19.2.17

DN:música - Série: Os Melhores Álbuns De Sempre (4)


DN:música
Os melhores álbuns de sempre

[51] MLER IFE DADA

COISAS QUE FASCINAM



Três anos depois da estreia, a primeira banda a vencer o concurso de música moderna do Rock Rendez-Vous editou um dos álbuns fundamentais da música portuguesa. Mas em “Coisas Que Fascinam” há muito mais que o êxito “Zuvi Zeva Novi”.

TÍTULO Coisas Que Fascinam
ALINHAMENTO Zuvi Zeva Novi / Passerelle / A Elsa Disse / À Sombra Desta Pirâmide / Valete (De Copas) / Siô Djuzé / Desastre De Automóvel Em Varão De Escadas / Festa Da Cerveja / Sinto Em Mim / Pandra-Bomba / Oito Doces / Alfama / Ça Me Fascine
PRODUÇÃO Nuno Rebelo
EDITORA Polygram

Em 1987, quando editaram o álbum de estreia, os Mler Ife Dada eram já uma das bandas mais populares de então. Nos três anos que haviam passado entre a sua formação e a edição de Coisas Que Fascinam, a banda de Nuno Rebelo, Anabela Duarte, José Garcia, José Pedro Lorena e António Garcia tinha já conquistado felizes vitórias.
A história começa em 1984, com a fundação da banda, em Cascais (com Rebelo, António França, Pedro D’Orey e Kim). Logo nesse ano, vencem o primeiro Concurso de Música Moderna do Rock Rendez-Vous e começam a dar nas vistas. Mas o ano seguinte viria a marcar profundamente a vida dos Mler Ife Dada. No mesmo ano em que editam o seu primeiro maxi-single (Zimpó), pela Dansa do Som, a banda muda radicalmente de formação – do quarteto original ficam Nuno Rebelo. Para a voz, entra Anabela Duarte. Apesar da grande mudança interna, os Mler Ife Dada recebem os prémios de revelação da revista Música & Som e do jornal Sete. 1986 trouxe vários concertos importantes e um single de sucesso, L’Amour Va Bien Merci (incluído também nesse ano na colectânea Divergências, da Ama Romanta).
Quando, em 1987, é editado Coisas Que Fascinam – afinal, o álbum de estreia -, os Mler Ife Dada são já uma referência, não só para uma nova vaga de bandas portuguesas, como para uma nova geração de ouvintes e fãs.
O single Zuvi Zeva Novi é o inevitável cartão de visita do álbum. Colagem de referências (a letra terá nascido de uma insónia, a melodia de um genérico televisivo), o tema confirma o fascínio de Nuno Rebelo e de Anabela Duarte pelas “outras músicas” (a étnica, a clássica, a experimental...), que marcam todo o álbum.
Temas como o arábico À Sombra Desta Pirâmide, o Siô Djuzé de ares cabo-verdianos ou o fabuloso fado-pop Alfama trazem ao disco uma carga étnica distinta mas perfeitamente assimilada pela música da banda. O mesmo acontece em momentos mais experimentais (Desastre de Automóvel em Varão de Escadas), onde as arriscadas aventuras sónicas e líricas (entre o surreal, o popular e o perfeitamente ininteligível, escritas e cantadas em várias línguas) complementam a sonoridade pop única dos Mler Ife Dada, feita também do humor de Oito Doces e Festa da Cerveja, da melancolia de Sinto Em Mim e A Elsa Disse, da poética de Valete (De Copas) e Pandra-Bomba.
Álbum pequeno, de canções inexplicavelmente cativantes. Coisas Que Fascinam fascina também pela forma como se revelou objecto único e irrepetível na carreira dos Mler Ife Dada e na música portuguesa.
Ricardo Sérgio






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