30.6.17
Dead Can Dance - Dossier - "Na Terra Dos Sonhos"
DNMAIS
Sábado, / Junho 2003
DEAD CAN DANCE
Na Terra Dos Sonhos
O lançamento de um ‘best of’ convida a um reencontro com
a música dos Dead Can Dance, projecto de Brendan Perry e Lisa Gerrard que
marcou pela diferença o panorama alternativo dos anos 80 e vincou a identidade
de uma das vertentes do som da 4AD.
Nuno Galopim
É uma música nova ou uma amálgama de músicas antigas? É world music ou pop/rock? As
questões não são novas e, na verdade, recorrentes sempre que os Dead Can Dance
se apresentam na berlinda. Ao reencontrar a sua memória, através de uma
selecção de temas apresentados em Wake, um best of que nos convida a
(re)descobrir a aventura sem tempo nem fronteiras da música deste projecto que
nos revelou Brendan Perry e Lisa Gerrard, estas questões e memórias saudáveis
dos dias de ouro da 4AD regressam à ordem do dia.
Banda de referência do catálogo da editora independente
britânica 4AD, os Dead Can Dance definiram, disco após disco, um percurso entre
o antigo e o contemporâneo, doseando tonalidades e sabores renascentistas,
trovadorescos ou clássicos, juntando aromas mediterrânicos, africanos, do Leste
europeu, do médio oriente, da Ásia. Entre canções de forma mais tradicional e
uma requintada tecelagem de ambientes, a música oferece uma ideia de sonho sem
tempo nem lugar, de apelo suave aos sentidos... E decididamente difícil de
traduzir por palavras.
Começaram por ser um colectivo alargado, na clássica
tradição da banda pop/rock, mas ao segundo álbum era já uma dupla, repartindo
entre si as responsabilidades de composição e interpretação. Brendan Perry
sempre foi a voz herdeira da tradição pop/rock alternativa, entoando formas
concretas. Por seu lado, a Lisa Gerrard desde cedo coube o papel da libertação
dos espartilhos da arquitectura vocal pop/rock, trabalhando ao longo dos anos
um registo de vocalização decididamente pessoal que muito contribuiu para o
definir de uma identidade característica nos Dead Can Dance.
OS PRIMEIROS DIAS. Tanto Lisa Gerrard como Brendan Perry
têm ascendência anglo-irlandesa, remontando o encontro de ambos aos dias em que
viviam em Melbourne (Austrália), em 1980. Brendan revelava então sinais de
contaminação pela revolução punk que mudara a face da música no hemisfério
Norte poucos anos antes. Lisa, por seu lado, educada e crescida no melting pot
cultural de um bairro de emigrantes oriundos de regiões mediterrânicas,
mostrava já uma evidente predisposição para abraçar os sabores «exóticos» das
músicas desses muitos vizinhos... Curiosamente, depois de estabelecida uma
amizade e traçado um desejo de futuro na música, passaram ambos pela cozinha de
um restaurante libanês em Melbourne, no qual lavaram pratos a troco de um sonho
de partida para Londres. Assim foi. Fizeram as malas, e na bagagem traziam já
as primeiras canções. Mal imaginando que os aromas que traziam das vivências em
Melbourne vinham já nas entrelinhas das intenções musicais. Entre essas
primeiras composições encontrava-se já o hoje mítico Frontier, resultado de uma
sessão de trabalaho baseada na improvisação, que agora é incluído no
alinhamento de Wake.
NA CASA DE IVO. Os Dead Can Dance aterram em Londres em
1982, sem horizontes nem projectos concretos, mas donos de uma insistente
vontade em fazer a sua música. Esses primeiros dias não foram fáceis, vivendo
Lisa e Brendan do dinheiro do subsídio de desemprego, habitando um magro apartamento
num bloco na Isles of Dogs, a Leste de Londres e recebendo, uma após outra, as
recusas das mais diversas editoras...
Uma das cassetes foi deixada nos escritórios da
recentemente criada 4AD, uma operação paralela da editora Beggars Banquet,
formada para desenvolver emergente talento, e sob a direcção de Ivo Watts
Russel, um antigo discotecário. A editora, que tinha assegurado a estreia em
álbum dos Bauhaus e que era então «casa» de nomes como os Modern English e Dif
Juz, encontrou na proposta de Perry e Gerrard uma das suas pérolas, definindo
assim, em poucos anos, uma identidade muito peculiar de som e imagem, através
de uma mão cheia de edições dos p´roprios Dead Can Dance, Cocteau Twins e This
Mortal Coil, este último um projecto transversal às bandas da editora, reunindo
a colaboração de membros de vários grupos sob a batuta do «patrão» Ivo Watts
Russel.
Depois de um primeiro álbum menos característico, a
música dos Dead Can Dance mostra então, ao longo da segunda metade da década de
80, um percurso de evolução linguística, atingindo a definição clara de
identidade em Within The Realm Of A Dying Sun, e assinando as obras-primas da
sua discografia nos seguintes The
Serpent’s Egg e Aion. O grupo mostrava já ter-se liberto dos rumos mais
clássicos da tradição da canção pop/rock, optando antes por um labor centrado
nos discorrer de ambientes e cenários. Estas marcas de identidade contribuíram
rapidamente para o definir de uma admiração generalizada entre uma população
jovem de horizontes musicais mais exigentes, vincando assim um culto que
abraçou não só os Dead Can Dance, como também os restantes parceiros da «via
ambiental» da 4AD.
Em poucos anos os Dead Can Dance tornam-se num nome com
exposição global. Quando chegam ao circuito universitário norte-americano em
inícios de 90 trazem na mala os sons de Aion, que fazem das actuações ao vivo
um palco de encontro de fontes diferentes de som, permitindo o encontro dos
sintetizadores com instrumentos de outras geografias e outros tempos. É de
então que data o seu período de aposta mais evidente na estrada, assinando
diversas digressões (uma delas mais tarde registada num DVD agora
disponibilizado entre nós).
Tudo muda na vida dos Dead Can Dance quando, nos anos 90,
Brendan Perry se muda para uma residência na Irlanda rural e Lisa Gerrard se
instala numa casa de montanha na Austrália. O afastamento não impede a
continuação do trabalho, mas determina uma progressiva separação de tendências
e intenções que acabará por determinar o fim do grupo e a inevitável continuação
dos percursos individuais, em carreiras a solo. Lisa Gerrard, depois de
trabalhos nas bandas sonoras de O Informador, Gladiador e Ali, é hoje, mais que
Brendan Perry, dona de nova carreira em ascensão.
