BLITZ
(Jornal Musical)
Ano VI
Nº 285
17 de Abril de 1990
Sai às Terças-Feiras
Director: Rui Monteiro
Preço: 75$00
28 páginas
Capa a 3 cores e interior a preto e branco
+ Poster:
Redacção, administração e serviços comerciais: Rua Sacadura Cabral, 26, Dafundo, 1495 Lisboa
Director: Rui Monteiro
Chefe de Redacção: António Pires
Direcção Gráfica: Cândida Teresa
Colaboradores:
Belino Costa
Cristina Duarte
Cristina Peres
Eduarda Martins Ferreira
Eugénio Teófilo
Fátima Castro Silva (Porto)
Fernando Magalhães
Fernando Santos Marques
Fernando Sobral
Fred Somsen
João Correia
João Bugalho
João Vaz
Jorge Dias
José António Moura
José Guedes
Luís Maio
Luís Peixoto
Miguel Cunha
Miguel Francisco Cadete
M. Nuno Figueiredo (EUA)
Miguel Santos
Miguel Somsen
Miguel Telhinhas
Paula Bach
Paulo Somsen
Pedro Cardoso
Pedro Portela (Braga)
Rafael Gouveia (Paris)
Sílvia Alves
Tiago Baltazar
Vasco Fernandes
Manifesto (suplemento):
Ana Cristina
António Sérgio
Nuno Diniz
Jorge Lima Barreto
Manuel Dias
Fotografia:
João Tabarra
Carlos Didelet
Tiragem média do mês anterior: 22 256 exemplares
Entrevista
IN THE
NURSERY
UMA
OUTRA ODISSEIA
Os In The Nursery, abriram a nova década com um sopro
quase total de classicismo, em «L’Esprit». Mas será que podemos chamar
«clássica» à música feita com «samplers»? E para onde caminham os gémeos
Humberstone que, em quase dez anos de actividade, renegaram totalmente o rock
tradicional, para ssumirem, de disco para disco, a grande aventura épica e
heróica da epopeia? Sem abrandarem o passo, Nigel e Klive Humberstone
prestaram-se a todos os esclarecimentos pretendidos pelo BLITZ, em mais uma
entrevista histórico-exclusiva.
- Começando obviamente pela vossa evolução, nós pensamos
que a vossa música mudou bastante desde a origem. Antes utilizavam mais o baixo
e a guitarra e tinham uma formação inicial muito mais rock. O que acham?...
Klive – Sim, sim. Já nem usamos guitarras.
Nigel – Para construir o tipo de música que idealizamos,
precisamos mais dos «samplers» e das percussões – nomeadamente os tímbales e as
tarolas...
- Foi uma grande evolução, não? O vosso som inicial, de
«When Cherished Dreams Come True» era muito fechado, nada comparável às
sonoridades grandiosas de agora!
K – Provavelmente. Pois quando começámos, usávamos um
pequeno quarto de sótão. Mas foi também uma fase de exploração das guitarras,
tentando tirar delas tudo aquilo que queríamos – o som de um violoncelo ou de
uma orquestra.
- Com uma guitarra!?
K – Acabei por ficar frustrado com a guitarra porque não
conseguia o que queria dela. Foi preciso procurar os verdadeiros instrumentos
ou melhores alternativas. Usámos então principalmente os teclados. É claro que
uma orquestra seria bastante melhor...
- Esse primeiro disco, praticamente desconhecido pela
actual maioria dos vossos seguidores, foi especialmente concebido – uma capa
estudada, um vídeo... Foi um grande investimento?
K – Acho que sim, mas só porque foi fácil realizar tudo
isso, uma vez que na altura éramos todos estudantes da Escola de Artes. Eu
estava ligado ao vídeo e tive todas as facilidades financeiras e de
equipamento; o mesmo se passou com a impressão.
N – No nosso primeiro disco as capas foram feitas por
meio de trama. Foi uma edição de mil cópias, mas posteriormente já houve uma
outra de mais 750.
- Como é que se estabeleceu a ligação com a editora
Paragon?
N – Eles contactaram-nos depois de nos verem num concerto
em Sheffield. Já tinham feito alguns discos e andavam à procura de bandas da
zona.
K – Foi muito estranho, porque nunca tínhamos estado num
estúdio antes...
- Como surgiu então Douglas P. (Death In June) e o vosso
disco para a sua editora New European Recordings (NER)?
K – Ele apareceu num concerto nosso em Londres e depois
abordou-nos, mesmo no final.
Quanto às gravações, fomos nós que as pagámos. No
entanto, continuámos com total controlo das faixas, ele apenas as lançou.
- Nessa mesma altura, em «Sonority», o som era
extremamente militarista. Seria a influência dos D.I.J.?
N – Não, foi somente um período em que pretendíamos ter
um som poderoso, embora quando actuamos ao vivo o nosso som seja ainda mais
potente. Acho que os discos são mais complexos e delicados.
- E quanto a «Elegy»? A sonoridade é militarizada e a
letra totalmente antimilitarista. Talvez nem tanto a música, mas mais o modo
como utilizam a percussão.
