem,
todos os anos no bloomsday, da Torre de Martello (um farol, de certo modo)
situada na baía de Dublin, para seguirem depois, acompanhando as horas, a
peregrinação cometária de Leopold, a sua odisseia até junto da cama leonina de
Molly-Penélope.
Cada casa branca se revela como a abertura de uma
objectiva, ao deixar passar a luz por via do tempo que se mostra no quarto
escuro dos peões-infantes (quarto fechado onde encontramos tantas vezes as
personagens de Samuel Beckett, um Hamm, de Endgame, que fosse o rei Mill da
Irlanda). A paragem da queda da luz, a fixação na ponta da língua, a lavagem,
são feixes da recepção. O peão muda-se no bispo oblíquo e sabedor, na rainha
capturadora e no rei imperador, e projecta a revelação da imagem no escuro, um
daguerreotipo bélico, rejeitando a interrogação Hamletiana do negativo.
Gravado seis meses depois de «Chameleon», «The Silent
Corner» é publicado três meses depois daquele, sendo P.H., nele, acompanhado
também por Randy California, guitarrista dos Spirit.
Entretanto, os outros membros dos Van der Graaf não se
perdem de vista entre si e, no mesmo ano de 74, gravam em Itália, com alguns
maigos locais (entre os quais Pietro Messina – que Peter Hammill revelou não
ser ele mesmo), o álbum «The Long Hello» (trocadilho com o título do romance de
Raymond Chandler, «The Long Goodbye»). São Banton, Nic Potter, David Jackson e
Guy Evans, que produz as gravações de um free-jazzrock na mesma linha de
sempre.
Por sua vez, Peter regista o quinto álbum-solo «Nadir’s
Big Chance», assumindo o papel de uma personagem punk que lhe surge, uma
espécie de segunda personalidade. É este um álbum mais directo, talvez, que o
habitual. Pouco depois, no início de 1975, os Van der Graaf Generator
reformam-se. Peter declara: «É a altura apropriada, não só em termos de posição
global, como também em termos das nossas próprias posições, não só na medida em
que isso nos vai fazer sentir mais realizados, mas na maneira como nos é
possível tirar coisas uns dos outros, nesta altura, o que não aconteceu durante
os dois últimos anos». Gravam o álbum de regresso, «Godbluff», quatro faixas de
um rock-jazz em que o som se tornou mais duro, mais metálico e eléctrico, mais
peso e com m ais impacto, perdendo os momentos de evanescência da fase
anterior. Um, som muito mais livre se exprime aqui, mais conciso, integrando-se
eles cada vez melhor entre si. Hugh Banton perdeu um pouco o seu papel
excessivamente globalizante, David Jackson hesita entre um academismo «sui
generis» e um som estridente ainda mais eficaz. Peter assume a composição
habitual dos textos (menos evidentes, mais densos) e das músicas, e perde o seu
receio da guitarra eléctrica que executa agora de uma maneira única, com um
limite fluido entre rítmica e solos, a voz ainda mais eriçada.
Esta formação é a mesma que se tinha separado em 72.
«Godbluff» sai no fim de 75 e, no início do ano seguinte, outro álbum, «Still
Life», por muitos considerado uma obra-prima, equilíbrio perfeito de todas as
tendências que, até ele, tinham percorrido o grupo. No fim de 76 é a vez de
«World Record», em cujo segundo lado, em «Meurglys III», a banda toca de uma
maneira mais dançante que o costume. No entanto, este álbum desilude um pouco
alguns, quanto a nós sem grande razão.
A formação altera-se outra vez no início de 77, mais ou
menos na altura em que sai o sexto álbum de Peter, «Over», que integra os
músicos que irão ser agora os Van der Graaf, embora o álbum tivesse sido
gravado no Verão do ano anterior, um mês depois de «World Record». Saíram
Jackson e Banton, Evans manteve-se e Potter regressou. Aparece nesta altura
Graham Smith, violinista, que toca em duas faixas do disco. É um antigo
elemento dos String Driven Thing (com os quais esteve já em Portugal). Numa das
canções, «This Side Of The Looking-Glass», Peter utiliza uma orquestra
sinfónica, o que fez dizer a Hervé Picart, da Best, que «era a mais bela
utilização de uma orquestra jamais realizada por alguém vindo do rock». O álbum
é marcado por grande solidão e intimismo e é considerado como um dos seus
melhores.
O grupo grava o disco «The Quiet Zone / The Pleasure
Dome», onde a presença do violino substitui o sax de Jackson (de modo
diferente) e Nic Potter acompanha, como fazia Banton. Evans conjuga-se
perfeitamente, como sempre, o que fez alguém uma vez dizer que «basta olhar
para a cara dele para se ver logo que é um grande baterista».
Sem Jackson, a música está reformulada, é mais rock, e
trata-se de um muito bom álbum. Depois dele, a formação é acrescida de um
elemento que cumpre aproximadamente a função de Banton, tocando teclados e
violoncelo: Charles Dickie. É esta considerada a formação mais intrigante do
grupo.
Em Março de 1977, quando sai «Over» e o grupo com a nova
constituição dá espectáculos (onde integra imagens visuais pela primeira vez),
Peter afirma: «Dá-me prazer que as pessoas estejam prontas a fazer centenas de
quilómetros para vir ver-nos actuar, mas gostaria também que, ao menos, alguns
espectadores tenham vindo só para ver o que se passava, e não porque já
tivessem decidido que os Van der Graaf eram o seu grupo».
É esta nova e final composição da banda, que se designa
agora apenas Van der Graaf, que regista o seu último álbum, o duplo «Vital»,
gravado ao vivo no «Marquee» de Londres, em Janeiro de 78. Há cinco novos
originais e todo ele é tocado com intensidade.
Depois, o grupo separa-se em Setembro do mesmo ano, tendo
acabado o seu contrato com a Charisma e estando em situação financeira difícil.
A partir desta altura, Peter prosseguiu a sua carreira a
solo, continuando a registar os seus álbuns, por vezes com a ajuda dos seus
velhos companheiros e, recentemente, fazendo novas experiências sonoras. Esteve
duas vezes em Portugal, com os grupos que foi constituindo, mutavelmente, com
os mesmos membros de sempre.
Participou em gravações de Peter Gabriel, de quem é
amigo, concretiza actualmente o velho sonho de realizar uma ópera e vive em
Bath, no sudoeste do Reino Unido.
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