DVD
Dead Can
Dance
«Towards
The Within»
4AD/MVM
Concerto: ***
Extras: ***
Originalmente lançado em vídeo por alturas da edição do
álbum ao vivo com o mesmo título, este documentário sobre a digressão de 1993
cruza excertos de uma actuação no Mayfair Theatre em Santa Monica (Los Angeles,
EUA) com momentos de conversa com Brendan Perry e Lisa Gerrard. O alinhamento
live apresenta inúmeros inéditos, tal e qual a versão em disco. O melhor do DVD
está, contudo, nos cinco extras nele incluídos, nada mais nada menos que
videoclips, dois deles (The Host Of Seraphim e Yulunga) extraídos do filme
Baraka (de Ron Fricke), que contou com a contribuição dos Dead Can Dance na
respectiva banda sonora. O histórico Frontier e The Protagonist surgem em clips
rodados por Nigel Grieson, uma das almas da 23 Envelope, companhia de design
que definiu a imagem da 4AD.
Dead Can
Dance
«Wake»
4AD/MVM
****
O segundo best of dos Dead Can Dance propõe, num CD
duplo, um percurso de memórias captadas ao longo da discografia, não esquecendo
o registo ao vivo de 1994. Para os admiradores em busca de novidade, Wake
inclui o mítico Frontier, a primeira maquete dos Dead Can Dance, gravada ainda
em Melbourne.
DISCOGRAFIA
A discografia dos Dead Can Dance está integralmente
reeditada em CD pela 4AD (representada entre nós pela MVM). O ‘best of’ agora
editado pode perfeitamente servir de cartão de visita a quem não conhecer a
obra do grupo, assim como assegurar um bom retrato completo da sua obra para os
mais velhos fiéis de 80 e 90. Wake é, todavia, um primeiro passo num processo
de (re)descoberta que, para obter uma representação mais completa da obra
deverá, depois, passar por discos-chave como Within The Realm Of A Dying Sun,
The Serpent’s Egg e Aion, os melhore desta «safra». O álbum ao vivo de 1994 é
um bom retrato das artes do palco de um grupo que nunca chegou a actuar entre
nós (o DVD Towards The Within acrescenta depois o complemento directo visual).
Para carteiras mais recheadas, a caixa de 2001 oferece uma belíssima visão de
conjunto. Completar, depois, com os discos dos This Mortal Coil e, porque não,
um olhar atento pelo catálogo da 4AD (ver página 14 desta edição).
1984. «Dead Can Dance»
Mais «convencional», inclui o EP Garden Of Arcane
Delights na edição em CD.
1985. «Spleen And Ideal»
Começa aqui o percurso de definição da linguagem muito
peculiar do grupo.
1986.
«With The Realm Of A Dying Sun»
Lisa e Brendan dividem o disco ao meio e cada um canta
num dos lados.
1988. «The Serpent’s Egg»
Este é um dos dois discos obrigatórios do grupo, na
plenitude da sua linguagem.
1990. «Aion»
Dominado por referências renascentistas, outro episódio
fundamental.
1991. «A Passage In Time»
A primeira antologia, pensada para apresentar o grupo nos
EUA e Canadá.
1993. «Into Labyrinth»
O retomar do percurso, em forma, mas sem a mesma surpresa.
1994. «Towards The Within»
Disco ao vivo registado em Los Angeles durante a
digressão de 1993.
1996. «Spiritchaser»
Derradeiro registo de originais, muda azimutes, para o
hemisfério Sul.
2001.
«Dead Can Dance 1981-1998»
Caixa antológica com 3 CDs e o DVD de Towards The
Within».
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29.6.17
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24.6.17
Memorabilia - Bilhetes (5)

Confesso que já não sei quem participou nesta sessão, mas tenho umas vagas ideias: Flávio Com F De Folha ? M'as Foice ? Seres ? ... ?
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23.6.17
22.6.17
Memorabilia - Bilhetes (3)

Confeso que já não me lembro bem do que ouvi :-), mas tenho a certeza que este foi um dos concertos da minha vida. Este o que será referido no post seguinte
20.6.17
Memorabilia - Bilhetes (2)

Sonic Youth
(USA)
ao vivo no Campo Pequeno
14 de Julho de 1993
22.00 Horas
bilhete Nº 2153
Preço: 4.000$00
Bandas Suporte:
Lulu Blind (Portugal)
Tina And The Top Ten (Portugal)
Frente
Verso
Também estive neste, na (antiga - 1995) estação (ou ao lado) dos barcos do Cais do Sodré... só que era free, integrava-se nas Festas de Lisboa ou something like that... daí não ter bilhete :-)
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19.6.17
Electrónica - Anos 70 - Best of...

» As electrónicas circulam pela música desde a alvorada
do século 20. Das ondas Martenot às primeiras composições de nomes como Varèse,
Pierre Henry e, mais tarde, Stockhausen ou pioneiros de ‘bricolage’ analógica
como Raymond Scott, muitas bases foram definidas. Porém, só depois das
primeiras experiências de Moog (com Walter Carlos) a música popular descobriu
que tinha ali novos caminhos a desbravar...
» Tal como os Neu! Ou os Can, os Kraftwerk são ‘produto’
da cena ‘kraut-rock’ germânica. Contudo, foram eles a quebrar definitivamente
amarras com o formato rock. O homem emulou a máquina, a música seguiu-a.
Sábado 9 de Agosto de 2003
64 ELECTRÓNICA – ANOS 70
Com o regresso dos Kraftwerk aos discos, após 17 anos de
ausência, era quase imperativo recordar as primeiras aplicações das então
emergentes ferramentas electrónicas a um contexto mais ou menos próximo do
universo pop. Da música de Walter Carlos para um certo ‘Laranja Mecãnica’ a uns
Human League pré reinvenção ‘electro-pop’, aqui deixamos 10 inventores de um
determinado futuro.
1972.
Walter Carlos
«Music
From A Clockwork Orange»
Não se trata da famosa banda sonora da Laranja Mecânica
de Kubrick, mas antes a totalidade da música que o compositor então criou, da
qual o realizador seleccionou os fragmentos que o filme tornou famosos. Um
mergulho nos bastidores de uma genial peça de trabalho electrónico feito sob
regras absolutamente clássicas.