N – O problema é que as pessoas associam os tímbales aos sons
militares. O tímbale é um instrumento utilizado nas orquestras, porém não da
mesma forma que nós o fazemos, por isso não tem a mesma conmotação.
- Mas vocês saíram da NER bastante depressa. Não ficaram
satisfeitos?
K – Fizemos apenas esse EP e mais duas faixas que
surgiram na compilação «From Torture To Conscience». Nós estávamos satisfeitos,
mas ele apenas lançava o nosso material, não nos financiava nem existiam
quaisquer compromissos. Nessa altura conhecemos Rob, da Sweatbox, que quis
produzir um disco nosso. Ele deu-nos dinheiro para entrar de novo em estúdio, e
foi essa a diferença, pois estávamos já a compor novos temas.
- Na Sweatbox, o vosso som mudou bastante. Foi o início
da teatralidade e da pompa actual!
K – Julgo que sim! Tudo cresceu com a nossa experiência e
de sabermos aquilo que queríamos fazer. Além disso, os novos estúdios
proporcionaram-nos melhores condições técnicas.
- Mas desde a frustração inicial de não conseguirem o som
pretendido, até às sonoridades de agora, parece ter havido uma ideia exacta de
como prosseguir. O LP «Twins» é afinal um disco de pura transição.
K – Sim, é verdade. Esse foi o primeiro disco feito só
por nós dois – os gémeos (the Twins). Tudo o que foi feito antes era mais
baseado na prática dos instrumentos em conjunto. O resultado, era depois
concretizado no estúdio. «Twins» é o primeiro disco criado essencialmente em
estúdio – é mais solitário, mais conceptual, baseado não na convivência mas na
tecnologia.
- Para o facto poderá ter contribuído a frequência de
Klive em diversos eventos clássicos? Isso é mútuo?
N – Sim, é o tipo de música que desejamos criar. Fomos a
concertos e descobrimos os sons fantásticos que se podem obter sem PA. Nós
queremos recriá-lo, ainda que usemos «samplers» e sintetizadores.
- Achas que é mais fácil utilizando os «samplers»?
N – Nós não escrevemos música, portanto... De certa forma
compomos música clássica de uma maneira nova.
- Nesse aspecto achas que têm algo a ver com os Dead Can
Dance?
N – Eles utilizam instrumentos verdadeiros... apesar de
nós ocasionalmente já o termos feito, mas agora limitamo-nos aos «samplers».
- As pessoas, por vezes, já têm comparado os ITN a Wagner.
Opinião?
K – Mas não deviam!... Isso deve-se sobretudo a um
folheto promocional em que Wagner era citado mais como uma analogia, ou mesmo
uma referência. Isso queria dizer que podemos ser o equivalente a Wagner, no
campo da música clássica e no Séc. XX.
- Qual o significado, ou melhor, o conceito que vocês
entendem como clássico?
K – Algo que define um período.
- Nesse sentido, o Acid é a música clássica dos anos
80...
K – Talvez isso até seja possível daqui a uns 15 ou 20
anos, quando ouvirmos a música da década de 80.
- Só o que permanece é clássico!?
K – Toda a música permanece!... Mas quando ouvimos, por
exemplo, um tema de Acid-House, ligamos logo ao Verão de 88. Connosco isso é
mais difícil.
- Então não são uma banda clássica! Pois pelo vosso raciocínio,
os ITN são dificilmente referenciáveis a um ano concreto.
K – Talvez seja melhor então chamá-la de orquestral.
Porque com a música clássica não se consegue realmente definir um período de
tempo. Talvez orquestral seja realmente melhor.
- Uma banda orquestral, que não usa orquestra!!!
K – Ah... Orquestral, é um termo para um som. Para mim,
orquestral quer dizer um som grandioso, enorme, o que não exclui as partes mais
calmas. Como não temos uma orquestra de 20 pessoas ao nosso dispor, somos só
nós, tentando criar um som orquestral. Então temos de recorrer À tecnologia, é
o único caminho.
- Como é que utilizam os «samplers»? Têm de possuir o som
original?
N – Sim, o som original, que é oriundo de instrumentos
autênticos.
- Então vocês têm de tocar o instrumento!
N – Não, existe uma espécie de biblioteca de sons que
podemos dispor para trabalhar.
- O facto de vocês serem gémeos deve repercussões
especiais na vossa música?
N – Possuímos um sentimento comum muito forte. É muito
mais fácil trabalhar a dois do que com o grupo inteiro, do mesmo modo, é mais
fácil para duas pessoas do que para uma só. Nós somente pensamos que connosco
isso resulta.
- Achas que o poderias fazer com outra pessoa qualquer,
que não o teu irmão?
N – Não.
- Então a ligação é bastante forte...
N – Sim, nós temos pensamentos e conceitos semelhantes.
Possuímos ideias distintas mas depois unimo-nos e construímos em conjunto.
- Esse pode ser um dos motivos que levou Ant Bennett, o
vosso colaborador inicial, a sair?
