11.4.17

DN - Série: Discos Pe(r)didos (11)



DN - Diário de Notícias
30 Março 2002

Discos Pe(r)didos



Na recta final de 70 os Tantra eram um dos raros casos de sucesso no rarefeito panorama pop rock português. A estreia, com «Mistérios e Maravilhas» (1977), seguida de um inesperado triunfo no Coliseu dos Recreios, gerava um fenómeno que nascia nas esferas de um som sinfónico, com alguma contaminação progressiva, um pouco nos caminhos sugeridos pelo eixo Genesis / Yes. Seguiu-se, no ano seguinte, «Holocausto», disco que volta a gerar um caso de popularidade no circuito «roqueiro luso», com duas noites de triunfo no Coliseu. A estes espectáculos, nos quais surge já nas teclas Pedro Luís (em substituição de Armando Gama, que partira para formar os Sarabanda), segue-se inesperado silêncio de três anos. E o grupo, que havia assumido a ideia de um som rock cantado em português, vê-se então ultrapassado pela popularidade dos novos nomes que entram em cena. Manuel Cardoso, o vocalista e um dos fundadores dos Tantra, havia já assumido o seu alter-ego de Frodo...
Quando, em 1981, é editado o derradeiro álbum dos Tantra, «Humanoid Flesh» (no qual participa, no baixo, Pedro Ayres Magalhães), o fim do grupo está à vista, sobretudo dado o fracasso de um disco talvez incompreendido, que trocava as linguagens progressivas de 70 por uma aproximação às emergentes sugestões da new wave.
Manuel Cardoso toma então definitivamente o nome do seu alter-ego Frodo e parte em busca, não de respostas sobre um anel, mas para uma carreira a solo que nos deixou dois registos dignos de referência. Estreia-se com o single «Machos Latinos» (ainda em 1981), ao qual sucede o álbum «Noites de Lisboa», no qual se conhece, de certa forma, uma lógica de continuidade face a alguns elementos da música dos Tantra, nomeadamente o prazer pela elaboração dos fundos (um pouco ao jeito das normas sinfonistas), aqui, todavia, empregando regras de maior simplicidade ao nível dos recursos, sublinhando assim critérios de contemporaneidade, aceitando as marcas de um presente onde uma nova lógica electrónica encontrava o seu espaço no contexto da canção pop.
Ao seu lado, neste «Noites de Lisboa», encontramos alguns ex-Tantra, como Pedro Luís (que então dava também os primeiros passos com o seu projecto pessoal, os Da Vinci) e António José Almeida (o baterista que seguia, então, rumo próprio com os Heróis do Mar). António Emiliano (teclas) é outro dos convidados a desenhar retratos nocturnos de Lisboa com os quais Frodo propõe uma ideia de sofisticação pop que não se enquadrava nos padrões de um momento onde se descobriam ainda as adaptações lusitanas das normas do «fast and furious».
Nem muito «fast», nem muito «furious», mas enfim...
A capa do álbum, que reflecte uma ideia de identidade teatral e lembra, de longe, a figura do austríaco Falco (na altura na berra com «Der Komissar»), é um primeiro indício de um processo de autodeterminação de uma ideia pop que conduzia Frodo na alvorada de 80. A foto interior, onde junta a si os músicos, exibe uma noção de imagem apurada no sentido de uma sofisticação chique, quase neo-romântica, embora sem maquilhagem...
Musicalmente, sem se apresentar como um álbum revolucionário, «Noites de Lisboa» é um disco curioso e competente, bem mais interessante e representativo de uma proposta individual de rumo que muitos dos pastiches que o ano de 1982 vê nascer (e morrer) entre nós. Poucos meses volvidos sobre a edição deste seu álbum de estreia, Frodo edita um sucessor, no bizarro formato de duplo (álbum + máxi) «Zbaboo Dança», uma mais directa aposta na exploração de electrónicas, mas num recuo linguístico rumo ao inglês... E, como o anel, desapareceu em Mordor...
N.G.

FRODO 
«Noites de Lisboa» 
Vadeca, 1982
Lado A: «Vou Acordar No Paraíso», «Máquinas na Multidão», «Feitiço», «Labirinto»; 
Lado B: «Noites de Lisboa», «Manhãs Submersas», «Fado Louco», «Heróis da Noite» 
Produção: Frodo










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