DN:música
Os melhores álbuns de sempre
17 de Junho de 2005
No meio da euforia editorial que caracterizou o Portugal Pop/Rock de inícios de 80 um álbum destacou-se dos demais e fez história. Apresentou os Heróis Do Mar e com eles conhecemos um verdadeiro sentido de portugalidade em regime pop que ainda hoje tem herdeiros na cena musical nacional
17 de Junho de 2005
[44] HERÓIS DO MAR
HERÓIS DO MAR
TÍTULO Heróis do Mar
ALINHAMENTO Brava Dança dos Heróis / Amantes Furiosos /
Magia Papoila / Salmo / Bailar / Olhar No Oriente / Mar Alto / Saudade
ANO 1981 (edição Philips / Universal)
PRODUTOR António Pinho
T: Nuno Galopim
O Portugal musical de 1980/81 era um caldeirão em
ebulição, entusiasmado com a descoberta da composição (e viabilidade no
mercado) de uma música pop/rock feita em português. Depois dos sucessos
iniciais de Rui Veloso, UHF, GNR, Táxi e Salada de Frutas, novas bandas, novos
singles, surgiam a um ritmo alucinante, respondendo a uma procura igualmente
ávida. Contudo, entre discos que denunciavam essencialmente um sentido de
urgência prático, um acabou por se destacar pela inteligência formal, pela
musicalidade atenta, actual e oportuna, pela ousadia estética, inscrevendo
definitivamente um real sentido de portugalidade numa linguagem pop/rock.
Chamou-se Heróis do Mar e revelou, em 1981, uma das mais marcantes bandas da
história da música popular portuguesa.
Já havia antecedentes esteticamente estimulantes entre os
elementos do grupo, alguns deles recém chegados da discreta (mas temporalmente
consequente) aventura punk nos Faíscas e sua descendência natural nos Corpo
Diplomático, banda cujo único e histórico álbum (Música Moderna, de 1979 e
ainda por reeditar em CD) apresentava um título que sugeria a chegada de uma
ideia de modernidade à pop portuguesa.
Firmes numa intenção política (leia-se ideário filosófico
prático e não manifestação partidária) de dotar o país e uma nova geração de
uma música “sua”, o disco nasce de longo período de reflexão durante o qual a
atenção dos músicos pelos acontecimentos mais recentes da pop internacional se
cruzou com leituras sobre a História de Portugal, preparação conceitual para um
manifesto que desejou mudar a música portuguesa. E como mudou!
Num tempo ainda ecoando excessos revolucionários e
receios perante inevitáveis e marcantes símbolos nacionais, numa altura em que
se falava do futuro e parecia esquecer o passado, a música e atitude dos Heróis
do Mar catalisou uma verdadeira revolução de mentalidades. Cruzou raízes da
música portuguesa (e inclusivamente de África, como se escuta em Saudade) com a
linguagem pop do momento, despertando um sentido de orgulho pela identidade cultural
que fez carreira depois em diversos projectos musicais nacionais, da Sétima
Legião aos Madredeus (vida posterior de Pedro Ayres Magalhães e Carlos Maria
Trindade, respectivamente baixista e teclista dos Heróis do Mar).
Musicalmente arrebatador perante o restante cenário pop
imberbe da época, ideologicamente consequente, colocou no mapa pop uma nova
forma de ouvir Portugal). O terror perante certos símbolos (a cruz de Cristo,
as fardas), valeu-lhes as suspeitas de alguns. Derrubadas, um ano depois, pelo
êxito transversal de Amor.
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