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02 de Setembro de 2005
02 de Setembro de 2005
[52] WALTER CARLOS
Na banda sonora de A Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick
desvendou-se uma das primeiras obras-primas da música electrónica ‘popular’.
Música visionária, pioneira, herdeira das descobertas de Moog, em diálogos
entre a tradição clássica e a invenção de novas linguagens
TÍTULO A
Clockwork Orange (Original Soundtrack
ALINHAMENTO
Title Music From A Clockwork Orange (W. Carlos / R. Elkind) / The Thieving
Magpie (Rossini / Theme From A Clockwork Orange (W. Carlos / R. Elkind) / Ninth
Symphony – second movement (Beethoven) / March From A Clockwork Orange
(Beethoven, arr. W. Carlos) / William Tell Overture (Rossini) / Pomp And Circumstance
March No 1 (Elgar) / Pomp And Circumstance March No 4 (Elgar) / Timesteps (W.
Carlos) / Overture To The Sun (Terry Tucker) / I Want To Marry A Lighthouse
Keeper / Suicide Scherzo (Beethoven, arr. W. Carlos) / Ninth Symphony – fourth
movement (Beethoven, arr. W. Carlos) / Singin’ In The Rain
ANO 1972
EDITORA
Warner Records
Em 1971 Stanley Kubrick apresentou A Laranja Mecânica, um
dos mais marcantes dos seus filmes, adaptação de um romance de Antony Burgess
no qual se revela a história de Alex, um jovem cujos interesses são apenas
sexo, ultra-violência e Beethoven. O filme, um dos mais citados entre
fundamentais por sucessivas gerações de músicos, juntou a uma realização de
mestre e a um argumento notável uma interpretação arrebatadora de Michael
MacDowell, um aprumo visual iconográfico e uma banda sonora que fez história,
revelando-se uma das primeiras obras-primas da música electrónica “popular”.
Colaborador de Robert Moog no desenvolvimento do seu
sintetizador, o norte-americano Walter Carlos (hoje Wendy, depois de uma
operação de mudança de sexo em 1972) levou as potencialidades das novas
tecnologias ao serviço da música a bom porto com dois discos nos quais ousou
cruzar referências da música clássica com as emergentes máquinas electrónicas
de fazer som. Em Switch On Bach (1968) e The Well Tempered Clavier (1969),
reinterpretou leituras de obras seculares à luz do que se sonhava ser o som do
futuro.
Kubrick desafiou Walter Carlos a criar as músicas e
paisagens sonoras de A Laranja Mecânica, procurando em algumas diálogos
visionários entre passado e futuro, entre a música clássica e os novos
instrumentos, em tudo seguindo pistas fulcrais na definição dos jogos éticos do
próprio filme. Walter Carlos partiu precisamente da lógica de adaptação livre
que praticara nos anos recentes e reinventou, para Kubrick, a abertura de
Guilherme Tell de Rossini e, claro, elementos diversos da Nona de Beethoven,
peças que quase adquirem uma lógica narrativa. Numa das variações em torno de
Beethoven, à qual chamou March From A Clockwork Orange (definida sobre excertos
do quarto andamento da nona sinfonia), Walter Carlos estreou um instrumento que
depois se tornaria acessório em muita produção musical posterior: o vocoder.
A estas peças interpretativas, Walter Carlos juntou composições
suas, uma delas o gatilho primeiro para o interesse de Kubrick, o expressivo e
texturalmente deslumbrante Timesteps, o hoje célebre tema de abertura do filme
e alguns elementos incidentais. O resto da banda sonora é constituído por
gravações “clássicas” de obras de Rossini, Elgar, Tucker e Beethoven e as
canções Singing In The Rain de Gene Kelly e I Want To Marry A Lighthouse Keeper
de Erik Eigen.
Três meses depois da banda sonora, Walter Carlos editou
um disco complementar com a versão integral de Timesteps e porções de música
adicional que acabaram fora da montagem final do filme.
Nuno Galopim
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