Autor: Livro: vários (depoimentos); DVD: Eduardo Morais título: "O Uivo Da Matilha" tributo a ANTÓNIO SÉRGIO e à ROCK 'N' ROLL RADIO (livro + DVD)
editora: Edições El Pep + Chaosphere + Raging Planet
nº de páginas: 194
isbn: 978-989-96984-9-9
data: 2014 - Novembro
Edição Limitada a 500 Exemplares
formato A5 na horizontal.
Prefácio | Ana Cristina Ferrão
I
O mês de Outubro era para nós um mês de grandes alegrias. Foi o mês em que dormimos juntos pela primeira vez e não nos separámos mais. Foi o mês em que nasceu a Bébé, e por coincidência tinha também nascido o pai do Sérgio.
É mês de Halloween. Acreditem ou não, o António Sérgio embora não gostasse nem de filmes de terror, nem de máscaras e muito menos de se disfarçar, adorava dar um saltinho a Londres na noite de Halloween.
Conheci o Sérgio em Londres, em Agosto de 79, na mesma altura em que conheci também o meu querido João Luis Robinson (o Zappa).
No nosso primeiro jantar, num restaurante do Bairro Alto, o Sérgio veio acompanhado do primo, o Zhe Guerra, ficámos irmãos de sangue.
Trouxe para a minha vida a Zhe Guerra com os filhos Patrícia e Gustavo, a Becas, a Paula Ferreira e o Quim Manuel Lopes.
Disse-me que tinha um processo em tribunal - o célebre disco pirata. Ele, o Zhe e o Quim, eram a Pirate Dream Records.
Na nossa primeira ida ao cinema trouxe os filhos, o Paulo e o Fausto, e teve que sair a meio porque o Fausto ainda usava fraldas. Na saída seguinte optámos pelo Jardim Zoológico.
Pelo meio, fomos ver os Stranglers, os Dr. Feelgood, Gato Barbieri, Rao Kyao, vagueámos pela serra de Sintra, dançámos no Browns e no 2001, namorámos à chuva e ao luar. Contagiou-me com a rebeldia. Contaminei-o com a subversão. Mostrei-lhe os meus livros. Mostrou-me a sua rádio.
Eu apaixonei-me, ele também. Ambos adorávamos crianças, cães, mar, sol, areia e verão.
Em Outubro ficámos juntos. Talvez cheguemos ao verão, dizíamos.
E chegámos
II
Para o Sérgio ir ao médico era uma aventura, tomar os medicamentos até ao fim um tormento, ficar em casa a recuperar, só mesmo internado em hospital, mesmo assim...
em 2005, quando teve uma intervenção cirúrgica grave, ao fim de várias semanas de hospital, em que recusou sempre visitas, disse-lhe que o Zé Pedro o iria visitar. Ficou contente.
Eu aproveitei para sair. Quando voltei fui surpreendida pelo comentário da enfermeira chefe:
«Não sabia que o seu marido tinha um irmão gémeo? E é muito amigo do Zé Pedro dos Xutos! Até o trouxe para visitar o seu marido.» Pois a verdade é que os dois tinham saído para beber um café, o Sérgio fumar um cigarro e talvez beber uma cerveja ou um whisky...
Como podem imaginar não aprofundei muito a escapadela.
Em 2009, o médico disse ao Sérgio que não podia fazer viagens de avião de mais de 2h e determinou o habitual "deixar de fumar e de beber". Ele recusar, não foi surpresa, mas não consigo esquecer as lágrimas, que lhe caíram dos olhos, quando nessa primavera o Luís Montês telefonou a convidá-lo para ir ao SXSW e ele teve que dizer que não podia voar tantas horas - é que as dores eram insuportáveis.
Em 2009, a última noite de Halloween foi passada em casa.
III
Após dia 1 de Novembro recebi vários mails, carats, posts em que amigos, fãs, melómanos expressavam a razão da sua saudade do António Sérgio. Foram criados forums e blogs. Eu também lhe escrevi uma carta que li na Basílica da Estrela e guardei cuidadosamente.
Tudo isso me pareceu natural no calor do momento.
Os meses passaram, a Radar manteve a voz do "Mestre" no AR.
Os textos, assim como os recortes de jornal, foram-se amontoando até que ganhei coragem para os ler ou reler. Embora de forma não sistematizada, não literária, ilustram uma época pouco documentada, retratam o poder de um meio quente e poderoso e como uma personalidade forte e carismática pode provocar uma paixão tão forte em pessoas e audiências tão distintas.
Lancei então o desafio a diversas pessoas para escreverem ou desenharem algo para um livro de tributo ao António Sérgio.
Uma das colaborações, a do Chico, da El Diablo Tattoos, tem especial significado.
«Oh Sérgio, passa lá para fazeres uma tatuagem!» - dizia o Chico. «Só quando eu morrer é que me fazes uma!» - respondia o Sérgio, apimentando a resposta com linguajar masculino.
Eu pedi a tatuagem do Chico, e ele que é homem de coragem, fê-la!
O resultado está aqui, vários textos na sua maioria autobiográficos que para além do tributo ao homem da rádio, o retratam na sua faceta, como amigo, colega ou companheiro de longas noites de audição. Acima de tudo uma homenagem à ROCK?N?ROLL RADIO.
Take Care!
Setembro 2014
A Chappell foi uma editora especializada na chamada Library and Production Music.
Foi fundada em 1810 como uma companhia de fabrico de pianos e editora de música. Em 1941 a Chappell Co. formou a sua companhia de gravação Chappell Recorded Music, que se especializou então na chamada Library Music.
Music From The Empty Quarter Nº 7 - Abril/Maio de 1993 £1.75 92 páginas A5 a p/b, sendo capa e contracapa em papel brilhante grosso ISSN 0964-542X
Editor, Design & Layout - DEADHEAD
Executive Production - JULES
Colaboradores: Chris B., Turner Clawbone, John Everall, Bob Gourley, Stefan Jaworzyn, Robert H. King, Pete Morris, Baz Nicholls, Matthew F. Riley, Sikorsky XXIII, Toil, Veil.
Esta revista, mais do que fanzine devido ao seu cuidado acabamento gráfico, capa e contracapa em papel brilhante e elevado número de páginas, foi das mais influentes da altura no que toca ao acompanhamento da
música independente. Com um leque muito abrangente, mas mais centrada, sobretudo, na EBM, Darkfolk e Industrial, foi uma revista marcante da altura, pois permitia saber em primeira mão tudo o que se editava
naqueles géneros musicais por toda a Europa e mesmo fora dela. Para além disso servia também de suporte à sua própria distribuidora, o que me levou a gastar muitos escudos. Até um dia. Já lá vou...
O único "senão" a apontar é que sendo uma revista tão cuidada e extensa, cerca de 80% ou mais era preenchido por pequenas recensões críticas (lá está o efeito distribuidor...). Falalva-lhe, pois, mais artigos de
fundo, entrevistas, análises e críticas mais profundas a bandas e discos.
Por outro lado, foi a única companhia a quem comprei discos e com quem me chateei (e fiquei a arder, já agora...). Hoje em dia, desde os gigantes como a Amazon, até às editoras artesanais, que existem aos
milhares na plataforma bandcamp, por exemplo, todos me resolveram os problemas (e, geralmente, ainda com bónus "devido aos incómodos causados"), sempre que uma encomenda se perde / é devolvida, etc. Pois os fdp da The Music From The Empty Quarter, começaram a mandar vir comigo quando reclamei que uma encomenda que lhes tinha feito não havia chegado. Fartei-me de os chatear, durante quase um ano (na altura por carta), pois não desisto facilmente, mas fiquei mesmo a ver navios. Só me deu vontade de ir a Londres e esfregar-lhes com um pano molhado na cara... É escusado dizer que nunca mais lhes comprei nada. Fica aqui o desabafo, passados mais de 20 anos :-)
Este número, em concreto, nos tais 20% que faltam (ver acima) tem uma entrevista interessante e extensa com o jon wozencroft, patrão da Touch (ainda em actividade, penso), que era uma das editoras mais
arrojadas da altura no que respeira à música experimental / industrial / ambiental, casa dos Zoviet-France, The Hafler Trio, entre outros. Só não a transcrevo/traduzo porque são dez páginas, com letra pequena, o que me levaria um tempo imenso.
Fá-lo-ei, no entanto, caso haja alguém que mo peça directamete, a partir deste post, para o email habitual.
Para ilustrar o conteúdo deste número escolho então, para já, as recensões dos discos dos Death In June e dos Somewhere In Europe que sairam nessa altura.
Death In June - Paradise Falling / NER BADVCCD63 CDSingle
Não é, infelizmente, um CD de temas novos, mas versões diferentes de This Is Not The Paradise e Daedalus Falling, do seu recente álbum But, What Ends When The Symbols Shatter. Tal como nesse álbum, as faixas têm letras e vocalizações de David Tibet, e é principalmente a voz que se modifica nestas seis variantes. This Is Not Paradise é-nos oferecida como uma versão em Inglês, um instrumental e uma outra com a letra em Francês. Daedalus Rising recebe praticamente o meso tratamento: uma versão em Francês, uma versão bilingue e outra instrumental. As faixas instrumentais são suficientemente belas em si mesmas mas
falta-lhes a qualidade trágica que a voz de Tibet lhes empresta. Como corolário disto, as versões em fancês são talvez ainda mais extasiantes que os originais. A um nível superficial, estas são apenas canções belas
de guitarra dedilhada, sons ondulantes, vocalizações melancólicas. Mas deixem-se envolver na música e é possível que se percam na imagética sublime das letras. Eu espero que esta edição e o novo álbum sejam
sinónimo de uma actividade renovada dos Death In June, porque Paradise Falling não é menos que um encantamento para dias tristes, frágil mas todavia eterno.
