18.4.17

DN - Série: Discos Pe(r)didos (15)



DN - Diário de Notícias
08 Junho 2002

Discos Pe(r)didos



Da revolução de 1980/81, quando na sequência dos êxitos de Rui Veloso, dos UHF, GNR, Trabalhadores do Comércio e Salada de Frutas se instituiu uma espécie de nova ordem de gostos e prioridades, colocando o novo pop/rock cantado em português na primeira linha dos objectivos, nasceu um verdadeiro cenário de explosão demográfica no panorama musical lusitano.
Grande parte das carreiras emergentes usavam o single como veículo de exposição ideal para as suas canções, raros sendo os casos de grupos e artistas que apostaram em primeiro lugar no formato de álbum. Rui Veloso, Táxi e Opinião Pública são raros casos de apostas no LP, dele nascendo, depois, os inevitáveis singles.
O clima de euforia colectiva que o meio pop/rock então vivia levou a que muitas pequenas editoras se aventurassem na edição de rock português. Afinal, nada mais que a aplicação (à nossa escala) de princípios que a revolução punk e a continuidade via new wave tinham impresso recentemente À bem nutrida indústria discográfica inglesa. Entre as pequenas editoras que então entram em cena destaca-se a Rotação, na qual o homem do leme era António Sérgio (já então um conhecido divulgador na rádio e com provas já prestadas na edição discográfica, nomeadamente como co-produtor, em 1979, de «Música Moderna», o álbum dos Corpo Diplomático, isto sem esquecer a «famosa» compilação «Punk Rock 77»).
A «bandeira» da Rotação era, naturalmente, a estreia discográfica dos Xutos & Pontapés, que ali editaram os dois primeiros singles «Sémen» (1981) e «Toca e Foge» (1982), bem como o álbum de estreia «78/81» (também em 1982). Perante o cenário de investimento que caracterizava todos os pólos de edição na altura, a Rotação avança pelo ano de 1982 com uma série de novos nomes: Mau Mau, com o single «Xangai», Tânger, com o single «Zé, Zé Ninguém», Manifesto com o single «Nuclear (À Beira Mar)». A estes juntam-se ainda os Malaposta e os Sub-Verso... Todavia, nenhum dos grupos da Rotação, à excepção dos Xutos & Pontapés, conhecem tamanha expectativa interna e alguns resultados concretos como os Opinião Pública, uma banda, de certa forma, «apadrinhada» pelos UHF.
No quarteto, constituído por Carlos Estreia (voz, guitarra), Pedro Lima (guitarra), Luís Fialho (baixo, teclas) e Carlos Baltasar (bateria), António Sérgio identificara um caso de possível complementaridade pop aos Xutos & Pontapés. A estreia faz-se com «Puto da Rua», canção que imediatamente chega à rádio e tira os Opinião Pública do anonimato e apresenta o álbum «No Sul da Europa», com o qual o grupo faz a sua estreia (encetando uma discografia que receberia depois, apenas, o single «Puto da Rua»).
Se nos Xutos & Pontapés António Sérgio «ousara» um lugar na produção, com os Opinião Pública cede a cadeira a António Manuel Ribeiro (dos UHF) e à própria banda. De som seguro e muito característico. Das estéticas da altura, «No Sul Da Europa» é um interessante (e quase esquecido) documento do rock português de inícios de 80, dividindo as canções entre momentos de puro prazer de uma pop lúdica (como «Ritmo de Vida» ou «Walkman», e alguns retratos de cenas do quotidiano urbano de então (de que são bons exemplos «Puto da Rua» e «Subúrbio»).
Apesar de coerente e significativamente mais interessante que grande parte dos demais estreantes seus contemporâneos, os Opinião Pública, tal como todo o restante catálogo da Rotação (à excepção dos Xutos & Pontapés), desapareceram entre as primeiras vítimas da crise de 1982/84, uma das mais «mortais» da história pop/rock cantada em português.
N.G.

OPINIÃO PÚBLICA
«No Sul da Europa»
LP Rotação
Lado A: «Ritmo de Vida», «Sem Destino», «Sul da Europa», «Puto da Rua», «Na Terra»;
Lado B: ««Walkman», «Cumprindo As Regras», «Duplo Controle», «Subúrbio»
Produção: António Manuel Ribeiro e Opinião Pública






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