N – Ele poder-se-ia ter sentido um pouco à parte, mas
penso que tinha projectos diferentes dos nossos que queria concretizar. Acho
que Ant pensava que o grupo não teria futuro. Afinal, foi melhor assim.
K – Ele teve um bebé recentemente. Assentou...
- E como surgiu a colaboração posterior de Gus Ferguson,
dos Test Dept que já tocou com os Dead Can Dance e Heavenly Bodies?
N – Penso que foi Rob, na Sweatbox, que o trouxe. E como
nós procurávamos na altura alguém para tocar violoncelo, ele ajudou-nos...
Aliás, já o conhecíamos dos Heavenly Bodies, com os quais costumávamos tocar.
- E quanto ao aparecimento dos actuais colaboradores – o
percussionista Q e a vocalista Dolores Marguerite? Foi pela necessidade ou
apenas porque se apresentava como interessante trabalhar com eles?
K – Nós precisávamos realmente de um percussionista. Q
era um velho conhecido da Escola de Artes que, além de estar disponível, era
nosso amigo. Ele nem sabia tocar quando se juntou a nós. A sua progressão foi
notável.
Quanto a Dolores, também era nossa amiga, logo
pedimos-lhe que aperfeiçoasse o seu francês para começar a cantar.
- E porquê o uso do francês e não do alemão, por exemplo
em «Elegy»?
N – O francês é uma língua muito emotiva, condizendo
melhor com a nossa sonoridade. O alemão é muito rude, brusco...
- Qual é a nacionalidade de Dolores? O nome sugere-nos a
Espanha...
K – Ela tem ascendência grega e espanhola, porém a sua
nacionalidade é inglesa.
N – Ela estudou francês mas também fala alemão...
- A propósito das línguas, existe alguma mensagem
especial a transmitir?
N – Não, não há uma mensagem específica. É como um
artista que se deseja exprimir. Nós exprimimo-nos através da música, pois é o
que sabemos fazer melhor. Nem temos qualquer tipo de slogan ou de mensagem
política, o que não quer dizer que sejamos apolíticos. Apenas não queremos
forçar nada.
- E então «Elegy» e «Profile 63», com o discurso de
Kennedy?
N – Não queríamos dizer nada de especial. Tenho um disco
com discursos dele e acho que são muito poderosos, pelo que os usei. Só algum
tempo depois percebi que era sobre o Vietname, sobre o qual estou muito
interessado. O discurso foi apenas utilizado como trecho musical, apenas para
enfatizar a música.
- Os In The Nursery têm separado a carreira em singles
(maxis/EPs) e álbuns, quando o habitual é os singles servirem de suporte e
promoção, com outras versões, desses mesmos LP. É uma questão de atitude,
presume-se?
K – Por exemplo, «Trinity» foi feito com um determinado
sentido... não funcionaria como um álbum, digamos que foi encarado como um
pequeno projecto. A música que se escolhe para um single normalmente não
funciona bem num LP. É diferente!
- Mas tem que haver uma conexão. Porque a música que se
apresenta em álbum e em single pode ter sido feita na mesma altura, tal como
aconteceu agora com o formato CD, no qual se agregaram singles e álbuns do
mesmo período. Em vinil existe uma separação, e agora em CD está tudo junto!
K – Isso deve-se sobretudo ao facto de ser mais fácil, e
também de tr todo o nosso material em CD. Eu encaro um disco de vinil mais como
um objecto, e os CD mais como uma peça de documentação sonora de qualidade
desses mesmos objectos.
- Sendo assim, os discos de vinil são mais importantes?
K – Sim, sim. Penso que os CD’s são óptimos, mas são como
um álbum de fotografias. São um documento compacto de momentos soltos.
- Como encaram o vosso material mais recente? É o
sucessor natural de «Koda»?
K – É a progressão natural, sim. Mas levou-nos muito mais
tempo e é muito mais complexo.
N – Neste novo álbum há temas semelhantes a alguns de
«Koda». Pois nós ainda somos muito influenciados pelas mesmas coisas que nos
rodeiam, pelos mesmos autores, por frases preferidas ou trechos musicais que
teimam em retomar o nosso espírito.
- Mas com certeza muitas coisas mudaram!
N – Usamos muitas mais sequências de computador, daí que
o som seja mais... digamos... cíclico.
- No princípio vocês mudava, muito as vossas sonoridades,
mesmo dentro do mesmo disco. Agora estão mais estáveis. Significa isto que já
atingiram as metas pretendidas ou um qualquer ponto de equilíbrio?
N – Sabemos o tipo de música que realmente queremos
construir. Talvez seja difícil progredirmos daí. Esta é a música de que nós
ainda gostamos e não vamos mudar só porque as pessoas estão à espera.
- E como se poderá reproduzir ao vivo «L’Esprit»?
K – Provavelmente só tocaremos ao vivo três das novas
faixas. O resto ficará como material de estúdio que não se pode reproduzir em
palco. É demasiado difícil.
- Isso foi pensado para ser já assim?
K – Há certas faixas que nem é necessário recriar em
palco porque nunca o conseguiríamos fazer melhor.