(available from T.E.Q.) - eu não disse? -
Veil
Somewhere In Europe - Gestures / NER BADVCCD45 CD
SIE editaram finalmente um CD e já não era sem tempo. Mesmo tendo em atenção que se trata de uma compilação de gravações já editadas (todas menos uma fazem parte das suas 4 K7s), a claridade do CD
adiciona algo extra às 19 pérolas aqui contidas (ouçam só o claustrofóbico tema Butterfly In A Vice para confirmarem a diferença!). Nunca convencionais, eles criam música que que é inclassificável e provocante do ponto de vista intelectual - provando sem dúvida que os SIE não fazem parte da volátil resma de bandas pop mas que se encontram bem dentro da tradição avantgarde europeia. Sem surpresas Douglas P. dá uma
mãozinha, juntamente com a artista Gabrielle Quinn. Desde o asustador Never Go Back a um soar solene de T. S. Elliot sobre um loop de tape roubado, na faixa Night; Desde Black's Lodge, com o seu sintetizador
baixo insistentemente distorcido ao bizarro Everything Ends in Mystery, pela não familiaridade., há muito a explorar por estes lados. Mesmo que tenha as 4 K7s por eles já editadas, vale a pena comprar o CD devido ao enriquecimento do som e ao belíssimo tema novo To Cross The Bridge At Dusk, anteriormente apenas disponível numa compilação portuguesa. De facto, o único desapontamento aqui (e aqui limito-me a referir o que penso!) é a omissão da sua versão celestial de Blood Of Martyrs. Apesar disso, uma estranha e bela colecção e a primeira de várias edições planeadas para documentar o trabalho do grupo.
Veil
(available from T.E.Q.) - lá está!
K7 que acompanhava o fanzine Portal da Gafaria, fanzine esse que já foi referenciado e escalpelizado num dos posts anteriores (não há muito temopo)
ECOS DO TROINO (by Portal da Gafaria)
Lado A LUDWIG VAN A1. Claustrofobia - 2'40" A2. Céu - 3'45" A3. Voodoo - 2'15" A4. Luz - 2'00" L'EGO A5. Zona - 4'00" A6. Esfregas Nos Olhos O Sol - 4'00" A7. The Hole - 3'10" C.S.C.F. A8. Fuck Me - 3'15" A9. Sprint - 3'10"
Lado B CRONIAMANTAL B1. Rotor (Inerta) - 4'20" B2. Litania - 4'20" B3. Coda - 4'10" KRAFTIGEN KLANG B4. White Flesh - 2'55" B5. Gardens Of Distortion - 2'35" B6. The Hunt - 3'40" ERROS ALTERNADOS B7. Ibernar - 2'30" B8. Pontas.Acres - 3'00"
Misturas: Primitive Music Capas: M. Dias / E. Duarte Ano: 1992 1ª Edição
Aqui fica então a descoberta apresentada neste post.
Deixo-vos com a única obra disponível para compra física (LP), sendo que na sua página do bandcamp se podem deliciar com algumas horas de free streaming. Eu faço-o frequentemente enquanto trabalho no PC.
Boas audições!
Liquidação Total Nº 0 - Agosto 60 esc 28 páginas a p/b
Índice
Lemmy, A Maldição do Hard - 3
Esoterik Satie - 6
Para Lá Da Estrada - 12
Sic Transit Gloria Pop - 14
Era Uma Vez (Para a Sara) - 16
Faces da Barbárie - 20
De Memória - 22
Palavras Novas Para Uma Literatura Secular - 24
Uivar À Lua - 26
Editorial
LIQUIDAÇÃO TOTAL. A parcialidade é ingénua e os movimentos que em torno da literatura se dissolvem em verborreias eternas, mais não são do que excrementos visíveis aos olhos de quem pode sexualmente profanar a eternidade do verbo e da qualidade de estar cá.
LIQUIDAÇÃO porque a morte mais não é do que a existência da literatura jornalística nacional - a tonalidade é, sem precisosismo, a finalidade última de dor de estar "Graffitado" numa das mais porcas paredes da capital onde o jornal se fixa sem memória em escadas sonolentas e impressoras sem sentido único que avançam e recuam como quem se deita com a mais preciosa das prostitutas.
O nosso império não é pretendido. A a firmação de uma vaga mais não é doq ue um sentimento próprio e a definição de uma LIQUIDAÇÃO TOTAL.
LIQUIDAÇÃO TOTAL é uma publicação periódica.
Coordenação de Edição: FERNANDO ALMEIDA SOBRAL e NUNO GARCIA LOPES
Coordenação Gráfica: RUI BRAZUNA (agradecimentos especiais a F. PERA)
COLABORADORES: ADOLFO M. DE MACEDO, AMÉLIA CABAÇA, ANTÓNIO DUARTE DE ALMEIDA, ARLINDO PINTO, FERNANDO SOBRAL, HELENA MORAIS, JOSÉ FAÍSCA, JORGE MARTINS, NUNO G. LOPES, RUI BRAZUNA, VASCO FERNANDES.
LIQUIDAÇÃO TOTAL é uma publicação periódica.
Propriedade do Grupo Lisboeta de Projectos Alternativos (Galpa)
Rua de S. Marçal, 48 2º-Dto. 1200 Lisboa
Sic Transit Gloria Pop
Toda a gente está convencida que com três guitarras, duas ideias e um nome imbecil se forma uma banda. A ideia não é exactamente original mas também não nos interessa aqui escrutinar a percentagem de corrupção que vai nos ouvidos dos músicos. Às vezes passamos semanas a fio - uma eternidade - a divagar sobre os acordes que convidam o corpo à dança e a alma à salvação. E, no fundo, que fica de tudo isso, já que todas as bandas pop acabarão por se sumir. e delas nem o pó trará notícias.
Foi esse o mais importante cartão de visita do Punk: as bandas não são para durar. Só os hippies (e os seus aparentados, como os Dire Straits) ainda supõem que uma banda é para durar uma eternidade.
Às vezes, é certo, ficam canções que assobiam a história de uma década - ou menos. Mas hoje chegámos a um beco - não há mais nada para ouvir (ou antes, há que buscar que novas coisas se devem ouvir). Como dizia Morrissey (dos Smiths) o problema é que existe um fosso de uma década entre cada boa canção.
Hoje apetece, cada vez menos, falar em LP's (um conceito sinfónico vulgarmente neo-hippie), mas sim em canções, em singles. São temas que tocam fundo a nossa alma e depois se esquecem, como se de antigos brinquedos se tratassem. E é essa a questão: o que é que a pop está fazendo de errado hoje em dia? Nada, é exactamente isso. E eles às vezes querem tão pouco: um carro novo e um disco no Top.
Mas nos confins do deserto há algumas bandas que vão desafiando o tempo: estão, claro, na Grã-Bretanha. A melhor banda da actualidade, as escocesas Shop Assistants (basta ouvir os singles 'All Day Long' e 'SafetyNet') são o exemplo da nova verdade no mundo da pop - o amadorismo. David das Shop Assistants diz: "Tentar fazer coisas diferentes? Nós estamos a fazer coisas diferentes". E a bela Alex não resiste: "Nós somos muito mais incompetentes que todos os outros". É isso o centro da nova dinâmica pop - a incompetência e o sangue na guelra. Porque é que falhou o Punk - porque os seus músicos se acomodaram à doce vida de serem Pop Stars. A acomodação é um sinal de doença hippie. A pop deve evitá-la.
As novas bandas (como as Shop Assistants ou os Soup Dragons - que todas as noites se ouvem no programa de John Peel na Radio 1) não recusam o comercialismo. Como dizia Nick Hobbe dos Shrubs (uma nova banda da ilha da pop): "Eu não sinto antagonismo face ao negócio musical - é grande negócio e não tenho pretensões que seja outra coisa", ou Ann das Shop Assistants: "grande parte das nossas canções são comerciais e pop".
A nova atitude das bandas é divertimento e infantilismo - não sabiam nada, tudo querem saber. Não tenho dúvidas: a música está hoje milhentas vezes melhor do que estava há 10 anos. Isso é bom? É sim, claro que é. É esse o melhor futuro para a pop? Óbvio. E se não for? Bem, então só nos resta chorar e deixar que uma outra verdade dignifique os nossos ouvidos. Fernando A. Sobral
Era Uma Vez (Para A Sara)
Haverá canções de rock 'n' roll que eu te possa oferecer?
Era uma vez...
que ras; que és um óptimo estofo!
que és um óptimo sol queimando a auto-estrada!
um assassino que não se orgulha do seu crime,
mas de ter sido espezinhado!
Filho da puta de judeu!
Quando verterás lágrimas por mim?
quando?
quando conseguirás amar outro que não o teu povo?
Tão usurário nesse teu amor estéril.
