DN-SONS
‘PÓS-PUNK’ PARA LER
Entre ensaios sobre o período 1978-84 e álbuns de
fotografias, este é um espaço da cultura pop em fervilhante actividade
editorial nos meios livreiros ingleses e norte-americanos.
No texto que agora apresenta no disco nascido do sucesso
do seu livro Rip It Up (And Start Again), o jornalista Simon Reynolds sublinha
que “estamos neste momento profundamente mergulhados num ressurgimento
pós-punk”. E acrescenta que “não há ainda sinais de travagem”, tal é “a
infindável procissão de novas bandas que procuram inspiração nessa era,
colidindo com bandas veteranas que se reuniram, uma maré de reedições,
compilações e antologias”. Quando, há um ano, o publicou, o fenómeno de concentração
de atenções de novas bandas e públicos no legado pós-punk era já visível. E foi
então sua a intenção de “mostrar a verdadeira diversidade” associada a este
fenómeno, que considera menos uma questão de género, mas antes todo um conjunto
de espaços e possibilidades que se abriram nos finais da década de 70.
Para Simon Reynolds, o punk “rejuvenesceu o rock, mas por
alturas do Verão de 1977 o movimento tinha-se transformado numa paródia de si
mesmo”. O livro explica, detalhada e claramente como bandas como a Joy
Division, Gang Of Four, Talking Heads, The Fall, Associates ou Cabaret
Voltaire, entraram em cena para cumprir a revolução incompleta lançada pelo
punk alguns anos antes. “experimentando as electrónicas e os ritmos maquinais,
adaptando ideias do dub, reggae e disco, tinham a certeza de que podiam
inventar um novo futuro para a música”, explica no livro.
“Num tempo de tensão e ameaças”, que aponta num
reaparecimento de figuras políticas de direita (nomeadamente Thatcher e
Reagan), as bandas pós-punk “tentaram construir uma cultura alternativa através
do nascimento de novas editoras independentes como a Rough Trade, Factory ou
SST e a proliferação de uma política do it yourself”. Como retrata no seu
livro, uma ideia de mudança constante morava entre os projectos desse tempo.
Fala de intermináveis inovações “brilhantes” não apenas na música, mas também
na escrita das letras, no desenvolvimento de novos conceitos performativos, nas
ideias de estilo e design. Este é o espírito que Reynolds identifica e projecta
como natural herança na nova pop de inícios de 80, em bandas como os Human
League, Adam Ant, ABC, Madness, Dexy’s Midnight Runners ou Frankie Goes To
Hollywood, “todas elas nascidas no punk, mas que a dada altura abraçaram um
sentido de glamour e o vídeo de forma a projectar as suas ideias no coração da
cultura mainstream”. O livro revela informação e reflexão, retrato exigente e
claro de um tempo que, mais de 25 anos depois, volta a estar na ordem do dia.
Como complemento nas leituras ao fundamental livro de
Simon Reynolds podemos ler um A a Z, sistematizando, não só o pós-punk, como o
próprio punk em Up Yours!: A Guide to UK Punk, New Wave and Early Post Punk, de
Vernon Joyson (Borderline Productions). Igualmente sistematizado, Post-Punk
Diary (1980-82), de George Gimarc (Saint Martin’s Press), propõe um diário dos
acontecimentos, citando 900 bandas e três mil gravações (com um CD como
complemento à leitura).
A lista de livros sobre este período é vasta, podendo uma
pesquisa mais profunda pedir leituras sobre o punk britânico em England’s
Dreaming, de John Savage (Faber & Faber) ou o punk nova-iorquino em From
the Velvets to the Voidoids: A Pre-punk History for the Post-punk World, de
Clinton Heylin (em edições pela Helter Skelter e pela Penguin Books). Um
retrato do punk em declarações na primeira pessoa lê-se em Please Kill Me, de
Legs McNeil e Gillian McCain (Penguin Books).
Para o documentários visual deste período dois livros
podem merecer algum destaque, ambos disponíveis em lojas online. Um deles, Made
In The Uk: The Music Of Attitude, 1977-83 (Powerhouse Cultural Entertainment
Books), reúne uma série de fotos de Janette Beckman que, em 132 páginas, documentam
factos e rostos dos dias do punk e os que se lhe seguiram, abarcando diversas
culturas pós-punk em solo inglês sem esquecer o movimento 2-Tone, os novos mods
e os skinheads. Essencialmente centrado na cultura neo-romântica, Duran Duran
Unseen é, apesar do que o título possa sugerir, um magnífico retrato da cultura
nocturna (e seus protagonistas) na Birmingham de finais de 70, através de fotos
de Paul Edmond, sob design de Malcolm Marrett e Kaspar de Graaff.
NG
George
Gimarc
Post
Punk Diary, 1980-1982
Saint
Martin’s Press
374
páginas
Vernon
Joynson
Up
Yours! – A Guide To UK Punk...
Borderline
Productions
450
páginas
Paul
Edmond
Duran
Duran: Unseen
Reynolds & Hearn
144 páginas
THE FACE
A “Bíblia Da Moda” Dos Anos 80
Sem Internet, a propagação das boas novas que as
descendências do punk projectavam na música e periferias (leia-se, sobretudo, o
mundo da moda) fez-se através da publicações especializadas. E nenhuma serviu
tão bem os primeiros anos da década de 80 como a revista mensal The Face,
(1980-2004), valor acrescentado ao jornalismo musical sobre o fenómeno pós-punk
que, desde o seu aparecimento em1978, se lia nas páginas dos há muito extintos
semanários Melody Maker e The Sounds, e do ainda sobrevivente (mas
descaracterizado) New Musical Express.
A The Face surgiu em Maio de 1980, sob o comando de Nick
Logan, um antigo editor do NME nos anos 70 que, pouco tempo antes, criara a
mais juvenil Smash Hits. Com um design revolucionário (durante os primeiros
anos a cargo de Neville Broudie) e uma divisão de atenções entre a música, a
moda, uma ideia discreta de club culture (ainda na sua proto-história) e
espaços de cultura alternativa em geral, rapidamente conquistou leitores, em pouco
tempo carinhosamente rotulada como a “bíblia da moda dos anos 80”.
O número um deu capa aos Specials, o segundo entrevistava
Paul Weller (então nos The Jam), o terceiro assinalava a morte de Ian Curtis.
No sexto revelavam-se os Spandau Ballet e, um mês depois, olhava-se
cautelosamente para o emergente movimento neo-romântico, então apresentado como
“o culto sem nome”... Vivienne Westwood, Bow Wow Wow, Ultravox, Human League, a
implantação do teledisco, Julian Cope, Yazoo ou Haircut 100, Smiths ou a fotografia
de Bruce Webber, entre muitos, passaram pelas páginas da Face nos seus
primeiros anos de vida, quando não tinha rival à altura, estatuto que perdeu na
segunda metade da década.
NG
2 comentários:
Muito bom! Gostaria de saber mais!
Estamos de volta desde de o estouro do Interpol!
Enviar um comentário