- Então quando vão para um palco pretendem ainda fazer
melhor do que em disco?
K – Não é bem isso. Mas existem faixas antigas, como por
exemplo, «Deus Ex Machina», de «Sonority», que resultam sempre melhor ao vivo.
Nunca ficámos satisfeitos com a gravação desse tema, por isso, ao vivo é sempre
muito melhor.
- O local das vossas actuações precisa de alguma acústica
especial, ou pode ser numa sala qualquer, como um vulgar concerto de rock?
K – Por vezes, tem mesmo que ser. Numa «tournée» não
podemos ser esquisitos, senão ficamos em casa. No entanto, todo o nosso som
funciona pelos amplificadores, o que se aproxima bastante de um simples
concerto de rock.
- Há alguma particularidade nos vossos concertos? Slides,
vídeo...
N – Sim, temos slides e, ocasionalmente, vídeo.
Normalmente são excertos de filmes ou imagens que nos interessam dos mais
variados modos... clips, capas... é uma atmosfera que se cria com a música.
- Existe algum elo com a vossa música nessas imagens?
N – Há uma sequência que procuramos manter.
- Estão também interessados em tocar em Portugal, não é
verdade?
N – Sim, nós gostaríamos de tocar aí, só é necessário que
exista uma organização.
- E quais as condições? Cachet, estadias, etc...
N – Só queremos que organizem os espectáculos
conjuntamente com a Espanha, pois para virmos com os camiões só para Portugal
custa bastante dinheiro.
- E em relação a música para um filme? Alguém vos
contactou?
N – Não, mas gostaríamos.
- Dentro do mesmo tema, porquê a necessidade de criar um
cenário visual? Precisam de imagens para compor? Afinal «Stormhorse» é a banda
sonora para um filme inexistente...
K – A razão por que dissemos isso foi para levar as
pessoas a pensar que existia realmente um filme e de imaginarem como seriam
essas imagens.
- Mas não é preciso afirmar que é uma banda sonora para
que isso aconteça.
K – Talvez! Mas nós sempre quisemos fazer uma banda
sonora. Se o filme não vem até nós, não é razão para que deixemos de fazer a
música para um qualquer filme, apesar de ele nem existir.
- Mas depois as pessoas querem ver o filme...
K – Eu sei. É chato!... O objectivo é só o de levar as
pessoas a pensar como seriam as imagens que o disco sugere. Pela imaginação e
por tudo aquilo que se vê, quando se fecham os olhos e se ouve a música.
- Que tipo de música costumam ouvir?
N – Gavin Friday... gosto muito das suas últimas
produções.
K – Actualmente, Gavin Friday...
- Recentemente, abandonaram a Sweatbox, porquê?
N – A Sweatbox deixou de fazer discos. O Rob
aconselhou-nos a procurar outra editora.
- E porquê a Third Mind?
N – Porque é uma pequena empresa e gostamos do modo como
organizam as coisas, além diso já tínhamos tido a experiência de trabalhar com
eles, aquando da edição da compilação «Life At The Top (Abstract Magazine 4)».
- E, para terminar, qual o significado do vosso nome?
K – O nome surgiu em 81 e foi escolhido depois de o
encontrarmos em diversas frases e sítios. Escolhemo-lo porque muitas das nossas
letras têm a ver com a infância, com os sentimentos e a inocência desses
tempos. Quando demos o nosso primeiro concerto na escola de Artes de Sheffield,
foi preciso escolher um nome, e então usámos esse. Mas agora, temos estado
lentamente a transformá-lo no logotipo ITN.
- É quase o meso, não?
K – É que «In The Nursery» já não significa nada para nós,
actualmente, para além de ser um pouco embaraçosos aqui em Inglaterra.
- Nós não nos importamos...
Eugénio Teófilo
Fred Somsen
João Correia
VÁRIOS
«OIHUKA 89»
De Espanha chegou-nos mais uma amostra daquilo que
poderíamos considerar como um pseudo pós-rock ibérico. Tem todas as
características epidérmicas daquela movida que nos assaltou no princípio da
década passada – música conservadora, chata, com a mania que é a maior e que
engata muita gente com aqueles solos de perder a língua por entre os dentes – à
qual avança uma página num imaginário diário de transmisões aero-deterioráveis
com um rock’n’punk’n’roll de três minutos de fama, com uma daquelas fugazes
passagens por cima de um palco de metro-e-meio-de-largura-por-dois-de-comprido
e com uma assistência de meia dúzia de distraídos adolescentes pingados.
Mas, embora o som praticado adiante algo a essa nossa vã
movida, a idade dos grupos vem tornar quase inútil uma possível esperança de
recuperação, pois todos eles são de formação recente (de 1986 em diante). Com
efeito, as repercussões de viver num estado ditatorial podem provocar reflexos
lentos numa evolução que se desejava promissora (a maioria dos grupos presentes
vem da terra do charmoso duo de olheiras bem rasgadas pela moda da pomada –
estou a falar dos bascos Duncan Dhu) e causar grandes «pasmadeiras», daquelas
de estar meia hora com os olhos fechados e a boca aberta.