Era uma vez...
Se tu e eu caminhássemos lestos ainda
apanharíamos a última canoa
ainda veríamos os últimos namorados
ainda veríamos as últimas lutas cruéis
no meio da ponte
mas tu queres
(maldita Sara, noutro dia, maldito judeu)
que passamos a noite
contando histórias bonitas um ao outro.
Se tu e eu chamássemos os países pelos nomes
iríamos sempre acordar no meio dum lago gelado
de jardim escuta! não seria a tua terra prometida aquela onde o Sol é mais forte
mais poderoso que a poeira e o vento
e houvesse vinho para os que passam
e pulseiras para os que dormem
e canções para as mãos decepadas...
as gloriosas galeras procuram este lago no fim da sua vida sem escravos no ventre
MAS LIVRES...
Era uma vez...
extra-texto, repito: tudo o que digo não é mediação para nada, não há metaalgo. A única coisa que se oculta por vezes é o esgoto debaixo da calçada. Não há agentes de revolução, não quero; esta é nesta, é esta, é.
Aliás, isto aqui nem trata disso.
Se eu digo
Poli vic vic allia
é só isso
imbecis
e a vontade foi só dizer isso
Era uma vez...
essa barba em que se envolve
o rosto turvo de rapaz espantado
com a beleza e a ligeireza da água, do sonho.
Como um cinzeiro quebrado e uma voz bonita
navegando num pântano azul
e não olvidar a receita:
se se matar um preto
um branco um
amarelo um
gato lilás uma
borboleta com pestanas
nunca os clamores
são tão indignados do que quando
se mata um judeu
o remorso da consciência anti-semita?
Atenção à desactualização histórica do texto!
a fogueira arde doce no acampamento
o turvo do calor adormece as pessoas
que umas sonham com amor
e outras com o suave local onde estão
Haverá canções de rock 'n' roll que eu te possa oferecer?
Sedalessa cobre os olhos.
Quase um golpe de peito aberto ao mar para ser génio!
Coração de papel que sangra, sol de lã com uns bonitos olhos
grandes!
Assassino por vezes!
Piedoso por vezes!
Esse que consegue o impossível pranto livre e sincero,
pelos outros, os que são de piedade.
A multidão existe para que o assassino não tenha vergonha de chorar!
Haverá canções de rock 'n' roll que eu te possa oferecer?
Sabes?
Jogava-se futebol nesse recreio em ruínas!
Tantos garotos, mudos, sem gritos ou algazarra.
Para eles havia um pianista de uma só mão.
Esse belo e puro pianista que assassinou tanto judeu!
essa fastidiosa lei de Talião
esse deus irado de um povo que se deixa maltratar.
Era uma vez...
esse mundo sem bosques de rios fecundos
onde são paridas as paredes azuis
com que construí meu leito
isso, aí,
aí bem perto da tua boca, oh povo perseguido,
aí bem perto do teu peito
o da ave-flauta, essa que encanta pontes
e os braços por baixo delas.
Os nazis eram loucos, mas não eram mesquinhos
e isso é grande
oh povo eternamente perseguido
vem seguir a linha deste dedo
vem seguir a linha desta mão
vem estilhaçá-la entre esta canção
entre essa dedicatória que te deixo
sobre o peito onde repousa um candeeiro morto
peito frio que abriga um rádio de seda
peito agonizante de sofrimento sujo
posso dedicar-te a canção?
Haverá canções de rock 'n' roll que eu te possa oferecer?
A imagem duma sujeira que sofre em surdina, não por sê-lo,
mas por não lhe ser permitido chorá-la.
Oh, ergue-te para além disso.
Chopin era nazi?
música perfeita para interlúdio num filme sobre a frieza do vosso assassinato
glória de leitos quebrados
glória de salas sulcadas por aves cremes
Era uma vez...
Sim, Sara! Soluçarei como a luz sobre o teu ombro, como o beijo
que ao te dar, me fez tremer. Como o teu repouso que se cobrirá, um
dia, de tanta flor, tanta flor...
Eu desejo que o holocausto não venha e eu te possa amar, ou ser guerreiro e regressar coberto de glória a teus braços, ou
ficar sempre aqui... Sara
um encontro entre tanto passado
um violoncelo esventrado por tanta
dentada furiosa
tanta harpa que as pedras encerram
tanat música, tanta traição.
Haverá canções de rock 'n' roll que eu te possa oferecer?
tanta fúria esquecida
tanta fúria esmagada
tanta paz que apodrece por dentro e que
cairá se alguma raiz, por algum véu, do seu
desejo se enunciar.
Quem compreende, viva
em dias de garganta douro, estilhaça
ou acaricia
ou olha muito devagar
olha para aquilo que eu poderia dedicar
Quem compreende, adora estrelas de cinema
belas
e imagina-as sózinhas
Quem compreende imagina
é impossível separar a imaginação da compreensão
Quem compreende, já parte
e em seu lugar, eu posso deixar uma gruta ou um rio subterrâneo
de água intensamente límpida
de água inimaginavelmente fria
Quem aceita, morre e tem destino
Quem aceita, não ama
Quem aceita, nunca mais possuirá olhos
em seu lugar virão alguns sóis
prestes a tornarem-se supernovas
sobre a imensidão do que poderias ver:
um trovador, se é que ainda será possível,
mesmo que impossível, ele pode existir, o
trovador
Quem aceita, é um prisioneiro
Quem compreende, nunca promete
nunca faz promessas
Olha! Sara! Eu sei, a Cabala é mágica!
Mas a magia é algo doente
tal como a poesia é um ser doente e epidémico, há que ignorá-lo
eu posso oferecer-te, em vez disso, um vestido,
ou arrancar-te os olhos:
Olha, Sara, deixa os brinquedos, deixa a poesia, deixa a vida, deixa
a morte, deixa tudo, para vires à janela e veres este céu coberto de tanta borboleta, de tanto aeroplano, de tanto insane acrobata,
eu gostaria de ser uma fotografia.
Sara?
Há alguma canção de rock 'n' roll que eu te possa oferecer? Jorge Ferraz Martins
De Memória
Dia 10 JAN 86. Descemos à Ocarina para assistir ao espectáculo "Quinto Intádio" dos Ocaso Épico. Deparamos com uma sala ainda vazia, um palco atulhado de aparelhos, teclados, percussões e, ao fundo, uma bandeira nacional, murcha, emoldurada por dois candelabros que eram dois círculos enormes em cujos centros ardia uma vela. Enquanto a sala enchia projectavam-se na parede lateral diaporamas de cenas e caras nocturnas - noites de Lisboa, capital do Império.
A multidão entediada enchia já o espaço, rebanho sem chama na aventura programada do Bairro Alto, quando alguém, esfregando freneticamente a cara, louco enraivecido tentando dissipar o pesadelo, salta e pinoteia por entre ela, dando encontrões às pessoas, levando-as a perguntar o que era aquilo,, o que estava a acontecer, a interrogar-se. Dava-se início ao espectáculo.
A primeira parte intitulava-se "Contemplativa" - o Farinha subiu ao palco, sentou-se frente aos sintetizadores e demais teclados, e programou os primeiros ritmos enquanto bebericava uma mistela branca; o Zíngaro pegou no violino e sacou os primeiros acordes; de vez em quando Luís Casanova dedilhava uma guitarra portuguesa... A cave do Ocarina transformou-se num palácio de espelhos, fantasmas sobrevoando-nos as cabeças e aos ouvidos chegavam-nos ritmos e ruídos estranhos, discursos políticos ecoando ao infinito, repetidos até perderem a significação, orações religiosas a arrepiar-nos a infância, notas dissonantes, árabes da rádio marrocos com os seus cânticos prenhes de deserto e de sol...
De pés colados ao chão, peito parafora, barriga para dentro, os espíritos volteavam com a música - elevações ancestrais, símbolos pastando pelo palco; era o estremecimento das certezas...
Neste puzzle de sons e referências fazia-se o exorcismo do Império, a solene cerimónia do seu definitivo enterro, o espectáculo da sua ausência em que o observado era o espectador nos seus pensamentos mais íntimos - sessão espírita com o Farinha a servir de médium, num gozo não disfarçado de nos pôr a nu, o Farinha psicanalista exultava com a dúvida criada, quem é quem? quem v~e quem? Lisboa a espreitar da parede do seu stress quotidiano, barcos para o barreiro...
Reduzidos à auto-contemplação de ruína presente, o mal-estar instalado em tontura inebriante, salva-nos do abismo uma melodia do mais belo que nos fora dado a ouvir - seria aquele o canto das sereias? O descontentamento instalou-se entre o rebanho.
A segunda parte intitulava-se "Irónica" e começou com uma guitarra dum lirismo apaixonante interpretada por Luís Casanova. Depois aos músicos iniciais, Farinha e Zíngaro, junataram-se o baterista dos Sangue Civil e um elemento da primitiva formalção dos Ocaso Épico no acordeão e percussões várias, que em conjunto tocaram uma mão-cheia de temas trepidantes de ritmo e alegria. Afinal a glória do presente começa quando nos desamarramos da glória do passado - que ironia!
