Autor: Livro: vários (depoimentos); DVD: Eduardo Morais
título: "O Uivo Da Matilha" tributo a ANTÓNIO SÉRGIO e à ROCK 'N' ROLL RADIO (livro + DVD)
editora: Edições El Pep + Chaosphere + Raging Planet
nº de páginas: 194
isbn: 978-989-96984-9-9
data: 2014 - Novembro
Edição Limitada a 500 Exemplares
formato A5 na horizontal.
Prefácio | Ana Cristina Ferrão
I
O mês de Outubro era para nós um mês de grandes alegrias. Foi o mês em que dormimos juntos pela primeira vez e não nos separámos mais. Foi o mês em que nasceu a Bébé, e por coincidência tinha também nascido o pai do Sérgio.
É mês de Halloween. Acreditem ou não, o António Sérgio embora não gostasse nem de filmes de terror, nem de máscaras e muito menos de se disfarçar, adorava dar um saltinho a Londres na noite de Halloween.
Conheci o Sérgio em Londres, em Agosto de 79, na mesma altura em que conheci também o meu querido João Luis Robinson (o Zappa).
No nosso primeiro jantar, num restaurante do Bairro Alto, o Sérgio veio acompanhado do primo, o Zhe Guerra, ficámos irmãos de sangue.
Trouxe para a minha vida a Zhe Guerra com os filhos Patrícia e Gustavo, a Becas, a Paula Ferreira e o Quim Manuel Lopes.
Disse-me que tinha um processo em tribunal - o célebre disco pirata. Ele, o Zhe e o Quim, eram a Pirate Dream Records.
Na nossa primeira ida ao cinema trouxe os filhos, o Paulo e o Fausto, e teve que sair a meio porque o Fausto ainda usava fraldas. Na saída seguinte optámos pelo Jardim Zoológico.
Pelo meio, fomos ver os Stranglers, os Dr. Feelgood, Gato Barbieri, Rao Kyao, vagueámos pela serra de Sintra, dançámos no Browns e no 2001, namorámos à chuva e ao luar. Contagiou-me com a rebeldia. Contaminei-o com a subversão. Mostrei-lhe os meus livros. Mostrou-me a sua rádio.
Eu apaixonei-me, ele também. Ambos adorávamos crianças, cães, mar, sol, areia e verão.
Em Outubro ficámos juntos. Talvez cheguemos ao verão, dizíamos.
E chegámos
II
Para o Sérgio ir ao médico era uma aventura, tomar os medicamentos até ao fim um tormento, ficar em casa a recuperar, só mesmo internado em hospital, mesmo assim...
em 2005, quando teve uma intervenção cirúrgica grave, ao fim de várias semanas de hospital, em que recusou sempre visitas, disse-lhe que o Zé Pedro o iria visitar. Ficou contente.
Eu aproveitei para sair. Quando voltei fui surpreendida pelo comentário da enfermeira chefe:
«Não sabia que o seu marido tinha um irmão gémeo? E é muito amigo do Zé Pedro dos Xutos! Até o trouxe para visitar o seu marido.» Pois a verdade é que os dois tinham saído para beber um café, o Sérgio fumar um cigarro e talvez beber uma cerveja ou um whisky...
Como podem imaginar não aprofundei muito a escapadela.
Em 2009, o médico disse ao Sérgio que não podia fazer viagens de avião de mais de 2h e determinou o habitual "deixar de fumar e de beber". Ele recusar, não foi surpresa, mas não consigo esquecer as lágrimas, que lhe caíram dos olhos, quando nessa primavera o Luís Montês telefonou a convidá-lo para ir ao SXSW e ele teve que dizer que não podia voar tantas horas - é que as dores eram insuportáveis.
Em 2009, a última noite de Halloween foi passada em casa.
III
Após dia 1 de Novembro recebi vários mails, carats, posts em que amigos, fãs, melómanos expressavam a razão da sua saudade do António Sérgio. Foram criados forums e blogs. Eu também lhe escrevi uma carta que li na Basílica da Estrela e guardei cuidadosamente.
Tudo isso me pareceu natural no calor do momento.
Os meses passaram, a Radar manteve a voz do "Mestre" no AR.
Os textos, assim como os recortes de jornal, foram-se amontoando até que ganhei coragem para os ler ou reler. Embora de forma não sistematizada, não literária, ilustram uma época pouco documentada, retratam o poder de um meio quente e poderoso e como uma personalidade forte e carismática pode provocar uma paixão tão forte em pessoas e audiências tão distintas.
Lancei então o desafio a diversas pessoas para escreverem ou desenharem algo para um livro de tributo ao António Sérgio.
Uma das colaborações, a do Chico, da El Diablo Tattoos, tem especial significado.
«Oh Sérgio, passa lá para fazeres uma tatuagem!» - dizia o Chico. «Só quando eu morrer é que me fazes uma!» - respondia o Sérgio, apimentando a resposta com linguajar masculino.
Eu pedi a tatuagem do Chico, e ele que é homem de coragem, fê-la!
O resultado está aqui, vários textos na sua maioria autobiográficos que para além do tributo ao homem da rádio, o retratam na sua faceta, como amigo, colega ou companheiro de longas noites de audição. Acima de tudo uma homenagem à ROCK?N?ROLL RADIO.
Take Care!
Setembro 2014
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