DN:música
Os melhores álbuns de sempre
16 de Setembro de 2005
16 de Setembro de 2005
[67] SCOTT WALKER
SCOTT 3
Ao terceiro álbum a solo, Scott Walker afirmou em
definitivo uma linguagem musicalmente grandiosa e sinfonista e liricamente
sombria que criou descendência. Era a força contra-corrente em tempo de
euforias entre o psicadelismo e um reencontro com a ‘Folk’.
TÍTULO
Scott 3
ALINHAMENTO
It´s Raining Today / Copenhagen / Rpsemary / Big Louise / We Came Through /
Butterfly / Two Ragged Soldiers / 30 Century Man / Winter Night / Two Weeks Since
You’ve Gone / Sons Of / Funeral Tango / If You Go Away
ANO 1969
EDITORA
Fontana
Começou a carreira em inícios de 60 como estrela
teenager. Nos Walker Brothers somou fama e fortuna, mas cedo a ânsia de
afirmação de uma identidade acabou por levá-lo por um trilho próprio,
estreando-se a solo em 1967. Numa altura em que o protagonismo pop/rock era
dominado por sonhos ácidos feitos de luz e químicos e, logo depois,
caracterizado por um desejo de reencontro pastoral, Walker foi uma das raras
forças contra-corrente capazes de se afirmar publicamente com reconhecido
sucesso. Enquanto uns levitavam ao som do rock psicadélico e outros descia, à
terra sob banda sonora folk, Scott Walker descobria o seu caminho através de
uma identificação profunda com a obra de um cantautor belga: Jacques Brel. A
sua abordagem à escrita de canções e seus arranjos revelava logo na sua estreia
uma atitude ostensivamente sinfonista, grande e eloquente. A lírica era
igualmente distinta dos hábitos da época, reflectindo sobre figuras do lado
errado da noite, o suicídio, pragas, ideias implosivas.
O promeiro álbum, Scott (1967) congregou ainda a adesão
dos fãs dos Walker Brothers, mas em detrimento das baladas luminosas de
outrora, servia uma música mais pessoal feita de climas e palavras mais densas.
No disco, o cantor gravava três versões de originais de Jacques Brel. Scott 2
(1968) foi ainda mais bem aceite, sobretudo graças a nova “dose” de versões de
Brel, particularmente a bem sucedida leitura de Jacky.
A consagração definitiva da sua personalidade artística e
de uma linguagem musical que criou depois forte descendência (Pulp, David
Bowie, Bryan Ferry, Momus ou Marc Almond) chegou em 1969 com o marcante Scott
3, álbum no qual, à excepção da terceira (e derradeira) “dose” tripla de versões
de Brel, todas as canções são de sua autoria. Os arranjos exibem uma
grandiosidade já sólida e consequente e as palavras são, mais do que nunca, um
espaço de ensaio e reflexão sobre o lado sombrio da vida, o oposto da luz. É um
disco tenso, liricamente exigente, musicalmente poderoso, e perfeccionista ao
mais pequeno detalhe.
Big Louise chocou a moral da época, pouco habituada a ver
um cantor fazer de uma prostituta a protagonista de uma canção. If You Go Away
é uma das mais brilhantes versões de Brel alguma vez registadas. It’s Raining
Today respira um desafiante sentido de liberdade formal mais próxima do teatro
musical que da sua herança pop. Rosemary é grandiosa afirmação de eloquência.
30 Century Man é inesperada ligação à folk (a que regressaria nos anos 70).
O disco representou a derradeira experiência de sucesso
de Scott Walker, de então em diante desviado por um desejo próprio para
caminhos mais obscuros.
Nuno Galopim
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