28.2.15

Memorabilia: Revistas / Magazines / Fanzines (33) - Enfim SOS - Nº 2 - Maio de 1986


Enfim Sos
Mensal
Ano 1
Número 2
Maio 86
50 Escudos
20 páginas policopiadas e agrafadas




Contactos: Rua Coelho da Rocha, Nº46, 1ºDto. 1200 Lisboa
Coordenadores: Luz Fernandes, Maria João Guerreiro e Rui Vargas
Neste número colaboraram: Carlos Manso, Fernando Oliveira, Essa Entente, Filipe Guilherme, Jaime Guedes Lebre, João Luís, Jorge Ferraz Martins, Leba Edneser, Luís Pina Amaro, Maria João Serra, Mler Ife Dada, Paulo Duarte, Tiago Lopes, Isabel Brás.

O Charme Indiscreto, Inexistente e Bostoso da Crítica Musical em Portugal; (A Moderna, Que Eu Conheço...).
Jorge Ferraz Martins
Prefácio
Minha Grelha Teórica (?) (?) (?)..., etc,...: Irresponsabilidade nem a assumindo nem obrigação no proposto inantingivelmente inteiro único Absoluto e Absolutamente Na Surpresa Será Ponto de Interogação Sei Lá.
Texto
Esta crítica tem pavor de chocolate à música, a dita coisa sonora e os seus fazedores. Se tanto os fazedores como a sua coisa sonora não forem certas representações em seus papéis, se não preencherem as pré-requisitadas estruturas, haverá que tentar escapar rapidamente, cobardemente, da ira ciclópica da crítica. É evidente que esta adquiriu suas pré-requisitadas estruturas na loja do bairro (a preços mais baixos) ou na universidade (entre cabeças pensantes e a peso de ouro, porque aqui aquelas são difíceis de conseguir, e têm imensa procura).
A crítica: suas cabeças fedorentemente sérias e afectadas na importância (dos críticos, claro), como intelectuais que possuem a consciência do vital e transcendente momento histórico, a coisa sonora e tudo. Dizia eu que suas cabeças fedorentas são uma manta de retalhos que lhes garante SOBREVIVÊNCIA. Manta de retalhos que nem é Kitsch porque não é uso abusivo, nem dinâmica esporádica ou incongruentemente excessiva.
O nosso mundo produz sem desejo uma admirável e idiota inconsciência, partindo de interrelações entre estúpidas consciências; profunda dinâmica; inconstante diletância, incertamente séria.
O crítico: come porcinamente os restos jazentes do nosso e úncio mundo.
Numa lógica malabarista posso e quero afirmar que o crítico está sempre a digerir consciências datadas e jazentes, num esforço hercúleo para não perder o comboio da dita inteligência, pois é no ingerir de pouca coisa de cada tipo de restos que a sua estupidez sobrevive.
Isto tem duas funções: comer pouco para o estômago sobreviver sempre à mudança; comer pouco porque não compreende nada e as ideias podiam-lhe provocar uma cósmica indigestão. Finalmente: explicam-se mal e isso atrasa-os irremediavelmente; cagam facilmente e de olhos fechados.
Chamam sempre originais e significativas em valor às últimas e atrasadas modas, seja o revivalismo ou a originalidade. Ah,... Gostam da pertinência (?) e têm horror ao gosto das massas somente porque aí eles são pura e simplesmente dispensados.
Valorização do seu trabalho: perspectivar as possibilidades de desenvolvimento da coisa. Primeiro: não o conseguem fazer. Segundo: mesmo que o conseguissem isso seria uma classificação, algo relativo pois aquele e este são jogo de relações mais ou menos identificáveis ou definidos com unidades constituintes, numa escolha padronizada!
Que lindo! O crítico a fazer meninos por interposta pessoa. Impotentes! Freud, patriarca mentiroso, tanto a responder por estes horrorosos e voyeurs que apelidam os outros de "Produto de condições identificáveis", numa raivinha invejosa!
Depois: desancam os que fazem coisas sonoras por copiarem ideias importadas, ou de certo tempo, ou por possuírem uma originalidade diferente daquela que estupidamente, paradoxalmente, querem impor. Um dos problemas dos críticos é que a originalidade para eles se mede em espaço e tempo, para poderem recitar os seus ideais (?), de preferência divinos (porque Deus ou outra coisa qualquer manda...), e inclusivé de coisas extrasonoras para a complicação ser maior, como por exemplo a originalidade definida, como ela é feita (porque é considerada como o importante) nos livros dos esteticistas alemães (não; é filosófos e estetas), no caso clássico e de outros, modernos, que eu na minha ignorância desconheço.
Atenção ao charme!
Olhem que o valor se esvai rapidamente.
Oh seus maricas! que usam pilinhas de borracha e louça e se amedrontam todos em presença dum real caralho! mesmo quando metem no cú essas pilinhas fecham os olhos e dizem: "não quero ver"!
E vive a crítica feliz para sempre!
Falta-lhe irremediavelmente a beleza do charme, mesmo o de estarem na Moda, em Moda... E saberem-se...
Os reis vão nús... e o povo ri-se...
Ah, Esqueci-me de definir charme!...
Jorge Ferraz Martins (O Terror da crítica. Porque diz nada sobre nada)



