20.12.16

Memorabilia: Revistas / Magazines / Fanzines (265) - Blitz - Jornal Musical


BLITZ 
(Jornal Musical)
Ano IX
Nº 426
29 de Dezembro de 1992
Sai às Terças-Feiras
Director: Rui Monteiro
Preço: 100$00
32 páginas
Capa e algumas páginas interiores a 3 cores, outras a preto e branco.
Suplemento Manifesto (Mensal?) de 4 páginas. Ver abaixo autoria do mesmo, na ficha técnica



Ficha Técnica (parcial)
Redacção, administração e serviços comerciais: Av. Infante D. Henrique, 334, 1802 Lisboa
Director: Rui Monteiro
Chefe de Redacção: António Pires
Redacção:
Cristina Duarte
Miguel Francisco Cadete
Nuno Galopim
Raquel Pinheiro (Porto)
Rita Carmo (Fotografia)
Direcção Gráfica:
Cândida Teresa
Colaboradores:
Adágio Flor
Álvaro Romão
André Lepecki (Nova Iorque)
António Freitas
António Maninha
António Pedro Saraiva
Bruno Branco
Bruno Maçães
Diniz Conefrey (ilustração)
Fátima Castro Silva (Porto)
Fernando Santos Marques
Gimba
Hélder Moura Pereira
Hélder Salsinha (fotografia)
Hugo Moutinho (Porto)
Isabel Lucena (Londres)
João Correia
João Bugalho
José António Moura
José Antunes
Lili Wilde (Londres)
Luís Mateus
Luís Pinheiro de Almeida
Maria Ana Soromenho
Maria Baptista
Maria João Gouveia
Mário Correia
Miguel Cunha
Miss Ex
Monsieur Sardin
Paulo da Costa Domingos
Paulo Somsen
Pedro Esteves
Pedro Portela
Rafael Gouveia (Paris)
Rui Eduardo Paes
Sérgio Noronha
Sofia Louro
Teresa Barrau
Vítor Vasques (fotografia)

Manifesto (suplemento):
Ana Cristina
António Sérgio
Nuno Diniz
Jorge Lima Barreto
Manuel Dias

Tiragem média do mês anterior: 19 290 exemplares

Tal como disse aqui, este é um número de um período posterior em cerca de três anos e que cai naquela fase que então cataloguei como a segunda decadência, quicá o início dela, quiçá a última...
O Director continua a ser o mesmo (Rui Monteiro), alguns colaboradores são de qualidade (ver lista abaixo), mas já não era a mesma coisa. E fico-me por aqui.
Curiosamente, apesar da deriva mainstream a tiragem média decresceu.