Com este concerto os Ocaso Épico provaram mais uma vez que são o grupo mais interessante e de lucidez mais exacerbada que nos é possível ver e ouvir em Portugal. Assim continuem. Adolfo Morais de Macedo Amélia Cabaça
Facada Mortal Nº 1 - Fev. 87 20 páginas a p/b Fanzine de banda desenhada 100$00
Projecto: A Vaca Que Veio do Espaço
Sumário:
3 - Los Punkies E Los Lobos - João Fonte Santa
10 - Borbulhas De Champanhe - Alice Geirinhas
14 - Júlia e Olívia - José da Fonseca
18 - Cadáver Esquisito -capa José da Fonseca
Les Airs Y Sont De Nuit
Numero: Quatre - Aout/Septembre 87
País: Bélgica
Preço: 50 FB (Francos Belgas) / 8 FF (Francos Franceses)
20 páginas a p/b, com capa e contracapa em papel rosa
Este é um fanzine que não me lembro de onde veio/comprar. Talvez anexo com alguma compra. Fica aqui apenas a título documentativo, sendo que o seu conteúdo não é de grande interesse, limitando-se a publicidade e alguns poucos artigos e notícias sobre locais de eventos musicais e outros.
Para descansar um pouco dos posts sobre fanzines dos anos 80, voltamos a uma série de posts já aqui divulgada de forma mais periódica em tempos idos - as descobertas, na plataforma bandcamp, de nomes novos e muito interessantes.
Desta vez para vos falar de um totalmente desconhecido Adderall Canyonly, de quem comprei recentemente 3 k7s e 1 CD, que pratica uma música electrónica de cariz cósmico, com reminiscências desse ramo do saudoso krautrock alemão, baseado em sintetizadores e psicadelismo quanto baste.
Um dos trabalhos que refiro atrás é um split com Kösmonaut, outro navegante das mesma ondas e de quem um dias destes aqui falarei.
Aconselho vivamente uma visita ao seu site no bandcamp: Adderall Canyonly.
Penso que a sua "mercadoria" física já estrá toda esgotada, mas podem sempre segui-lo e esperar por novos trabalhos. Se ainda houver algo disponível ou encontrem algum dos seus trabalhos, não hesitem em comprá-lo que valerá bem o dinheiro.
Ah, claro que lá, podem sempre ouvir tudo em streaming o que, aliás, convém fazer sempre antes de seguir para a compra, pois a crise não permite grandes veleidades e os portes são geralmente o principal factor dissuasor.
Entretanto deixo aqui aquele que, julgo será o seu último trabalho nesta data.
Lixo Anarquista Nº 3 24 páginas A5 a p/b fanzine punk
Editorial
Olá minha gente,
Pois é verdade, aqui está o lixo.
Vocês pensavam que não voltaríamos a molestar ninguém e que se tinham visto livres do lixo de uma vez por todas.
Mas ainda não foi desta que nos cortaram o pio e o odioso Nº 3 aqui está, e desta vez com mais páginas e tudo.
O Lixo continua fiel aos seus ideais, por isso voltamos a afirmar que não somos ideologicamente contra recebermos os vossos donativos, que podem ser enviados para:
António Jorge Nunes
Rua dos Açores 20 2º
100 Lisboa
Além dos donativos podem vir artigos, críticas, sonhos eróticos, etc.
Se quiserem números antigos escrevam e mandem 30$00 por exemplar e 7$50 para portes por cada exemplar.
Por falar nisso, a morada que aparecia além da minha fica sem efeito a partir de agora porque o cobarde que mora lá desistiu e emigrou para os pólos. LIXO SÓ HÁ UM! O ANARQUISTA E MAIS NENHUM!!!
Este número é completamente dedicado ao nosso amigo Ronald Reagan, o único homem que faz da vida real um eterno filme de cowboys...
Uma nota de especial amizade para a sua assistente de produção, Margaret Tatcher.
Agradecimentos especiais ao inventor da cerveja, à empregada das fotocópias e aos meus pais por terem feito esta obra-prima da humanidade.
Die Neu Sonne Nº 4 - Agosto(?) de 1988(?) 36 páginas A5 a p/b Colaboraram neste número: Jorge Pereira; José Moura; Abel Raposo; Faísca.
HIST - ENTREVISTA 1988 / JULHO
1
DNS - HIST: um nome curto; um projecto que assenta basicamente em 2 pessoas; Abel Raposo e Eurico Coelho; mas que contou, por certo, com vários outros convidados, digamos eventuais. Dêem-me um panorama mais ou menos fiel do que foram todos estes anos de trabalho subterrâneo.
AR - Para começar, já fiz uma série de entrevistas, mas nunca dei nenhuma. Nós já fomos, de facto, contactados para dar uma entrevista, mas não acedemos na altura porque não nos convinha.
Começando a falar do passado, podemos citar um grupo de pessoas que ouviam música com assiduidade e que, mais tarde, começou a fazer uns certos ruídos. Desse mesmo grupo, pela dedicação e assiduidade, acabaram por se destacar duas pessoas que são a formação bas edos HIST. Havia também a participação de outras pessoas mas, devido ao facto de ser um projecto muito amplo, a formação variava muito, chegando a ter até oito elementos. Éramos um pouco mal compreendidos mas isso não nos fez desistir, se bem que às vezes tenha travado o processo criativo. Aquilo a que chamávamos seesões Hist não eram concertos ou espectáculos. Tratavam-se de reuniões em que produzíamos sons/temas e a intenção era, de facto, fazermos uma espécie de ensaios que se encaminhavam sempre para a gravação.
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DNS - Vocês ao optarem, agora, pela edição da K7-álbum pela editora Facadas na Noite, acham que isso pode ser um passo, senão importante, pelo menos interessante e útil na vossa actividade?
E não acham inconvenientes, pelo facto dos temas incluídos na K7 serem representativos de uma época passada dos Hist, em que talvez se trabalhasse com outros instrumentos e meios, com outros objectivos?
Qual a vossa atitude/projectos ao editar agora esse material e o que pensam fazer futuramente?
EC - Bom... uma edição feita agora com temas antigos de um grupo de pessoas de uma terra de província que se entretem aos Domingos a tocar numas latas, pode ter um interesse retrospectivo para se tentar ver um pouco do folclore da música contemporânea em Portugal!...
Depois passaram uns anos; eu segui um percurso individual, enquanto que o Abel seguiu um outro. Cada um experimentou sons diferentes, envolvendo-nos numa experiência muito mais individualizada. De certa maneira, a edição desta K7 vem-nos colocar novamente em contacto. Experimetámos tocar juntos, depois de tanto tempo e isso resultou. Quem sabe se isto não poderá resultar mais vezes...
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DNS - Porquê a opção dos HIST se exprimirem em inglês, aliás como actualmente a maioria das novas bandas independentes europeias? O inglês é um idioma mais sério, mais duro? Procuram fugir um pouco ao desiqulíbrio da voz portuguesa; a dificuldade de se exprimir com aquela intensidade com que se poderá fazer com o inglês?
AR - O inglês é uma língua universal. O português também poderia ser, mas não é. Acho que são coisas que nada têm a ver... Simplesmente, quando juntamos aos ruídos que fazemos, uma componente verbal, se ela for feita em código, possui uma outra magia. Funciona, mais ou menos, como se se tratasse de uma missa em latim. Utilizamos assim a língua com uma responsabilidade bastante menor; usamos os sons que esse idioma nos proporciona! Podíamos fazê-lo em chin~es ou grego, só que é muito mais difícil...
EC - Quanto a mim, cada texto que escrevo, faço-o já a pensar na música e vou à procura da língua que mais se aproxime dessa sonoridade. Pode sair em francês, inglês, alemão (por vezes misturo-as)... Se o inglês predomina será um pouco, também, por influência, pelo hábito, pela facilidade existente em aplicar esses sons verbais à música. Não há uma localização específica, até em termos culturais. Evita-se assim também uma limitação nesse aspecto. Se falasse em português estaria a localizar demasiadamente o que fazemos e isso não nos interessa. Penso que é também um problema de nacionalidade; acho uma atitude perfeitamente portuguesa o querer não estar cá!...
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DNS - A edição da K7 numa caixa de vídeo parece bastante original. Logicamente os Hist propõem novas e diferentes apresentações exteriores face ao público, tanto na edição como nas futuras apresentações ao vivo. Estão a estudar alguma perfomance ou alguma visualização complementar à música? E para quando novos concertos, isto no caso de já terem dado, no passado, alguns?
EC - Em 1º lugar, é natural que a apresentação visual de qualquer produto sonoro HISTY, "sofra" um cuidado especial da nossa parte, até porque eu, pessoalmente, sou profissional do ramo. Como designer, tenho participado activamente em cenários, exposições, etc. O Abel tem também mostrado grande interesse, tendo aliás mantido uma actividade de construtor minimalista orgâncio que, quem sabe, se tivesse continuação poderia dar resultados interessantes.
AR - Uma das coisas que procurámos desde sempre foi conjugar as várias vertentes, desde o som a imagem e muito se poderia dizer sobre espectáculos multimedia que idealizámos e alguns mesmo que chegámos a realizar, não como espectáculos para audiências, mas para nós próprios.
EC - Tudo se ficou muito como um jogo entre amigos e foram muito poucos os trabalhos que foram tornados públicos, propriamente ditos. À excepção de umas exposições em que nos integrámos como elementos dissidentes das Belas Artes. Sem ser isso, todos os nossos percursos foram sempre muito individualizados e muito fechados.
