DN - Diário de Notícias
05 de Outubro de 2002
O Portugal Suave de 1969 assistiu ao nascimento de três
importantes bandas nas áreas da música pop/rock: a Filarmónica Fraude, o Psico
e os Objectivo. Estes últimos representam um dos raros casos de partilha de
espaço com músicos não portugueses e traduz ainda a importância que o programa
televisivo Zip Zip teve na revelação de novo talento nesses últimos dias de 60.
O nosso país era, já na altura, ancoradouro para alguns
estrangeiros que aqui procuravam sopas, descanso... e trabalho. Kevin Holdale,
norte-americano, instalara-se em 1968 em Lisboa. Com um passado musical de
alguma notoriedade, cedo se juntou a outros músicos (entre eles Mike Sergeant) para
formar os Mechanical Dream.
Paralelamente o baterista dos Ekos, Mário Guia, junta os
Show Men, constituídos por si próprio (bateria), Tó Gândara (guitarra), Luís
Filipe (teclas e guitarra) e Zé Nabo (baixista que tinha em tempos tocado com
Vítor Gomes). Para este segundo grupo as coisas não correm bem até ao dia em
que são convidados a tocar no Zip Zip. Apresentam-se sem nome, agradam e
recebem do público espectador um nome: Objectivo. Atenta, a Sonoplay (mais
tarde Movieplay) convida-os a gravar um EP, surgindo assim, a sua estreia em
disco logo em 1969.
Uma série de problemas surgidos imediatamente após a
gravação do EP conduziu os Mechanical Men e os Objectivo em rota de colisão. E,
após as saídas de Tó Gândara e Luís Filipe, entram no Objectivo Kevin Koldale e
Mike Sergeant. Mário Guia passa a relações públicas e para a bateria entra Zé
da Cadela.
Em pleno episódio de convulsão interna, o grupo não está
presente no lançamento do EP. De resto, as preocupações do Objectivo apontavam
já ao segundo disco, um single que representou a primeira gravação
estereofónica de um single português. The Dance Of Death e This Is How We Say
(Goodbye) (composições de Kevin Holdale) preenchem as duas faces de um single
que evidencia o desejo dos novos desafios da técnica e só falha nas vozes. As
composições são interessantes desafios à forma da canção, sugerindo desejos de
um experimentalismo pré-progressivo. The Dance Of Death ensaia, inclusivamente,
uma abordagem à valsa, e não esconde encantos pelos novos teclados.
Visualmente os Objectivo causam também sensação. São
banda regular na boite Ronda (no Monte Estoril) e, face a um público de fato
engomado e gravata, contrastam pelos cabelos longos, túnicas e motivos florais.
Chamavam-lhe o «look à Carnaby St»...
Apesar das inequívocas qualidades deste segundo disco, a
vida do Objectivo não foi tranquila após a sua edição. A usa música, tal como a
aparência dos músicos, era olhada com a suspeita de algo estranho e não
«normal»... Todavia, o grupo representou, nos seus dias, uma das mais atentas
pontes de contacto directo com os acontecimentos da capital pop/rock _Londres.
The Dance Of The Death, bem como o outro single editado ainda em 1970 (Glory /
Keep Your Love Alive, novamente duas composições de Kevin Holdale), são peças fulcrais
do melhor rock português de inícios de 70.
Novas mudanças de formação têm lugar entre 1971 e 72.
Pelo grupo passam nomes como os de Terry Thomas e Guilherme Inês. Holdale, a
dada altura, segue caminho paralelo no Bridge, um grupo de jazz. Da sua convivência
nessas fronteiras nasceria ainda uma colaboração com o Duo Ouro Negro e
Fernando Girão (dos Very Nice), da qual nasceria o álbum Background.
Num vai e vem de músicos, o grupo acaba oficialmente em
1972. Holdale abandona o país em 1973. Terry Thomas formou os Albatroz. Jim
Creegan regressou a Inglaterra e tocou nos Family, nos Cockney Rebel (de Steve
Harley) e, mais tarde, com Rod Stewart. Guilherme Inês e Zé Nabo formam com
José Cid e Moz Carrapa o efémero grupo Cid, Scarpa, Carrapa e Nabo. Os dois,
mais tarde, encontrar-se-ão nos bem sucedidos Salada de Frutas. Por seu lado,
Mike Sergeant passa pelo Quarteto 1111, os Green Windows e mais tarde Gemini.
Nuno Galopim.
Sem comentários:
Enviar um comentário