DN - Diário de Notícias
19 de Outubro de 2002
Discos pe(r)didos
CARLOS MARIA TRINDADE Single, «Princesa», Vimúsica, 1982
Lado A: «Princesa»; Lado B: «Em Campo Aberto»
Quando o actual teclista dos Madredeus, Carlos Maria
Trindade se juntou, em 1979, aos Corpo Diplomático, a sua carreira na música
contava já oito anos de vida. Tudo começou em 1971, quando formou os Soft Thurd
com Paulo Pedro Gonçalves. Algum tempo mais tarde muda-se para Inglaterra onde
vive dois anos, regressando mais tarde para estudar. Em 1976 focaliza as suas
atenções nas áreas da música contemporânea. Esta etapa de dedicação à música
contemporânea, que culmina com a apresentação de peças suas nos Encontros de
Música Contemporânea de 1978 termina, de certa forma, com a ligação aos Corpo
Diplomático em 1979, onde assume o lugar de teclista.
Ao fim dos Corpo Diplomático segue-se a etapa Heróis do
Mar banda que, de resto, herda grande parte dos músicos desse projecto fulcral
da new wave lusitana de finais de 70.
Evolução directa dos Corpo Diplomático, os Heróis do Mar
reflectem, contudo, uma mais evidente atenção para com as novas formas que
então a pop britânica ensaiava a experimentava, denunciando fundamentalmente um
tempo de deslumbramento pelos recursos que as novas tecnologias traziam à
canção. Os sintetizadores ganhavam protagonismo e, com eles, o mesmo sucedia a
prestação de Carlos Maria Trindade no som do grupo. Todavia, apesar do
empenhamento na sua faceta pop/rock, Carlos Maria Trindade não fecha a ligação
a outras músicas. Em 1980 é convidado a actuar no Festival de Bristol, onde se
apresenta com um projecto.
A partir de 1981 os Heróis do Mar absorvem grande parte
das atenções dos seus músicos. Mesmo assim, alguns discos a solo são editados,
nomeadamente o single e máxi Rapazes de Lisboa de Paulo Pedro Gonçalves (em
1984) e o máxi single Ocidente Infernal de Pedro Ayres de Magalhães (1985). O
primeiro dos discos a solo de elementos dos Heróis do Mar é, contudo, o single
Pricnesa, lançado em 1982 por Carlos Maria Trindade.
Trata-se de uma importante experiência pioneira na área
da pop electrónica, árvore de poucos frutos no Portugal de então, e com
melhores exemplos precisamente neste single, assim como nos 45 rpm de estreia
dos Ópera Nova, Da Vinci e António Variações. Princesa, a faixa que encontramos
no lado A é uma forte canção pop com a condimentação característica do som
electro pop da época, mas animada de uma identidade melódica mais exigente que
a norma, não se afastando muito do que seria, um ano depois, a essência da alma
do álbum Mãe, dos Heróis do Mar. Em Campo Aberto, a canção que encontramos no
lado B é um caso igualmente sério, revelando algumas afinidades com alguns
discos de Gary Numan da etapa 1979/81.
O single aterra nos circuitos em ano de crise no panorama
pop/rock nacional, precisamente naquele momento em que os excessos de 1980/81
se transformam em pesadelos. Em tempo de maré adversa poucos se salvam, entre
eles os Heróis do Mar com Amor. Princesa, que alguns meses antes poderia ter
gerado um êxito de grande escala, acaba despercebido.
Nuno Galopim
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