28.2.15

Memorabilia: Revistas / Magazines / Fanzines (33) - Enfim SOS - Nº 2 - Maio de 1986


Enfim Sos
Mensal
Ano 1
Número 2
Maio 86
50 Escudos
20 páginas policopiadas e agrafadas




Contactos: Rua Coelho da Rocha, Nº46, 1ºDto. 1200 Lisboa
Coordenadores: Luz Fernandes, Maria João Guerreiro e Rui Vargas
Neste número colaboraram: Carlos Manso, Fernando Oliveira, Essa Entente, Filipe Guilherme, Jaime Guedes Lebre, João Luís, Jorge Ferraz Martins, Leba Edneser, Luís Pina Amaro, Maria João Serra, Mler Ife Dada, Paulo Duarte, Tiago Lopes, Isabel Brás.

O Charme Indiscreto, Inexistente e Bostoso da Crítica Musical em Portugal; (A Moderna, Que Eu Conheço...).
Jorge Ferraz Martins
Prefácio
Minha Grelha Teórica (?) (?) (?)..., etc,...: Irresponsabilidade nem a assumindo nem obrigação no proposto inantingivelmente inteiro único Absoluto e Absolutamente Na Surpresa Será Ponto de Interogação Sei Lá.
Texto
Esta crítica tem pavor de chocolate à música, a dita coisa sonora e os seus fazedores. Se tanto os fazedores como a sua coisa sonora não forem certas representações em seus papéis, se não preencherem as pré-requisitadas estruturas, haverá que tentar escapar rapidamente, cobardemente, da ira ciclópica da crítica. É evidente que esta adquiriu suas pré-requisitadas estruturas na loja do bairro (a preços mais baixos) ou na universidade (entre cabeças pensantes e a peso de ouro, porque aqui aquelas são difíceis de conseguir, e têm imensa procura).
A crítica: suas cabeças fedorentemente sérias e afectadas na importância (dos críticos, claro), como intelectuais que possuem a consciência do vital e transcendente momento histórico, a coisa sonora e tudo. Dizia eu que suas cabeças fedorentas são uma manta de retalhos que lhes garante SOBREVIVÊNCIA. Manta de retalhos que nem é Kitsch porque não é uso abusivo, nem dinâmica esporádica ou incongruentemente excessiva.
O nosso mundo produz sem desejo uma admirável e idiota inconsciência, partindo de interrelações entre estúpidas consciências; profunda dinâmica; inconstante diletância, incertamente séria.
O crítico: come porcinamente os restos jazentes do nosso e úncio mundo.
Numa lógica malabarista posso e quero afirmar que o crítico está sempre a digerir consciências datadas e jazentes, num esforço hercúleo para não perder o comboio da dita inteligência, pois é no ingerir de pouca coisa de cada tipo de restos que a sua estupidez sobrevive.
Isto tem duas funções: comer pouco para o estômago sobreviver sempre à mudança; comer pouco porque não compreende nada e as ideias podiam-lhe provocar uma cósmica indigestão. Finalmente: explicam-se mal e isso atrasa-os irremediavelmente; cagam facilmente e de olhos fechados.
Chamam sempre originais e significativas em valor às últimas e atrasadas modas, seja o revivalismo ou a originalidade. Ah,... Gostam da pertinência (?) e têm horror ao gosto das massas somente porque aí eles são pura e simplesmente dispensados.
Valorização do seu trabalho: perspectivar as possibilidades de desenvolvimento da coisa. Primeiro: não o conseguem fazer. Segundo: mesmo que o conseguissem isso seria uma classificação, algo relativo pois aquele e este são jogo de relações mais ou menos identificáveis ou definidos com unidades constituintes, numa escolha padronizada!
Que lindo! O crítico a fazer meninos por interposta pessoa. Impotentes! Freud, patriarca mentiroso, tanto a responder por estes horrorosos e voyeurs que apelidam os outros de "Produto de condições identificáveis", numa raivinha invejosa!
Depois: desancam os que fazem coisas sonoras por copiarem ideias importadas, ou de certo tempo, ou por possuírem uma originalidade diferente daquela que estupidamente, paradoxalmente, querem impor. Um dos problemas dos críticos é que a originalidade para eles se mede em espaço e tempo, para poderem recitar os seus ideais (?), de preferência divinos (porque Deus ou outra coisa qualquer manda...), e inclusivé de coisas extrasonoras para a complicação ser maior, como por exemplo a originalidade definida, como ela é feita (porque é considerada como o importante) nos livros dos esteticistas alemães (não; é filosófos e estetas), no caso clássico e de outros, modernos, que eu na minha ignorância desconheço.
Atenção ao charme!
Olhem que o valor se esvai rapidamente.
Oh seus maricas! que usam pilinhas de borracha e louça e se amedrontam todos em presença dum real caralho! mesmo quando metem no cú essas pilinhas fecham os olhos e dizem: "não quero ver"!
E vive a crítica feliz para sempre!
Falta-lhe irremediavelmente a beleza do charme, mesmo o de estarem na Moda, em Moda... E saberem-se...
Os reis vão nús... e o povo ri-se...
Ah, Esqueci-me de definir charme!...
Jorge Ferraz Martins (O Terror da crítica. Porque diz nada sobre nada)



Entrevista SOS
Carlos Manso
Os LINHA GERAL têm um papel político, assumido e não escondido que tem a ver com a posição de cada um, em particular, e que conseguimos sintetizar, no grupo, por uma atitude de fundo em relação à sociedade. Temos uma ideia também comum de uma certa esperança numa outra sociedade muito difícil de concretizar. De qualquer modo, lutamos e sonhamos com ela, seja ou não difícil de alcançar.
Hoje, é preciso, no mundo, haver de novo tertúlias, pessoas que se encontrem no café e discutam ideias.
Há necessidade de uma nova militância política que não esteja dentro dos partidos políticos tradicionais, de esquerda e de centro-esquerda.
O Rock é muito mais uma forma de contenção do que de subversão. Claro que há excepções.
O Rock, tal como foi criado, não liberta. Foi feito essencialmente para converter os que queriam pôr-se de fora, é uma forma acessível de colocar na dança as energias que podem muito bem ser dispendidas noutras coisas mais interessantes como, por exemplo, em manifestações violentas ou a fazer sexo.
O Rock pode ser uma forma de confraternizar debaixo de bandeiras que não são as deste sistema ou desta forma de viver.
Se a Red Wedge luta contra Thattcher do ponto de vista económico e político, os portugueses podiam fazer o mesmo. Há bandas que fazem isso de uma forma não aberta, porque ainda não criaram um espaço e uma sigla para se juntarem. No entanto, não lhes fazia mal nenhum e não seria copiar os ingleses.
Em Portugal já existem bandas que têm atitudes políticas contra o Governo. Não o dizem muito abertamente, porque há um certo pudor contra isso.
Há pudor em dizer que se é de esquerda ou de direita. Há pudor em dizer que se é fascista ou democrata. Há pudor contra tudo. Acho que se tem de tomar posições.
Não acredito no espírito europeísta. É uma treta que quando nasceu era bela.
Hoje a bandeira europeia é a da subjugação dos países da Europa às garndes potências europeias.
Acho que é necessário a nível do governo, se houvesse uma réstea de patriotismo, começar desde já uma luta enorme para apoiar e defender a nossa língua e a nossa cultura.
Depende de nós, dos artistas e das pessoas que se preocupam com a cultura, tentar lutar, pelo menos, pela tradição da nossa cultura.
No Casal Ventoso ou no Bairro da Serafina existe uma forma de cultura que não se integra neste sistema.
Existe uma militância alternativa aos partidos políticos. Aliás, é o factor mais imporatante de determinante do movimento social, na Europa, no final dos anos 70 e 80.
O que é certo é que existe, à margem da política estabelecida em toda a Europa e em todo o mundo, um movimento radical e violento que não está definido. É tão importante que está a abanar e a pôr em causa este sistema.
O ódio é disperso, ainda é disperso. Antes que ele se organize, o sistema luta contra ele.
Não existe uma democaracia europeia. Aliás, há uma tendência para o aumento da repressão, com a justificação de acabar com o terorismo e os excessos juvenis. Há uma tendência para radicalizar, para cortar ou limitar a democracia.
É inconcebível haver democarcia com fome, salários em atraso e jovens no desemprego. A palavra democaracia, para mim, é mais profunda e muito mais complexa do que aquela que utilizam os políticos europeus.
O ataque à Líbia foi uma atitude de fraqueza, porque o que está na ordem do dia é o terrorismo.
Um país que apoia e receb os palestinianos, é um país sensível. O que iria acontecer, neste momento, aos palestinianos se ninguém os apoiasse? Eles têm de estar lá e ser treinados para poderem lutar pela sua causa que é justíssima.





Memorabilia: Revistas / Magazines / Fanzines (32) - Nova Ordem - Nº 2 - Abril de 1989


Nova Ordem
No 2 Abr 89 - 100Esc/Pta
Vasco Eiriz
Quinta Da Oliveira
4950 Monção
Portugal
Edição Limitada e Numerada - a minha é a 79





Agradecimentos:
Adolfo Rocha
Sisi
Elisa Rodrigues
Dores Rodrigues
Helena Sousa
Victor Afonso
Concepção Gráfica
Vasco Eiriz


Editorial
Em Setembro passado afirmava no "press release" do primeiro número deste modesto fanz, que a NOVA ORDEM tinha surgido de um trabalho descomprometido que apenas durou três dias. Desde então longos meses se passaram, mantendo-se, no entanto, as mesmas certezas de então; o fanz não assume qualquer espécie de compromisso. Não sei se voltará a sair. Até é provável com o solstício de Verão. Se assim for, outras formas de comunicação não massificada (fotografia, banda desenhada, vídeo,...) ou o incremento do debate que estas curtas páginas possibilitam poderão ser objecto da nossa institiva atenção.
Do material a publicar neste número ficaram de fora, por motivos que não interessa aflorar, textos sobre FENDA EDIÇÕES, YUKIO MISHIMA, NER-NEW EUROPEAN RECORDINGS, Movida galega, Pronúncia minhota...
Termino lançando-te um desafio: abandona a tua passividade, talvez momentaneamente interrompida pelo consumo destas páginas e intervem neste fanz da maneira que melhor entenderes (textos, fotos, colagens, banda desenhada, etc.). Há um espaço para ti. Talvez a continuação e sucesso da NOVA ORDEM esteja dependente disso mesmo.



DEAH IN JUNE "The Wall Of Sacrifice"
Não estava prevista esta referência, mas o disco chegou há dias e merecia um destaque, sempre insuficiente!
Após reflexão julguei conveniente não "vulgarizar" tão importante legado. Reflexo de egoísmos!
Finalmente este desarticulado de palavras para vos dizer que tão sagrada obra exige um maior aprofundamento, uma maior interiorização. Mesmo assim perdura a convicção, do belo, do apogeu da criação de algo que marcará na minha memória esta prodigiosa década.
Vasco Eiriz
P.S. - "The Wall Of Sacrifice" é uma edição de 600 cópias e representa a última criação de originais dos DEATH IN JUNE. Inicialmente previsto para Outubro/Novembro do passado ano, o álbum, que só agora sai devido a problemas de produção, tem sido apresentado pela banda como "almost certantly the best and, possibly, the last LP". Uma forte convicção de continuação rodeia, no entanto, todos os crentes.






