15.2.17

DN:música - Série: Os Melhores Álbuns De Sempre (1)


DN:música
Os melhores álbuns de sempre
02 de Setembro de 2005

[52] WALTER CARLOS
A CLOCKWORK ORANGE




Na banda sonora de A Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick desvendou-se uma das primeiras obras-primas da música electrónica ‘popular’. Música visionária, pioneira, herdeira das descobertas de Moog, em diálogos entre a tradição clássica e a invenção de novas linguagens

TÍTULO A Clockwork Orange (Original Soundtrack
ALINHAMENTO Title Music From A Clockwork Orange (W. Carlos / R. Elkind) / The Thieving Magpie (Rossini / Theme From A Clockwork Orange (W. Carlos / R. Elkind) / Ninth Symphony – second movement (Beethoven) / March From A Clockwork Orange (Beethoven, arr. W. Carlos) / William Tell Overture (Rossini) / Pomp And Circumstance March No 1 (Elgar) / Pomp And Circumstance March No 4 (Elgar) / Timesteps (W. Carlos) / Overture To The Sun (Terry Tucker) / I Want To Marry A Lighthouse Keeper / Suicide Scherzo (Beethoven, arr. W. Carlos) / Ninth Symphony – fourth movement (Beethoven, arr. W. Carlos) / Singin’ In The Rain
ANO 1972
EDITORA Warner Records

Em 1971 Stanley Kubrick apresentou A Laranja Mecânica, um dos mais marcantes dos seus filmes, adaptação de um romance de Antony Burgess no qual se revela a história de Alex, um jovem cujos interesses são apenas sexo, ultra-violência e Beethoven. O filme, um dos mais citados entre fundamentais por sucessivas gerações de músicos, juntou a uma realização de mestre e a um argumento notável uma interpretação arrebatadora de Michael MacDowell, um aprumo visual iconográfico e uma banda sonora que fez história, revelando-se uma das primeiras obras-primas da música electrónica “popular”.
Colaborador de Robert Moog no desenvolvimento do seu sintetizador, o norte-americano Walter Carlos (hoje Wendy, depois de uma operação de mudança de sexo em 1972) levou as potencialidades das novas tecnologias ao serviço da música a bom porto com dois discos nos quais ousou cruzar referências da música clássica com as emergentes máquinas electrónicas de fazer som. Em Switch On Bach (1968) e The Well Tempered Clavier (1969), reinterpretou leituras de obras seculares à luz do que se sonhava ser o som do futuro.
Kubrick desafiou Walter Carlos a criar as músicas e paisagens sonoras de A Laranja Mecânica, procurando em algumas diálogos visionários entre passado e futuro, entre a música clássica e os novos instrumentos, em tudo seguindo pistas fulcrais na definição dos jogos éticos do próprio filme. Walter Carlos partiu precisamente da lógica de adaptação livre que praticara nos anos recentes e reinventou, para Kubrick, a abertura de Guilherme Tell de Rossini e, claro, elementos diversos da Nona de Beethoven, peças que quase adquirem uma lógica narrativa. Numa das variações em torno de Beethoven, à qual chamou March From A Clockwork Orange (definida sobre excertos do quarto andamento da nona sinfonia), Walter Carlos estreou um instrumento que depois se tornaria acessório em muita produção musical posterior: o vocoder.
A estas peças interpretativas, Walter Carlos juntou composições suas, uma delas o gatilho primeiro para o interesse de Kubrick, o expressivo e texturalmente deslumbrante Timesteps, o hoje célebre tema de abertura do filme e alguns elementos incidentais. O resto da banda sonora é constituído por gravações “clássicas” de obras de Rossini, Elgar, Tucker e Beethoven e as canções Singing In The Rain de Gene Kelly e I Want To Marry A Lighthouse Keeper de Erik Eigen.
Três meses depois da banda sonora, Walter Carlos editou um disco complementar com a versão integral de Timesteps e porções de música adicional que acabaram fora da montagem final do filme.

Nuno Galopim


A Clockwork Orange Soundtrack (Vinyl) from Patrick Kelly on Vimeo.




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