7.4.17

DN - Série: Discos Pe(r)didos (8)


DN - Diário de Notícias

Discos Pe(r)didos


Lisboa, 1978. Os Tantra enchiam o Coliseu, José Cid apostava em «10 Mil Anos Depois Entre Vénus e Marte», os Petrus Castrus regressavam aos álbuns com «Ascensão e Queda»... O rock de alma sinfónica tentava borbulhar à superfície num tempo ainda dado a protagonismos nas esferas da intervenção política, suas sequelas e primeiras reacções opostas em domínios ligeiros...
Em espaços de ebulição no restrito circuito underground da capital, dois projectos encabeçaram então uma vaga de reacção ao sistema, assimilando a essência da revolução punk que varrera Londres em 76. São eles os Faíscas (de quem nasceriam os Corpo Diplomático), que acabam por não editar, e os Aqui d'El Rock.
Os Aqui d’EL Rock são uma banda nascida em filhos do proletariado urbano de 70, com uma crueza punk primordial no seu discurso, diferente dos Faíscas, filhos da classe média. A violência verbal é a arma primordial, e a seu favor pende ainda uma rodagem maior dos quatro elementos, em tempos conhecidos como Osíris, numa encarnação formal bem diferente. Com uma linguagem muito próxima das manifestações de raiz do punk londrino, os Aqui d’El Rock são o primeiro e, na absoluta verdade, o único grupo punk português a editar discos, já que os restantes praças do movimento que também chegaram ao registo discográfico o fizeram já em momentos das suas carreiras em que o punk havia já evoluído uma linguagem própria, ou no sentido da new wave (Corpo Diplomático) ou para um novo, e menos espartano, rock urbano, mais temperado (Xutos & Pontapés).
A estreia dos Aqui d’El Rock faz-se com o single «Há Que Violentar O Sistema», single que incluía «Quero Tudo» no lado B, duas canções que traduzem hoje a essência possível do punk português, fenómeno que viveu mais de boas intenções e desejos de mudança que de factos realmente consumados. A sua importância seria, sobretudo marcante ao nível da abertura de frestas na consciência de alguns divulgadores e editores, preparando, inconscientemente, o caminho para a revolução que assolaria o país musical em 1980.
Sem papas na língua e «speedados» (como se anunciam), desferem golpes no sistema, que violentam por uma música não sofisticada, directa. Todavia, estávamos em tempos de poucas atenções mediáticas por fenómenos corrosivos a um sistema que ensaiava uma ideia de democracia de facto, que só seria devidamente estabilizada (social e economicamente) depois. E excluindo timoneiros da divulgação como António Sérgio, a revolução punk ficou sem amplificação para o país real.
N.G.


AQUI D’EL ROCK 
«Há Que Violentar O Sistema» 
Metro-Som, single, 1978 
Lado A: «Há Que Violentar O Sistema»; 
Lado B: «Quero Tudo»








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