DN:música
Os melhores álbuns de sempre
15.07.2005
[48] THIS MORTAL COIL
Criado por Ivo Watts Russell para promover uma série de
colaborações entre músicos da sua editora, os This Mortal Coil, logo no seu
álbum de estreia, acabaram por representar o paradigma da identidade
atmosférica que caracterizou o som da 4AD em meados dos anos 80.
TÍTULO
It’ll End In Tears
ALINHAMENTO
Kangaroo / Song To The Siren / Holocaust / Fyt / Fond Afections / The Last Ray
/ Another Day / Waves Become Wings / Barramundi / Dreams Made Flesh / Not Me A
Single Wish
ANO 1984
(4AD)
PRODUTOR
Ivo Watts Russell
Além de ter representado uma fundamental (e então
urgente) revolução estética e pragmática, o punk foi também catalisador de
importantes transformações no meio editorial, tendo, tal como a música,
devolvido o poder “Às bases”. Na Inglaterra de finais de 70, pequenas independentes
apareceram por todo o lado, muitas associadas a redes de distribuição
alternativas e lojas nas quais se podiam encontrar os singles das novas bandas.
Entre as editoras que vingaram e sobreviveram à ressaca do punk, a 4AD (ligada
à Beggars Banquet) cresceu para se afirmar como uma das mais importantes casas
editoriais de 80. Editou Bauhaus (no início), Cocteau Twins, Dead Can Dance,
Wolfgang Press e tantos outros nomes que então desenvolveram o emergente
conceito de música indie, marcando identidade também através das capas
desenhadas por Vaughan Oliver. Coordenada por um melómano, Ivo Watts Russell, a
editora 4AD gerou em 1984 um colectivo transversal às bandas do catálogo: os
This Mortal Coil.
Materialização evidente do gosto de Ivo Watts Russell, os
This Mortal Coil foram um projecto de editora, juntando em estúdio músicos de
difeentes grupos, tendo editado uma magnífica trilogia de álbuns entre 1984 e
1991.
O primeiro dos álbuns, o genial It’ll En In Tears reuniu
músicos como Lisa Gerrard e Brandan Perry dos Dead Can Dance, Elisabeth Frazer,
Simon Raymonde e Robin Guthrie dos Cocteau Twins, Gordon Sharp dos Cindytalk,
Howard Devoto (dos Magazine, banda não assinada pela 4AD), Martyn Young dos
Colourbox e Robbie Grey dos Modern English, entre alguns outros. O álbum,
paradigma do som atmosférico que fez escola na 4AD em meados de 80, é uma
pérola de bom gosto, subtileza melódica e riqueza textural.
Muitos recordam hoje o disco pela sublime e arrebatadora
versão de Song To The Siren (de Tim Buckley) na voz de Elisabeth Frazer, um
daqueles raros casos em que a versão supera o original (tendo David Lynch
reconhecido ter servido de inspiração à sua aventura musical com Julee Cruise
alguns anos depois) ou pelas não menos cativantes novas leituras de Kangaroo e Holocaust
de Alex Chilton (dos Big Star) ou Not Me de Colin Newman. Mas It’ll End In
Tears (tal como o álbum seguinte, Filigree And Shadow, de 1986) vale como um
todo (que aacaba até por diluir em si as diferentes partes). A sucessão de
canções define um percurso plácido por sonhos para voz e instrumentação quase
ambiental, criando atmosferas de melodismo subtil e canções de complexa arte
final numa linha próxima da que então tomava o rumo da obra dos Cocteau Twins e
Dead Can Dance (claramente os pólos estéticos protagonistas nesta etapa dos
This Mortal Coil).
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