autor: Luís Jerónimo e Tiago Carvalho (compilação) - Prefácio: Nuno Magalhães (irmão)
título: Escritos de Fernando Magalhães - Volume VIII: 2000
editora: Lulu Publishing
nº de páginas: 630
isbn: none
data: 2017
PREFÁCIO (páginas 1 e 2 de 10 no total)
(por NUNO MAGALHÃES - irmão do FM)
Possamos
nós morrer
Como
na Primavera
As
flores da cerejeira
Puras
e brilhantes.
Escrever sobre um
escritor não é tarefa fácil.
Criticar um
crítico, tão-pouco.
Escrever sobre o
meu irmão é não só bem mais fácil, como uma honra, um prazer e simultaneamente
uma sentida homenagem, plena de recordações emocionais, como quem faz uma
viagem a um passado mais ou menos longínquo, aos meandros da nossa juventude.
Sob o risco de derramar
na prosa um misto de sentimentos, muito pessoais, vividos a uma velocidade vertiginosa
(“caricata”, como diria o Fernando) pauto estas minhas breves palavras por
aquele conceito que parece não ter tradução em mais nenhuma língua do mundo:
“SAUDADE” !
Para o público em
geral, falar de Fernando Magalhães é falar de um dos maiores críticos musicais
Portugueses de todos os tempos; para mim falar dele é falar de um dos meus
melhores amigos, de cumplicidade fraterna, de comunhão de ideais, de
entreajuda, de viagens, de surrealismo, de loucura e paródia (e também do nosso
Sporting…!).
Como homem, para
além do crítico, o Fernando era um mundo dentro de um outro mundo que talvez,
na época, não estivesse bem preparado para o receber. A sua permanente
inquietude e curiosidade, que o levavam a querer explorar novas vertentes que
pudessem abanar o status-quo cultural existente, o seu inconformismo e
tendência para o experimentalismo, a paixão que colocava em tudo o que fazia (a
par, é certo, de uma certa ingenuidade e candura intrínsecas), o amor pelas
artes, com especial incidência sobre a música, o seu sentido de humor cáustico
e subtil, faziam dele uma caixinha de surpresas, um “mastodonte intelectual”
como uma vez lhe chamei (e ele não se ofendeu!).
Quando se começou
a interessar pela música, com cerca de 13 – 14 anos já estava uns anos
adiantado em relação ao panorama musical da altura. Rapidamente se transformou
num pioneiro quando se lançou na pesquisa de novos estilos musicais bem como de
bandas até então desconhecidas em Portugal (curiosidade: o seu 1º LP foi o
álbum de estreia da banda britânica de rock Led Zeppelin. Foi gravado em
outubro de 1968 no Olympic Studios, em Londres, e lançado pela Atlantic Records
em 12 de janeiro de 1969.
Enquanto pessoa,
o Fernando nunca via maldade em nada. Era, como soi dizer-se, um “PURO”. Ou
gostava ou não gostava (La Palice não diria melhor). Ao longo das décadas em
que fez crítica musical sempre escreveu aquilo que sentia, com enorme
genuinidade, assertividade, domínio da expressão literária e “know how” sobre a
temática. Fazia-o com amor. Escrevia com o coração aquilo que lhe ia na alma (desculpem-me
o chavão) e nunca tentou agradar a Gregos e a Troianos !
Do rock, pop,
electrónica, fado ou folk, ao jazz, punk, soul ou heavy metal, para ele só existiam dois tipos
de música: A BOA e a MÁ !
Mas chega de
falar do Fernando, como crítico de música (já muito se escreveu sobre esta
matéria) e vamos lá revelar algumas das suas facetas, desconhecidas do grande
público.
Éramos 3 irmãos
(agora somos só dois) todos do sexo masculino. Dos 3 nenhum se livrou da pesada
herança genética deixada pelo nosso progenitor, vulgo pai, que “enfermava” de
um apurado sentido de humor, tocando,
por vezes, as raias da excentricidade. - Obrigado pai !
O nosso pai, com
a preciosa colaboração da nossa mãe, metódico como era, concebia um filho de 4
em 4 anos pelo que o Fernando nasceu em 1955, eu em 1959 e o meu irmão Eduardo
em 1963 (em Fevereiro, Março e Abril). De realçar que na altura não existiam
máquinas de calcular.
Após uma infância
mais ou menos normal (era tudo doido, lá em casa) e ainda durante o seu
percurso académico, o Fernando, por volta de 1968, com 13 anos, ouviu na rádio
um agrupamento que dava pelo nome de “The Beatles”, que tinham surgido em 1960,
quando ele tinha apenas 5 anos. Parece que gostou do que ouviu e no Natal
seguinte pediu ao Pai Natal que lhe desse um gira-discos. [...]
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