1973. Can
«Future Days»
Os álbuns anteriores, Tago Mago e Ege Bamyasi já
apontavam uma «fuga» em direcção a prolongadas planagens atmosféricas, marcadas
pela rigidez da marcação rítmica de Liebezeit e a liberdade introduzida por
teclados e sintetizadores. Future Days é a concretização desses sinais, um
prenúncio orgânico de futuro electrónico.
1974. Tangerine Dream
«Phaedra»
Disco característico de uma segunda etapa na vida do
grupo, na qual o experimentalismo cede a algum melodismo, naquele que ficou
como um claro manifesto de futurismo musical na Europa de meados de 70. Usa
efeitos de som, mas sem esconder algum piscar de olho a pontuais formulações
mais clássicas.
1975. Neu
«Neu75»
O kraut-rock regenerou o rock’n’roll pela sua
fragmentação. A motorika dos Neu é disso exemplo perfeito. Ritmos minimais,
space-rock nas guitarras, «cut’n’paste» de sons dispersos. A sua influência
chegou a toda a gente, de Bowie aos Kraftwerk, chegando ao pós-rock e à
electrónica da actualidade (tudo explicado em Neu 75).
1976. Vangelis
«Albedo 0.39»
Depois do flirt sinfónico no pomposo Heaven And Hell (que
muitos conheceram mais tarde como banda sonora de Cosmos, de Carl Sagan),
Vangelis apresenta um álbum de clara exploração de padrões e sequenciações que
define regras que serão padrão de muita da electropop que então brota por toda
a Europa.
1977. Jean Michel Jarre
«Oxygène»
Com preparação em estudos de electrónica e música
concreta desde finais de 60, Jean Michel Jarre edita o seu primeiro registo de
originais, do qual faz nascer um verdadeiro monumento conceptual com intençõe
spolíticas e sociais no retratar de um tempo (o que a possante capa logo
indicia). Um disco tão envolvente quanto glacial.
1977. David Bowie
«Low»
Primeiro álbum da chamada trilogia berlinense (registada
em conjunto com Brian Eno e que comporta ainda os discos Heroes e Lodger),
mostra como a linguagem rock se apropria das electrónicas, não só nas canções,
como sobretudo num lado B todo ele constituído por gélidos retratos
instrumentais da Berlim de então.
1978.
Brian Eno
«Music
For Films»
Um ano depois do sublime Before And After Science, este álbum
recolhe peças electrónicas gravadas entre 1975 e 78 para filmes imaginários,
lançando pistas para o futuro imediato de Eno. Basta dizer que o álbum que
sucedeu a este na sua discografia tinha por título Ambient 1: Music For
Airports. Diz tudo...
1978. Kraftwerk
«The Man Machine»
Depois dos princípios básicos definidos entre Autobahn
(1974) e Trans Europe Express (1976), os Kraftwerk chegam a 1978 com a ideia de
lançar um álbum electrónico todo ele feito de canções. Sem imaginarem, acabaram
por definir o futuro imediato da pop electrónica, que toma The Man Machine como
‘bíblia’ de referência.
1979. The Human League
«Reproduction»
Fruto directo das influências dos anos mais recentes, a
pop dos Human League reflecte um tom gélido, mecânico, quase catastrofista, que
muitos designam por «cold wave». Neste seu primeiro álbum juntam a essa
linguagem um sentido lúdico que Dare!, dois anos mais tarde, transformaria num
ícone de referência da electro pop.
18.6.17
Kraftwerk - Dossier - "Os Homens-Máquina"

DOSSIER
KRAFTWERK
OS HOMENS-MÁQUINA
17 anos depois de ‘Electric Cafe’, os Kraftwerk regressam
com um álbum que não esconde o tempo em que nasce mas que se mantém firme na
linguagem clássica do grupo. Não se procurem ‘modernices’ despropositadas nem
invenções para enganar a idade. Os mestres sabem que ainda o são.
Nuno Galopim
Como tão bem o poderiam ter dito os Xutos & Pontapés,
apesar de diametralmente opostos em termos musicais, longa se tornou a espera
por quem, ano após ano, aguardava por novidades do quarteto de Dusseldorf que,
como poucos grupos na história da música popular, é fonte de um raríssimo
sentido de unanimidade, sendo-lhes atribuída uma espécie de carga matricial de
tudo o que a pop herdou de electrónico nos últimos 30 anos...
Em 2000, quando anunciaram o regresso ao activo para
então nos darem a conhecer a canção-tema «oficial» que haviam composto para a
exposição universal de Berlim – que simplesmente intitularam Expo 2000 – muitos
pensaram que talvez estivesse para breve a concretização de um há muito
aguardado álbum de originais, o sucessor de Electric Cafe que data já de...
1985!
Mas não foi ainda dessa vez que o grupo de quatro
elementos (dos quais se mantém apenas dois membros da formação «clássica», Ralf
Hutter e Florian Schneider) abriu as portas do secretismo ao qual há muito
envolveu o seu estúdio Kling Klang, que durante parte dos anos 90 serviu o
árduo e lento processo de digitalização de todas as fontes de som analógicas
usadas na extensa discografia lançada entre os anos 70 e 80. De resto, em The
Mix, álbum de remisturas lançado em 1991 e no site oficial do grupo (em www.kraftwerk.com) são visíveis marcas
desse trabalho de transposição de velhas fontes de som para os novos suportes
digitais. Tudo isto sem «alterar» a alma «tradicional» do som Kraftwerk.
Muitos foram os que, ao longo dos últimos anos,
defenderam a tese de que haveria uma suposta ansiedade instalada entre os
Kraftwerk, que lhes fazia temer a edição de algo que não acabasse considerado
ao nível da excelência da obra anterior. E aqui basta ouvir uma vez o novo e
belíssimo Tour De France Soundtracks para entendermos que estamos perante uma
obra que não só exala imediatamente as marcas dos seus autores, como sabe estar
à altura tanto de reencontros com exigências antigas e com novos desafios, até
mesmo novos sons, sem abusar, como em The Mix, dos «excessos» das novas
linguagens rítmicas. Aliás, a reduzida presença de «modernices» rítmicas, em
favor de um certo classicismo (mesmo com algumas excepções), acaba por ser uma
das mais notáveis conquistas deste regresso finalmente concretizado.
Apesar do «receio» ou «não vontade» em apresentar
qualquer material novo ao longo dos anos 90, nada impediu o grupo de, mesmo
depois dos abandonos de Karl Bartos e Wolfgang Flur, encarar a hipótese de
enfrentar plateias, o que aconteceu não muitas, mas suficientes vezes, ora
devidamente documentadas (como no vídeo de campanha Stop Sellafield), ora
registadas nas memórias dos felizardos que assistiram aos concertos em eventos
como, entre outros, o Sónar, em Barcelona...