22.2.15

Memorabilia: Revistas / Magazines / Fanzines (31) - Portal da Gafaria - Nº 1 - 1992?


Portal Da Gafaria
Nº 1 - (1992?)
32 páginas + 12 páginas (suplemento sobre a cassete/bandas que acompanhava o fanzine9
preço ?


Não sei quantos números foram editados deste fanzine com origem em Setúbal.
Fica aqui o testemunho relativo ao número 1.
Um dia destes coloco o áudio da cassete que o acompanhava no youtube e no mixcloud.



Editorial
Fanzinomaníacos!
Nasceu mais uma publicação irregular destinada às áreas mais "marginalizadas" - Portal da Gafaria.
Como objectivos primordiais realçamos: A veiculação de informação e divulgação dos mais variados assuntos assim como algum entretenimento.
Para além do fanzine também lançámos, conjuntamente, uma cassete com bandas portuguesas. Assim como o seu respectivo suplemento, que esperamos se mantenha nos próximos números.
Destaco dois nomes sem os quais esta publicação não teria visto a luz do dia: Lino Pedrosa e Abel Raposo.
Pensamos que será importante receber as vossas críticas e possíveis futuros colaboradores, com vista a melhorar a p´roxima edição.
Aqui fica o nosso contacto:
"Portal da Gafaria"
Rua Eça de Queiroz, N. 22
2900 Setúbal   Tel. 065/702230
See You!
Pedro Navalho
Responsável
Pedro Navalho
Grafismo e Montagem
Abel Raposo
Computer Gafix
Lino Pedrosa
Fotografia
Marco Dias
Publicidade
Jorge Silva
Colaboradores
António Caeiro
João Correia
Luís Pacheco
Luís Navalho


SPH
Editora Com Objectivos Prometedores E Inovadores

Formada no final do Verão do ano passado (Setembro '91) a SPH tem vindo a implantar-se, quer no plano nacional quer internacionalmente. Logicamente, todo o destaque vai para o mentor, desta (para já) editora de cassetes. Fernando Cerqueira. Nesta entrevista, para além de se abordar a editora também se acabou por falar de alguns problemas vigentes em Portugal.

P.G. - Queria que descrevesses a "história" da SPH, como é que tudo começou?
Fernando Cerqueira - Foi a partir da edição de um fanzine e uma cassete, dos quais fiz cem exemplares. Postriormente comecei a ter contacto com uma série de grupos e fiz algumas compilações. Depois passei a contactar cada vez mais grupos, acabando por ir mais longe do que inicalmente previsto.
P.G. - A tuas edições, até ao momento, são só em cassete?
Fernando Cerqueira - Sim. Houve a possibilidade de um disco, só que me meteram um bocado de "medo" em relação a isso. Actualmente existem algumas possibilidades de uma compilação em CD com a colaboração dos Vitriol e Vcorux AEIA e talvez com o Vítor Rua pelo meio, uma grande produção. Só que é necessário muito dinheiro e as estruturas quase não existem e sem divulgação ninguém sabe o que se passa.
P.G. - O que é que pretendes atingir com a editora, ou seja quais são os teus objectivos principais?
Fernando Cerqueira - Pode ser uma trivialidade, mas fazer com que Portugal pelo circuito internacional da música. Possibilitar que outros grupos apresentem os seus trabalhos, para já em cassete, e divulgá-los lá fora, já que em Portugal é muito difícil. Os objectivos são muitos, existe a possibilidade de fazer um espectáculo de uns tipos norte-americanos só que não encontro espaço, e por outro lado como o grupo é desconhecido não sei se alguém vai ver. É tudo muito arriscado. No fundo o grande objectivo é lançar novos grupos, principalmente, portugueses.
P.G. - Como é que efectuaste os contactos para a edição do material com os diversos projectos envolvidos na tua editora?
Fernando Cerqueira - Contactei directamente com os grupos. Ou no caso do grupo estar à frente de alguma editora, o que acontece muitas vezes, e que eles oferecem-se para editar uma cassete e acaba por haver trocas de material. Por outro lado, tenho montes de cassetes e emprestam-me também cassetes antigas, que ainda cont~em contactos válidos.
P.G. - É muito difícil dirigir uma editora?
Fernando Cerqueira - Dificílimo. Dirigir todo este material, mandar para os estrangeiro para promoção, para fanzines, etc. Outro problema é relativo às distribuidoras, eu mando-lhes trabalhos e só tempos depois é que me pagam. Além disso como trabalho de dia, só tenho a noite e o fim de semana livres para me dedicar a isto. Agora já estou a atrasar mais as coisas para ver se me "dão" mais algum dinheiro para poder investir. Entretanto vão aparecendo uns anúncios no "Blitz"... o que me tem safado mais são as distribuidoras alemãs, já que em Portugal a Ananana lá vai dando uma ajudinha mas que acaba por não chegar a nada. Pronto, é muito difícil e dispendioso mas eu sempre pensei que houvesse pessoal curioso.
P.G. - Mas segundo o que me parece, tu vês mais os problemas das infraestruturas e não dos músicos?
Fernando Cerqueira - É lógico que os músicos também são um bocado culpados. Não a este nível, mas a outros: Eles tentam-se sempre suplantar uns aos outros. No que diz respeito às infraestruturas pode ser que aqui a algum tempo se comecem não a ajuntar mas a não ter problemas com este ou aquele e se comecem a organizar espectáculos para ter acesso às coisas.
P.G. - Há pouco falaste da Alemanha, onde existem associações de músicos alemães. Que pensas desta ideia em Portugal?
Fernando Cerqueira - Isso seria no mínimo excelente. As pessoas uniam-se e arranjavam forma de criar um pequeno circuito e as coisas naturalemnte aconteciam. No meu caso pessoal estou a trabalhar sozinho e necessitava de mais pessoas e mais dinheiro. Eu já participei em algumas cooperativas e nunca deu nada, porque houve interesses. No meio disto tudo ninguém é nada e há que querer ser o maior.
P.G. - Qual o critério que usas para editar cassetes?
Fernando Cerqueira - Inicialmente foi mais por amizade, estar em contacto com os grupos. O critério era de editar música "tecno" com músicos experimentalistas, mas depois as coisas começaram a avançar para campos mais conhecidos. Actualmente as edições baseiam-se em ambientes obscuros, experimentais e alguma coisa tecno.
P.G. - E a nível de vendas, elas naturalmente são maiores no estrangeiro?
Fernando Cerqueira - Sim, eles têm outras estruturas. Vou-te citar um exemplo. Os franceses BRUME. Eles cá em Portugal, quer pela Ananana quer pela minha editora, não "pegaram" e são realmente bons. No estrangeiro tenho um pedido de quinze exemplares de uma editora alemã.
Pedro Navalho / Lino Pedrosa
Contacto:
SPH, Apartado 223
2780 Oeiras






21.2.15

Memorabilia: Revistas / Magazines / Fanzines (30) - Monitor - Nº 1 - Junho de 1993


Monitor
Número Um - Junho 93 - 350$00
68 páginas

1000 exemplares



O Monitor foi uma revista que surgiu na sequência do Ibérico, aqui já retratado. Penso que teve dois números no formato deste, isto é, tipo revista, formato A5, com papel grosso e "muitas" páginas. Depois passou a outro formato, tipo livreto, papel fino. Segundo julgo saber saíram 50 e tal números, muitos dos quais tenho e que aqui postarei a seu tempo.
Para já fica o número um em que se dá especial ênfase à curiosidade do poeta Manuel de Freitas ter sido um dia crítico musical.



Editorial
Finalmente, depois de um processo de incubação de diversos e longos meses, eis que este primeiro exemplar surge pelos escaparates nacionais.
Optando por defender exclusivamente uma única causa - a promoção de algumas correntes sonoras colocadas mais à margem - os textos terão fundamentalmente um cariz mais informativo que opinativo.
Incursões por áreas experimentais, étnicas, electrónicas, e por quaisquer outras áreas não-rotuladas, servirão de linhas mestras na concepção deste periódico.
Não seremos independentes no sentido de nos colocarmos numa ilha deserta a olhar o mundo por um binóculo, mas sim no sentido precisamente inverso, ou seja, colocados no continente a observar, através das lentes, todas as ilhas em redor onde, quer por um motivo ou outro, haverá razões para divulgar as suas convicções.
As trancas das portas foram mais uma vez forçadas, esperemos que as correntes de ar proporcionem algumas melhorias no futuro.
Paulo Somsen

Colaboram neste número: Fred Somsen, João Correia, Jorge Saraiva, José António Moura, Luís Freixo, Manuel Freitas, Maurício, Miguel Santos, Miguel Somsen, Pedro Ivo Arriegas, Pedro Navalho, Pedro Santos, Rui Eduardo Paes e Tomás de Oliveira Marques.

Entrevista
Asmus Tietchens
«Velho... Como O Vinho Do Porto»
Três décadas a ditar os caminhos da modernidade, onde fazer música significa descobrir e procurar. Com 45 anos de idade, e mais de 25 a fazer música, Asmus Tietchens é, cada vez mais, um dos mais esclarecidos e radicais compositores do presente. Correntemente mal integrado, por jornalistas e interessados, em correntes de vanguarda diversas que não lhe dizem nada, Tietchens falou-nos em sua casa - um local onde embriões e caveiras humanas decoram as paredes e onde CDs de New Age são utilizados como base de copos. «Mais vale humilhá-los do que deitá-los fora», diz ele!
. Para início de conversa, dá-nos conta das tuas actividades do momento!
- Estou agora a trabalhar com Vidna Obmana, num projecto de intercâmbio. O Dirk enviou-me 60 minutos do seu material e eu estou agora a decompô-los e a deformá-los em estúdio, sem tocar nada de novo só por mim, apenas reiterando-o. Esse material irá ficar completamente modificado e restruturado. Será um novo tipo de música que não é minha nem dele.
. Mas como surgem todas essas pessoas com que tu normalmente colaboras e que muitas vezes nem conheces pessoalmente?
- Não é importante conhecê-las, só é importante conhecer a sua música! Quando eu colaboro com outras pessoas, preciso acima de tudo de gostar da sua música. Quando isso acontece, estou pronto a tentar trabalhar com elas!
. Quem toma então a iniciativa de trabalhar em conjunto?
- Depende. No caso de Vidna Obmana, por exemplo, fui eu que tomei a iniciativa, depois de ouvir os seus discos; no caso do CD «Five Manifestos», com PBK, a iniciativa foi do Philip. Não existe uma fórmula, apenas o interesse das pessoas!
. E consegues viver da tua música?
- Não, não é possível! Desde há três anos que trabalho na Escola Superior de Artes de Hamburgo. Sou professor de Instalações Sonoras e isso ajuda-me de forma muito importante.
. O que são concretamente essas instalações sonoras?
- São diferentes formas de usar o som juntamente com outras formas de expressão. É um trabalho extremamente interessante porque estou junto de estudantes muito empenhados e cheios de novas ideias, com os quais também acabo por aprender!
. Fala-me do Okko Bekker. Penso que ele tem um papel muito importante na tua música, não?
- O Okko é um amigo de longa data. Conheço-o há 30 anos! Ele é um músico profissional que trabalha para televisão e publicidade. É no seu estúdio que eu posso trabalhar e gravar a minha música.
. Foi ele que te impulsionou para a música ou isso aconteceu de forma simultânea entre ambos?
- Aconteceu em conjunto, sim. Mas o que é mais engraçado é que ele detesta lteralmente o tipo de música que eu faço. Pediu-me, como bons amigos, para fazer o meu trabalho à vontade, mas para nunca lho mostrar. Só colaborámos uma vez devido a um pedido.