Oito grupos fazem parte de «Oihuka 89»: Los Bichos,
Tahures, Delirium Tremens, Hertzainak, Tijuana In Blue, La Polla Records, Ancha
Es Castilla e Jotakie. Vale a pena reter os nomes de Los Bichos, La Polla
Records e Delirium Tremens pois ficou-nos a ideia de que nem tudo o que é punk
é rock e vice-versa. Qualquer destes três grupos passou a infância a trabalhar
para ajudar a família a combater a miséria social e o desemprego, além daquelas
reivindicações próprias lá dos bascos. A sua música passa pelo melhor punk de
89 e pelo melhor rock de 77. O que já não é nada mau... Em relação aos outros,
vão desde o pior Doutores e Engenheiros (Tahures) a um aparecido mas
desmanchado piropo a Lena D´Água (Jotakie).
«Oihuka 89» será um bom detergente para os frágeis dedos
das senhoras donas-de-casa que, enquanto varrem a sala das arrumações,
dispersam com suaves contorsões abdominais as pobres baratas que pacatamente se
entretinham a imaginar o apresentador do «Haja Música» num relato de futebol
com cinco galinhas. Limpeza contundente!
(LP, Oihuka 0-181, 1989)
*** (3 estrelas)
Miguel Santos
CLOCK DVA
«BURIED DREAMS»
Há ano e meio, e depois de cerca de 5 anos e meio de
interregno, os Clock DVA regressaram às lides musicais para perturbarem as
mentes dos mais desprevenidos. Foi o (re)início de mais uma viagem assustadora
às paisagens mais obscuras da cena independente britânica, primeiro com três
12” - «The Hacker», «Hacked» e «The Act» - e, mais recentemente, com «Sound
Mirror» (também máxi single) e o álbum «Buried Dreams».
Para os mais familiarizados com o som dos Clock DVA fica
o aviso: em «Buried Dreams» o velho quarteto saxofone / guitarra / baixo /
bateria foi dispensado para ser substituído pela tecnologia de ponta (i.e.
computadores, sequenciadores, samplers, etc.), estando, por isso, a única
semelhança entre os velhos DVA de 85 (ou mesmo 80) e os de agora, no line-up,
no nome do projecto e na filosofia.
«Buried Dreams» é o despontar para um mundo novo,
dominado pelas comunicações e tecnologia. Neste álbum vamos encontrar todas as
sonoridades ligadas aos movimentos mais marginais e obscuros, no entanto, à
semelhança dos outros discos, somos atraídos por algo misterioso e
inexplicável.
A voz de Adi pouco mudou. O seu tom grave, rouco, vem dar
um toque peculiar Às melodias electrónicas. Em «Buried Dreams» abundam as
caixas de ritmos e os sintetizadores, mas de modo algum estes instrumentos
atribuem um ambiente dançável ao disco. Talvez em temas como «The Hacker» e
«Sound Mirror» sejamos forçados a movimentar o corpo (e a alma), mas não é esse
o objectivo de Adi e os Clock DVA. Esta não é uma produção para as pistas de
dança, é sim uma gravação para acompanhar exposições de Peter Witkin,
documentários sobre Auschwitz, filmes de Cronenberg ou David Lynch, livros de
De Sade ou Lautréamont, filosofias Crowleyanas, etc., etc., etc.
«Buried Dreams» combina o Punk Progressivo dos velhos DVA
com a violência electrónica. É um assassino digital, um terrorista matemático,
a álgebra do mal, a tecnologia oculta.
Estão avisados. A escolha é vossa. Cuidado com «Velvet Realm», «The Unseen» e «The
Reign». Será que à terceira os planos de Adi vão por diante?
(LP/CD,
Interfisch Records, 90, Imp. Por Contraverso)
**** (4 estrelas)
Fred Somsen
TELECTU
Eis que é editado um novo longa-duração de originais do
duo Telectu. A maioria de vocês deve ficar surpreendida com esta tamanha
profusão de edições, pois ainda há pouco mais de um mês foi editado a aventura
«Live At The Knitting Factory, New York City» pela MC – Mundo da Canção.
Mais uma vez me vou repetir ao dizer que essa
proliferação de trabalhos editados pelo duo, em oito anos de colaboração, é uma
prova (mais que provada – basta referir dois ou três diferentes nomes do
conjunto da sua discografia) da sua ecléctica criatividade sonora.
«Digital Buiça» é editado por uma outra novel editora
portista. Depois da MC – Mundo da Canção abrir as suas portas à edição de
projectos portugueses merecedores de tal testemunho (degrau natural na evolução
de um grupo), agora é a vez da Tragic Figures ajudar a implantar um verdadeiro
sistema de edição e distribuição independente. Escolheu também para a sua
estreia um trabalho dos Telectu e promete várias surpresas (que não o são assim
tanto, pois o BLITZ já divulgou algumas delas) para um futuro próximo.