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DNS - Noto que muitos dos vossos temas são, no mínimo, embriagantes e envolventes. Como os fizeram ou, enfim, em poucas achegas, qual o vosso método de trabalho?
AR - Chegámos à conclusão que o nosso método de trabalho seria uma improvisação sistematizada. Normalmente costumamos começar um tema com um de nós a dar uma base. Os outros procuram acompanhar essa base e delineamos o tema progressivamente.
EC - A atitude pode parecer meio freak, mas temos muito a ver com colagens e montagem de várias peças num puzzle. É claro que cada um tem as suas próprias refer~encias, hoje muito amplas e acho que é uma atitude possível a de tentar juntar esses pequenos pedaços de sons que nos rodeiam e montá-los numa música total. Isto não é verdade nenhuma... é uma grande mentira e por isso é que talvez valha a pena!
AR - Depois da tal colagem e de termos as coisas assentes, registamos o resultado e, normalmente à 2ª ou 3ª vez procedemos à gravação definitiva. As condições sempre foram muito deficientes, não só no aspecto de instrumentos, mas também no de gravação. Agora há sobretudo melhores condições e as deficiências técnicas que antes nos frustravam podem ser agora, em parte, superadas.
EC - É claro que as responsabilidades e sentido crítico também aumentaram ao longo destes anos e é natural que se torne um trabalho muito mais árduo e difícil. Mas vamos continuar!
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DNS - Nota-se nos vossos temas um conteúdo opressivo, duro, onde se desenrola uma espécie de observação de um outro mundo, à parte, onde diversos interesses são jogados. Vocês vêem-se como espectadores pessimistas?
AR - Não considero a nossa atitude pessimista, mas de uma lucidez irónica!
EC - Aliás, acho que é uma atitude que também faz falta... Tem que haver uma contrapartida aos Domingos Disney e creio que a possível tensão que possa transparecer na nossa sonoridade tem muito a ver connosco e também com toda a gente. Penso que é apenas o resultado de uma canalização da violência que se encontra contida dentro de nós. A maneira como nós levamos tudo isto tem a ver com uma atitude introspectiva: é quase um exorcismo!...
AR - A transposição dessa mesma tensão para a música, considero-a que é um equilíbrio fornecido pela forma mais intelectual com que o Eurico a faz e pela forma visceral com que eu procuro criar. É algo de que nos apercebemos há já muito tempo.
HIST : Eurico Coelho - Abel Raposo Entrevista: Jorge Pereira
Refúgio
Domingos
21.30 - 23.30 (R.U.T.)
Explorando Novos Sons
Como tínhamos dito num dos números iniciais, íríamos proceder a alterações no fanzine, nomeadamente criar novos espaços e secções. Esta é uma meia página que, por número, vamos "dar" aos bons programas que se vão por aí elaborando. Começamos com o
REFÚGIO - Domingos das 21:30 às 23:30 na R.U.T / Lisboa - Locução e Realização de José Moura.
Playlist / Julho 1988
1. Esplendor Geométrico - Kosmos Kino - LP 1988 E.G. Rec.
2. Front Line Assembly - State of Mind - LP 1987 Dossier
3. Front Line Assembly - Disorder - mLP 1988 Third Mind
4. Front Line Assembly - The Initial Command - LP 1987 KK
5. De Fabriek - Made In Spain - LP 1986 E.G. discos
6. Men 2nd - The Antibody Song - EP 1988 Antler
7. Poesie Noire - Tales of Doom - LP 1987 Antler
8. Snony Red - Treat Me - 7" 1988 Antler
9. The Klinik - Plague - LP 1987 Antler
0. Attrition - At The Fiftieth... - LP 1988 Antler
9. Digital Sex - Essence & Charm - CD 1986 S. Sentim.
8. Liquid G. - The Execution - K7 1988 Liquid Pro.
7. The Incarnate - Looking Out Of... - K7 1987 Temper F.T.
6. Pankow - Feiheit Fur Die... - LP 1987 Contempo
5. Compilação - Music From The Dead... - K7 1987 Dead M.C.
4. Compilação - Insane Music From... - K7 1987 Insane M.
3. Compilação - Climax 1 - LP 1987 Climax P.
2. Recoil - Hidrology - LP 1988 Mute
1. Greater Than One - All The Masters - LP 1987 Side Eff.
0. Compilação - Out Of Tune - 7" EP 1988 Body Records
1. Johnson Engineering - Demo-Tape - K7 87/88
2. Het Zweet - Het Zweet - LP 1987 Dossier
Die Neue Sonne Nº 3 - Agosto de 1988 36 páginas A5 a p/b
Colaboradores neste número: Jorge Pereira; Faca na Liga; Fred Somsen; José Moura e Luís Sousa.
Preço deste número: 100$00. Via CTT, acrescentar mais 30$00.
Rua Dr. Alberto Cruz, 50 4700 Braga Portugal
Editorial
Voltamos a encontrar-nos. Cumprimos oo estabelecido há uns meses atrás: saída de dois números do DIE NEUE SONNE em Agosto.
Sobre este número, em particular, há algumas coisas a serem ditas. O fanzine sofreu um processo, anteriormente planeado, de actualização e radicalização (no sentido de divulgarmos bandas mais marginais, novas e independentes). Os 2 primeiros números, embora não tenham sido aquilo que na altura sda sua edição mais desejássemos, foram importantes para o fanzine e todo o projecto envolvente se tornar mais divulgado e para que as pessoas interessadas se sentissem atraídas em participarem. Isso aconteceu parcialmente.
Quanto a este número, há a dizer que as notícias/informações foram abolidas, porque tinham um interese muito reduzido e demasiado pontual/parcial. Surgem artigos sobre os Big Black, Godfathers, Henri Rollins, Siglo XX, Club Moral e finalmente sobre os The Klinik. Quanto a este último trabalho, da autoria do José Moura, ele, de facto, saiu num exemplar atrasado do jornal "Blitz" mas, para informação daqueles que nos estão a ler, nós já tínhamos o artigo antes da publicação do mesmo nesse semanário, e mais, contávamos publicá-lo.
Apresentamos igualmente duas entrevistas exclusivas, com Bill Lebb dos Front Line Assembly e com 2 dos elementos dos Mão Morta.
Há ainda a registar um pequeno apontamento sobre os Johnson Engineering, banda inglesa de que falaremos muito mais detalhadamente num dos próximos números do fanzine; um outro trabalho sobre os excelentes Current 93, da autoria de Fred Somsen, originalmente publicado no fanzine "Ibérico" e ainda um dossier sobre os Joy Division, que julgamos com interesse.
Enfim... esperemos que vos agrade.
Entrevista - Exclusivo DIE NEUE SONNE Front Line Assembly
Um dos objectivos a ser postos em acção do DIE NEUE SONNE é o de tentar variar, tentando evitar a repetição e cansaço. As entrevistas funcionam como óptimas hipóteses de se saber um pouco mais sobre as pessoas e bandas em questão, mas servem igualmente como um factor de desconcentração e de variedade.
Tudo isto, porque desta vez temos o privilégio de vos dar a ler mais um depoimento EXCLUSIVO, desta vez realizado pelo José Moura, mentor do projecto REFÚGIO. A entrevista, por questionário, foi elaborada para ser respondida por Bill Leeb, dos FRONT LINE ASSEMBLY e foi recebida no dia 15 de Julho de 1988
. Antes de mais, porquê a música totalmente electrónica?
- A razão porque gosto de música electrónica é, fundamentalmente, talvez devido às minhas influências, dos primeiros tempos dos SPK, passando por NEUBAUTEN, TEST DEPT, KRAFTWERK... Estou mais interessado nos próprios sons do que em estruturar canções com refrão e melodias, processo mais comum em guitar-bands.
. Acontece frequentemente as pessoas ligarem-te aos Skinny Puppy? Qual foi exactamente a tua participação nos Skinny Puppy?
- No que respeita à minha conexão com os S. Puppy, estive com eles desde o início e colaborei nos 2 primeiros álbuns (NOTA: Remission e Bites), além de fazer também uma tournée com eles, pelo Canadá e EUA. Sentia-me orgulhoso por ser parte do projecto. Fazia-se excelente música e nunca no Canadá se havia feito algo do género. Na altura falou-se muito em desentendimentos, mas até deixar o grupo, fiz realmente parte dele.
. Tens alguma explicação para o facto de nenhum dos vossos discos ter sido editado directamente numa editora canadiana ou americana?
- Apesar de todos os nossos discos terem saído em editoras europeias (NOTA: Corrosion e Disorder), têm distribuição no Canadá e EUA através da Wax Trax, provavelmente uma das melhores editoras independentes norte-americanas. Aliás para mim, é melhor que a Nettwerk.
. Antes de participares no LP "Bites" dos Skinny Puppy estiveste envolvido nalgum outro projecto?
- Skinny Puppy foi, mais ou menos, a minha primeira banda, ao mesmo tempo em que colaborava com N. Ogre no projecto MUTUAL MORTUARY. Além disso, fiz algumas experiências musicais com outras pessoas.
. Achas que é fácil para bandas como os Front Line Assembly ou Skinny Puppy se desenvolverem e terem sucesso no Canadá?
