20.2.17

DN:música - Série: Os Melhores Álbuns De Sempre (5)


DN:música
Os melhores álbuns de sempre

[67] AIR

MOON SAFARI



Em finais de 90 dois franceses de Versailles mostraram como se podia inventar o futuro com base em assimilações de referências colhidas em discos dos anos 70, do rock progressivo às electrónicas

TÍTULO Moon Safari
ALINHAMENTO La Femme Accident / Sexy Boy / All I Need / Kelly Watch The Stars / Talisman / Remember / You Make It Easy / Ce Matin La / New Star In The Sky / Le Voyage De Penelope
PRODUÇÃO Air
ANO 1998

Durante longos anos música francesa foi para muitos fenómeno de chanson, de cantores de charme. E, em regime pop, quando muito de Serge Gainsbourg, talvez Françoise Hardy e poucos mais. Apesar dos acontecimentos pop de 80 para consumo interno, e do gérmen de uma pujante comunidade hip hop, exclusivamente local, em inícios de 90, a França, vista de fora, parecia, há dez anos, uma galeria de memórias onde nada de novo acontecia. Até que uma série de nomes brotaram aqui e ali, cativando atenções e abrindo terreno numa das mais célebres operações de política cultural pop alguma vez vistas em solo europeu. Primeiro foi o projecto St Germain, logo depois Etenne de Crecy... E em Janeiro de 1998 um álbum magistral colocava em cena a banda que levava a nova França musical a um ponto de não retorno. Chamavam-se Air, e o álbum, Moon Safari. Nunca a França tinha conhecido tão eficaz e global embaixadores pop na sua vida. E toda uma nova geração de músicos, até ali condenados a viver em território gaulês, abria novas vias de comunicação com o mundo.
Nicolas Godin e Jean Benoit Dunckel cresceram em Versailles onde, ainda nos dias de liceu, se conheceram através de Alex Gopher, amigo comum com quem partilharam um lugar nos Orange. Juntos formaram em 1995 os Air; que logo montaram um pequeno estúdio no qual começaram por gravar singles que editaram através de etiquetas como a Source ou Mo’Wax. Singles rapidamente elogiados entre os mais atentos, mas com vida discreta e então reduzida a circuitos de menor exposição (e mais tarde reunidos na compilação Premiers Symptomes).
O grupo mostrava na sua música um certo charme que evocava memórias de 60 (sobretudo nos álbuns sinfonistas de Gainsbourg), mas demarcava-se das demais figuras da mesma geração ao optar pelo melodismo, pelo paisagismo (quase Floydiano) e por um sentido de requinte, contra o apelo rítmico de um Etienne de Crecy ou Daft Punk.
Assinados pela Virgin, viram o seu álbum de estreia rapidamente exposto em todo o mundo. O apelo pop do single de estreia, Sexy Boy, valeu-lhes transversal atenção global, cruzando públicos, até mesmo os habitualmente pouco dados às electrónicas. Seguiu-se Kelly Watch The Stars, sonho para vocoder e melodismo adocicado. E, mais tarde, o sensível e envolvente All I Need. Todos eles portas de entrada num álbum eloquente que, mesmo embebido em referências escutadas nos anos 70, inventou o futuro.
Nuno Galopim






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