. Como conseguiram então?
- Foi muito complicado, pois não nos conseguíamos ajudar mutuamente. Acabámos por fazê-lo numa base que não era a minha nem a dele, naquilo a que os alemães chamam de «serious new music», a música de âmbito mais académico. Foi, aliás, a primeira vez que retirei uma grande ajuda dos computadores, onde tudo foi gerado. Normalmente recuso-me a trabalhar com computadores!
. A tua música é afinal tecnológica, porque é concebida em estúdio, ou acústica, devido às tuas bases de partida?
- Eu classifico a minha música de acústica, mesmo que não o pareça. Para mim, já não se trata de utilizar instrumentos mas sim os sons. Não utilizo computadores e, desde há cerca de seis anos nem já sequer os sintetizadores. Os sons são hoje o único ponto de partida: sons captados ou sons produzidos acusticamente. É claro que o tratamento final acaba por ser digital, mas isso não invalida a base onde se geram os sons, que é sempre acústica. Utilizei sintetizadores consecutivamente durante vinte anos, agora já não os posso ver à frente!!
. O que é que mudou em 25 anos de música: as ideias, a tecnologia ou ambas?
- As minhas ideias básicas acerca da composição sonora pouco mudaram em todo este tempo e as mudanças na tecnologia nunca me forçaram a mudar as minhas ideias musicais. Nunca fui dominado pela tecnologia! Reconheço apenas uma evolução suave em todo o meu processo musical, no que diz respeito à concepção musical apenas.
. Consideras-te um experimentalista?
- Sim, de certa forma. Deixa-me dar-te esta imagem: Existe uma paisagem, de sons, onde se encontram uma série de pontos brancos que repreentam áreas ainda não descobertas de som... estruturas... E eu tento atingir, em cada peça que gravo, algum desses pontos. É sempre um pequeno paso à frente na direcção da descoberta. No entanto, espero nunca vir a descobrir toda a paisagem!
. Seria o fim!?
- Sim! Mas não temo que isso aconteça, pois já trabalho nisto há 25 anos e cada vez existem mais pontos brancos para mim. Neste sentido, sou um experimentalista, sim. Não de uma forma intelectual, porque componho mais com os meus sentidos do que com a cabeça.
. Mas como consegues atingir tão diferentes tipos de sonoridade? Por exemplo, «Marches Funébres» e «Geboren, Um Zu Dienen» (Born To Serve), dois dos teus melhores discos, estão em pólos sonoros completamente diferentes, não concordas?
- Antes de mais, devo dizer-te que: «Marche Funébres» devia ter sido uma piada, mas ninguém a entendeu! Ninguém se riu! Eu passo a explicar: Um dia, um tipo disse-me que eu não utilizava os computadores porque era demasiado estúpido para o fazer, ou então que tinha medo deles! Foi asim que surgiu a peça principal desse disco, toda feita a partir de elementos musicais artificiais, sem qualquer valor. Esse disco representa, para mim, uma simples banalidade!
. No entanto, pô-lo no mercado mostra, para mim, que existe uma faceta séria qualquer importante nesse disco, não?
- Bom, ele é composto por duas peças. Um dos lados, o mais electrónico minimal, é o elemento sério desta questão, feito com computadores e sintetizadores. O outro lado, o que soa a neo-clássico, é que é a anedota. Todos os sons dessa peça foram directamente retirados dos arquivos da Yamaha, sem que eu tivesse gerado o que quer que fosse.. «Marche Funébres» é o kitsch total; mas porque não fazer algo assim, um dia! É este o perigo do Kitsch, ser tão atractivo! É que toda a gente gostou imenso desse disco, apesar de ele não ter qualquer substância.
. Essas mudanças sonoras estão também relacionadas com as tuas mudanças constantes de editora, não?
- De certa forma. Eu faço tantos tipos de música e todas as editoras independentes têm sempre gostos tão específicos que não é possível manter a base.
. Porque pediste especificamente, no teu últimolançamento, que a editora Musica Maxima Magnetica utilizasse uma subdivisão editorial com outro nome?
- Para o meu gosto, acho que a MMM é uma má companhia discográfica, pois está repleta de discos muito maus, em minha opinião. Foi essa a razão de se ter criado a Syrenia para o lançamento de «Seuchengebiete 2».
. Porque não tens feito tu próprio o lançamento dos teus discos, uma vez que até já lançaste o LP de estreia do Miguel A. Ruiz, sob a designação editorial de Hamburguer Musikgesellschaft?
- Sim, mas conjuntamente com três amigos, além de que isso foi algo de especial. Esse selo planeia lançar apenas discos de pessoas que nunca o tenham conseguido e a música tem de agradar a nós os três. Foi assim que surgiu o LP «Encuentros en La Tercera Edad».
. Qual é a música que ouves em tua casa, já que é tão difícil de te agradar?
- Eu ouço música do mesmo género da que toco e faço-o por duas razões: Primeiro, pelo prazer claro, e depois porque quando ouço música, electrónica ou concreta, faço-o também para saber que já não devo fazer aquilo, pois já foi feito por outras pessoas! No entanto, não ouço muita música, para não perder o gosto de a fazer, mas, quando o faço, fico extremamente concentrado e penetro para dentro dela. Nuna a ouço só!!
. Para terminar, diz-nos como surgiu este teu recente contrato (o primeiro) com a editora Dark Vinyl?
- Tudo aconteceu porque eles se ofereceram para lançar qualquer que fosse a coisa que eu quisesse. Foi a primeira vez que tal aconteceu, para além de que disponho de liberdade total a todos os níveis - capas, etc., e, mais importante ainda, dinheiro em «advance»!! Mas exigi também a criação de uma sub-editora, pelas mesmas razões da Musica Maxima Magnetica.
. É, em suma, o contrato perfeito!?
- Completamente!
João Correia

Ain Soph - "Aurora" CD (Cthulhu - 1992)
"Bienvenuti Nell'a Italia Demockristiana" (in "Tutti a casa!").
Este disco poderá ser, naturalmente, uma séria desilusão para os mais incondicionais adeptos do som que lhes era próprio. Isto porque a atmosfera mística e pretensamente mágica que os Ain Soph sempre perfilharam está desta vez ausente. Difícil será dizer o que a substitui, neste registo híbrido e surprendente que "Aurora" é.
Em vez do hermetismo dos trabalhos iniciais, repletos de sugestões medievais, ou do conseguido exercício de melancolia que foi "Ain Soph" (recentemente (re)editado pela Staalplaat em formato CD), temos agora canções perfeitamente explícitas, avizinhando-se com frequência das sonoridades ditas "pop". A reacção primeira a este trabalho é de impasse, sem que a rejeição ou submissão ao que nos é proposto sejam juízo fácil. Mas sejamos precisos.
O piano e a guitarra acústica são os instrumentos dominantes em "Aurora", servindo de base às vocalizações (de crucifige?), ora amenas, ora enfurecidamente "pop", quase sempre encantatórias, apesar do péssimo francês em que se ouve cantar.
Tendo em conta não só o cansaço e aparente esgotamento do 'género' musical que se entende por alternativo (refiro-me mais precisamente à profusão exagerada de misticismos e ritualismos por-dá-cá-aquela-palha), como também a qualidade das canções apresentadas. "Aurora" é um disco que não deveria passar despercebido. Chegámos pois ao ponto em que estamos seduzidos pela tristeza de baladas como "Vent" e "Gliamanti Tristi", pelo ritmo tango (?!) de "Liberté ou Mort" e, muito em geral, pela versatilidade aqui demonstrada pelos Ain Soph.
Curiosa é ainda a miscelânia de referências, que vão desde uma audaciosa colagem de versos de Borges e Apollinaire (cantados nas respectivas línguas de origem) em "Le Départ", as influências políticas ambíguas, quando não contraditórias, passando por letras de uma futilidade quase provocante ("io e ce", sobretudo) e pela evocação do céptico e bêbado Omar Khayyan, em "Rubayyat".
Sou quase capaz de apostar que o comentário mais partilhado entre os que compraram este disco será "estes gajos passaram-se!". Não lhes levem a mal, e se puderem, entendam "Aurora" como um crepuscular festival da canção, indiferente a quaisquer preconceitos que eventualmente vos aflijam.
Manuel (de) Freitas

Death In June - "But What Ends When Symbols Shatter?" CD (NER - 1992)
Depois do longo silêncio que se seguiu a "The Wall of Sacrifice", confessada obra-prima e proposta de epílogo, os Death In June regressam afinal com o mesmo travo de mestria e despedida. De permeio, ficou a promessa de Douglas P. de extinguir o projecto, sem qualquer alusão ao que das cinzas poderia nascer. Mas verifica-se, agora, não se tratar ainda de cinzas mas sim de mais algumas canções de puro desencanto.
À semelhança de recentes trabalhos do seu antigo companheiro Tony Wakeford, mentor dos Sol Invictus, Douglas P. mostra-se neste disco renitente a experimentalismos e interessado tão-só em dar forma e expressão às suas letras, usando para isso canções, no mais convencional sentido da palavra. E, ao mesmo tempo, canções cuja intensidade, o acento tónico num desespero pessoal que reclama a sua dignidade, tornam inconfundíveis.
Dos assíduos "Comrades In Tragedy" que Douglas P. costumava recrutar, só vamos reencontrar David Tibet, encarregue das vocalizações de "Daedalus Rising" e "This Is Not Paradise". Ausentes estão pois os angélicos acompanhamentos vocais de Rose McDowall e a investidas sarcásticas de Boyd Rice, entre outros. Pode com isso denotar-se um empenho em Douglas P. (há já vários anos membro e titular único dos DIJ) em intensificar o que, com riscos de hipérbole e pirosice, chamaria a sua solidão criativa. Nisso seguirá taçvez o conselho de Genet, esse outro acólito da solidão procurada, que sempre influenciou a obra desta banda. E não é de todo improvável que a esse abandono voluntário se deva o intimismo maior deste trabalho, onde a preocupação lírica se sobrepõe à procura de novas sonoridades. De resto, "But What Ends..." poderá entender-se como a recusa do novo, um manifesto melancólico onde, do princípio ao fim, se ouve a mesma guitarra acústica que há muito conhecemos, acompanhada apenas pela percussão de James Mannox, sintetizadores e, uma ou outra vez, trompete. Canções como "Death Is The Martyr Of Beauty", "Hollow Of Devotion" e, sobretudo, "Little Black Angel" redimem inapelavelmente a ausência de novidade, consagrando-se por inteiro à causa nobre e desactualizada da beleza. De salientar ainda que estamos em presença de letras comparáveis ao que de melhor se tem feito em poesia inglesa.
Manuel (de) Freitas

