13.12.14

Livros sobre música que vale a pena ler (e que eu tenho, lol) - Cromo #51: Luís Cangueiro - "Instrumetos de Música Mecânica"


Autor: Luís Cangueiro
título: Instrumentos de Música Mecânica
editora: Quinta do Rei - Lazer e Cultura, Lda
nº de páginas: 131
isbn: 978-989-20-0751-9
data: 2009 - Novembro (2ª Edição)

sinopse: 

Breve História da Música Mecânica
Reza a lenda que cerca de 2000 a.C. um imperador chinês recebera uma pequena caixa, oferta de um súbdito seu. Quando o imperador abriu a caixa, conta-se que do seu interior saiu uma mensagem sonora.
No Séc. I da nossa era, Heron de Alexandria descrevia no seu "Tratado Pneumática", autómatos e fontes musicais realizados por gregos, romanos e árabes. Mas é na Idade Média que nascem os verdadeiros instrumentos de música mecânica com a invenção dos relógios de pesos, aos quais se junta por vezes, um carrilhão mecânico, accionado pela rotação de um grande cilindro provido de cunhas, e dispostas de forma a reproduzirem uma ou mais melodias através dos diversos sons dos respectivos sinos. Ainda existem exemplares destes em Bruges, Salzburgo e outras cidades do norte da Europa.
É no Séc. XVII que o escritor francês, conhecido por Cyrano de Bergerac descreve numa das suas obras uma complicada caixa que permitia "ler com as orelhas". É ainda neste século que o fabrico de instrumentos de música mecânica sofre um considerável incremento, graças ao impulso de Atanásio Kircher, autor da obra "Musurgia Universalis", impressa em Roma no ano de 1650: as rodas de pás animam os autómatos e fazem mover cilindros ponteados, tocando melodias em órgãos hidráulicos. Infelizmente, a maioria destes instrumentos perdeu-se ou não se encontram em funcionamento.
Instrumentos mecânicos de grande dimensão eram instalados ao ar livre, nos parques dos castelos ou de residências nobres, reservados às elites, e movidos pela força hidráulica da água caindo sobre rodas. Foi todavia a substituição dos pesos por molas que permitiu a miniaturização e o aperfeiçoamento dos carrilhões e dos órgão automáticos.
Augsburg, depois Paris, Londres e o Jura na Suiça, transformaram-se em importantes centros de produção.
Na segunda metade do Séc. XVIII, a burguesia apaixona-se por este tipo de música: instalam-se jogos de capainhas nos relógios de parede das casas, produzem-se órgãos, harpas mecânicas, constroem-se "pássaros cantores" e espectaculares autómatos musicais, tais como, a "tocadora de tímpanos" de Kintzing e Roentgen, executada em 1784 para Maria Antonieta. Relojoeiros prestigiados desta época, também fabricantes de verdadeiras obras de arte, exportam inclusivamente para a Índia e China.
Duas obras teórico-práticas "A tonotecnia ou arte de gravar os cilindros" publicada em 1775, pelo P.e Engramelle e a monumental "Arte do fabricante de órgãos" da autoria de D. François Bedos de Celles, representam a súmula dos conhecimentos da época sobre esta matéria, permitindo ainda realizar grandes progressos no fabrico de instrumentos de música mecânica.
No Séc. XVIII, inicia-se também a produção de órgão de "barbarie" e de serinetas, instrumentos destinados a um público mais modesto, para serem sobretudo ouvidos na rua.
O barão Kempelen constrói nesta época o "turco falante", um boneco que se movimentava e "falava".
Quando o mestre relojoeiro genebrino Antoine Favre (1734-1820) inventa, em 1796, um mecanismo de música utilizando lâminas vibrantes de metal, produzem-se principalmente na Suiça e em França, sobretudo a partir de meados do século XIX, dezenas de milhar de caixas de música com cilindro, de todos os tamanhos, e que são exportadas para todo o mundo. Instalam-se estes mecanismos musicais nos mais divresos objectos: autómatos, quadros-relógios, garrafas, caixas rectangulares e redondas, peanhas, cadeiras, isqueiros, álbuns de fotografias e muitos outros objectos.
Será necessário esperar que Paul Lochmann invente em 1886 o disco metálico, que vai permitir um maior volume sonoro do que o cilindro tradicional. Começam então a surgir estes novos instrumentos mecânicos de pequenas e grandes dimensões, produzidos por marcas conceituadas como Polyphon, Regina ou Symphonion entre outras. Rapidamente vão sendo adquiridos para tocar em casas particulares ou para animar os cafés, os salões de dança, os cabarets, etc.
O piano, graças à sua robusta mecânica e à sua potência sonora, está divulgadíssimo, do "bastringue" com o seu enorme cilindro em madeira, aos "orchestrions_", ornados de tambores, címablos, castanholas, xilofones, etc. Será justo reservar um lugar de relevo para os pianos pneumáticos, de pedais ou eléctricos, e também para as pianolas, produzidos a partir de finais do Séc. XIX, cujas melodias eram registadas em rolos de papel perfurado.
Neste período, surgem ainda os grandes órgãos de carrocel, de feira ou de baile, tendo ficado célebres alguns dos fabricantes, tais como Limonaire ou Gavioli.
Pelo que acabamos de expor, podemos considerar o Séc. XIX, o "século de oiro" dos instrumentos de música mecânica. Foram as invenções do cartão e do rolo de papel perfurado, que vieram permitir o seu fabrico em maior escala. Uma nova clientela, que na sua maioria não sabe tocar qualquer instrumento, começa a ter acesso fácil à música.
Entre a segunda metade do séc. XIX e os primeiros anos do séc. XX, a produção de instrumentos de música mecânica conheceu o seu auge, não só pela diversidade dos modelos fabricados, como também pela sua grande divulgação na Europa e na América. Espalharam-se rapidamente aos milhares por casas particulares, lugares públicos, ruas, cafés, salões de dança, cabarets, gares, restaurantes e outros locais.
Este extraordinário florescimento de invenções e de produção de instrumentos de música mecânica, foi sendo lentamente asfixiada pelo aparecimento do fonógrafo e do gramofone, sobretudo depois de 1900, e mais tarde pela telefonia, únicos meios capazes de reproduzir a voz humana.





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