Há cerca de dois anos, num gesto inesperado que ninguém
então ligou ao que acabaria por ser o futuro próximo do grupo, reeditaram em CD
o histórico EP de 1983 Tour De France, disco que assinalava um reencontro com
uma já antiga paixão pela ideia de viagem e dos percursos (basta evocar
Autobahn, isto é, auto-estrada, ou Trans Europe Express, um comboio),
adicionando ao som um elemento espantosamente novo e, oops, humano. Tour De
France fala do esforço e camaradagem entre ciclistas e baseia a sua estrutura
rítmica no arfar de quem pedala. Isto é, a máquina ainda está por lá como
elemento protagonista, mas a fonte de som prioritária e mais evidente ao longo
de toda a canção acaba por nascer do corpo humano. Contradição face a ditos do
passado ou, antes, o definitivo reconhecer do papel uno entre o homem e a
máquina, antes mesmo das invasões do mundo por «terríveis» cyborgs.
Tour De France Soundtracks tem tudo para ser um novo e um
absolutamente «tradicional» álbum dos Kraftwerk. Como em momentos de Trans
Europe Express e, sobretudo, Computer World e Electric Cafe, o álbum dedica
parte do seu alinhamento a uma espécie de ciclo que se estende por várias
etapas, aí uma evidente dedicatória à Volta a França em Bicicleta. Depois de um
prólogo (Prologue) entramos numa sequência de três etapas, que terminam com um
contra-relógio (Chrono), com uma continuidade de registos e soluções mecânicas
que quase nos fazem sentir a memória conceptual de um Autobahn... Todas estas
peças são novas, pontualmente captando um registo do Tour de France original,
que se serve em versão revista e melhorada a fechar o álbum, qual epílogo.
Esta nova versão de Tour de France corresponde ao único
momento não «inédito» do álbum, já que, ao contrário do que chegou a circular
como primeira notícia, este é mesmo um álbum de originais. Além da suite
dedicada à centésima Volta a França em Bicicleta (e ao próprio vigésimo
aniversário do original Tour de France), o álbum mostra quão fiéis a si mesmos
continuam a ser os «mestres» de Dusseldorf. Apesar de serem evidentes novas
estruturas e maquinarias rítmicas, as fórmulas melodistas e o modo de usar as palavras
seguem velhas e sábias fórmulas «robóticas». Evitando a contaminação do que não
é seu, como sábios professores que sabem que certos alunos levaram a outros
níveis os seus ensinamentos, mas que não têm o direito de agora as reclamar
para si, evitam recorrer a fórmulas downtempo, trip hop, techno ou aos blips
and blops tão na moda. Ideias que geneticamente descendem em alguns casos de
velhas bíblias escritas nas caves secretas dos estúdios Kling Klang, mas que
têm agora vida própria. Tal como vida própria continua a ter a estimulante
música dos Kraftwerk. Escutando temas como Vitamin, Aero Dinamik ou Titanium
verificamos quão perto estamos de presenciar um presente que sabe ser tão agora
como a herança do antes. Já em Elektro Kardiogramm e na sua continuação, em
Regeneration, reencontramos um sentido de melodismo que evoca os dias pop de
Computer World, embora seja evidente que tecnologicamente o discurso verbal e
musical seja do século XXI. As «máquinas», afinal, sabem bem onde e quando
estão neste momento de regresso...
Escutado por diversas vezes, e ultrapassando o efeito
viciante que o disco desencadeia sobre qualquer grande admirador do grupo sem
receios de neles encontrar hoje uma banda 17 anos mais velha que a que fez
Electric Cafe mas que formalmente não se afastou muito do seu rigor
linguístico, Tour de France Soundtracks revela-se um disco que facilmente
podemos colocar entre os melódica e espiritualmente mais tranquilos do
quarteto. Não é a resposta nunca dada ao álbum Techno Pop, que incidentes
passados impediram que alguma vez visse a luz do dia (nesse sentido, o tom
espartano da contenção melodista de Electric Cafe talvez seja até o que de mais
próximo dessa ideia perdida hoje podemos evocar).
Figuras de importância matricial na construção de uma
linguagem que explica muita da música dos últimos 30 anos, com a coragem de
evitar o chinfrim visual e eléctrico tão em voga nos inícios de 70, os mestres
estão de volta. Em primeiro lugar merecem respeito. E, em segundo, que se lhes
escute um álbum sóbrio e coerente, linguisticamente claro, esteticamente firme
no desejo de não mudar o que «não tem» de ser mudado. Regras são regras. E se
há grupo que as crie e siga à risca, esse grupo são os Kraftwerk!
A Paixão Pelo Ciclismo
Fruto de um interesse do grupo pelo ciclismo, ‘Tour de
France’ surgiu em 1983. Um acidente de Hütter impediu que o projecto fosse,
depois, mais longe.
A enorme popularidade angariada pelo grupo desde os
sucessos de finais de 70 fez dos Kraftwerk um motivo de desejo pop com valor acrescentado
na alvorada de 80.Contudo, contra o excesso de curiosidade, a resposta natural
do grupo acontecia pelo silêncio, pela sucessiva recusa em dar entrevistas,
pela cada vez mais discreta exposição. A dada altura há quase um regime de
black out imposto pelos próprios a si mesmos, num desejo de paz procurando no
«mui» secreto refúgio dos estúdios Kling Klang. Um silêncio coincidente com a
chegada ao número um em Inglaterra de uma reedição (com capa à Computer World)
do já clássico The Model... O silêncio é rompido apenas em 1983, com a edição
de um novo single, Tour de France, e o anúncio de um álbum que supostamente se
seguiria, que chegou mesmo a ter número de série mas acabou por nunca ser nem
gravado nem editado...
Tour de France reflectia já um crescente interesse do
grupo pelo ciclismo, desporto que se tornará entretanto actividade regular
entre os elementos do colectivo, sobretudo depois de terminada a cansativa
digressão que se seguiu a Computer World.
Chegados a uma meia idade na qual muito desperta um
renovado interesse pela preservação do corpo, os Kraftwerk encontraram no
ciclismo um desporto, sobre o qual Ral Hütter já nutria há muito um claro
interesse.
Em pouco tempo a discussão sobre esta nova fonte de
interesse passou da racionalização à acção, com encontros regulares num dos
clubes velocipédicos da cidade. Não só trabalhavam o corpo como se mantinham
juntos e, ao ar livre, asseguravam uma fuga pontual à relativa claustrofobia
dos estúdios onde só eles e os mais próximos amigos tinham ordem para entrar.