Nurse With Wound - "Sugar Fish Drink" Cd e "Thunder Perfect Mind" CD (ambos United Dairies - 1992)
A mais inigualável demonstração de genialidade pode facilmente desembocar em tédios irresolúveis.Não endereço a Steven Stapleton esta constatação eventualmente discutível; temo antes que seja este o destino do homem que inventou os Nurse With Wound. Porquê? Sobretudo pelas decadências menores a que o género humano não sabe esquivar-se: envelhecimento, com todas as consequências e, não menos que isso, o abandono a qualquer alicerce minimamente válido, o repouso em qualquer certeza ou ponto de acção (no caso de Stapleton, a proximidade cada vez maior para as doutrinas orientais). Se refiro estes lugares comuns tão pouco musicais, é apenas pelo modo inequívoco como sempre se reflectem na obra musical de quem lhes sofre os danos.
Há não muitos anos Stapleton era, por excelência, um dos mestres da desconstrução sonora, plágio, blasfémia e aberração. Não é pouco, parece-me a mim, ter-se por justo direito a tutela do que de mais grotesco, inaudível, burlesco-asfixiante se fazia então. Como prova disso, tão perenes quanto insondáveis, tivemos "Homotopy To Marie", "Chance Meeting on a Dissecting Table of a Sewing Machine and an Umbrella", ou o inesquecível "Sylvie and Babs Hi-Fi Companion". Estes títulos poderiam sem prejuízo, e com a mínima variedade exigível, ser substituídos por outros. Era quando Stapleton se deixava roer pela impossibilidade de se restringir a qualquer teoria, filosofia ou critério musical definido ou definível. Merecendo um lugar de destaque na história da disformidade musical, quase todos os discos de NWW poderiam figurar como abjecções maiores de um processo único, fruto de muita (e boa) inspiração Dada (via Russolo / Schwitters, sobretudo). Para além da demência original, devidamente cultivada, do gestor de pesadelos em questão, bastou-lhe munir-se das boas ajudas de John Fothergill, David Tibet, Jim Thirwell (mais conhecido por Foetus), William Bennett (dos sórdidos Whitehouse) e outros que tais, então mais do que nunca dispostos ao desiqulíbrio estrutural (excepção feita a Foetus) e à incomodidade sonora. E o que é inegável, por essa altura, é que os registos dos NWW se apresentam como exemplares perfeitos dentro do seu género - ou, se preferirem, num subgénero até aí apenas aflorado. É isso que testemunha a "antologia" "Sugar Fish Drink", recentemente trazida à luz pela United Dairies. Espécie de "Best Of" impossível, este disco consegue, mesmo assim, obedecer a um excelente critério de selecção, não convidando para nele se incluir peças que só funcionam no todo da obra de que faziam parte ("Soliloquy For Lilith", "Sylvie And Babs" e "Spiral Insana", pelo menos). O início é-nos assegurado por "Cooloorta Moon", momento particularmente lúdico, com passagem imediata ao desvario de "Creakiness", e sem que "Swamp Rat" ou outras peças mais recentes, de parceria com Tony Wakeford, fiquem esquecidas. Um belo resumo, portanto, da insanidade enquanto emergência musical. Aos mais duvidosos, fica a advertência de Cage: "You don't need to call it music, if the term shocks you".
O mesmo se não pode amavelmente dizer da última gravação dos NWW, "Thunder Perfect Mind", "álbum-irmão" do disco do mesmo nome dos Current 93. Irmandade um pouco irritante, ainda que resultante das coincidências oníricas que vão entretendo Stapleton e Tibet, pois foi em sonhos que a ambos foi "revelado" o título que deviam ter os seus mais recentes álbuns.
Apesar de poucos serem os defeitos concretos a apontar a "Thunder", este surge como produto embotado de uma imaginação maior, que se limitou desta vez a assegurar o mínimo de qualidade e "exotismo" para salvaguardar de nódoa. Composto apenas por dois longos temas, mostra-se incapaz de dar resposta às expectativas de constante surpresa que nem "Soresucker" nem "A Sucked Orange" souberam defraudar. É um disco monótono, embora o não queira aparentar, um disco fraco sem conseguir ser um mau disco. Nem "Soliloquy For Lilith", um conjunto de três discos sendo cada lado um tema sem título, conseguiu ser enfadonho, de tal modo eram orgânicas a sua força e unidade. E, de resto, levar a "monotonia" a um limite tão extremo, vizinho do silêncio, talvez seja anulá-la, despoletando uma nova percepção. Infelizmente, "Thunder Perfect Mind" fica-se por uma sonoridade NWW, para todos os efeitos, só que domesticada, enfraquecida como se uma lavagem a sêco budista lhe tivesse cabido por sorte.
Manuel (de) Freitas






20.2.15

Memorabilia: Revistas / Magazines / Fanzines (29) - Record Collector - Nº 294 - Fevereiro de 2004


Record Collector
Issue 294 - Februaray 2004

£3.30 (original UK) - 7.30€ (importado pt)
148 páginas



A Record Collector é a "bíblia" dos coleccionadores de discos. Trata-se de uma excelenete revista, de que deixo aqui um exemplo. Não tenho muitos exemplares, pois como o dinheiro não abunda, as enormes listas de discos de colecção, normalmente a preços exorbitantes, deixavam-me um bocadinho frustrado, lol.
Neste caso comprei-a por dois motivos: para a conhecer mais em pormenor e porque tinha um artigo referente aos Nurse With Wound, que aqui deixo.




Evolução Industrial
Ian Shirley explora o estranho mundo dos titãs da experimentação industrial, Nurse With Wound
Foi a improvável figura do cómico e actor John Cleese que deu o pontapé de saída na carreira dos Nurse With Wound. Em 1978 o homem dos Monty Python andava a passear por um estúdio de gravação no Soho, onde Steve Stapleton se encontrava a a fazer um projecto de design de uma janela. Toda a gente ficou embasbacada à passagem da celebridade, e Stapleton ficou a falar com o engenheiro Nicky Rogers, que lhe disse que conseguia arranjar tempo de estúdio barato. No fim de semana seguinte aceitou a oferta, juntamente com dois amigos sem nenhuma competência na área da música: "A ideia de podermos entrar num estúdio, fazer barulho, gravá-lo e depois ouvi-lo, foi uma grande alegria para nós". Esta sessão espontânea tornou-se no primeiro álbum dos Nurse With Wound, "Chance Meeting On A Dissecting Table Of A Sewing Machine And An Umbrella". Não foi enviada qualquer cópia a John Cleese quando o álbum foi editado, em 1979.



A partir daquela primeira bolota atonal, os Nurse With Wound cresceram e tornaram-se num frondoso carvalho, com um imenso catálogo de edições e uma enorme base de fãs a nível mundial. Os Nurse não são um grupo na forma tradicional como a conhecemos mas sim um guarda-chuva debaixo do qual Stapleton se abriga, quer a solo ou com outros colaboradores musiciais. Os Nurse funcionam foram da indústria da música - sob o rada cultural - e encontram-se numa sombra que é comummente percepcionada como 'Industrial' ou auto-indulgência atonal. Isso é, contudo, um rótulo injusto e limitador pois, ao longo de duas décadas, Stapleton gravou todo um corpo de trabalho que vai desde paisagens sonoras ambientais obrigatórias, colagens sonoras, krautrock, easy listening e twisted mambo. Soando como os primos desconhecidos de Aphex Twin, os Nurse não obtiveram reconhecimento do mainstream mas preencheram e expandiram totalmente o seu potencial.
Em 1979, contudo, Chance Meeting sugere que Stapleton (instrumentos vários / efitos) John Fothergill (não-guitarra) e Heman Pathak (não-teclados) não tinham potencial algum que lhes permitisse encarar uma carreira musical. Com a música auto-financiada e editada na sua própria editora, a United Dairies, a mairia dos compradores foi atraída pelo notável fetiche da arte da capa e repelida pela música. Chance Meeting foi recenseado pelo semanário musical Sounds que, perplexo pelo conteúdo (não) musical, lhe atribuiu, como clasificação, cinco intrigantes pontos de interrogação em vez de estrelas.
Hoje em dia, Stapleton permanece orgulhoso pelo álbum que iniciou a sua longa carreira: "Eu nunca tinha pegado num instrumento antes disso. Queria fazer alguma música, e se o desejo existe cá, encontras sempre uma maneira. Forcei uma cavilha quadrada a entrar num buraco redondo. A partir daí os outros tipos foram-se embora e eu fiquei com o nome Nurse With Wound". A visita de cabeceira seguinte, To The Quiet Men From A Tiny Girl (1980), Merzbild Schwet (1980) e Insect And Individual Silenced (1981) foram colagens dadaístas, tacteando e produzindo efeitos exploratórios.
O que fascinou Stapleton não foi escrever canções de três minutos com melodias e letras, mas as possibilidades oferecidas pela exploração de texturas sonoras extensas: "Basicamente, o que faço - e isto soa pretensioso - é esculpir o som até ele ficar como pretendo. Eu não sei tocar qualquer instrumento. Apenas adoro o som. Adoro criar e manipular sons."
No início da década de 80 o trabalho de Stapleton como designer gráfico custeou as sessões de gravação nocturnas em estúdios baratos onde ele masterizou material que ia desde vozes, percussão, gongos até todas as outras formas de ruído. O que tornou esses álbuns atractivos foi que Stapleton era o seu maior fã: "Quando faço a minha própria música quero que ela seja interessante para mim. Quero apenas fazer uma peça de música que gostaria de ouvir. O produto colateral é que quando ela é editada, as pessoas vão ouvi-la e possam elas próprias gostar também."
O álbum que começou a juntar uma multidão à volta do campo dos Nurse foi Homotopy To Marie (1982), no qual Stapleto se deliciou com as possibilidades abertas por samples rudimentares e tape loops. "Comprei um Revox A77 e passei algum tempo a cortar fitas magnéticas em casa, o que foi uma coisa maravilhosa de fazer," lembra. "Não há nada como a edição de fita magnética. Podes cortar um bocado de fita e colocá-la depois num contexto não habitual e ficar maravilhado ou horrorizado com o resultado." Muitos ficaram.
Ainda assim, os Nurse eram ainda pouco mais do que um magnífico hobby. Colocados dentro das capas artísticas belíssimas de Stapleton, os álbuns eram prensados em pequenas quantidades e editados através da editora United Dairies, que expandiu as suas actividades e géneros para incluir bandas tais como os Lemon Kittens. As recensões e críticas eram escassas, as vendas permaneciam baixas e a percepção geral era que os Nurse eram uma boa banda arty, incluída no movimento industrial de que faziam parte os Throbbing Gristle. O colaborador mais significativo de Stapleton foi David Tibet, que conheceu em 1983. Tibet tinha sido membro da banda pós-Throbbing Gristle, os Psychic TV e despontava como cantor com letras desafiadoras. Depois de trabalhar com Stapleton no álbum Ostranennie 1913 (1983), os dois ficaram muito próximos desde então.
Tibet trabalhou em muitos álbuns dos Nurse, e, por sua vez, Stapleton trabalhou com Tibet no seu grupo, os Current 93, servindo como trampolim musical sob o qual Tibet despejava as suas preocupações através das suas letras. O envolvimento de Tibet estendeu-se também às actuações ao vivo, que foi composta por oito actuações entre 1984 e 1986. Apesar de misturar o som para os concertos subsequentes dos Current 93, Stapleton não tinha grande interesse no marketing obtido através das actuações ao vivo: "Eu não me posso distrair com concertos ao vivo. Não estou nesta vida para fazer dinheiro ou por razões de ego. Não gosto particularmente de ser conhecido em público".
Um culto mais alargado dos Nurse começou depois da edição de dois álbuns essenciais, Spiral Insana (1984) é um tilintar magistral rítmico, junto com estocadas de órgão e atmosferas que soam como uma banda sonora para um filme de terror de John Carpenter. É uma suite cinemática cativante de música instrumental. Soliloquy For Lilith (1986), por outro lado, é uma extensa série de drones.
"Esses foram os dias antes de terem colocado portas de barulho nos pedais de efeitos", lembra Stapleton com deleite, "e os ruídos extraterrestres que eles geravam podiam viajar de um pedal para outro. Se fizesses um loop de 15 pedais, um podia tocar até ao seguinte e assim continuar até construirem uma textura e um ritmo por eles próprios. Eram tão sensíveis que se fosse a algum lado por perto deles com a tua mão podias tocá-los como se fossem um theremin. Foi assim que Soliloquy foi feito".
Foi na altura de Soliloquy que Stapleton deixou o seu trabalho como designer gráfico para se concentrar a tempo inteiro na música. A United Dairies foi fechada: "Fiquei aborrecido, realmente. Eu adorava fazer música mas não da confusão que é dirigir uma editora e tratar de problemas como os royalties e toda essa espécie de porcarias burocráticas." Os direitos foram entregues para gestão à World Serpent que a partir daí passaram a editar, distribuir e manter todo o catálogo dos Nurse disponível em CD.
Cansado de Londres, Stapleton também se mudou para a Irlanda e começou a trabalhar numa velha casa rústica que cresceu depois até um local físico para artistas. Uma coisa que ele nunca montou foi um estúdio de gravação: "Eu não tenho qualquer equipamento de gravação. Também não tenho quaisquer instrumentos. Quando entro num estúdio de gravação começo do nada. É por esse motivo que a minha música acaba sempre por ir parar a lugares peculiares porque nem eu sei onde ela poderá ir parar, É uma viagem surpresa tanto para mim como para o ouvinte.."
Esta abordagem tem mantido os Nurse frescos. A cada nova edição os ouvintes nunca sabem que vegetal sonoro cresceu no solo fértil da mente de Stapleton.Os a´lbuns revelam extremos deliciosos, desde a easy listening de Sylvie And Babs (1988), a loucura do mini-álbum Brained By Falling Masonry (1984 - uma homenagem ao clássico do Krautrock, Cottonwoodhill, dos Brainticket, que Stapleton descreve como "o mais maravilhoso álbum de psicadélico fake alguma vez feito") e Bright Yellow Moon (2001) uma colaboração Nurse/Current 93, que envolve poesia, sentimento e textura.
Stapleton recebeu também ofertas para produzir e remisturar. Nenhuma foi aceite até os Stereolab terem feito uma proposta que ele não pôde recusar: "Eles disseram, damos-lhe um par de faixas e você pode fazer com elas o raio que quiser", ri-se ele. "Nós não queremos ouvir nem ver nada. Você desnha a capa, mistura as faixas e faz delas o que bem enetender. Queremos apenas ir à loja e comprar o disco sem saber como ele é".
O resultado foi Crum Duck EP, editado em 1993. Outra colaboração Nurse / Stereolab, Simple Headphone Mind, seguiu-se, em 1997.
Stapleton mantém as orelhas para baixo e está correntmente fascinado por Missy Elliott. Uma influência que filtrou foi o leader de banda cubano Perez Prado: "Estive obcecado pelo tipo por muitos anos até hoje." Pouco depois, Stapleton contratou a sua febre Prado e gravou Rock And Roll Station, um choque para os fãs de longa data.
O seu último álbum também dividiu as hostes: Salt Marie Celeste é uma suite cativante de uma hora que soa a um ranger de entranhas de uma galé Viking a ancorar num mar de Inverno.
"Metade dos meus fãs ficarão completamente horrorizados, zangados e revoltados e a outra metade ficará em êxtase!" ri-se Stapleton.