- Quanto a ter sucesso na América, nos EUA fomos tão bem recebidos como na Europa. Acho que no Canadá é um pouco mais difícil. Há menos pessoas e parece-me que as guitar-bands são acarinhadas em demasia, porém nós continuamos a trabalhar... Ainda somos uma banda recente, por isso vasi levar algum tempo.
. Os vossos discos têm sido bem aceites em Inglaterra?
- Em Inglaterra, temo-nos saído razoavelmente bem e já apareceram boas críticas no Melody Maker e no NME, que são os dois maiores jornais e para os quais devemos fazer umas entrevistas. E como a Third Mind é uma editora inglesa, Gary Levermore está a fazer um bom trabalho, tentando promover-nos lá, mas realmente a pop, as guitar-bands têm muito sucesso. Os Pixies, Swans, Butthole Surfers, todo esse estilo de bandas. Em termos de música electrónica, a única coisa que lá é popular, são os Depeche Mode, e isso para mim é hip hop, pop, que eu não gosto nada. Mas só o tempo o dirá...
. Alguma ideia particular por detrás do slogan "Opression Breeds Violence"?
- Esse slogan (NOTA: Opressão origina violência), foi algo que eu li uma vez e que penso sintetizar tudo. Seja em arte, modos de vida, política ou música, todos temos que fazer o jogo dos manda-chuvas, dos patrões, para conseguir alguma coisa. Por isso, a nossa música (e outras mais), provavelmente, é agressiva porque sentimos que estamos sempre encurralados, se não fizermos a música que eles querem (para as rádios oficiais, etc.).
. Há alguma razão para o facto de que quase sempre no fim de cada lado dos vossos discos aparece um tema com características obscuras, ambientais?
- Quanto a isso, parece-me que é pura coincidência eles aparecerem quase sempre no fim de cada lado de um disco, mas eu gosto tanto de música ambiental como de música cheia de drum-machines e percussões fortes. Gosto de misturar estas duas concessões. Não me agradam os discos que começam no lado 1 e acabam no lado 2 apenas com uma drum-machine tocando constantemente. Gosto muito mais de criar uma disposição para ideias e coisas diferentes, e isso estará sempre presente na nossa música.
. A vossa música inclui frequentemente vários tipos de colagens. Isso significa que os mass media têm influência no vosso trabalho?
- Quando, à noite, se vêem as notícias, sabendo que somos bombardeados diariamente por 20000 imagens, é difícil não se ser influenciado pelas coisas que se passam no mundo inteiro. Acho que nós tendemos a apresentar tudo isso, esperando que não de uma maneira demasiadamente negativista ou macabra. Mas sim, gostamos de aproveitar os acontecimentos para a nossa música e, claro, os noticiários sempre exercerão sobre nós uma determinada influência.
. As letras das vossas canções não são fáceis de apanhar, por isso, acerca de que escreves?
- Não gosto que as letras monopolizem as músicas, prefiro usá-las como um instrumento suplementar. Mas tivemos já imensos pedidos de folhetos com as letras e ainda estamos a debater o assunto, porque eu sempre pensei que fornecer tais folhetos era uma atitude um tanto ou quanto comercial. E, também penso que é mais interessante e misterioso se cada pessoa interpretar individualmente as letras, embora muita gente me me pergunte acerca do que eu canto. Fundamentalmente, os temas das minhas letras são coisas que acontecem todos os dias. Eu tento identificá-las, e não dizer às pessoas o que fazer. Tento explorar ambos os lados desses acontecimentos, tanto o sério como o estranho, ou engraçado. Tento descrever as coisas de um modo positivo, em vez de optar por um mundo depressivo ou obscuro, apenas dizendo "Bom, não há esperança, mais vale suicidar-nos". Para mim, isso parece a saída mais fácil. Acho que é mais difícil achar coisas boas na vida, coisas positivas, sobre as quais se possa escrever. Assim, tento focar os dois aspectos, deixando o ouvinte decidir qual o caminho que quer tomar, ou a interpretação que quer fazer do significado de tudo isto.
. Desde Outubro de 87, a vossa produção tem sido intensa (NOTA: 3 LPs e 1 Mini-LP). É difícil gravar tanto material em tão pouco tempo? Já agora, como é que vocês procedem normalmente para compor um tema?
- Quanto a editar 4 álbuns num período de tempo relativamente curto, isso deve-se sobretudo às editoras discográficas. Dois dos discos haviam sido gravados uma ano antes, e demorou-se assim tanto tempo a fazer os contactos, a conseguir capas para os discos, etc! Além disso, viver no Canadá (do outro lado do Atlântico), quando todas as editoras interessadas, estão na Europaé problemático, porque há que contar com o tempo que as cartas demoram a ir e vir, e há que enviar K7's-master às editoras. Tudo somado, passam-se meses...
Alguns discos eram para ter saído algum tempo antes, mas parece que sairam todos muito próximo uns dos outros, por isso o caso não é o de termos escrito tanto material em tão pouco tempo, mas sim o facto das editoras não poderem trabalhar o suficientemente rápido.
No que diz respeito à composição dos nossos temas, não existe nenhuma fórmula. Eu apenas tento encontrar sons que me interessem e depois trabalho esses sons, ou por vezes ritmos, mas em geral, não me costumo sentar e pensar "OK, vou compor um tema". Há dias em que tenho ideias loucas, inspiradas em várias coisas, e acho que é preferível não existir uma fórmula, visto quando isso acontece se começar a fazer tudo com base nela e se começar a fazer constantemente a mesma coisa (isso é frequente em música electrónica). Tentamos afastar-nos desse procedimento.
. Bandas electrónicas como os Skinny Puppy ou Poesie Noire, tentam reagir contra os concertos electrónicos "sem vida", frios. O que pensas deste tipo de concertos e qual a vossa atitude em relação às actuações ao vivo?...
- É muito difícil representar música electrónica de um modo em que tudo pareça tocado ao vivo, porque tudo é feito com base em sequenciadores, caixas de ritmo, etc. Humana e manualmente é quase impossível tocar tudo ao vivo. Para mim é uma situação necessária, porque a maior parte das pessoas que gostam deste estilo de música, compreende que este é o modo como ela é criada. Se se possui um mínimo de conhecimentos, sabe-se que não existe uma maneira possível de tocar tão perfeitamente (e de uma forma tão rápida) este género musical. Se forem ver um concerto de uma banda electrónica e ouvirem um dos seus discos, já sabem provavelmente como as coisas funcionam, por isso é estupidez criticá-los e dizer que são tudo gravações, que não se gosta, ao passo que as guitar-bands podem tocar todos os instrumentos ao vivo, e isso é o que se espera delas.
Penso que o aspecto mais importante nos grupos electrónicos é, mesmo que utilizes muitas gravações, a sua apresentação e conduta em palco, como por exemplo o recurso a encenações, filmes, slides, ou o que quer que seja. Nós, provavelmente vamos ter um baterista (uma percussão realmente tocada ao vivo), um teclista e eu próprio fazendo as vozes, as teclas e o que mais houver. Sei lá... slides ou fogo ardendo no palco...
. Penso que a imagem é também importante nos Front Line Assembly. Já fizeram algum vídeo? Se sim, o que tentam vocês exprimir no trabalho visual?
- Temos um vídeo chamado "Body Count", que considero como vídeo de propaganda, com muitas cenas violentas, motins, guerras, usando centenas de imagens de noticiários e reportagens. Foi feito para o tema "Body Count" e se souberem a intensidade desse tema, então já imaginarão a intensidade do vídeo. Mas, no meio disto, só aparecemos no vídeo uma ou duas vezes, pois não gostamos de ver os nossos rostos por cima de tudo. Preferimos ficar mais na sombra, alimentar o mistério.
Em relação à imagem, com os S. Puppy isso era muito importante, mas no que toca aos F.L.A., nós tentamos não adoptar nenhum tipo de imagem. Deixamos apenas a música criar a sua imagem própria na mente das pessoas. Deste modo, não é só um tipo de pessoa que vem aos nossos concertos. Gosto mais que hajam lá pessoas de tipos variados, que venham pela música e não pelo aspecto.
. Os 3 LPs dos Front Line Assembly sairam em 3 editoras diferentes, mas agora parece que vão ficar pela Third Mind. Porquê esta escolha?
- Vamos ficar na Third Mind por mais algum tempo porque conseguimos um bom acordo com eles e eles têm-nos ajudado. Também porque a Third Mind tem uma licença com a Wax Trax nos EUA, por isso temos uma espécie de editora dupla para a qual ambas trabalham. Desta forma, podemos contar com uma boa distribuição tanto na Europa, como nos EUA. Estamos satisfeitos com as duas e nos próximos tempos, pelo menos, vamos continuar assim.
. Como nasceu exactamente a ideia de criares os Front Line Assembly?
- F.L.A., basicamente, nasceu do facto de estar na outra banda - os Skinny Puppy - e descobrir, à medida que o tempo passava, que estava cada vez menos à vontade com a ideia que eles projectavam de sangue no palco e toda a teatralização, enquanto que eu queria que as coisas fossem um pouco mais reais e vulgares. Apenas coisas que acontecessem todos os dias, que sempre me interessaram mais do que, por exemplo, o horror ou o gótico.