Entrevista SOS
Carlos Manso
Os LINHA GERAL têm um papel político, assumido e não escondido que tem a ver com a posição de cada um, em particular, e que conseguimos sintetizar, no grupo, por uma atitude de fundo em relação à sociedade. Temos uma ideia também comum de uma certa esperança numa outra sociedade muito difícil de concretizar. De qualquer modo, lutamos e sonhamos com ela, seja ou não difícil de alcançar.
Hoje, é preciso, no mundo, haver de novo tertúlias, pessoas que se encontrem no café e discutam ideias.
Há necessidade de uma nova militância política que não esteja dentro dos partidos políticos tradicionais, de esquerda e de centro-esquerda.
O Rock é muito mais uma forma de contenção do que de subversão. Claro que há excepções.
O Rock, tal como foi criado, não liberta. Foi feito essencialmente para converter os que queriam pôr-se de fora, é uma forma acessível de colocar na dança as energias que podem muito bem ser dispendidas noutras coisas mais interessantes como, por exemplo, em manifestações violentas ou a fazer sexo.
O Rock pode ser uma forma de confraternizar debaixo de bandeiras que não são as deste sistema ou desta forma de viver.
Se a Red Wedge luta contra Thattcher do ponto de vista económico e político, os portugueses podiam fazer o mesmo. Há bandas que fazem isso de uma forma não aberta, porque ainda não criaram um espaço e uma sigla para se juntarem. No entanto, não lhes fazia mal nenhum e não seria copiar os ingleses.
Em Portugal já existem bandas que têm atitudes políticas contra o Governo. Não o dizem muito abertamente, porque há um certo pudor contra isso.
Há pudor em dizer que se é de esquerda ou de direita. Há pudor em dizer que se é fascista ou democrata. Há pudor contra tudo. Acho que se tem de tomar posições.
Não acredito no espírito europeísta. É uma treta que quando nasceu era bela.
Hoje a bandeira europeia é a da subjugação dos países da Europa às garndes potências europeias.
Acho que é necessário a nível do governo, se houvesse uma réstea de patriotismo, começar desde já uma luta enorme para apoiar e defender a nossa língua e a nossa cultura.
Depende de nós, dos artistas e das pessoas que se preocupam com a cultura, tentar lutar, pelo menos, pela tradição da nossa cultura.
No Casal Ventoso ou no Bairro da Serafina existe uma forma de cultura que não se integra neste sistema.
Existe uma militância alternativa aos partidos políticos. Aliás, é o factor mais imporatante de determinante do movimento social, na Europa, no final dos anos 70 e 80.
O que é certo é que existe, à margem da política estabelecida em toda a Europa e em todo o mundo, um movimento radical e violento que não está definido. É tão importante que está a abanar e a pôr em causa este sistema.
O ódio é disperso, ainda é disperso. Antes que ele se organize, o sistema luta contra ele.
Não existe uma democaracia europeia. Aliás, há uma tendência para o aumento da repressão, com a justificação de acabar com o terorismo e os excessos juvenis. Há uma tendência para radicalizar, para cortar ou limitar a democracia.
É inconcebível haver democarcia com fome, salários em atraso e jovens no desemprego. A palavra democaracia, para mim, é mais profunda e muito mais complexa do que aquela que utilizam os políticos europeus.
O ataque à Líbia foi uma atitude de fraqueza, porque o que está na ordem do dia é o terrorismo.
Um país que apoia e receb os palestinianos, é um país sensível. O que iria acontecer, neste momento, aos palestinianos se ninguém os apoiasse? Eles têm de estar lá e ser treinados para poderem lutar pela sua causa que é justíssima.





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