Se «Live At The Knitting Factory» (local de passagem
frequente de artistas como John Zorn, Fred Frith, Bill Frisell ou Joey Baron,
recentemente dados a conhecer ao público português numa apresentação ao vivo no
Forum Picoas) representava um laço apertado, numa perfomance ao vivo, em volta
de vários temas que abraçavam tipologias tão diversas e que se queriam
registadas, de forma a que uma nova liberdade de composição se pudesse seguir,
«Digital Buiça» vem manifestar vinilicamente esse novo estádio musical que os
Telectu recentemente têm vindo a divulgar nos nossos palcos.
São dois conjuntos estruturais - «Hotel Lisboa» (15’072)
no lado A e «Laribau» (23’24”) no lado B – representativos de uma maior
acessibilidade por parte dos Telectu (ou será nossa?), onde Vítor Rua e Jorge
Lima Barreto abordam ambientes naturais com uma sensível aproximação
instrumental (reparar na sequência em que Vítor Rua faz deslizar pelas cordas
da sua guitarra um arco de violino, em «Laribau»), ambientes de puro cuidado
técnico (maior destaque no princípio de «Hotel Lisboa») ou ambientes miméticos
de várias correntes musicais contemporâneas de vanguarda. Jorge Lima Barreto
explora o computador rítmico com uma metodologia pós-moderna, no sentido de «decoração»
estética, dá completa liberdade de voo ao seu saxofone digital. Por seu lado,
Vítor Rua mostra subtilmente o virtuoso criativo que ele é nas várias
metodologias de abordagem de uma guitarra (tema em que está actualmente a fazer
um estudo, para futura edição).
Como nota final, acrescento que a capa é um poema visual
de Ernesto M. de Melo e Castro, que esta edição é de apenas 500 exemplares e
que está disponível para além das boas discotecas de Lisboa, Porto, Braga e
Coimbra, através dos serviços de correio, à cobrança (sem acrescento de
portes). Façam as encomendas (Tragic Figures, Apartado 2137, 4202 Porto/Codex)
e devorem avidamente as espiras daquele que em breve se tornará, devido ao seu
valor estético geotemporal, um disco de coleccionador.
(LP,
Tragic Figures TF001, 1990)
4* (4
estrelas)
Miguel
Santos
PSYCHIC TV
«LOVE
WAR / RIOT»
«KONDOLE
/ DEAD CAT»
Nunca o «acid-sond» dos Psychic TV se aproximou tanto da
descontracção e da boa disposição como neste «Love War Riot». Em vez da rigidez
perfeccionista e obcecada das anteriores produções, este novo maxi, também
disponível numa versão limitada e alternativa de 10”, tem o seu quê de
semidisco-sound, policial de acção, 007, acid-pop, ou até mesmo de New Beat...!
Sobretudo, tem muito menos de simples alucinação e muito mais de emotividade.
«Love War Riot» é mais um exercício louco de Acid, mas
não tão fastidioso e comprometido com os ideais, como os anteriores «Tune in» e
«Joy». Aqui, sobre a inconfundível e monótona batida Acid, há lugar para a
diversidade que os «samplers» permitem, através da arte da pirataria
indiscriminada, que se traduz na prática, sobre o vinil, em sons loucos de
sirenes, vozes e alucinados pseudo-solos de bateria – estes talvez até
genuínos. ‘Love War Riot’ é essencialmente, o que não deixou de me surpreender,
um disco tragável e pouco indigesto, tendo em conta as últimas produções
cegamente Acid dos actuais Psychcic TV. O que afinal, não pode deixar de
constituir um elogio!
Passando agora à frente, o assunto chama-se «Kondole /
Dead Cat» e é de longe muito mais sério, principalmente porque reúne a música
para dois filmes de David Lewis. A primeira peça, que corresponde ao filme
«Kondole (The Whale)», e tem originalmente 23 minutos de duração. A segunda,
pertence ao filme «Dead Cat» e foi gravada novamente a 23 (Janeiro de 89),
exactamente um ano mais tarde. O que existe de comum entre as duas, isto para
além de estarem ligadas às produções visuais de David Lewis, é o facto de ambas
marcarem o regresso dos Psychic TV às temáticas ritualistas e mágicas (bem
hajam, obrigado, eu é que agradeço!), que tão longe os levaram num passado já
algo longínquo.
Reza a lenda que «Kondole», o único possuidor do fogo,
acabou um dia por ser atingido em plena cabeça (!!) por uma lança,
transformando-se em seguida numa baleia. A música para este momento trágico
transmite sobretudo o sofrimento do processo, no qual a água abraça a baleia,
cujos gemidos fazem tremer as profundezas e a dor perturba a terra. Na
atmosfera, os trovões desta mutação ecoam sobre a angústia inconformada de uma
criança que chora, perdida para sempre, no tempo. No outro lado está «Dead
Cat»: este «É o filme de um sonho! Materializa em imagens a transição dolorosa
de uma mudança de sexo (...) as imagens são intencionalmente violentas (...)
não é um filme para se apreciar!» (adaptado das palavras de David Lewis). O som
de ‘Dead Cat’ assenta ainda mais num ambiente ritual e cerimonial, baseado em
sons irreais, infinitas percussões e construções melódicas orientais, com
flautas e outros instrumentos acústicos. As baleias, ou os golfinhos, assumem
aqui, uma ligação da qual nem nos damos conta, entre a sua inteligência e
memória, e toda uma série de pesquisas sobre a origem das espécies, pois, para
os Psychic TV, a pesquisa da realidade (objectivo primeiro da sua existência)
sempre se fez com todas as dimensões do conhecimento. Mesmo com aquelas que a
ciência não reconhece.