Ao mesmo tempo a actividade desportiva em conjunto permitiu-lhes criar um
uniforme negro (da cor da noite, isto é, das suas horas normais de trabalho em
estúdio) que todos usavam por igual. Enfim, a filosofia «kraftwerkiana» em
acção velocipédica!
Do interesse à concepção de uma canção que o reflectisse
o passo foi rápido e natural. Depois de temáticas de alta tecnologia nos anos
70, e de um olhar sobre os computadores na alvorada de 80, era o corpo humano,
em diálogo com a máquina, a fonte central de reflexão a quatro. Mais ainda,
depois dos motores dos carros e comboios, depois da radioactividade e dos
mecanismos das máquinas de calcular, a ideia era a de celebrar os músculos
humanos, o esforço físico. Tudo isto corresponde ainda a um momento histórico
de escalada de um certo discurso ecologista, que leva os próprios membros dos
Kraftwerk a trocar os seus belos Mercedes por carrinhos mais económicos.
A canção, em 1983, foi pensada segundo o som da
respiração e do pedalar, sugerindo em pleno as intenções conceptualizadas.
Infelizmente, um gravíssimo acidente de bicicleta de
Hütter não só atrasou o single como comprometeu um álbum de conceito de que
certamente esta canção seria uma peça central. Justiça feita agora, 20 anos
depois.
DISCOGRAFIA
Para uma discografia representativa, álbuns como
‘Autobahn’, ‘Radio-Activity’, ‘trans Europe Express’, ‘The Man Machine’ e
‘Computer World’ serão os essenciais. Os restantes completam apenas uma
discografia fundamental.
1969. ‘Tone Foat’
Originalmente assinado como Organisation, é um espaço de
improvisação.
1970. ‘Kraftwerk’
A «verdadeira» estreia demonstra ainda um predomínio do
ensaísmo.
1971. ‘Kraftwerk 2’
Apesar da continuidade, em Kling Klang surgem saudáveis
pistas novas
1973. ‘Ralf & Florian’
Momento de quase ruptura com o passado e desvio para o
melodismo
1974. ‘Autobahn’
O primeiro clássico, com uma aproximação à ideia de
canção pop!
1975. ‘Radio-Activity’
Novo registo conceptual, insiste na procura da linguagem
da canção pop.
1977. ‘Trans Europe Express’
De grande importância histórica futura, definiu uma
linguagem europeia.
1978. ‘The Man Machine’
A obra-prima da pop electrónica é a base da música dos
últimos 25 anos.
1981. ‘Computer World’
Novo depoimento «conceptual», centra-se na relação com o
computador.
1986. ‘Electric Cafe’
Em vez do «abortado» Techno Pop, um disco minimalista e
experimental.
1991. ‘The Mix’
Uma revisão da matéria dada à luz das emergentes corrente
rítmicas.
1998. ‘The Best Of Kraftwerk’
Editado apenas no Japão, um simples apanhado de clássicos
para recordar.
1998. ‘Concert Classics’
Um dos dois discos live do grupo, esta ainda antes da
chegada de Bartos.
1999. ‘Autobahn Tour’
Gravado na mesma digressão, um documento da era anterior
à da «fama».
2000. ‘Expo 2000’
A canção oficial da Expo de Hannover surgiu em vários
EPs, com remisturas.
PARA LÁ DA DISCOGRAFIA
LEITURAS E CONSULTAS
LIVROS
Bussy,
Pascal: ‘Kraft-werk: Man Machine And Music’
S.A.F.
1993
Barr,
Tim: ‘Kraftwerk – From Düsseldorf To The Future (With Love)’, Telbury Press,
1998.
Flür,
Wolfgang: ‘Kraft-werk: I Was A Robot’, Sanctuary 2000
HOMENAGENS E TRIBUTOS
Uma banda com o peso histórico e matricial de uns
Kraftwerk só podia gerar uma série de compilações de tributo. O curioso é que,
além dos muitos tributos que existem no mercado, dois discos de autores
concretos lhes dedicam atenção protagonista. Um deles é ‘Possessed’, que o
Balanescu Quartet gravou em 1992, álbum sublime e referencial que assume uma
abordagem por um quarteto de cordas à música destes quatro alemães. Igualmente
‘estranha’ e diferente foi a homenagem de Senor Coconut em ‘El Baile Alemán’,
transformando as canções dos Kraftwerk em temas conduzidos por ritmos
latino-americanos. Além destes dois discos temáticos abundam no mercado os
álbuns-tributo aos Kraftwerk, do já histórico ‘Trans-Slovenia Express’ com
bandas balcânicas e todo um extenso rol de propostas oriundas dos mais diversos
cantos de actividade musical electrónica. Afinal, mestres são mestres e sabem
ter descendência!
SITE OFICIAL
Vale a pena espreitar, com tempo, o site oficial dos
Kraftwerk, em www.kraftwerk.com.
Seguindo uma lógica de interactividade, o site convida à «visita» a várias
canções que fizeram história, muitas delas permitindo ao visitante a hipótese
de criar as suas versões, quebrar esquemas rígidos, interferir. Podemos, por
exemplo, alterar as sequências de efeitos em ‘Boing Boom Tchak’, somar melodias
aleatórias em ‘Pocket Calculator’ ou fazer dançar os quatro robôs em ‘The
Robots’... O grafismo que acompanha cada canção respeita capas e motivos dos
originais.
N.G.
16.6.17
Um Pouco de Literatura - Poesia: Manuel de Freitas - "Os Infernos Artificiais" (off-topic)

Um «quase nada» no inferno
Mais um livro de poemas de Manuel de Freitas. Itinerário
povoado de memórias e de uma visão não celebratória da cidade
OS INFERNOS ARTIFICIAIS
Autor: Manuel de Freitas
Editora: Frenesi
Páginas: 100
Género: Poesia
Preço: 3000$00
Classificação ****
Ana Marques Gastão
Em Os Infernos Artificiais – segundo livro de Manuel de
Freitas – também crítico e ensaísta – existe um relacionamento com o real
(também com o lugar da cidade), que pode ser de mera observação, ou
demonstrativo de uma condição física ou existencial; e a procura de uma baudelairiana
flânerie quase impossível no contorno amargo da ironia.