A MÚSICA, A DANÇA E A POLIARTE
IV

Os «ballets» russos implementaram a acção interartística (desde Pepita e Tchaikowsky, Fokine e o cenógrafo Benois e Stravinsky, ou com «Parade», que reuniu Satie; Massine, Cocteau e Picasso. Balanchine com Stravinsky, para a implantação de «Apollon Musagéte», consagram uma relação bilateral da música e da dança. Em França, e sobretudo desde Lifar e Roland Petit, incrementam-se as mais variadas situações poliartísticas.
Em 1924, «Relâche» é uma criação multimedia a partir de uma coreografia de Jean Borlin, que inclui as figuras de Picabia para a instalação/cenografia, as intervenções plásticas e de perfomance de Man Ray e Marcel Duchamp, música de Satie.
Em 1932, Kurt Joss estabelece um ritual de dança / música interarte com «Mesa Verde». Aurelio Miloss acompanha a vanguarda da música em criações poliartísticas com música de Berio («Visage»), de Varèse («Déserts»), de Bussotti («Raramente»), trabalha com os compatriotas Dallapicolla e Petrassi em situações prospectivas e reforça a modernidade nas criações «Mandarim Maravilhoso», de Bartok e do «Sacré du Printemps», de Stravinsky, que foram no bailado do século XX grandes obras inspiradoras da interarte e recentemente do multimedia.
Nos EUA, Marta Graham e George Balanchine revolucionaram os conceitos de dança e tornam-se epigonais da dança do futuro. Marta Graham, pela riqueza das suas propostas técnicas e abertura à performance art na dança contemporânea. «Como bom músico, Balanchine não encontrou problemas em fazer coincidir os passos de bailado com as notas».
Estes dois grandes profetas iniciam com o «New York City Ballet», o movimento «modern dance», o último classicismo na dança. Na sua esteira Merce Cunningham alia a objectividade da «modern dance» ao experimentalismo de John Cage, ao multimedia, ao mix media. Em 1960, Cunningham cria «Summerspace», com música gráfica de Morton Feldman e acção visual da pop art de Rauchenberg.
Maurice Béjart seria no mundo da dança o grande autor da relação música / multimédia. Em 1955, apresenta «Sinfonia para um homem só», que é a primeira grande obra de música concreta de Pierre Schaeffer e Pierre Henry. Em 1969, coreografia «Nomos alpha», de Xenakis, para concepções de espaços arquitectónicos. Em 1972, faz combinações numéricas e algorítmicas para «Stimmung», de Stockhausen. Em 1973, estreia «Marteau sans Maître», de Boulez, onde béjart faz os seus seis bailarinos representar os músicos-intérpretes numa rigorosa relação da partitura musical e da notação coreográfica. As suas obras com música de Boulez e explorações interarte e mixed media são «mallarmé I, II e III» e «Pli Selon Pli». Henry compôs também para a dança poliartística «La Reine Verte». Coreografia de Maurice Béjart.
Duas grandes figuras do bailado pós-modernista são Pina Bausch e Einhild Hoffman; este criou «Jardim Proibido», com performance, free dance, música experimental / colagem. «Cafe Müller» é uma obra-prima de Pina Bausch; uma concepção poliartística paradigmática pela montagem técnica, cinemática, o patchwork. Paul Taylor coreografou uma obra luxuriante multimedia «Party Mix».
Músicas de massas como o jazz são absorvidas na dança pós-guerra até a experimentalismos de cena como no caso de «Trio», de Carolyn Carlson, que apresenta Surman e Philips a tocarem ao vivo junto aos bailarinos. Pina Bausch seria, porém, o oráculo da pós-modernidade pela concepção musical de patchwork, num ecletismo radical objectivado por recuperações musicais de todos os quadrantes (com inclusão frontal da música ligeira) à moção de soundtrack pisgada no cinema onde a música se conforma com processos sonoplásticos e acções poliartísticas espúrias.
A dança pós-moderna incluiu a música e as artes cinéticas no seu corpo estético. A sua notação coreográfica não foi um meio um fim em si mesmo, já que pôde recorrer a outros meios de escritura como a notação cinetográfica de Rudolf von Laban, que antecipa a notação-vídeo dos nossos tempos. Nikolais, na supracitada «Kyldex I», coreografou um bailado com luminocinética, de Shöffer e música de Pierre Henry.
Glenn Tetley, em 1968, cria o Nerlands Dance Theater «Circles», com música de Berio e «Field Figures», com o Royal Ballet e instalação musical de Stockhausen. Numa relação intermedia coreografou «Imaginary Film», com música de Schönberg, num contexto intersemiótico cinema-dança. Robert Joffrey, em 1967, cria «Astarte», com jogos de luz típicos do «show» «rock-art» e mixed media. A cubana Alisia Alonso levanta a obra-prima «Génesis», música de Nono e light show.
Nos anos 70, surgiu em força a estética pós-modernista (do multimedia, da fragmentação, numa recuperação de projecto Bauhaus), tal como obras de Alwin Nikolais e Paul Taylor.
Ailey e Nikolais confrontaram tipologias musicais aparentemente antagónicas, como o jazz e o serialismo: Como o caso do coreógrafo Rolf de Maré, que escolheu as músicas de Milhaud, Satie, Braxton e Lacy. No trabalho de Jean Albert Cartier, com música de Bernard Parmegiani, o movimento foi considerado mais importante do que a forma.
A obra de Hans van Mannen «Situation», é um bailado gráfico com correspondências semióticas entre a música e extensões mediáticas. Em «Squares» Mannen estrutura geometricamente a dança, a instalação e a música e aluz. Hans van Mannen coordena situações musicais multimedia e trabalhou com obras de Andriessen, Reich, e.a.
Carolyn Carlson, Louis Falco, James Dunn, John Taras, Arthur Mitchell, são alguns coreógrafos pós-modernistas americanos atentos à música e ao multimedia.
Jean Pomarés coreografou «Piéces et sketches detachées», com músicos integrados numa coreografia mobile, com o grupo Modern Dance, Jiri Kyrlian depura a técnica do «ballet» contemporâneo e faz relacionar a música numa profundidade própria da aliança Diaghilev / Stravisnky.
Twila Tharp, Lucinda Childs, trabalharam, como vimos, em minimalismo e multimedia. Stockhausen incluiu em «Hymnen» sequências coreográficas – ballet montagne, ballet momente – dando o carácter universal dos materiais (tempo, harmonia, timbre, dinâmica), interacções multilaterais (tempo, harmonia, timbre, dinâmica), interacções multilaterais dos diferentes hinos, com cenografia de Gérard Fromanger, projecções cinéticas de E-B. Weill e representação pelo Ballet Thêatre Contemporain.

Dança pós moderna em Portugal

Em Portugal a dança observou certas situações interarte e expansões mediáticas com o ballet Gulbenkian, onde se fizeram notar, entre outros, Vasco Wellenkamp, Elisa Worm, A. Rodrigues e Olga Roriz. Esta última criou com Ricardo Pais «Elvis ao piano» (1988) e «3 canções de Nina Hagen» (1983) no estilo pós-modernista. Madalena Vitorino procura outras ecopraxiologias. Joana Providência recupera sintagmas históricos. Filipe Pires, Carlos Zíngaro, A. Victorino d’Almeida, Constança Capdeville, António Emiliano, entre outros, têm tido actividades solicitadas pela dança como compositores independentemente dos respectivos níveis estéticos. Uma obra carismática para dança é «Canto ecuménico», de Filipe Pires (coreografia de Aline Roux). Wellenkamp, Ricardo Pais e Capdeville estrearam em 1985 «Só longe daqui». Outras criações importantes de Cosntança Capdeville foram «Tempos» (Massano), «Dimitriana», «Libera-me» (Wellenkamp), «Ritual um» (Jim Hughes).
Margarida Bettencourt («Io sono una bambina o sono um disegno»), João Natividade («Con(m) certo sentido» e «Divagações»), A. Barros e P. Masano («Lisboa-N.1.-Lisboa») trabalharam com Carlos Zíngaro, João fiadeiro, que no ciclo IV de Nova Música Improvisada apareceu na gulbenkian com Miguel Azguime, integra new music em obras de carácter inter-artístico (Sasportes / Pinto Ribeiro, 1991). Vera Mantero criou «As quatro fadinhas do apocalipse», onde a música provém dos sons emitidos pelos bailarinos durante a execução.

Rui Eduardo Paes






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