16.2.17

DN:música - Série: Os Melhores Álbuns De Sempre (2)


DN:música
Os melhores álbuns de sempre
09 de Setembro de 2005


[53] THE JESUS AND MARY CHAIN
PSYCHOCANDY


O primeiro álbum dos Jesus And Mary Chain é uma ode pop ruidosa e atitude marginal. Um modelo antigo que a banda soube reinventar até parecer só seu.

TÍTULO Psychocandy
ALINHAMENTO Just Like Honey / The Living End / Taste The Floor / The Hardest Walk / Cut Dead / In a Hole / Taste of Cindy / Some Candy Talking / Never Understand / Inside Me / Sowing Seeds / My Little Underground / You Trip Me Up / Something’s Wrong / It’s So Hard
ANO 1985
EDITORA Wea Records

O grande feito dos Jesus and Mary Chain talvez tenha sido o de conseguirem juntar três referências históricas de um modo que ultrapassa a mera citação: Phil Spector, Beach Boys e Velvet Underground. Por isso mesmo, Psychocandy, o álbum de estreia do grupo, não pode ser considerado outra coisa que não uma experiência sónica nos limites do pop, que combina ensinamentos e descobertas de algum modo já consideradas clássicas nos anos 80, mas ainda assim com uma genuína atitude de descoberta e arrojo estético. Para lá das roupas pretas, do cabelo espetado e da atitude displicente, os Jesus, (na altura os irmãos Reid, Douglas Hart no baixo e Bobby Gillespie, hoje nos Primal Scream, na bateria), foram um projecto de vanguarda que ousou fazer pop com ruído, distorção e eco.
Com este disco, estabeleceram-se também como um novo modelo da cena independente, voraz na sua assimilação de comportamentos, sons e cortes de cabelo. A marca dos Jesus And Mary Chain foi tão forte, que a herança de Psychocandy foi reclamada por grupos como My Bloody Valentine ou mesmo Sonic Youth e manteve-se durante muito tempo como um estereótipo inabalável. Os Jesus nunca esconderam a sua admiração por Phil Spector e a sua wall of sound (técnica de gravação que resultava numa muralha de som, densa e quase táctil), por isso, canções como Just Like Honey ou Some Candy Talking lembram a candura ruidosa das Ronettes e das Shangri Las, enquanto The Living End soa como um cruzamento entre a energia crua dos Stooges e o feedback implacável dos Velvet Underground e The Hardest Walk só precisava de umas harmonias vocais mais doces para ter a marca de Brian Wilson. Entre o niilismo ruidoso, a pop delicodoce, o imaginário de jovens rebeldes feito de motas e cabedal e as canções de amor desamparadas, Psychocandy é como um retrato dos eternos mitos da adolescência urgente. Em 1985, quando foi editado, já os Jesus tinham conseguido alguma atenção com os primeiros singles (Upside Down, Never Understand), mas este disco foi como um clássico instantâneo que os colocou definitivamente no mapa das bandas importantes. Nem mesmo o facto da sua originalidade ser um decalque da de outros, foi obstáculo para o seu endeuzamento. Psychocandy acabou por ser também responsável pelo reavivar da história e por uma reavaliação do passado que permitiu aos grupos que inspiram os Jesus um novo e merecido folego de notoriedade. Muita gente comprou White Light White Heat dos Velvet Underground ou Pet Sounds dos Beach Boys, depois de ter lido algures que era daí que Psychocandy vinha.
Parte da sua magia e importância reside aí. O resto é pura inspiração pop.

Isilda Sanches






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