Queria uma atitude mais industrial, mais simples, suor, trabalho e todo esse tipo de coisas. Acrescentei aos F.L.A., de certo modo, algumas ideias militares, que já me assolavam o espírito pouco antes de ter deixado os Puppy. Eram ideias que eu tinha necessidade de criar, independentemente, e foram-se desenvolvendo cada vez mais. F.L.A. não pára de crescer. Até onde chegará?
. Como é que te juntaste a Michael Balch e Rhys Fulber? Eles já faziam música antes disso?
- Rhys Fulber era um admirador, quando eu estava nos S. Puppy, e ele costumava estar sempre a falar comigo. Com isso tudo, ficámos bons amigos e começámos a ensaiar umas coisas juntos, de vez em quando, e descobri que tínhamos muitos interesses em comum. Como nos tornámos amigos, o que veio a seguir foi apenas uma progressão natural. Continuámos os ensaios e, quase sem darmos por isso, estávamos a fazer um trabalho bastante interessante. Neste momento, acaou de gravar um LP chamado "Delirium - Faces, Forms & Illusions" que irá sair na Dossier Records e que se trata de um projecto à parte, muito obscuro e muito ambiental, tipo banda sonora. Rhys aproveitou algum trabalho meu para o disco, que se trata de uma tentaiva artística (diferente dos F.L.A.).
Michael Balch conheci-o depois de os Neubauten estarem cá num fim de semana. Encontrámo-nos com eles e estivemos numa festa toda a noite. Michael, por acaso estava nese clube e deu-me uma cassete dele, que ouvi e achei que tinha partes muito interessantes. Ainda, sem ter a certeza, do que podia acontecer, telefonei-lhe mais tarde, encontrámo-nos e, a princípio, todo o trabalho se sucedeu naturalmente. mas acho que quando se trabalha em conjunto, por vezes os resultados demoram um pouco a surgir. Mas a nossa colaboração foi-se desenvolvendo e ele, que é muito virado para a tecnologia e tinha um computador entrou para os F.L.A., até porque era essa parte que realmente faltava.
. Como os F.L.A. já participaram em várias compilações, até que ponto as achas como uma boa contribuição para o sucesso dos grupos?
- Essa participação é definitivamente benéfica para a maioria dos grupos, especialmente quando se está a começar. Eu costumava receber da Europa muitas K7s-compilação, conhecendo assim inúmeras bandas das quais nunca tinha ouvido falar. Falando das compilações da Insane, que foram as que participámos, acho Alain Neffe (NOTA: "patrão da INSANE) um tipo bastante porreiro. Ele faz um trabalho excelenete, basicamente por amor à música e se houvessem mais pessoas assim, mais compilações desse tipo, os grupos underground teriam mais hipóteses de ser descobertos, de se lançarem. Penso que é uma boa maneira de se lançarem e é bom contribuir para isso, mesmo que as editoras pareçam pequenas e insignificantes, na altura. Há sempre alguém lá fora que ouve. Já recebi cartas de sítios como África do Sul, de pessoas que ouviram as compilações da Insane.
. Como conclusão, queres dizer alguma coisa em particular a todos os que gostam de música electrónica alternativa em Portugal?
- Para todos eles aconselho que mantenham os olhos abertos para os Front Line Assembly e a sua digressão oficial pelas trincheiras. Talvez algum dia nós estejamos por aí, dentro dos próximos 8 ou 9 meses. Nada está ainda confirmado, mas nós vamos de certeza.
E sairá um 12" no Outuno (será apenas um single com "Vexation" no lado 1 e no outro uma faixa ainda sem títuko), por isso estejam atentos. E pronto, acho que é tudo.
Haverão mais notícias em breve. José Moura
Joy Division Dossier Die Neue Sonne
Assumindo o "perigo" de podermos ser acusados de revivalistas, de estarmos a desenterrar o passado, apenas ripostamos com dois pormenores: primeiro, não é possível desenterrar-se o que nunca esteve enterrado e morto e em segundo falar dos Joy Division, neste momento não é estar desactualizado, pois as sementes lançaadas há anos pelos mesmos frutificam agora, uma vez mais. Os Swans recriaram há bem pouco tempo o tema "Love Wil Tear Us Apart"; os Sonic Youth, nas suas actuações ao vivo dão uma nova dimensão à faixa "Shadowplay" e também uma série de bandas muito interessantes que agora despertam prometem "pensar no caso"...
Aliás, o trabalho que nos propomos apresentar não vai recair, como já tantos fizeram, sobre as palavras expleidas por Curtis, nem pelos sentimentos que as mesmas t~em e tiveram capacidade de despoletar... Elas continuam vivas, só que isso já foi feito. Vamos tentar reviver os factos... aqueles pormenores, que realmente aconteceram e que muita gente desconhece. Ao verídico, junta-se muitas vezes a lenda, esse manto de ambiguidade que torna tudo, porém, mais fascinante. A seguir a toda a descrição evolutiva do percurso da banda, segue-se uma lista, mais ou menos exaustiva (foi o que conseguimos recolher...) de discos e registos piratas da banda. Jorge Pereira
A primeira aparição dos futuros Joy Division dá-se a 9 de Dezembro de 1976 quando, com o nome de Stiff Kittens, Bernard Dickens (depois Albrecht), Peter Hook e Terry Mason, colegas numa escola de Manchester, tocam no Electric Circus, na sua cidade natal, sendo a crítica feita pela "Sounds" na altura, bastante pesada e dura. Uns dias depois, a banda encontra Ian Curtis e, já com ele, escrevem a primeira canção, intitulada Gutz. Durante o ano de 77, o grupo soa bastante pesado e espesso e tocam em pubs de Salford e de Manchester, especialmente nos Black Swan e Rafters.
Mudam também o nome para WARSAW e o baterista passa a ser Steve Brotherdale (Depois Steve Morris).
Em 18 de Julho de 1977 gravam a sua primeira demo-tape nos Penine Studios, com 4 temas: Inside The Line, Gutz, At A Later Date e The Kill.
Continuavam os Warsaw como banda de suporte de vários clubes, quando surge a primeira grande oportunidade, sob a forma de uma actuação do Electric Circus, acompanhados de nomes como os Panik, Negatives, V2, Steel Pulse, Slugs, Drones, The Fall, Buzzcocks ou Magazine, entre vários outros. Decorria o dia 2 de Novembro de 1977 e nessa altura foi registado o tema "At a later date" que sairá em Junho de 78, sob o selo da Virgin, incluído no 10" SHORT CIRCUIT.
Em Dezembro de 1977, os Warsaw registam o seu primeiro e único registo vinílico legal: An Ideal For Living (ver extracto da capa ao lado), um 7" com 4 temas, Warsaw, No love lost, Leaders of Men e Faillures (or the modern man), mas que não vem estampado porque o grupo não ficou satisfeito com a qualidade da impressão.
Como, na altura existia um grupo londrino chamdao WARSAW PACT, viram-se então na necessidade de terem que alterar novamente o nome da banda. A inspiração do novo nome, conta-se, vem de uma passagem de um conto pornográfico intitulado "No Love Lost" que falava de um grupo de prisioneiros de um campo de extremínio nazi, que se prostituia perante os soldados arianos e a quem um general chamou de JOY DIVISION.
Durante a contínua busca de uma casa discográfica que os apoiasse, Ian Curtis, graças à sua amizade com Derek Branwood, manager promotor da RCA, consegue que esta editora dê alguma atenção aos Joy Division, sendo encarregado Richard Searling de seguir o grupo.
Em 14 de Abril de 1978, os Joy Division participam num concurso de bandas organizado no Rafters Club, pela Stiff e pela Chiswick Records, onde se procuravam seleccionar novos talentos. Obtiveram um certo sucesso, mas sobretudo conseguiram a entusiástica aprovação de Mark Johnson.
A RCA decide editá-los, e no primeiro dioa de Maio o grupo entra em estúdio, gravando 11 temas: The Drawback (depois intitulada de All of this for you), Leaders of Men, They Walked in line, Faillures, Novelty, No love lost, Transmission, Ice Age, Interzone, Warsaw e finalmente Shadowplay.
Firmam um contrato, mas 3 dias depois, anulam o mesmo, porque descobrem que se tratava de um contrato-standard americano para artistas desconhecidos em que só se atribuíam 3% dos lucros à banda. Uma miséria...
Mas Ian, na altura, não esmorece, e assima dois importantes com Rob Gretton, manager da Panik e que se tornará mais tarde manager da banda e com Tony Wilson, produtor da BBC que, em associação com alguns grupos estava a formar aquilo que seria a FACTORY.
No mês de Junho, os Joy Division publicam, pagando eles próprios todas as despesas, 5 mil cópias de uma versão 7 polegadas de "An Ideal For Living", com uma capa maquetada e desenhada por Albercht. Dão numerosos concertos em clubes até que chegam a Outubro de 1978, mês em que saem as versões 12" e EP do seu 1º disco editado. Estes dois primeiros discos saem sob 2 etiquetas diferentes: pela Enigma Records e também pela Anonymous, propriedade momentânea dos Joy Division.
Em 11 de Outubro de 1978 registam, pela recém-surgida Factory, os temas Digital e Glass que serão incluídos num 7" chamado "A FACTORY SAMPLE".