Compras de Nurse
Como Abordar o Arquivo dos NWW
O vasto catálogo de edições dos Nurse With Wound é uma selva densa e requer um guia especializado. Comece por Chance Meeting e nunca mais se aproximará de uma árvore outra vez. Por isso, os Nurses não iniciados devem começar por Rock And Roll Station e Spiral Insana. Progrida através de Soliloquy To Lilith, Crumb Duck e Salt Marie Celeste. Aqueles que procuram um álbum de Greatest Hits perdem o seu tempo, apesar de cinco faixas da compilação Funeral Music For Perez Prado servirem como exemplos excelentes deo som maturo dos Nurse. Aqueles que não conseguirem encontrar os CDs dos Nurse na sua loja local Virgin, HMV ou Woolworths, devem contactar a World Serpent directamente atarvés do (0208) 694 2000 / www.worldserpent.com.

Procurar a Ferida
Os Coleccionáveis dos NWW que tem de ter
Devido ao facto de a maioria dos primiros álbuns, singles e EPs dos Nurse With Wound terem sido editados em quantidades limitadas, eles são altamente valiosos para os coleccionadores. Por exemplo, os primeiros três álbuns são de edição limitada de 500 cópias numeradas à mão. Uma compilação como Drunk With The Old Man Of The Mountains (1987) foi limitada a 100 cópias pintadas à mão, assinadas e com capas individualmente desenhadas por Stapleton.
Apesar de todo o material dos Nurse With Wound ter sido reeditado em CD, Stapleton é como Frank Zappa no aspecto em que mexe e remexe quando remasteriza. Como consequência, as edições originais são coleccionadas avidamente por fãs internacionais hardcore. Os valores permanecem elevados.

Top 10 das Raridades dos Nurse With Wound
United Dairies UN 0124 PSILOTRIPITAKA (box set, com os primeiros 3 álbuns dos Nurse, num saco de cabedal, 1990) - £300-500
United Dairies UD 025 DRUNK WITH THE OLD MAN OF THE MOUNTAINS (LP, 100 cópias com capa pintada individualmente por Stapleton, 1987) - £200
United Dairies UD 001 CHANCE MEETING ON A DISSECTING TABLE OF A SEWING MACHINE AND AN UMBRELLA (LP, primeira edição de 500, numerados à mãos, com insert, 1979) - £150
United Dairies UD 008 INSECT AND INDIVIDUAL SILENCE (LP, único album dos Nurse não reeditado em CD, 1981) - £100
United Dairies UD 0123 PSILOTRIPITAKA (1000 box sets dos primeiros três álbuns dos Nurse, com um LP de bonus, 1990) - £80
Idle Hole Mirror 1 SOLILOQUY FOR LILITH (3-LP box set, Partes 1-6, 150 cópias com capa de feltro, 1988) - £80
United Dairies UN 003 TO THE QUIET MEN FROM A TINY GIRL (LP, 500 cópias numeradas à mão, 1980) - £70
United Dairies UD 004 MERZBILD SCHWET (LP, 500 cópias numeradas à mão, 1980) £70
White Noise WN 001 ALICE THE GOON (12" de um só lado vendido à audiência num Festival em França, 1995) - £70
Bragagild BRAG 004 CHANCE MEETING OF NURSE WITH WOUND AND UNVEILED ON CHARLOTTENBORG (LP, vendido numa instalação de arte na Dinamarca, vinyl amarelo, 2002) - £70






19.2.15

Memorabilia: Revistas / Magazines / Fanzines (28) - Ibérico - Nº 3 - Verão de 1990


Ibérico Nº 3 (houve nº 0)
Verão de 1990
60 páginas

750$00
60 páginas encadernadas com cola em lombada (os números anteriores eram fotocópias agrafadas)
Capa vermelha
... último número do fanzine ... :-(


ver enquadramento deste post aqui.



Direcção
Fred Somsen
Grafismo
Miguel Vieira Baptista
Colaboradores
Miguel Abalroado
António Carvalho
João Correia
Alexandra Costa
Ana Isabel Costa
Rafael Gouveia
Fernando Magalhães
Luís Carlos Manuel
José António Moura
Paula Gomes Ribeiro
Eugénio Teófilo
Miguel Santos
Miguel Somsen
Paulo Somsen
Clara Sanches Valente

Editorial
Mais uma vez eis que o processo de concretização do Ibérico chegou ao fim. Estivemos como que enfiados num casulo opaco durante longos meses, numa derradeira metamorfose, para hoje aparecermos com este visual. Sofremos uma operação plástica quase radical. Adoptámos um figurino neo modernista. Faetámo-nos de pilhar ideias a outros pasquins. Mas mantivemos o essencial, o Conteúdo e os escribas.
Apesar do incontestável apoio que sentimos ter da vossa parte, é um facto que temos tido certas dificuldades. Problemas de recursos humanos e financeiros deram-nos grandes dores de cabeça. Foi tudo resolvido porque o Fred resolveu empenhar as suas míseras economias e o Miguel, depois de algumas contrariedades, optou por colaborar na maquetagem. Enquanto estes três mosqueteiros (queneste caso eram dois), suaram à farta a tirar fotocópias, duplicar cassetes e bater no teclado, o resto da equipa preferiu ficar comodamente "at home" curtindo uma diferente. Trabalhar numa publicação independente é mais ou menos assim. O facto de não haverem regras pré-definidas proporciona anarquia, e esta apesar de ter a sua carga de criatividade, traduz-se em dispersões temporais. Mas é mesmo assim que surgem as alternativas, e eu hoje sinto-me muito honrado por poder asinar, ainda que seja, este memorando. Longa foi a espera, mas alegrem-se pois estamos finalmente de volta, e com ideias de, muito brevemente, vos martelar outra vez...
Paulo Somsen