«Kondole / Dead Cat» é divino, apocalíptico, desumano e
irreal – em resumo, excelente! Aproveitem bem este rápido e fugaz regresso dos
Psychic TV Às suas ideias originais, é o meu conselho, porque as sua spróximas
produções serão: «Towards Thee Infinite Beat» (LP/CD), «Beyond Thee Infinite
Beat» (12”/CD) e «Je T’Aime» (12”). Está tudo dito, não?
(12”/10” miniLP, Temple Records, 1989)
**,5 (2 estrelas e meia)
(LP, Temple Records, 1990)
**** (4 estrelas)
João Correia
TRISOMIE 21
«PLAYS THE PICTURES»
Saber envelhecer é essencialmente saber amadurecer e
estar apto para suportar com à-vontade os desígnios e impiedades dos tempos. Saber
envelhecer é, paradoxalmente, estar consciente de que, com mais anos em cima,
poderemos conservar um mínimo de saúde e juventude mental. Passe o clichá,
saber envelhecer é saber dominar a juventude dentro de nós. Estas afirmações
são tão pirosas e vistas como reais e presentes. E é isso que os Trisomie 21
têm sabido fazer durante os cerca de oito anos da sua existência e acção neste
mundo.
Através de um processo evolutivo capaz e sem tropeços os
Trisomie 21 trabalharam até alcançarem uma sonoridade competente e
profissional, por alturas do surpreendente «Chapter IV». Para trás haviam
ficado discos hesitantes que, posteriormente, viram a sua re-comercialização
traduzida em dois discos: «First Songs Vol. I & II», respectivamente com os
subtítulos «Passions Divisées» e «Le Repos Des Enfants Hereux». O auge
conseguido com «Million Lights» possibilitou-lhes uma liberdade substancial
para arrancarem com outras inspirações mais originais, visando o afastamento das
obras prévias. Assim, assustaram alguns com «Works», fazendo um disco
inicialmente decepcionante – desde a concepção da capa ao som – mas, com o
passar dos tempos, solene e bonito. Mais uma vez, o passar dos tempos sempre a
ditar a sua lei.
O problema actual dos Trisomie 21 é que, não prometendo
nada, acabam por colocar os seus fãs numa posição de expectativa indesejável e
acidental. Isso sucedeu a partir de «Million Lights» quando se esperavam
maravilhas do grupo. O que afinal não se concretizou, permanecendo fiel à
discrição e trabalho. E mais uma vez, «Plays The Pictures», sendo à primeira
audição altamente decepcionante, acaba por atrair e por marcar, uma segunda
vez, uma perigosa mudança.
Seja como for, perigosos ou não, os T21 continuam
fabulosamente inspirados. «Plays The Pictures», como o nome indica, testemunha
um fascínio do grupo pelos filmes, pelo Cinema, e se «One Last Play» (um dos
dois temas cantados) revela uma confrangedora falta de qualidade – pelo meio
gritam 31 vezes por New York – já o mesmo não se pode dizer dum disco «para
filme» composto por onze magistrais hinos de dois-três minutos de inspiração
minimal/instrumental. Uma surpresa... após seis audições.
E se têm paciência para esperar até lhe adquirirem o
gosto, não caiam na esparrela de comprar o disco em vinil, quando o CD tem mais
dez – 10 – dez temas. Se o álbum é uma obra (e é!), não é justo que se venda
essa obra com dois preços diferentes. É exactamente o mesmo que comprar um
filme-vídeo mais barato porque a versão está encurtada...
(LP/CD,
Play It Again Sam, 90)
**** (4 estrelas)
Miguel Somsen
SOULSIDE
«HOT BODI-GRAM»
Na terra da esperança não há Invernos. Por que será que
os Soulside fazem música para aquecer Invernos?
«Hot Bodi-Gram» é o segundo LP do grupo, depois do muito
(!) aclamado «Trigger». Foi gravado no Verão passado, em Eindhoven (Holanda) e
pretende representar convenientemente o stress psicológico ao qual os quatro
membros do grupo têm vindo a ser submetidos, desde a sua formação em 1985. É
mais uma ou, melhor, uma outra
ramificação do hardcore de Washington DC, uma antimúsica-diversão de
insvestidas rápidas, de saltar com os pés para o ar, por entre «slows»
assassinos de dias estragados por falsas dignidades. O velho baixo de Johnny
Temple galga, de língua de fora e saliva a escorrer-lhe pelas cordas, os
compridos membros do seu dono – reparae-se em «Pembroke» e nos acordes finais,
onde o vocalista beija o que lhe resta da vida com um «don’t disappear»
misecordioso. Em «New Fast Fuck», a guitarra fora de moda de Scott McCloud
sussurra-nos ao ouvido, já previamente precavido contra desleixadas descargas
fora-de-ordem, o quanto tem em apreço os três acordes básicos aprendidos quando
estudava a gramática da segunda classe, por volta de 77, mais ano menos ano.
