7.7.15

Memorabilia: Revistas / Magazines / Fanzines (97) - Garagem - Nº1


Garagem
Nº 1

Dezembro de 1997
52 páginas
papel A4 a (algumas) cores, tipo cartolina
Editor: Marco Martins
Assistência Editorial: Helena Monteiro
Alberto Gomes
Colaboradores: Julinho, Paulo Gouveia, N.C.B., John Raw, Helena Monteiro


Juventude Sónica

Nuno Ávila


A nossa juventude sónica


Conheceram-se todos no liceu. Tornaram-se grandes amigos. Unia-os um gosto especial pela música. Quando não tinham nada para fazer iam para casa uns dos outros ouvir os últimos cd's dos seus grupos preferidos. Passavam horas a falar dos clips que tinham visto na MTV e nos artigos que tinham lido no Blitz. O número um dos seus tops era ocupado pelos Sonic Youth, mas havia também lugar para os Nirvana e Oasis. Daí até decidirem formar uma banda foi um passo muito curto. Juntaram uns cobres, pediram o resto aos papás e lá compraram as suas primeiras guitarras. euniram-se, depois, numa velha garagem e desataram a fazer barulho. Vieram mais tarde as primeiras reclamações dos vizinhos. Não ligaram e lá continuaram firmes levando em frente a vontade de se tornarem famosos um dia.
Foi assim que se calhar viram a luz do dia os Pinhead Society. Os Blister e os Teenage Bubblegum devem ter nascido da mesma forma.
Portugal, vive neste momento uma verdadeira invasão de bandas sónicas, lideradas por jovens que criam melodias angelicais, por vezes mesmo infantis. Doces vozes, aliadas a guitarras distorcidas deixam antever um futuro promissor para a MPP, tanto mais que há uma série de editoras prontas a escoar estas novas vedetas e alguns locais para tocar ao vivo

Faça você mesmo

Apesar de vivermos hoje numa era em que as tecnologias dominam por completo, muito em especial na área da música, as novas bandas que têm surgido, a maioria das vezes recusam-nas. No entanto, os estúdios continuam a ser utilizados tentando as bandas não tirar demasiado partido das máquinas que estão ao seu dispor. Elas criam assim temas registados em cd, vinil ou cassete não andam muito longe do som que é praticado ao vivo ou na sala de ensaios.
Esta postura é assim assumida como forma de arte. Escreve Joaõ Paulo Feliciano, líder dos Tina And The Top Ten, no fanzine que acompanha o vinil cor de rosa "Teenagers From Outer Space" - The Do It Yourself Pop Explosion!" edição Bee Keeper / Milkshake "A atitude Do Ir Yourself não é mais do que uma forma de vida. (...) É fazeres a tua parte, não deixares que os outros a façam por ti. (...)" Escreve no mesmo local Elsa, responsável pela Bee Keeper e grande mentora dos Little: "Iniciem uma revolta na vossa mente. E depois ponham-na em acção. Por favor, façam-no já. E façam-no vocês mesmos. É tão fácil. (...)" Foi por isso que a Elsa mais o Paulo (também dos Radioactive Man), ou seja os Little, gravaram uma "tape" de nome "I Like It If You Fell Lucky", para a Bee Keeper, num quarto, utilizando maioritariamente instrumentos de brincar. Depois, há também toda uma postura gráfica que corresponde em absoluto ao conceito Do It Yourself. Capas feitas quase manualmente, tendo sempre um toque pessoal do autor, o que as torna únicas.

A cassete e o vinil na era do cd

Desde que a editora Moneyland Records surgiu no mercado que o conceito de edição se alterou em Portugal, devido em grande parte a alguns singles em vinil que a editora pôs a circular. A Bee Keeper tomou-lhe o gosto e, em parceria com a Milkshake, tem posto no mercado excelentes rodelas coloridas de vinil, deitando assim mais uma vez por terra as novas tecnologias. A saber, o LP em vinil cor de rosa que já atrás referimos, onde se destacam os temas dos Pinhead Society, Peach Bloom, Tina And The Top Ten, Acid Flowers, Little, Yolk, Forretas Ocultos, Gasoline, Toast e Mammies & Kids, entre outros (algumas destas bandas já acabaram, outras trocaram de nome e singles dos Gasoleene, My Best Nose e Everground. Apesar de tudo, de vez em quando, estas duas etiquetas lá se deizam seduzir pelas pequenas rodelas lazer. É do final do ano passado o 2 em 1 "This Is Not A Damage Fanclub Tribut / Supermarket Music". Na primeira parte, 10 bandas prestam homenagem aos desaparecidos Damage Fanclub, na segunda metade, 11 tocam originais seus. Destacam-se: Acid Flowers, Teenage Bubblegum, Jamie, Blister, Velveteen, Timmy's Milk e Alien Picnic. Limitado a 300 exemplares é o cd editado dos barreirenses Toast, que buscam a sua inspiração na pop inglesa. A parte gráfica e sonora, apesar de tudo, mantem bem viva a chama do Do It Yourself. A Garagem, a Big Big Tiger Records e a Lowfly são mais três selos apaixonados pelos vinis coloridos. A primeira editou um single dos Blue Orange Juice, a segunda um verde dos Gibberish, a terceira um preto dos Clockwork, prometendo para daqui a algumas semanas um dos Sound Destructors e outro dos Forretas Ocultos. Para breve fala-se do aparecimento de uma nova editora e distribuidora, em Castelo Branco, de nome Bubblegum que promete estrear-se com um split single contendo Alien Picnic e Toast.
Continua contudo, a ser a cassete a melhor forma que muitas editoras e bandas encontram para divulgar a sua música. Fica mais barato e pode tirar-se sempre o número de cópias desejado, já que na maioria das vezes são feitas em casa. Nomes de selos a reter: The Inspector Cheese Adventures que editou a excelente demo dos Velveteen de nome "3 O'clock In The Morning With Melancholic Jazz"; novamente a Bee Keeper com mais de 20 cassetes editadas onde se encontra o delicioso material dos Gasoline, Toast (esta fora do mercado visto a banda ter mudado de vocalista), Pinhead Society, King Neptune´s Favorite Band, REF, Mammies & Kids, Everground e Alien Picnic: Som Sónico que editou a brilhante compilação "Please Stop This Noise On My Head" com um lado com vozes masculinas e outro femininas e a nova demo dos conimbricenses, Vicius Corrupts e Plaguer Recordings, já com dois volumes editados da compilação "Going Genius".
Como se pode ver o underground português está bem vivo. Nascem bandas todos os dias que se dão a conhecer em concertos, compilações, cassetes ou vinis. Existem programas de rádio prontos a divulgar tudo isto, revistas com fome de dar aos leitores textos e entrevistas com os novos artistas. Espera-se agora que o grande público, aquele que se considera verdadeiramente alternativo, não fique à margem de tudo isto.
Nuno Ávila






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