Joy Of Life
Se à partida o nome não vos diz muito, talvez se sintam mais interessados se mencionar DEATH IN JUNE e CURRENT 93, projectos onde Gary Carey, líder dos J.O.L. já colaborou. Formados em finais de 83, os J.O.L. confinaram-se ao habitual circuito de concertos na zona londrina, de que pouco ou nada há a registar excepto, talvez, o 'line-up' original: gary Carey (baixo, voz teclas), Trevor Martin (guitarra, teclas) Peter Fordham (voz)., Kevin Gregory (bateria), Glenn Fenton (guitarra).
A primeira gravação - o mini-LP "Enjoy" - surge em Julho de 85 na N.E.R., fruto da amizade entre Gary e Douglas P.. O produto final resultou "apenas" num bom disco, sendo ainda notória a procura duma sonoridade própria., onde são palpáveis as influências mais marcantes da banda (Death In June, Joy Division, etc.). O som é ainda um tanto incaracterístico, mas temas como "Another Dream", "Missing Presumed Dead" e "Letter And A Photograph", são já pontos de referência do futuro som J.O.L. Enfim, nada mau para um primeiro registo.
Entre 85 e 88, data da edição do LP "Hear The Children", joga-se muito do futuro do projecto, nomeadamente dá-se a saída de Glenn Fenton nos finais de 85 e a assinatura dum contrato com a italiana Digitalis Purpurea, de que nada resultou, tendo sido os próprios Joy Of Life a pagar o estúdio, sem sequer vislumbrarem a sombra de qualquer edição vinílica. Finalmente em 87, desintilig~encias internas levam a que o projecto se veja reduzido a duo - Gary Carey e Trevor Martin. Em Maio de 89, decidindo-se a criar uma própria editora, Gary recupera grande parte do material anteriormente gravado e edita "Hear The Children" no selo Cadre Records.
Ao que parece o registo passou completamente despercebido na imprensa musical Britânica, o que actualmente parece ser cada vez mais um sinal de qualidade! O disco resultou num dos melhores trabalhos de 88, suficientemente louvado no Ibérico nº 1.
As comparações tornam-se ingratas, mas a constatação é sublime: "Hear The Children" traz-nos à memória velhas recordações, imagens de espíritos Gregos e afins, provando uma vez mais que a fórmula ainda não se encontra gasta e que ainda e sempre, é possível (re)criar.
Os mais cépticos acreditem-me, este é, sem dúvida, um excelente trabalho. 1990? 1991? Esperava-se para breve um novo registo discográfico, que logicamente só ainda não surgiu devido aos habituais problemas de rarefacção de papel moea (bem como a pouca vontade de trabalhar, da parte de Gary e Trevor! - N.R.).
Como certezas apenas podemos adiantar que o projecto continua activo e em busca duma sonoridade mais experimental. Para breve, talvez algumas surpresas. Como é da praxe, e para os habituais interessados, segue-se o contacto e discografia dos Joy Of Life:
Discografia:
- Julho de 85 - "Enjoy" (N.E.R.)
- Maio de 88 - "Hear The Children" (Cadre Records)
Faixas em Compilações:
- 1987 - "Hear The Children" (Machina, A.C.I.02)
- 1988 "Missing Presumed Dead" (Fools Paradise)
- 1989 - "Last Fine Days" (Unknown train Tapes)
- 1989 - "Dead Flowers" ("Welcome To The dreamhouse", Being Cut Tapes BC002)
Colaborações:
- "To Drown A Rose" 10" EP - Death In June
- "Brown Book" LP - Death In June
- "Swastikas For Noddy" LP - Current 93
Contacto:
17, Campion Court, Elmore Close, Alperton, Middlesex, England
Miguel Abalroado






17.2.15

Memorabilia: Revistas / Magazines / Fanzines (27) - Ibérico - Nº 1 - Inverno de 1988


Ibérico Nº 1 (houve nº 0)
Inverno de 1988
40 páginas

ver enquadramento deste post aqui.

Quem quiser a versão em pdf do nº 0, nº 1 (este) e/ou nº 2, envie-me email, pf.



Editorial
Deitem foguetes meus filhos!!
Finalmente surge nas vossas mãos o primeiro número do Ibérico, um fanz que pretende unicamente não passar despercebido.
Estivemos um ano em experi~encias, o embrião surgiu em Março sob a forma de número zero e hoje eis que lêem o primeiro.
Em contexto podem nestas quarenta páginas ler artigos musicais (nomeadamente sobre projectos e registos9, artigos históricos/políticos e também muitos outros que a priori nos escusamos de rotular.
Pretendemos tornar o Ibérico periódico, isto apesar de não pretendermos vincular uma perodicidade pré-estabelecida; por agora foi o do Inverno 88 e preparamo-nos já para a Primavera 89 se houver (como é evidente) o respectivo feedback da vossa parte.
Para terminar resta prestar o mereceido agradecimento à equipa que tornou possível esta realização, em especial a dois nomes que desde o início colaboraram a 100% e que sem eles o Ibérico teria sido um projecto só de café; são eles: Fred Somsen e Eugénio Teófilo. Obrigado!
O Irresponsável
Paulo Somsen

Breathless
Desprovidos de um som idiotipicamente próprio, os Breathless possuem no entanto um vocalista que dá uma homogeneidade consensual ao material que a banda produz.
Não se poderá obviamente restringir o grupo apenas ao seu vocalista - Dominic Appleton - embora ele tenha sido assumido como o monumento arquétipo da banda. Contudo, em termos de influências, poderemos agrupá-los numa amálgama de nomes tão dispersos como Nick Drake, Tim Buckley, Pink Floyd ou Joy Division.
O som dos Breathless queda-se o distante do imaginário caótico/decadente sendo suficientemente ágil e elaborado para não se dispersar na amálgama de guitarras e sintetizadores que proliferam na música actual.
O resultado final vai ser de certo modo exótico, com um grande sentimento de delicadeza quando iluminado pela voz.
Confirmando-se como o primogénito da banda, Appleton (e pese-se o facto dos Breathless não se inserirem na linha 4AD'iana) foi um dos poucos convidados extra-4AD que participou no projecto This Mortal Coil, na elaboração do duplo "Filigree And Sahdow". Trata-se claramente duma aposta de Ivo, não em mais um projecto musical mas sim numa voz que, sendo fortemente masculina não é rude, conferindo ternura àquilo que expressa. Estes dois aspectos, bem como a emotiva tristeza que se desprende das vocalizações de Dominic foram magistralmente explorados neste duplo álbum respectivamente nos temas "The Jeweler" e "Stength Of Strings".
O resto da formação - que inclui Gary, Ari e Tristram - não se limita a preencher o espaço já suficientemente convincente, mas a torná-lo ainda mais numa estrutura independente, sobriamente sólida e inteligente.
Trata-se de mais uma proposta com muito fôlego e força para proseeguir, esperemos que não demasiado ofegante.
BREATH 001 - Waterland / Second Heaven (7")
BREATH 002 - Ageless (12")
BREATH 003 - Two Days From Eden (MINI LP)
BREATH 004 - "The Glass Bead Game" (LP)
BREATH 005 - "Nailing Colours To The Wheel (12")
BREATH 006 - "Three Times And A Waving" (LP)

Breathless / Tenor Vossa
1 Colville Place
London W1
England






Participações
António Carvalho
António Mendes
Carlos Didelet
Eugénio Teófilo
Fernando Magalhães
Fred Somsen
João Duarte
José Faísca
José Moura
Miguel Baptista
Miguel Somsen
Nihil Avt Mors
Paula Ribeiro
Paulo Somsen
Richard Franoux
Sandra Cunha
Tadeu Saavedra

 




11.2.15

Memorabilia: Revistas / Magazines / Fanzines (26) - Ibérico - Nº 0 - Março de 1988


Ibérico
Nº 0 - Março de 1988
40 páginas

Quem quiser a versão em pdf do nº 0, nº 1 (este) e/ou nº 2, envie-me email, pf.

Deste fanzine foram editados 4 números, contando com o nº 0, sendo pois o último o nº3, o que, como podem comprovar, tem originado grandes confusões.
O nº 3, e último, veio acompanhado de uma cassete, que hoje de culto, ainda mais que os fanzines propriamente ditos, como podem confirmar pelo preço exorbitante que pedem por um exemplar (59€, À data da publicação deste post.)
O Ibérico foi um fanzine baseado num programa de rádio, que passava diariamente na RUT (Rádio Universidade Tejo), da responsabilidade dos irmãos Paulo e Fred Somsen, além de Eugénio Teófilo. Foram eles a alma do fanzine, que, no seu número 1 começou a receber também as contribuições de um outro vulto da imprensa musical, o crítico Fernando Magaljhães, que aqui deu os seus primeiros passos.
O tipo de música versado no fanzine, e também no programa de rádio aludido era variado, mas dentro de certos limites, não cedendo a quaisquer impulsos ou pressões comerciais. Foi o tempo glorioso das rádios pirata em Portugal. Artistas típicos: Nurse With Wound, Death In June, Curent 93, mas também a EBM dos Front Line Assembly e Front 242, entre outros, etc. Tudo o que saía de obscuro, não interessava o género, era objecto de pasagem e critica.
Começamos por ilustrar o fanzine através do seu nº zero:


Editorial
E pronto chegamos à parte mais difícil de consolidar - As palavras finais do início - o célebre
Editorial
Peça imprescindível em qualquer periódico. Assim, o Ibérico é um fanzine formado por um molho de folhas que pretendem ter em comum, só os agrafos que as apertam.
O nome, por exemplo, nada  tem a ver connosco, muito menos convosco - é um mero logotipo à venda por cem paus! Uma salada mista com maionese talhada e condimentada pelo pessoal cá do burgo - talvez a melhor identificação, que se adapta ao fanzine - através da negação: não é um pós moderno fanzine, nem um litro de papel contendo informação útil e actualizada sobre o costumeiro "de tudo um pouco".
Foi construído, escrito e pilhado por uma xunga de curiosos, estudiosos, avacalhadores, hipócritas, escribas de toilete, e ainda alguns idiotas e sensaborões, todos contribuindo para mais um episódio de folclore urbano tão esfomeado em coisas fortes.
A capa, sem fundo ibérico. A península sem ter culpa nenhuma do título.
Ideia - por isso se fala tão pouco dela, e ainda bem, senão teríamos de ser mais cruéis e, pior que tudo, menos patrióticos.
Ibérico, cheira a suor e muito gozo. [Foram cerca de onze meses]. Mais algum azedume num saco de raiva, sobretudo porque continua a não acontecer nada aqui e a culpa é muito nossa.
Para terminar (já que o espaço é pouco), se não vos agradar, contactem-nos, pois garantimos a devolução do 'papel' que desembolsaram, em gargalhadas.
O Irresponsável: P. Somsen


Melleril de Nembutal

Estamos vestidos, com lençóis, descalços, cabelos soltos, ancas cingidas com cordões dourados. Os nossos soporíferos de todas as cores transformaram-se em colares, brincos, pulseiras, anéis, jóias. As nossas caras todas riscadas com mercurocromo e arnica. Queriam proibir-nos de ser homens desejáveis e maquilhados. Empoei oo rosto de branco, pintei as pálpebras com carvão apagado, untei os lábios com pomada. Levamos círios roubados do "atelier" de ergoterapia. Obrigam-nos a fazer velas de cera, flores de papel, caixas de papelão, xailes, cestos para o pão que vendem aos normais. Não trabalharemos doravante para os normais. Agora somos belos, reis vestais. Seguimos pela estrada cantando cantigas infantis e cânticos de igreja, músicas vindas do fundo de nós mesmos.
Melleril de Nembutal será o teatro dos mal castrados?
Talvez a música folclórica e tradicional dos asilos urbanos, sempre marginalmente minoritária?
Melleril de Nembutal desde a copulação em Agosto de 1985, até ao parto, em Março de 1986. Passaram-se sete meses. Um parto prematuro, incompleto. A ideia começou a tomar forma. Nasceram cinco espantalhos na ponta de uma guita: Canto Buendia, Hesskhé Yadalanah, Justo Infantes, taperapefuxe e Canio Silvestre. Por vezes aparece mais um Camarada McGuinty, Ou outro: Arcádio Maturina. Ou ainda: Céti Rápá.
A nível de imagem, é a guita que comanda a música. Têm atitudes e personalidades próprias. Nos seus concertos tanto podem fazer transparecer a sujidade do trabalho de um operário, como actuarem parcialmente nus, onde mostram as pinturas vermelhas e brancas obscenas no corpo, como ainda de saias ou de qualquer outra maneira onde se sintam à vontade para fazerem o seu teatro de música castrada, onde dizem encontrar o verdadeiro espírito da seriedade.
Costumam utilizar como cenário de fundo nos seus espectáculos um painel, que simboliza a parede de um antigo quarto de asilo para velhos loucos. Nesse painel encontra-se a frase "Lebre-Caçador-Campo" onde se espelha uma ideia comum ao grupo.
Melleril de Nembutal pretende explorar uma via própria na construção de temas, onde vai também explorar mais tarde, uma improvisação de movimentos em palco - o teatro dos malcastrados, e a psiquiatria da anti-música.

