DN - Diário de Notícias
11 Maio 2002
Tinham passado quase dez anos sobre o momento no qual os
GNR conheceram a sua segunda mudança de formação. Em finais de 1982, depois de
concluído e editado o fundamental e histórico «Independança» (ainda à espera de
reedição em CD, tal e qual o sucessor «Defeitos Especiais», de 1984), Vítor Rua
junta-se a Jorge Lima Barreto para concluir «CTU», o álbum de estreia dos Telectu,
o novo duo constituído por ambos, no qual se desenhavam rumos de fuga aos
passos pop/rock nos quais Vítor Rua circulara até então. Depois de editado o
álbum dos Telectu, Vítor Rua e Toli iniciam o trabalho de produção de «Anjo da
Guarda», o LP de estreia de António Variações, para a Valentim de Carvalho,
editora dos GNR e, até esse momento, também dos Telectu. Vítor Rua abandona o
trabalho no disco de Variações e parte para Nova Iorque. Ao regressar propõe
uma pausa nos GNR, o que não agrada aos restantes elementos do grupo. Decide,
então, afastar-se e seguir rumo próprio...
Apesar da separação, um diferendo oporá, durante anos,
Vítor Rua aos restantes elementos dos GNR. Um diferendo que parte da questão da
posse dos direitos do nome do grupo, que ficam pelo lado de Reininho, Toli e
Alexandre Soares. A 15 de Fevereiro de 1983, Vítor Rua escreve, no «Sete», um
texto no qual explica ser ele o proprietário do nome GNR e proíbe o grupo de
tocar ao vivo as composições que ele escrevera para a banda...
Um novo episódio deste complicado caso tem lugar quando
os GNR editam, em 1990, o duplo álbum ao vivo «In Vivo», gravado num concerto
na Alameda D. Afonso Henriques. O disco incluía «Hardcore (1º Escalão)»,
«Portugal na CEE» e «Sê Um GNR», todos eles interditados por Vítor Rua junto da
SPA. A primeira edição esgota, e é substituída por uma outra que passa a
incluir «Homens Temporariamente Sós»... A primeira edição é hoje uma peça
disputada no circuito de coleccionismo.
Um ano depois, num momento de pausa no trabalho dos
Telectu, Vítor Rua edita um disco através do projecto Vidya e um outro através
de um nome que gera nova polémica: Pós-GNR.
«Mimi Tão Pequena e Tão Suja», apresentado aos media numa
conferência de imprensa na sede da PolyGram, onde se voltou a levantar o velho
drama dos direitos de utilização do nome GNR, é um disco no qual Vítor Rua
procura um interessante reencontro com as linguagens pop/rock. Depois de quase
uma década de experimentação noutros territórios, o reencontro faz-se segundo
regras distintas das que os próprios GNR tomaram, procurando antes um
entendimento entre formas da cultura popular e elementos da invenção «livre»
característica de correntes de vanguarda, temáticas de decadência, da vida na
grande cidade... De certa forma, «Mimi Tão Pequena e Tão Suja» procura ser uma
herança, distante, das pistas deixads em aberto no álbum de estreia dos GNR,
reencontradas e encaradas por um músico que, entretanto, acumulara outros
hábitos e percursos. Esta ideia de continuidade é sublinhada por temas como
«Hardcore II» e «Independança II»... Curiosamente, não se encontram aqui marcas
notórias de descendência de «Avarias»...
Com alguns bons momentos em canções como «In The City» ou
«City Of Love», o álbum passa a Leste das atenções, não só do público mas
também de muitas estações de rádio. Exactamente o cenário oposto ao que
receberia, um ano depois, «Rock In Rio Douro», dos GNR.
Em 1996, cinco anos depois deste único álbum sob o nome
Pós-GNR, Vítor Rua surgia (assim como Alexandre Soares) na festa de lançamento
do «best of» dos GNR. Pazes feitas, conflito sarado. A música agradece.
N.G.
PÓS-GNR
«Mimi Tão Pequena e Tão Suja»
LP, PolyGram
Lado A:
«In The City», «City Of Love», «Very Speed Song», «Hardcore II», «Speak With Me
Please», «Nothing», «Independança II»;
Lado B: «Junkie Fly», «Wars Of Fights»,
«Scales Of Solos», «Strange Perception», «The Next Album...» Produção: Vítor Rua
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