Bobby Sullivan, com umas vocalizações confidentes – como o sabor doo bagaço nas
afiadas lâminas da sua garganta seca – dá o que pode na versão de «Crazy»
(original de Willie Nelson), o melhor tema de «Hot Bodi-Gram» (e uma excepção
num álbum que, sem dúvida, é uma decepção, depois do excelente 7” «Bass/103»).
Do baterista dispenso-vos os comentários. «I’m crazy for trying, I’m crazy for
crying, but I’m crazy for loving you?» Tenho as minhas reticências!
(LP, Dischord DISCHORD 38, 1989)
**,5 (2 estrelas e meia)
Miguel Santos
BIOTA
«TUMBLE»
Chris Cutler continua a surpreender os seus fãs com as
suas magníficas edições no catálogo da Recommended, editora recomendável, quer
pela qualidade e originalidade dos projectos que representa quer pela coerência
que tem mantido na sua já longa existência (o Magalhães que o diga).
Em finais de 89 surge esta edição, assinada por um
colectivo exímio em rasgos de criatividade, caracterizada por um conjunto de
blocos acústicos empilhados segundo uma estrutura muito peculiar.
Os BIOTA (Mnemonists para os amigos), com larga
experiência no campo das sonoridades irreverentes, iniciaram-se em 1979 quando
lançaram o LP «Mnemonists Orchestra». Há quem os tenha comparado, na altura, ao
radicalismo dos seus compadres Residents, isto apesar de, na realidade terem
pouco a ver com eles.
Hoje, os BIOTA trabalham segundo moldes ligeiramente
diferentes. Duas operações fundamentais descrevem o método utilizado pelos seus
elementos (William Sharp, Gordon Whitlow, Mark Piersel, Tom Katsimpalis, Steve
Scholbe, Larry Wilson e Randy Yeats): Primeiro, a fase criativa, de curtos
trechos desenvolvidos em pequenas estruturas instrumentais. Depois a fase de
mistura, onde estas peças sofrem alterações drásticas, quer ao nível dos
timbres, quer ao nível das frequências e das modulações.
No caso concreto desta edição, surgida em formato
compacto, os BIOTA foram mais longe. Sem utilizar a voz humana, criaram
ambientes equivalentes através do uso do «sampling» e da digitalização de
sinais analógicos.
Com funções específicas programadas, os BIOTA filtram e
reordenam o material tratado, obtendo um todo de difícil caracterização.
«Tumble» são 74 minutos da vida que não podem ser vividos
de outra forma. Personifica uma excelente experiência de duas correntes, a
priori, incompatíveis. Deslumbrante.
(CD, Recommended Records, 1989, Imp., Contraverso)
****,5 (4 estrelas e meia)
Paulo Somsen
NOX
«LIVE AT
THE MANUFACTURE»
Sessão ao vivo, gravada no «Theatre de la Manufacture» em
Nancy.
A tríade Nox, Cecile Babiole, Laurent Perrier e Gerome,
prossegue o seu desejo no seio da música progressiva. Nesta experiência seguem
rumo por um campo cuja aceitação por alguns escutantes pode ser difícil.
Do eixo das compilações pelos diversos continentes, os
Nox acautelaram um nome e deram-se a conhecer a um auditório sucessivamente
mais amplo. E não escondem a sua admiração pela vanguarda alemã, nomeadamente
pelo Neu e Faust.
De regresso à terra-mãe encontraram em Nancy um projecto
editorial, a tempo inteiro, de superior qualidade e encetaram então um
relacionamento suficientemente estreito para que fosse lá a sede do seu
primeiro trabalho de originais em 33 rotações, o Lp «Crowd». O segundo Lp,
«Acte 1», reavalia e reformula o conceito tradicional dos Nox: uma bateria
enérgica, por vezes extenuante, um ritmo suficientemente frenético, sempre
tribal, um anseio de criar um mito, sem rito, e ofertar a mensagem a quantos
for possível, assim se estabelece o comensalismo editora-grupo.
Como no próprio espectáculo ao vivo, o compacto não
possui demarcações dos vários temas e tenta transportar quem o escuta à noite
em que foi gravado, mostrando os instrumentos no seu trabalho mais rude, menos
estilizado.
Não se encontra na sua música uma uniformidade sonora,
daí que os possam comparar a projectos de índole suficientemente dispare para
suscitar a curiosidade de qualquer um.
Contacto:
KERNERSTRASSE 15, D-7156 WUNSTENROT, WEST GERMANY.
(CD, Permis de Construire Deutschland)
*** (3 estrelas)
Eugénio Teófilo
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