22.2.12

Zeuhl - Parte 3 - O Legado (sub-parte 1/5)


Zeuhl – Parte 3 – O Legado

Importante: como o Zeuhl é um conceito muito abstracto, e de forma alguma uma das categorias mais fáceis de definir, recomendamos vivamente que antes de ler o presente artigo, leia os dois artigos precedentes sobre este assunto. Então, depois, tudo fará muito mais sentido.

Habitualmente associamos um estilo musical com uma moda, e frequentemente na história, com a herança musical e cultural de um país, ou, de forma mais óbvia, apenas com a sua linguagem. Mas, nenhum destes é o caso do Zeuhl. É um género que é vazio de referências culturais. Aconteceu mais por acidente do que por outra razão, devido à experimentação, e o mergulho de músicos únicos (todos juntos) que fizeram emergir algo de completamente novo. Pode parecer bizarro (e improvável), mas é possível criar algo novo que não é identificável com um país, apesar de isso ser o menos bizarro com o Zeuhl, onde a linguagem e influências por detrás do género musical são completamente alienígenas da cultura nacional. o Zeuhl, apontando para os seus pioneiros Magma e todos os seus projectos paralelos e derivados, tornou-se um idioma musical novo, identificável como, mas não tipicamente, Francês. Claro, como é sempre o caso, ninguém na França percebeu que este movimento existia sequer, até que um jornalista lhe deu um nome.
O resultado de abrir as portas a uma nova forma de expressão, fez surgir um enorme lote de bandas novas que tentaram levar o género cada vez mais além. Algumas limitavam-se a copiar os seus mentores, outras tomavam a iniciativa de explorar novas vias, aprofundando o conceito do Zeuhl, abarcando uma mais vasta gama de músicas. As margens do género foram sempre muito móveis, partindo do rock e jazz mais convencionais, misturados com o (também difícil de definir) rock de câmara, o RIO, como explorado por exemplo pelos Art Zoyd ou Univers Zero. Mas isso é outra história. Neste artigo tentaremos dar uma perspectiva, alargada a 33 bandas francesas e artistas que bordejaram o género.

Abus Dangereux

Na margem do Zeuhl, esta banda jazz-rock (depois conhecida apenas por Abus), liderada pelo guitarrista Pierre Jean Gaucher, pegou no som funky dos Magma do final dos anos 70 e misturou-o com o som típico do jazz de fusão francês. A música dos Abus Dangereux será mais apelativa aos apreciadores de jazz do que aos que preferem sons mais experimentais e progressivos.
LE QUATRIÈME MOUVEMENT (LP: AJ Records 3021) 12/79 1980
BIS (LP: Eleanore EL 31482) 2/82 1982
HAPPY FRENCH BAND (LP: Metro JB 105) 9-10/83 1983
LIVE (LP: Metro JB 106) 1985
JAZZ ‘N’ ROLL (LP/CD: Metro JB 107) 1986
Pierre Jean Gaucher (guitarras), Eric Bono (pianos, sintetizadores), Laurent Kzrewina (saxofones), Alain Mourey (bateria), Pascal Gaillard (baixo), Sylvie Voise (voz), Caitriona Walsia (voz), Dan Ken (pandeireta), Armaud Jarlan (percussão), Nigel Warren Green (violoncelo).


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Altais

Dos grupos mais tardios do Zeuhl, eles foram, em contrapartida, dos que mais captaram a atenção internacional na altura. Isso passou-se, obviamente, devido ao seu EP, que era uma derivação muito sobreposta dos Magma, utilizando vocalizações indistinguíveis no género, e fortemente baseado no baixo e na bateria. A sua originalidade principal era a utilização dos sintetizadores duais, ultrapassando assim os Eskaton, e uma pitada de agressividade post-punk. Um ponto engraçado é que algumas das vocalizações (feitas na sua própria linguagem) conseguem soar realmente engraçadas nos ouvidos de outras nacionalidades!
Altais/Promenade.../Gravitation Zero (12” EP: Altais 1021) 1986
Sandrine Fugère (voz), Philippe Goudier (voz, percussão), Patrick Joliot (bateria, percussão), Isabelle Nuffer (voz, piano, sintetizador), Michelle Puttland (sintetizador), Jean-Marie Sadot (baixo)