Em 20 de Outubro retornam ao Russel Club, onde tocam juntamente com os Tiller Boys e com os Cabaret Voltaire, entrando também em contacto com a Rabid Records, anteriormente apenas distribuidora e cujo produtor base era um senhor chamado Martin Hannett.
O primeiro concerto dado em Londres acontece a 27 de Dezembro de 1978 no "Hope and Archor" e a 31 de Janeiro de 1979 são convidados a participarem nas famosas Peel Sessions, emitidas na Radio 1 / BBC. Gravam então, Exercise One, Insight, Transmission e She's Lost Control, temas esses que vão para o ar no dia 14 de Fevereiro de 1979.
Em Março desse ano entram em contacto com Martin Rushent, chefe da Genetic Records, editora subsidiária da WEA, para o qual enviam uma demo-tape gravada nos Eden Studios e que incluía os temas Glass, Transmission, Ice Age e Insight. Este registo nunca mais foi encontrado, nem mesmo editado sob a forma de disco pirata.
Em Abril de 1979, com produção de Martin Hannett e nos Stawberry Studios, os Joy Division gravam 15 músicas, sendo 10 delas incluídas no disco que viria a chamar-se UNKNOWN PLEASURES, editado pela Factory nesse ano.
Mais tarde registam 2 temas chamados Autosuggestion e From Safety To Where...? editados pela Fast Records, incluidos no EP denominado EARCON 2 - CONTRADITION e ainda 5 temas para a Picadilly Radio, gravados nos Peninne Studios a 4 de Junho. Foram eles These Days, Candidate, The Only Mistake, Chance (mais tarde o título foi alterado para Atmisphere), e Atrocity Exibition.
Em Julho entram nos Central Sound Studios de Manchester onde gravam os temas Transmission e Novelty (tendo saído ambos posteriormente nos 7 e 12" pela Factory em 25 de Outubro de 1979), Dead Souls (saído depois no disco com o título de LIGHT UND BLINDHERT) e Something Must Break (que acabará por ver a luz do dia no derradeiro disco chamado STLL).
No dia 8 de Setembro de 79 actuam em Leeds, no Futurama, onde obtêm um estrondoso sucesso. Em 13 desse mês, Malcom Withead filma no Scala Cinema de Tottenham Court RD, uma película de 17 minutos em Super 8 que compreende registos dos temas de Unknown Pleasures, uma entrevista a Rob Gretton, etc.
A 27 e 28 de Outubro, os Joy Division tocam no Appolo Theatre de Manchester, onde Richard Boon, manager dos Buzzcocks e grande amigo da banda, os filma, sendo esse registo incluído no vídeo póstumo HERE ARE THE YOUNG MEN, em 1981.
Em 26 de Novembro gravam a 2ª Peel Session, que vai para o ar a 10 de Dezembro de 1979, com os temas Sounds of Music, 24 Hours, Colony e Love Will Tear Us Apart.
Neste período, Bob Krasnow, vice-presidente da Warner Bros., encontrou-se com Martin Hannett e Peter Saville (responsável pela apresentação gráfica dos discos da banda), oferecendo aos Joy Division um contrato para a distribuição americana e a participação nalgum vídeo em troca de um milhão de dólares. Contudo, não consegue convencer Rob Gretton e tudo é anulado.
A 11 de Janeiro de 80 dão no Paradiso Club de Amesterdão, um memorável concerto, documentado no disco pirata chamado GRUFTGESAENGE.
Em 23 de Janeiro, de retorno a Inglaterra e durante uma breve pausa, compõem os temas Incubation, Komakino, As You Said (que sairá num flexi-disc) e Heart And Soul. No mês de Março trabalham intensamente em estúdio e conseguem recriar de forma soberba, algo tão belo como Love Will Tear Us Apart e These Days, que serão editados em 27 de Julho de 1980 num 7", sendo o 12 polegadas simultaneamente lançado com uma versão dupla de Love Will Tear Us Apart, visto Curtis e M. Hannett não estarem de acordo quanto à versão a incluir. Gravam ainda mais 9 músicas, que em Junho de 80 constituirão o segundo LP do grupo, chamado CLOSER e os temas She's Lost Control que, com Atmosphere (anteriormente incluído no EP Licht und Blindheit) sairão no 12" americano.
Sempre em Março, sai pela editora francesa Sordide Sentimental, o 7" com apenas 1578 exemplares, contendo Atmosphere e Dead Souls (registado em Junho e Julho de 79).
Em Abril tocaram com os Section 25 no Anjta Theatre em Derby e durante o concerto, as duas bandas juntam-se fazendo uma sessão onde tocam Girls Don't Count, tema dos Section 25, cantado por Ian Curtis. Abril foi, no entanto, um período de pésimas condições de saúde de Curtis, constantemente atacado por epilepsia e vários concertos tiveram mesmo que ser simplesmente anulados.
Em 2 de Maio deu-se o último concerto no High Hall em Birmingham, onde tocaram pela primeira e única vez o tema CEREMONY. Durante a execução de Decades, Ian foi conduzido até fora do palco, ajudado por pessoas que rapidamente o assistiram, mas conseguiu ainda recompor-se e entoou o encore de Digital.
Em 19 de Maio, os Joy Division deveriam partir para a sua primeira tournée americana. Nos Estados Unidos iriam encontrar Don Loggins, presidente internacional da WEA que havia feito à banda a tentadora proposta de lhes pagar novamente um milhão de dólares, mas, sendo desta vez as restantes condições expressas no contrato muito mais favoráveis. Mas, a 18 de Maio de 1980, Ian Curtis foi encontrado enforcado em casa dos seus pais, em Macclesfield...
Suicidara-se, deixando sós os Joy Division, uma esposa e uma filha de apenas um ano!
Depois do fim dos Joy Division, os restantes componentes da banda decidem, muito honestamente alerarem o nome da banda para NEW ORDER e seguem um novo caminho.
Porém, em Outubro de 1981, é ainda editado o duplo LP, denominado STILL que contém um primeiro lado com faixas registadas em estúdio, enquanto a 2ª face-parte do disco (portanto segundo disco...) é exclusivamente ocupado com o registo sonoro do último concerto da banda.
NOTA: Saiu, como noticiámos num dos 2 primeiros números do DIE NEUE SONNE, há cerca de 1 ou 2 meses uma compilação de temas dos Joy Division, intitulada SUBSTANCE (e não Atmosphere, como havíamos noticiado).
Discos e K7s Piratas
A discografia pirata de qualquer banda é uma coisa dificílima de ser assegurada, com todas as certezas. Aos discos, propriamente ditos, sucedem-se os bootlegs em k7, os vídeos, enfim... tudo o que satisfaça a ânsia dos verdadeiros coleccionadores, esses apaixonados insatisfeitos.
Nós quisemos arriscar e procurámos indicar uma lista o mais completa possível. Porém... não se fiem: devem haver muitas mais coisas. Estas são simplesmente aquelas que conhecemos.
- Unreleased DEBUT LP "Warsaw", 45 minutos
- Komakino 7" (edição em flexidisc e várias edições em vinil, em vários países, com ou sem livro a acompanhá-las). Inclui 4 temas, entre os quais Incubation 1 e 2 e You're no Good For Me)
- Unreleased LP "Komakino", Live in the Lyceum, London, 24/January/1980
- Le Terme, Demos and Live, 1980
- Le Terme, Part 2, Live 79/80
- Here Are The Young Men (music from the vídeo)
- The Sun ain't gonna shine anymore, 90 min.
- Live in London, University, 08/February/1980
- Gruftgesaenge, Live in Paradiso Club, Amsterdam, 11/January/1980
- Live in Manchester, June/79
- Live in Manchester, Dec./79
- Live in Paris, December/79
- Last Order, 54 min.
- Atmosphere LP, 60 min.
- Bowden Vale Youth Club 14/March/79
- Live in Eindhoven, 18/01/80
- Disorder - Live in High Wycombe 02/February/80
- Pearl Harbour LP
- Lost Control EP
Inclui os 4 temas da primeira Peel Session.
- Dante's Inferno LP
- Shadowplay LP
Inclui as Radio Sessions
- Enigma - vinil azul, LP
- A Retrospective on the vinyl Pain and Pleasure, LP 50 minutos
- Live at Apollo Manchester 27/28.October.1979
- Les Bains Deuches - London M.79/80
- Preston Warehouse - 60 minutos
- Altringham, 1979 - 60 minutos
- How Many Echoes Are There
Lyceum Soundcheck, 20/2/80
Peel Session 31/1/79
Peel Sesion 26/11/79
- Live at Russel Club - 13/June/1979
- Try to Cure Yourself
Live at London Nashville 9/22.October.1979
- Live at Winter Gardens,
Malvern, 05/April/80
- Live at Eric's, Liverpool 11/August/1979
#60 - "Brian Eno (starsailor)" Fernando Magalhães 08.01.2002 150308 Do período pop: Here Come the Warm Jets (1973) - 9/10 Takin...
Escritos de Fernando Magalhães em Livro
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LULU (versões mais antigas - com alguns textos em falta, entretanto descobertos. Tal já não acontece com as versões mais actuais, publicadas agora na Bubok - Portugal - ver acima)
Volume 1 - 1988/1991
Volume 2 - 1992/1994 (460 páginas, formato maior que A4)
Volume 3 - 1995 (336 páginas, formato maior que A4)
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