(Festival Nacional de Nova Música Rock) Pav. Infante Sagres - Porto (ainda em embrião) 30NOV85
Escola Secundária de António Arroyo - Lisboa 12JUN86
Academia de Santo Amaro - Lisboa 19JUL86
Festa do Avante (Palco da Juventude) - Lisboa 07SET86
Largo do Rio Seco - Lisboa 4OUT86
(Interarte 86) Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa 18OUT86
Rock Rendez-Vous - Lisboa 28NOV86
(Festa de "O Diário") Coliseu dos Recreios - Lisboa 10JAN87
(4º Concurso de Música Moderna) Rock Rendez-Vous - Lisboa 21FEV87
Escola Secundária da Ameixoeira - Lisboa 28MAR87
(4º Concurso de Música Moderna) Rock Rendez-Vous 10MAI87

Largactil. Nubaréne. Ecuanil. A Manhã. Emma Amma. A Casa. Samuel. Ku Klux Kristah. Outono. "Intro de Percussões". Trevor Watts. A Carta. Vasija de Barro. Movimentos Córeicos. Flying Tóts.

Para ela, para a rapariga que morreu.
Ela e eu fugimos juntos do asilo. Fugimos do asilo e do silêncio, uma noite, uma madrugada, pela neve. Queríamos ir ao encontro dos outros. Ir ao encontro das palavras e do som.
Já cá fora, quando chegámos à estação, tivemos medo. Não estávamos habituados. Já começávamos a arrepender-nos, queríamos voltar atrás...
Ela atirou-se para debaixo do comboio.
Eu continuei. Procurei as palavras. Procurei o som.
Ainda por inventar.

Prémio de Originalidade - 4º Concurso de Música Moderna RRV.





A fechar ficam os agradecimentos a quem pronta/ participou na consolidação desta primeira coisa:
António Carvalho
Eugénio Teófilo
Fred Somsen
João Pedro Costa
José Dias Curto
Paulo Branco Lopes
Rafael Gouveia
Rui Brazuna
Rui Pureteiro
Rui Vargas
Rui Viana
Rui Pires
Renato Santos
Tadeu Saavedra






9.2.15

Memorabilia: Revistas / Magazines / Fanzines (25) - Rock Final - número único - 1982


Rock Final
Número único - comemorativo dos dois anos de actividade do programa radiofónico "Rolls Rock", do pioneiro António Sérgio
72 páginas


... agora que a "ROCK FINAL" está feita, contemos um pouco da sua história. Tudo começou com o desejo expresso por um grupo de amigos e ouvintes da emissão do Rolls Rock, no FM Estéreo da Rádio Comercial, em obterem os textos que eram difundidos no programa. Mas mais ainda esses ouvintes e muitos de nós, sonhávamos com a hipótese de um periódico que fosse de informação musical alternativa à pobreza infelizmente habitual nas publicações nacionais.
Em vez de se conseguir uma revista mensal, chegou-se, por empurrões de dificuldade financeira, à possibilidade de fazer uma revista com maior número de páginas que servisse de comemoração ao 2º aniversário do Rolls Rock, que reunisse a maior parte dos textos de grande impacto feitos durante 1981 e que, pelo facto de aparecer finalizada, pudesse abrir perspectivas para um órgão de imprensa musical como nós gostamos.
O pequeno núcleo de amigos lançou-se ao trabalho. Eles sabem que só no conteúdo poderão ter lançado a alternativa, já que no aspecto gráfico tiveram de bater-se com todo o tipo de dificuldades, tendo sido obrigados a optar pelo uso mais económico dum off-set, sem sequer usar composição tipográfica. Daí que ninguém possa encontrar nem cor nem arranjos gráficos de luxo nesta "ROCK FINAL".
Mesmo assim algumas das páginas aqui incluídas traduzem bem o espírito criativo existente entre os que meteram mãos a este trabalho.
"ROCK FINAL" é portanto uma dedicatória marginal ao programa "Rolls Rock" e aos seus ouvintes. Daí não ter fins lucrativos e o preço de venda ser rigorosamente destinado a cobrir as despesas de arte-finalização e impressão.
Os que fizeram a "ROCK FINAL" esperam que a recepção seja boa, tal como esperam uma atitude crítica compreensiva por parte dos que dela forem leitores.

"ROCK FINAL" - contactos: Ana Cristina Barrento Pereira - Apartado 24 - Vila Franca de Xira.
Rolls Rock - Rua Sampaio e Pina, 26 Lisboa 1000 codex

Ficha Técnica
Textos de António Sérgio, Joaquim Manuel Lopes, Nuno Diniz, Ana Cristina, José António Santos.
Colaborações de Ricardo Camacho e Zé Paulo.
Artes finais de Ana Cristina e Joaquim Manuel Lopes.
Compilado em Dezembro e Janeiro (81/82).

Os textos incluídos foram transmitidos de Fevereiro a Dezembro de 81, no "Rolls Rock" - Rádio Comercial FM Estéreo, de 2ª a 6ª das 20 às 21 e Sáb. das 22 às 24h.

Sumário
Neo-românticos
Frank Zappa
Eno/Byrne
Cramps
American Jam
Wire
Motörhead
Stranglers
Iggy Pop
Fall
Joy Division
Alan Vega
Suicide
Prémios R. Rock'81
Siouxsie
Wah!
John Cale
U-2
Db's
Bauhaus
... e mais!

Prémios Rolls Rock 1981
Pelo segundo ano consecutivo, o Rolls Rock apresenta a sua lista própria de nomeações, relativas à produção musical moderna, e destinadas a salientar os melhores trabalhos, em várias secções, com que o programa e a sua equipa lidaram durante um ano de actividade. Os prémios, como facilmente se constata, orientam-se no sentido de uma escolha apurada dos trabalhos de grande qualidade de que tomámos conhecimento e ainda na busca duma mira do que é efectivamente futuro no mundo grande da produção musical moderna.

Melhor LP compilação: "STILL" - Joy Division
Melhor LP ao vivo - "HANX" - Stiff Little Fingers
Melhor Regresso - John Cale em "Honi soit..."
Melhor versão: "Telegram Sam" - Bauhaus
Melhor produtor: Martin Hannett pelo trabalho com New Order, E.S.G., Wasted Youth, Durutti Column e S. Pollitti
Desilusão do ano: DEVO no LP "New Traditionalists"
Esperança '82: Comateens
Revelação 81: WAH!
Revelação Alternativa: Birthday Party
Melhor compositor: Frank Zappa
Melhor capa: "The only fun in town" - Josef K
Melhor show estrangeiro em Portugal: Ian Dury & The Blockheads
Melhor vocalista masculino (ex-aequo): Ken Butler (Psychedelic Furs) | Bono (U2) | Peter Murphy (Bauhaus) | Ian McCulloch (Echo & The Bunnymen)
Melhor vocalista feminina: Barbara Cogan (Passions)
Melhor Secção Rítmica: Robbie Shakespeare / Sly Dunbar
Melhor Teclista: Dave Greenfield (Stranglers)
Melhor guitarra-solo: Tom Verlaine
Melhor multi-instrumentista: Don & David Was (Was Not Was)
Melhor Poema: "The Call Up" - Clash

Os 5 melhores singles do ano:
1 - Eye Of The Lens - Comsat Angels
2 - Pretty In Pink - Psychedelic Furs
3 - I'm Your Money - Heaven 17
4 - I'm In Love With A German Film Star - Passions
5 - Snakes And Ladders - TV21

Surpresa 81: Stray Cats

Prémios Hard Rock / Heavy Metal
Melhor LP: No Sleep 'Til Hammrsmith - Motorhead
Melhor Grupo: Motorhead
Esperança 82: Dark Star

Prémios Nacionais
Melhor Disco Português: "Ribeira" - Jafumega
Revelação: Taxi
Melhor Ao Vivo: U.H.F.

Os 10 Melhores Álbuns do Ano:
1 - Talk Talk Talk - Psychedelic Furs
2 - October - U2
3 - Was Not Was - Was Not Was
4 - Nah Poo, The Art Of Bluff - WAH
5 - Sandinista - Clas
6 - My Life In The Bush Of Ghsots - Brian Eno / David Byrne
7 - Heaven Up Here - Echo & The Bunnymen
8 - Mask - Bauhaus
9 - Fire of Unknown Origin - Blue Oyster Cult
10 - Faith - Cure






8.2.15

Memorabilia: Revistas / Magazines / Fanzines (24) - Sonora #1 - 1990


Sonora
#1 - 1990
98 páginas
Bilingue: Italiano + Inglês
com CD de oferta 


Revista italiana ligada à editora Materiali Sonori (MASO) que, penso, ainda estar em actividade.


The Durutti Column

Os primórdios foram decididamente punk. Podem achar difícil de acreditar nisso depois de ouvirem dez anos de produção sofisticada, incluindo experiências impressionistas, avantgarde, folk eléctrico e, vagamente, improvisação jazz.
"Manchester é um lugar onde é realmente difícil de viver. Não há trabalho, nem a possibilidade de desenvolver a maior parte do enorme potencial criativo da gente mais jovem. Frustração e violência são os resultados. É muito similar à situação em Liverpool, e, aí também, a única válvula de escape é a música... ou a violência".
Vini (Vincent Reilly) no intervalo entre estados de graça criativa continuou a sua procura interior, pesquisando toda e cada uma das possibilidades de transformação no trabalho de viver. Lugares onde todos os homens capazes de sonhar têm acesso. "A ideia básica por detrás da música da Durutti Column é quebrar com qualquer estrutura que suporta as fundações do formalismo musical, em ordem a tentar e criar um tipo de música que possa realmente pertencer a todos". Os primórdios foram decididamente punk. O cenário é a Inglaterra em 1976. As experiências iniciais de juventude tiveram os nomes de Qed e Wild Rams. Então Vini, em conjunto com o vocalista Ed Banger, fundou os Nosebleeds, autores de um single de sucesso, na cena punk, com o eloquente título Ain't Bin To New Music School e Fascist Pigs. No ano seguinte, Ed Banger deixou a formação e Vini formou a Durutti Column. Em 1978.
"Tenho dúvidas de que serei alguma vez visto no Top Of The Pops".
Buenaventura Durutti foi um comandante de uma brigada anarquista, na Guerra Civil de Espanha, de 1936. Nos anos sessenta os Situacionistas utilizaram a Durutti Column como um símbolo.É um símbolo para Vini também, cantor de uma Guernica diária nos limites entre a loucura e o brilhantismo. "A anrquia é algo que nos diz respeito. Toda a cultura punk são ideias de crianças surripiados do movimento Situacionista. Quando o punk ficou muito comprometido, ele próprio, em aceitar os sistemas da indústria e se tornou uma simples questão de moda, pensámos em reafirmar os valores iniciais com que começámos.".
Quem acreditou na pureza talentosa das visões guitarrísticas de Vini, foi a Factory, que não é um emblema de editora independente por acaso. O encontro foi o certo e resultou. Juntamente com os Joy Division, Cabaret Voltaire e Dowie, a Durutti Column apareceu no primeiro EP lançado pela Factory, o histórico Fac 2, com duas faixas: No Communication e Thin Ice.