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Michel Altmeyer & Troll

Existindo desde os inícios dos anos 70, os Troll permaneceram muito como uma banda de “circuito secundário” ao longo da sua história, apesar de poderem ser considerados como influentes e seminais. O seu álbum original é bastante obscuro, mas nessa altura eles contavam com os préstimos do guitarrista Jean-Pascal Boffo, muito inspirado na música dos Genesis, de modo que não o podemos considerar como Zeuhl. As únicas gravações dos Troll com as quais contactei são de encarnações posteriores da banda. Ao longo dos anos existiram várias versões dos Troll, muitas das quais contando com a inclusão de músicos da família Magma. Mas apenas Michel permaneceu como elemento da banda original, e assim o álbum editado pela Musea foi posto à venda sob o seu nome.
TROLL (LP) 19??
TROLL, VOL. 2 (LP: Musea FGBG 2010) 11/86+12/87 1988
Michel Altmayer (bateria, teclados, vozes, baixo), + Bernard Paganotti, Francis Moze, Stella Vander, Guy Khalifa, Klaus Blasquiz (todos dos Magma), Yvon and Alain Guillard (ex-Weidorje), e outros.


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Archaia

Apesar de vívidos fans dos Magma, surpreendentemente, os Archaia nem sempre praticavam o som Zeuhl de per si, pois possuíam inúmeras outras influências, e uma grande capacidade e vontade de serem originais. Integravam os cantos e os elementos rítmicos como base (similarmente a uma das bandas inglesas da época, os Metabolist), mas misturavam isso com toda a espécie de ideias extravagantes. Usavam a electrónica como os Heldon, Zed, Arachnoid ou Eskaton. O seu álbum auto-produzido constituiu-se como uma obrigatoriedade para os fans do género Zeuhl menos ortodoxos.
ARACHAIA (LP: Archaia 77.976) 8/77 1977 (CD: Soleil Zeuhl 01) «3 faixas de bonus» 1998
Pierrick Le Bras (guitarra, teclados, voz), Michel Munier (baixo), Philippe Bersan (voz, teclados, percussão).


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Bedjabetch

Os Bedjabetch tocavam ao vivo um rock instrumental de pendor jazzístico com um estilo único, com alguma pitada de ZAO, e elementos mais típicos de space-prog francês (isto é, Gong, Clearlight, Nei, etc.) comparável ao trabalho a solo de Joel Drugenot.
SUBREPTICEMENT (LP: AWA BB 006) 1979


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Serge Bringolf & Strave

Reputadamente envolvido, a certa altura, com os Magma (apesar de não ter evidências que suportem isso), o baterista Bringolf foi inspirado musicalmente tanto pelo clássico (finais dos anos 60 / inícios dos 70s) Miles Davis. O toque metálico do jazz do seu álbum duplo de estreia era, obviamente, uma dedicação aos Magma, apesar da sua focagem e elementos de funk dos finais dos 70s o tornarem diferente. Sempre a melhorar, a cada novo álbum, o som de Strave desenvolveu-se. Isto deveu-se, em parte, devido ao guitarrista Alain Eckert (também dos Art Zoyd) e a um som rock mais robusto. Todas as suas edições são muito obscuras.
STRAVE (2LP: Omega Studio OM 67016) 1980
VISION (LP: Omega Studio OM 67028) 7/81 1981
AGBOVILLE (LP: Omega Studio OM 67044) 1983
LIVE (LP: RBO R 1.383 D) 26/3/82 1983
Sege Bringolf (bateria), Philippe Geiis (sax), D. Petithory (trompete), B. Eck (tuba), Alain Eckert (guitarra), Claude Boussard (baixo), Mano Kuhn (voz), Alain Lecointe (baixo), Emmanuel Séjourné (pandeireta), Francis Bourrec (sax), Thierry Eckert (baixo), etc.


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André Ceccarelli


Um músico jazz-funk que flirtou com os estilismos Zeuhl nos finais dos anos 70, tendo sido também músico convidado de muitas bandas que se moviam nas fronteiras da música de inspiração Zeuhl. Também é muito conhecido como músico de sessão.

Clystere

Não estritamente Zeuhl, mas relacionado, os Clystere foram uma banda livre, um duo formado por um guitarrista e um baixista, que ultrapassaram as criações esquisitas de Jannick Top, e que se relacionaram com os Shub Niggurath e os Sleaze Art.
DAEMONI, ETIAM VERA DICENTI; NON EST CREDENUM (MC: Clystere) 1987
Frank W. Fromy (guitarra), Kaspar T. Toeplitz (baixo)

Dün

Tão Zeuhl como de outro tipo de fusões, os Dün agradaram, todavia, a muita gente dentro do género.
EROS: (LP: Sabathé SAB 001) 1981 (CD: Soleil Atreides 03) «4 bonus tracks» 2000
Laurent Bertaud (bateria), Jean Geeraerts (guitarras), Bruno Sabathé (piano, sintetizador), Pascal Vandenbulke (flautas), Alain Termol (percussão), Thierry Tranchant (baixo)


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