Se existe, nestes poemas, o lado do transeunte que
vagueia pela cidade, atento ao seu cosntante mal-estar, neles não se encontra a
ideia de uma suspensão do real no ideal. No sórdido sabor das coisas e na
consciência lúcida de um «quase nada» e do «triste devir sobre nós já traçado»,
é flagrante a formulação de um quotidiano desapiedado: «Junto ao cais morrem os
homens, / as pedintes crianças usando caixinhas / onde a alegria não cabe. Morrem
/ - sem nunca terem visto a amurada chã / dos seus destinos, o nítido
desassossego / das aves que este ano nos trouxeram / a mais rigorosa e cortante
melancolia.»
No pendor deambulatório deste livro, revelador de modos
de estar num mundo de lixos, graffitis, urinóis, eléctricos, bilhetes-postais,
tabernas, bêbados, prostitutas, doentes de inferno e corpos nocturnos, Lisboa
revela-se ainda enquanto esboço de um cenário na «ausência de qualquer consolo
e na descrença do amor: «Talvez o amor / não exista, triste palavra sem lume lá
dentro.»
E se há algum resquício de aproximação a certa poesia
anglo-saxónica, por contraposição a cenários neo-românticos, em Os Infernos
Artificiais, Manuel de Freitas (n. 1972) remete-nos, ainda que parcelarmente,
para as Lisboas, de Armando Silva Carvalho, na sua não-celebratória visão da(s)
cidade(s) e na medida em que este livro constitui, também, uma forma de
itinerário pessoal povoado de memórias e de solidões que não perdoam. Embora
sem a deambulação em torno do Portugal histórico no lugar da Europa, nem uma
tão evidente sede de «turismo metafísico».
Não se pode, no entanto, dizer, como no caso do autor de
Canis Dei – ressalvadas as devidas distâncias -, que haja um antilirismo no
livro de Manuel de Freitas. Os abruptos vazios nos «interstícios da morte», o
«horror de haver mundo» «entre ruínas e novas ruínas», os austeros amores, o
rosto «sem estrofes de Benilde ao balcão», o acordar «mais perto da dor», o
«infindável folclore da agonia», «esta merda, / esta impossível vontade de
morrer» remetem-nos para um dolorido universo desabitado que não é senão a face
poética do tédio.
Manuel de Freitas vislumbra a morte por entre as palavras
– que denunciam aprofundada leitura de autores como Cesário, Álvaro de Campos,
Armando Silva Carvalho, Joaquim Manuel Magalhães e Al Berto. E usa-as, às
palavras, de uma forma bem mais descritiva do que narrativa, revisitando o
quotidiano, com sageza, bem como o corpo não-resolvido, mas por vezes, à luz de
um excessivo prosaismo.
Talvez Manuel de Freitas pudesse captar o ignóbil na
cidade e nas gentes com um contorno metafórico menos superficial e vulgar, como
neste caso: «Observo-a discretamente: gorda / e disforme sobre um sujo mar de
jornais / com folhas verdes dispersas e alguma areia / - para que mije muito e
cague muito mais.»
Até porque o poeta demonstra noutras passagens do livro,
ao agarrar material semelhante, essa capacidade: «É fácil defender a
felicidade. Fácil / como lamber uma latrina / ou fazer filhos entre escombros,
roendo / as unhas à morte. Mias fácil decerto / do que escrever um verso, / um
único verso que seja / - enquanto o bolor nos cresce nas mãos.»
Se os versos neste livro são uma espécie de «refúgio» - o
de se «ser exactamente ninguém» - para um cenário humano e urbano circundante,
a verdade é que anunciam também um ennui infiltrado nas pequenas coisas, no
lado repetitivo da vida captada nem que seja por esse «esgoto de luz onde a voz
se exilou». Mesmo no abjecto e destacando-se do tom «cálido» de muitos da sua
geração, Manuel de Freitas penetra no território dissonante do inferno, sem
pretender, nem na musicalidade, roubar á escrita qualquer espécie de redenção.
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14.6.17
Livros sobre música que vale a pena ler (e que eu tenho) - Cromo #67: Steve Freeman & Alan Freeman - "The Crack In The Cosmic Egg Encyclopedia Of Krautrock, Kosmische Musik & Other Progressive, Experimental & Electronic Musics From Germany"

OK, neste caso não é bem um livro mas sim a edição em CD-ROM do livro, já aqui listado.
Como versão digital que é, possui muito mais informação e outros conteúdos audiovisuais do que o livro, como é óbvio.
Uma compra que vale a pena.
Nesta data havia muito poucos exemplares disponíveis mas estava prevista uma reedição / actualização ainda para o decurso de 2017...
The
Crack In The Cosmic Egg
Encyclopedia
Of Krautrock, Kosmische Musik & Other Progressive, Experimental &
Electronic Musics From Germany
CD-Rom
edition
Cetificate
of ownership
Standard
issue, revised insert June 2011
Purchaser...
The
Crack In The Cosmic Egg
PC
CD-Rom
Special
features...
Simple
menu & icon system
Separate
articles pages for all artists
Rare
press & concert photos
Colour
pictures of album covers
Fully
functional index
No
special set-up or software installation needed, all you require is a
htmlbrowser!
ISBN
0-09529506-0-CDROM
O crescimento da música experimental na Alemanha desde os anos 60 não tem rival, a sua influência pode ser encontrada em todas as formas da música moderna, desde os trabalhos pioneiros de Eimert, Sala e Stockhausen, até às formas mais estranhas e inovadoras do rock, popularmente conhecidas como Krautrock, tornadas famosas pelos Amon Düül II, Can, Faust, Kraftwerk e Neu!, para além de dezenas de outros nomes menos conhecidos mas não menos importantes.
A riqueza desta era de finais dos anos 60, princípios dos anos 70, com novas formas de fusão, músicas do mundo e música cósmica anunciadas pelos Ash Ra Tempel, Klaus Schulze e Tangerine Dream, estão cheias de delícias inesperadas e surpresas agradáveis. Uma cornucópia (como uma dessas bandas alemães, inteligentemente, se denominou a si própria) de delícias, quase todas inovadoras e originais novas formas de música que começaram na Alemanha, e que não pararam de aparecer passados esses anos 70. Há muito mais para conhecer nesta história, tal como uma riqueza de música conhecida que é de audição essencial.