"Sempre soube que as pessoas não correriam a comprar os meus discos como se a sua vida disso dependesse. Ouvem-nos enquanto falam; como música de fundo para fazer amor; mesmo em casa alheia. Eles ouvem e dizem: Sim, é fixe, é muito bonito e bom, talvez volte a ouvi-los. Mas não sei se alguém alguma vez disse: Wow, sim, é um grande disco. Tenho de o ir comprar imediatamente.".
O primeiro Lp foi The Return of Durutti Column e foi gravado depois ter sofrido um esgotamento nervoso, que originou a separação do grupo. De aí em diante os Durutti Column passou a ser apenas o "outro eu" de Vincent. Até à entrada do baterista Bruce Mitchell, que surgiu no álbum LC, há uma sensação de unidade grupal. "Há um processo estranho por detrás dos meus discos. Quando gravo um LP, geralmente penso que ele é realmente bom até que me dizem que a mioria das pessoas consideram a minha música como ambient music. Isso significa que cometi algum erro porque as pessoas costumam ouvir a minha música de forma mais atenta e não usá-la como pano de fundo para alguma outra coisa que estão a fazer".
A colaboração com Bruce Mitchell tornou-se uma coisa regular. Não apenas Mitchell se tornou em algo mais de um acompanhante rítmico refinado para os monólogos de Vini, ele tornou-se o organizador, o seu patrono, a defensiva rocky do projecto Durutti Column.
"A minha maneira de tocar tornou-se agora mais ao vivo. Eu estive metido nos comprimidos durante alguns anos, drogas pesadas... tranquilizantes e antidepressivos, devido à minha doença estranha que tinha. Assim que deixei de os tomar, apesar de o médico me ter aconselhado a não o fazer, senti-me melhor. Agora não me deixo dormir a tocar guitarra, a cada meia hora, e a minha música mudou também: há menos tristeza e mais optimismo. O público também notou isso, e isso é muito importante para mim".
Toda a década de 80 está delicadamente tingida com as cores das aguarelas assinadas pelo lutador republicano espanhol. Desde Another Setting até Vini Reilly, o génio agradável de Bruce e Vini deixaram permanentemente as suas sementes na bandalidade da década.
"Eu não concebo sectorizações na música, limitarmo-nos ao aspecto formal ou separar as coisas em estilos. Frequentemente as pessoas páram e dizem, isto é jazz, aquilo é rock, sem tentarem analisar mais de perto ou discutir o conteúdio das coisas".
A guitarra de Vini Reilly foi utilizada frequentemente como um instrumento novo e/ou atípico: por Steven Brown e Benjamin Lew e Anne Clark até (surpreendentemente) Morrisey. "Diverti-me realmente a gravar O LP do Morrissey mesmo tendo em conta que não há nada de Durutti Column em Viva Hate. Essa colaboração foi muito engraçada. Eu já vinha a pensar em fazer algo em conjunto com ele desde 1985. Queria gravar alguma coisa com ele mesmo que não fosse para editar em disco. Eu sabia que publicar qualquer trabalho feito com a participação do Morrissey teria parecido como eu se estivesse a tentar tirar partido do seu sucesso. De qualquer modo, ele nunca respondeu às mensagens que lhe enviei na sua caixa de mensagens. Quando ele, inesperadamente, entrou em contacto comigo, iso foi muito estranho mas, em qualquer caso, fiquei felicíssimo".
Em tempos de ruído ensurdecedor e som para multidões, a gama musical cromática e não adornada dos Durutti Column tornou-se a banda sonora para redescobrir a rara capacidade que hoje temos/usamos: reflexão.
"Eu não fiz nada para eliminar o desapontamento que rodeia a minha música. Cada álbum que fiz foi uma oportunidade perdida. Não há qualquer dúvida sobre isso. Quando chegar o tempo em que eu gravar um LP que me satisfaça plenamente e que fique feliz com ele, então chegou para mim o momento de me arrasatr até ao jardim e suicidar-me. Penso que chegarei a muito velho antes de que isso possa acontecer".

Trabalhos
The Durutti Column
. The Return Of The Durutti Column LP/Cas  Factory   Fact 14   1980   GB
. First Aspect Of The Same Thing Second Aspect Of The Same Thing (incluído no Fact 14)   flexi-disc   Factory   Fac 14c   1980   GB
. LC   LP/Cas   Factory   Fact 44   1981   GB
. I Get Along Without You Very Well   7"   Factory   Fac64   1981   GB
. Lips That Would Kiss / Madeleine   12" / 7"   Factory Benelux   Fbn 2   1981   Bel
. Deux Triangles   12"   Factory Benelux   Fbn 10   1081   Bel
. Two Triangles   12"   Factory   1982   GB
. Enigma / Danny (edição limitada 2730 cópias)   7"   Sordide Sentimental   1982   FR
. Live At The Venue London (bootleg)   LP   Vu   1983   GB
. Another Setting   LP   Factory   Fact 74   1983   GB
. Amigos Em Portugal   LP   Fundação Atlântica   1984   Por
. Say What You Mean Mean What You Say   7"   Factory   Fact 114   1985   GB
. Domo Arigato (live)   CD   Factory   Facd 144   1985   GB
. Tomorrow   7" / 12"   Factory Benelux   Fbn 51   1985   BEL
. Short Stories For Apuline   LP   1985 
. Domo Arigato (live)   VHS vídeo   Factory   Ikon 16   1986   GB
. Without Mercy   LP/Cas   Factory   Fact 84   1986   GB
. Circus And Bread   LP/CD/Cas   Factoryy Benelux   Fbn 36   1986   BEL
. Valuable Passages   2xLP   Factory   Fact 146   1986   GB
. Greetings Tree   12"   Materiali Sonori   Maso 70003   1986   ITA
. White Rabbitt (com Debi Diamond)   12"   Factory   Fact 184   1987   GB
. When The World   7" / 12" / CD   Factory   Fact 194   1987   GB
. The Guitar And Other Machines   LP/CD/DAT/Cas   Factory   Fact 204   1988 GB
. The Durutti Column (contém extractos do Fact 204)   flexi-disc   Factory   Fact 214   1988   GB
. Live At The Bottom Line N.Y.   Cas   Reach Out International   A 152   1988   USA
. The Early Years - The First Four Albums On CD   CD   Factory   Fact 224   1988   GB
. Womad 88 (live)   3"CD   Factory   Fact 234   1988   GB
. Vini Reilly   LP   Factory   Fact 244   1989   GB
. Vini Reilly   CD Vídeo   Factory   Fact 244 d   1989   GB
. Sporadic Recording (edição limitada)   CD   Sporadic Production   1989   GB
. Obey The Time   2xLP/CD   Factory   Fact 274   1990   GB
. Dry   LP/CD   Materiali Sonori   Maso 33065   1991 ITA

Artistas Vários
. No Communication / Thin Ice (in "A Factory Sample")   2x7"   Factory   Fact2   1978   GB
. A Factory Quartet   2xLP   Factory   Fact 24   1980   GB
. Piece For An Ideal / Weakness And Fever (in "From Brussels With Love)   2xLP   Les Disques du Crépuscule   Twi 007   1980   BEL
. Marie Louise Ganders (in "The Factory Compilation)   LP   Factory Benelux   Fbn 7   1981   GB
. The Eye And The Hand / Experimental In Fifth / Party (in"The Fruit Of Original Sin")   2xLp   Les Disques du Crépuscule   Twi 135   1981   BEl
. One ChristmasFor Your Thoughts (in "Chantons Noel - Ghosts Of Christmas Past   LP   Les Disques du Crépuscule   Twi 058   1981   BEL
. Some Of The Interesting Things You'll See   LP   Les Disques du Crépuscule   1983   BEL
. Sense Of Beauty   LP   Uniton   1985   NOR
. The Sea Wall / Duet com Blaine L. Reininger (in "Operation Twilight")   LP   Interior Music   Im 005   1986   BEL
. The Square / Little Horses Of Tarquinia / The Sea Wall / La Douleur com Blaine L. Reininger (in "Hommage A Duras")   LP   Interior Music   Im 011 1986   BEL
. For Friends In Italy / Florence Sunset (in "The Greetings Compact")   CD   Materiali Sonori   Maso 90001   1988   ITA
. Artists For Animals - The Liberator   LP   Deltic   1989   GB
. San Giovanni Dawn (in "The Greeting Compact Volume 2)   CD   Materiali Sonori   Maso 90014   1990 ITA
. Our Lady   (in "Sonora 1/90)   mag+CD   Materiali Sonori   Sonora 1/90   1990   ITA

Vini Rilley
. Nosebleeds - "Ain´t Bin To No Music School / Fascist Pigs"   7"   Rabid   Tosh 2   1977   GB
. Nosebleeds - "Ain´t Bin To No Music School" (in "Streets")   LP   Beggars Banquet   Bega 1   1977   GB
. Nosebleeds - "Ain´t Bin To No Music School" (in The Crap Stops Here")   LP   Rabid/Absurd   Last 1   1980   GB
. Jez & Vini Sleep Will Come (in "From Brussles With Love"   LP   Les Disques du Crépuscule   Twi 007   1980   BEL
. Anne Clark - "Changing Places"   LP   Red Flame   Rf 22   1983   GB
. Benjamin Lew & Steven Brown - "A Propose D'Un Paisage" (reeditado em Cd em 1989)   LP   Crammed Discs   Mtm 16   1985   BEL
. Richard Jobson - "An Afternoon In Company"   LP   Les Disques du Crépuscule   Twi 080   BEL
. Richard Jobson - "The Right Man"   2xLP   Les Disques du Crépuscule   Twi 615   1985   BEL
. Morrissey - "Viva Hate"   LP/CD/Cas   EMI   Csd 3787   1988   GB
. Morrissey - "Suedehead"   7"/12"/Cd   EMI   Pop 1618   1988   GB
. Morrissey - "Everyday Is Like Sunday"   7"/12"/CD   EMI   Pop 1619   1988   GB

Bruce Mitchell
. Annette & Victor Box - "Rollin' Back"   LP   Sonet   Sntf 663   1974   GB
. Albertos Y Los Trios Paranoias - "Alberto Y Los Trios Paranoias"   LP   Transatlantic/Logo   Tra 316   1976   GB
. Albertos Y Los Trios Paranoias - "Italians From Outer Space"   LP   Transatlantic/Logo   Tra 349   1977   GB
. Albertos Y Los Trios Paranoias - "Snuff Rock"   12"   Stiff   Last 2   1977   GB
. Albertos Y Los Trios Paranoias - "Dead Meat"   2x7"   Transatlantic/Logo   Go 323   1978   GB
. Albertos Y Los Trios Paranoias - "Skite"   LP   Logo   1009   1978   GB
. Albertos Y Los Trios Paranoias - "Snuffin' Like That / Gobbing On Life / Kill (in "Heroes Down No Nonsense")   LP   Stiff   Seeez O   1978   GB







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