Mas isto é apenas a chamada ponta do proverbial iceberg. "The Crack In The Cosmic Egg" mergulha nas profundezas desta cana musica, de forma exaustiva neste CD-ROM. Ele é um guia essencial para todos os coleccionadores e aficionados. O CD-ROM agora apresentado é uma versão vastamente revista do livro publicado em 1996, com dez anos adicionais de trabalho de aprofundamento em todos recantos do Rock Alemão e outras músicas experimentais da cena musical desse país. Completado com milhares de imagens adicionais, um álbum compilação, montes e montes de apêndices como bónus, e carradas de características extra, secções dedicadas à Áustria, Suiça, antiga República Democrática Alemã (DDR), "Cuckoos & Scrambled Eggs" olha para esses estrangeiros relacionados com o Krautrock, análises especializadas ao Beat, avant-garde, Folk, New-Wave, Synth Music e outros géneros relacionados, etc., etc.
Tudo isto e mais, entregando-vos um mundo de informação ao alcance de um clique de rato. Coloque o disco no leitor de CDs do seu computador, abra a pasta correspondente a esse suporte e clique em run html - É mesmo fácil!
The rise
of experimental music in Germany since the 60’s is unrivalled, its influence
can be found in all forms of modern music, from the pioneering works of Eimert,
Sala and Stockhausen, onto the weird groundbreaking rock forms populary known
as Krautrock, as made famous by Amon Düül II, Can, Faust, Kraftwerk and Neu!, and
dozens of lesser-known but no-less important names.
The
richness of this late-1960’s and early-70’s era, with new forms of fusion,
world-musics, and kosmische musik heralded by Ash Ra Tempel, Klaus Schulze and
Tangerine Dream, is full of unexpected delights and surprises. A cornucopia (as
one German band wisely called themselves) of delights, almost every
groundbreaking new form of music started in Germany, and didn’t stop with the
1970’s. There’s much more to this story, as there’s a wealth of unknown music
that is essential listening.
But,
this is only the tip of the proverbial iceberg. “The Crack In The Cosmic Egg”
delves deep into this scene, exhaustively so with this CD-Rom edition. It’s the
essential guide for all collectors and aficionados.
This
CD-Rom is a vastly revised version of the book published in 1996, with an
additional ten years work delving into every nook and cranny of the German rock
and experimental music scenes. Complete with thousands of extra pictures, an
albums worth of music samples, loads and loads of bonus appendices, and lots of
other extra features, sections on Austria, Switzerland, the former DDR,
“Cuckoos & Scrambled Eggs” looking at those foreigners related to the
scene, specialised looks at the Beat, Avant-Garde, Folk, New-Wave, Synth Music
and other related genres, etc., etc.
All this
and more, giving you a world of info at the click of a mouse button. Just put
the disc, open your drive folder and click on run.html – it’s that easy!.
The
Crack In The Cosmic Egg
By Steve
Freeman & Alan Freeman
All
contents copyright 1996 & 2007.
Audion
Publications, P.O. Box 225, Leicester, LE2 1DX, England
www.ultimathulerecords.com
12.6.17
Livros Sobre O Post-Punk: "'Pós-Punk' Para Ler" - Artigo de Opinião -

DN-SONS
‘PÓS-PUNK’ PARA LER
Entre ensaios sobre o período 1978-84 e álbuns de
fotografias, este é um espaço da cultura pop em fervilhante actividade
editorial nos meios livreiros ingleses e norte-americanos.
No texto que agora apresenta no disco nascido do sucesso
do seu livro Rip It Up (And Start Again), o jornalista Simon Reynolds sublinha
que “estamos neste momento profundamente mergulhados num ressurgimento
pós-punk”. E acrescenta que “não há ainda sinais de travagem”, tal é “a
infindável procissão de novas bandas que procuram inspiração nessa era,
colidindo com bandas veteranas que se reuniram, uma maré de reedições,
compilações e antologias”. Quando, há um ano, o publicou, o fenómeno de concentração
de atenções de novas bandas e públicos no legado pós-punk era já visível. E foi
então sua a intenção de “mostrar a verdadeira diversidade” associada a este
fenómeno, que considera menos uma questão de género, mas antes todo um conjunto
de espaços e possibilidades que se abriram nos finais da década de 70.
Para Simon Reynolds, o punk “rejuvenesceu o rock, mas por
alturas do Verão de 1977 o movimento tinha-se transformado numa paródia de si
mesmo”. O livro explica, detalhada e claramente como bandas como a Joy
Division, Gang Of Four, Talking Heads, The Fall, Associates ou Cabaret
Voltaire, entraram em cena para cumprir a revolução incompleta lançada pelo
punk alguns anos antes. “experimentando as electrónicas e os ritmos maquinais,
adaptando ideias do dub, reggae e disco, tinham a certeza de que podiam
inventar um novo futuro para a música”, explica no livro.
“Num tempo de tensão e ameaças”, que aponta num
reaparecimento de figuras políticas de direita (nomeadamente Thatcher e
Reagan), as bandas pós-punk “tentaram construir uma cultura alternativa através
do nascimento de novas editoras independentes como a Rough Trade, Factory ou
SST e a proliferação de uma política do it yourself”. Como retrata no seu
livro, uma ideia de mudança constante morava entre os projectos desse tempo.
Fala de intermináveis inovações “brilhantes” não apenas na música, mas também
na escrita das letras, no desenvolvimento de novos conceitos performativos, nas
ideias de estilo e design. Este é o espírito que Reynolds identifica e projecta
como natural herança na nova pop de inícios de 80, em bandas como os Human
League, Adam Ant, ABC, Madness, Dexy’s Midnight Runners ou Frankie Goes To
Hollywood, “todas elas nascidas no punk, mas que a dada altura abraçaram um
sentido de glamour e o vídeo de forma a projectar as suas ideias no coração da
cultura mainstream”. O livro revela informação e reflexão, retrato exigente e
claro de um tempo que, mais de 25 anos depois, volta a estar na ordem do dia.
Como complemento nas leituras ao fundamental livro de
Simon Reynolds podemos ler um A a Z, sistematizando, não só o pós-punk, como o
próprio punk em Up Yours!: A Guide to UK Punk, New Wave and Early Post Punk, de
Vernon Joyson (Borderline Productions). Igualmente sistematizado, Post-Punk
Diary (1980-82), de George Gimarc (Saint Martin’s Press), propõe um diário dos
acontecimentos, citando 900 bandas e três mil gravações (com um CD como
complemento à leitura).
A lista de livros sobre este período é vasta, podendo uma
pesquisa mais profunda pedir leituras sobre o punk britânico em England’s
Dreaming, de John Savage (Faber & Faber) ou o punk nova-iorquino em From
the Velvets to the Voidoids: A Pre-punk History for the Post-punk World, de
Clinton Heylin (em edições pela Helter Skelter e pela Penguin Books). Um
retrato do punk em declarações na primeira pessoa lê-se em Please Kill Me, de
Legs McNeil e Gillian McCain (Penguin Books).
Para o documentários visual deste período dois livros
podem merecer algum destaque, ambos disponíveis em lojas online. Um deles, Made
In The Uk: The Music Of Attitude, 1977-83 (Powerhouse Cultural Entertainment
Books), reúne uma série de fotos de Janette Beckman que, em 132 páginas, documentam
factos e rostos dos dias do punk e os que se lhe seguiram, abarcando diversas
culturas pós-punk em solo inglês sem esquecer o movimento 2-Tone, os novos mods
e os skinheads. Essencialmente centrado na cultura neo-romântica, Duran Duran
Unseen é, apesar do que o título possa sugerir, um magnífico retrato da cultura
nocturna (e seus protagonistas) na Birmingham de finais de 70, através de fotos
de Paul Edmond, sob design de Malcolm Marrett e Kaspar de Graaff.
NG
George
Gimarc
Post
Punk Diary, 1980-1982
Saint
Martin’s Press
374
páginas
Vernon
Joynson
Up
Yours! – A Guide To UK Punk...
Borderline
Productions
450
páginas
Paul
Edmond
Duran
Duran: Unseen
Reynolds & Hearn
144 páginas
THE FACE
A “Bíblia Da Moda” Dos Anos 80
Sem Internet, a propagação das boas novas que as
descendências do punk projectavam na música e periferias (leia-se, sobretudo, o
mundo da moda) fez-se através da publicações especializadas. E nenhuma serviu
tão bem os primeiros anos da década de 80 como a revista mensal The Face,
(1980-2004), valor acrescentado ao jornalismo musical sobre o fenómeno pós-punk
que, desde o seu aparecimento em1978, se lia nas páginas dos há muito extintos
semanários Melody Maker e The Sounds, e do ainda sobrevivente (mas
descaracterizado) New Musical Express.
A The Face surgiu em Maio de 1980, sob o comando de Nick
Logan, um antigo editor do NME nos anos 70 que, pouco tempo antes, criara a
mais juvenil Smash Hits. Com um design revolucionário (durante os primeiros
anos a cargo de Neville Broudie) e uma divisão de atenções entre a música, a
moda, uma ideia discreta de club culture (ainda na sua proto-história) e
espaços de cultura alternativa em geral, rapidamente conquistou leitores, em pouco
tempo carinhosamente rotulada como a “bíblia da moda dos anos 80”.
O número um deu capa aos Specials, o segundo entrevistava
Paul Weller (então nos The Jam), o terceiro assinalava a morte de Ian Curtis.
No sexto revelavam-se os Spandau Ballet e, um mês depois, olhava-se
cautelosamente para o emergente movimento neo-romântico, então apresentado como
“o culto sem nome”... Vivienne Westwood, Bow Wow Wow, Ultravox, Human League, a
implantação do teledisco, Julian Cope, Yazoo ou Haircut 100, Smiths ou a fotografia
de Bruce Webber, entre muitos, passaram pelas páginas da Face nos seus
primeiros anos de vida, quando não tinha rival à altura, estatuto que perdeu na
segunda metade da década.
NG
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Face (The),
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Nuno Galopim,
Paul Edmond,
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Simon Reynolds,
The Face,
Vernon Joynson
2.6.17
Livros sobre música que vale a pena ler (e que eu tenho) - Cromo #66: Frank Zappa (with Peter Occhiogrosso) - "The Real Frank Zappa Book"

autor: Frank Zappa (with Peter Occhiogrosso)
título: The Real Frank Zappa Book
editora: Simon & Schuster (A Touchstone Book)
país: USA
nº de páginas: 352
isbn: 978-0-671-70572-5
data: 1999
esta é a primeira edição da Touchstone para este livro.
copyright - 1989 by Frank Zappa
título: The Real Frank Zappa Book
editora: Simon & Schuster (A Touchstone Book)
país: USA
nº de páginas: 352
isbn: 978-0-671-70572-5
data: 1999
esta é a primeira edição da Touchstone para este livro.
copyright - 1989 by Frank Zappa
INTRODUÇÃO
Livro?
Que Livro?
Eu não quero escrever um livro, mas vou fazê-lo mesmo,
porque o Peter Occhiogrosso me vai ajudar. Ele é um escritor. Ele gosta de
livros – e até os lê. Penso que é bom que os livros ainda continuem a existir,
mas, a mim, fazem-me sono.
O modo como iremos trabalhar é o seguinte: O Peter vem
até à Califórnia e passará aqui algumas semanas a gravar as minhas respostas a
“perguntas fascinantes”, depois as fitas magnéticas serão transcritas, o Peter
edita-as, coloca-as em diskettes, envia-mas, eu edito-as de novo, e o resultado
é enviado para An Patty da Poseidon Press, e ela tratará das coisas de forma a
que tudo passe a ser ‘UM LIVRO.’
Uma das razões para ter este trabalho todo é a
proliferação de livros estúpidos (em diversas línguas) que supostamente são
Acerca de Mim. Pensei então que deveria haver pelo menos UM, algures, que
tivesse impresso coisas verdadeiras, tal qual elas realmente se passaram. Por
favor tenham em atenção que este livro não pretende ser uma espécie de história
oral ‘completa’. Ele é editado simplesmente para consumo e entretenimento
apenas.
ENTÃO, ALGUMAS NOTAS PRELIMINARES:
[1] Uma autobiografia é habitualmente escrita que pensa
que a sua vida é extraordinariamente espectacular / fantástica. Eu não penso a minha vida como
fantástica em qualquer sentido que se considere – contudo, a oportunidade de
dizer coisas em letra impressa acerca de assuntos tangenciais é apelativa.
[2] Documentos e/ou transcrições serão assinalados como
tal.
[3] Os epigramas no início dos capítulos (os editores
adoram estas pequenas coisas) foram pesquisadas e inseridas pelo Peter –
menciono este facto porque não quero que alguém fique a pensar que eu me sento
por aí a ler Flaubert, Twitchell e Shakespeare durante o dia todo.
[4] Se o seu nome consta no livro e não pretendia que
isso acontecesse (ou não goste dos mesu comentários) – as minhas desculpas.
[5] Se o seu nome não consta no livro e você se sente
‘deixado de lado’ – as minhas desculpas.
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