12.3.15

Memorabilia: Revistas / Magazines / Fanzines (43) - Cadáver Esquisito - Abr/NMai/Jun de 1986


Cadáver Esquisito
Abril / Maio / Junho 1986
24 páginas p/b, com capa e contracapa a p/b em papel azul claro.



Editorial
Reunidos numa cama algures em Portugal, o Conselho de Revolução do Cadáver Esquisito deliberou que:
1º O primeiro número do Cadáver Esquisito foi bom.
2º O segundo é melhor ainda.
3º O terceiro é excelente.
4º Continuamos à espera de donativos (os vinte litros de cerveja que enviaram não chegaram...)
5º Ao contrário do que muitos jornais afirmam por aí, somos feios, porcos, maus e estamos vivos (Blitz & companhia ide apanhar no cú)
P.S. - Temos todos mais do que dez anos (isto não é nenhum jardim escola.)
6º O nosso número de conta bancária é 397952 da C G. dos Depósitos (confiamos no Estado...). Se quiserem fazer contribuições para ajudar a causa, já sabem.
7º No top cadavérico está classificado em primeiro lugar (tal como no som da frente) o tema concorrente ao Festival da Canção "Não sejas mau para mim" de Siouxsie Dora. Em segundo lugar (votos carecas) o velho êxito de Jim veloso Percy "Eu quero ir à máquina zero".
8º O PORCO GANHOU (heil Soares) e outro porco perdeu e o Cadáver Esquisito está a pensar formar um partido. Aceitam-se propostas para estatutos e bandeira.
9º 10 anos depoisASEPTAL NOT DEAD.

O Cadáver Esquisito não tem director nem possui patrocinadores, comités de censura ou apoio de élites ideológicas ou partidárias, somos apenas...
Cadáver Esqusito
contactos p/ Apto. 120, 4503 Espinho Codex
Entrevista
Cagalhões
Somos os Cagalhões e estamos aqui para vos apresentar VIII extraordinários êxitos. Somos anti-cristos (não nos interessam aqueles que se servem duma vítima de cabelos compridos para nos impor a sua moral idiota).
Somos palhaços por conta própria não por conta de uma seita política ou religiosa...

Fomos até Aveiro, que merda de cidade, cheia de betinhos e polícia, com uns canais fedorentos e muitos universitáriosecos a "dar gosto" à cidade.
Metemo-nos à estrada até à barra (a 9 km de Aveiro) onde numa sala do tamanho de um canil, ensaiam os Cagalhões. Abortados no Natal de 1983; Biafra (vocal), João (ou mosca, guitarrista) e Jorge (baterista), formam a equipa efectiva da banda com vários suplentes a "baixistas" uma vez que todos são demasiado lentos...
Um concerto (Agitarte 85), uma expulsão do anterior local de ensaios e muita força de vontade constituem o "curriculum" (aquela coisa que...) da banda.
Cagalhões? É Cagalhões. Muita energia, violência e criatividade, velocidade galopante na bateria, desespero na voz, guitarra simples e até agora... baixo lento.
Bem, contrataram-me para escrever sobre estes montes de merda e não sei que mais dizer, mas, já que compraram isto, aturm-me...
Lá "fomos" (fui) e depois de um ensaio matraqueante e uma dezena de litros de cerveja iniciou-se a entrevista com as perguntas idiotas do costume.

. Como se situam musicalmente?
João - Não somos punk's, somos contra definições, a nossa música é Cagalhões.
. E face a outras bandas portuguesas?
Biafra - Não conheço ninguém.
João - Há pessoal diferente, com várias opiniões. Por exemplo, a guerra não nos interessa como tema base, temos de pensar naquilo que nos toca diariamente, a sociedade em geral.
. Há um tema vosso "deus é um chulo"...
Joao - É uma crítica a todas as formas de religião, todas, a todo o tipo de chulos. Não criticamos só os católicos, mas todos aqueles que psicologicamente exploram alguém...
Biafra - Eu gosto dos padres, são tipos fixes, tenho inveja da barriga deles...
. Qual a importância da espontaneidade?
João - Total, o que fazemos nasce espontaneamente...
Biafra - Não tocamos sempre a mesma merda. Depende da posição... partimos de uma letra para o resto, a mensagem é essencial, o som é apenas um suporte. Queremos ser verdadeiros e não agradar a alguém...



Entre risos cínicos, cerveja e arrotos lá continuamos a merda da conversa naquela sala húmida. O baterista (Jorge) e o baixista (skin) só mandavam bocas, o ambiente não podia ser melhor.
À sua maneira, o grupo demonstrava uma personalidade bastante apreciável (graxa graxa), bem, continuando...

. Qual a posição face aos fanzines que estão agora a surgir?
João - Achamos que é positivo, agora que estão a aparecer. Mas o importante é que não sejam feitos um ou dois números mas que cheguem ao 2'º número, pelo menos...
É importante existirem, apoiando um tipo de música marginal, divulgando e informando. Apostamos muito neles e esperamos que as pessoas os leiam para garantir a sua sobrevivência.

Mudamos de "assunto", descansou-se um pouco de javardeira que acompanhava a reportagem (ha, ha). E passamos aos motes, e entre os "puta que pariu de entrevista" e "o que queres dizer com issso?", lá se foi respondendo, acompanhando-as ou de grunhidos, sorrisos suspeitos, e caretas, por vezes indiferença e mais cerveja (já a acabar).

. Caos...
João - Cagalhões
Biafra - Natureza
Jorge - (arroto)
Skin - (olhar desconfiado)
. Acção directa...
João - Acção directa é Cagalhões, agir, física e psicologicamente, mas distinguimo-nos do terrorismo.
Jorge - Só há uma coisa, há que violentar o sistema...
. Individualismo...
Biafra - Somos individualistas, egoístas, primeiro a nossa vida, depois a dos outros.
. Alienação.
João - Quem não quer agir, pensar, parte para a alienação. É preferível viver com o que têm em vez de lutarem pelo que querem, e isso é uma das faces da alienação, o que em si, é difícil de definir...
. Portugal.
Jorge - Portugal é uma merda.
João - Portugal é o meu país, somos portugueses e somos "made in Portugal".
. Qual a relação com o patriotismo? (não resisti)
João - Só no sentido em que vivemos cá e queremos que evolua para que nos possamos sentir melhor. A relação entre patriotismo e a música que fazemos está unicamente na língua.
É triste ver que se compram discos em inglês (por exemplo) porque é "mais bonito", mesmo que não se compreenda o que dizem.
. Mulheres...
Biafra - São boas... e diferentes.
Jorge - Adoro mulheres, adoro mulheres. Vamos falar de sexo?!
. Desejo.
Jorge - Foder...
Biafra - Beber uma cerveja.
João - Ir ao RRV. Divulgar mais o que fazemos.
Skin - ...

Baixista provisório, o Skin ajudou-nos na entrevista. Transcrevemos parte dessa conversa em que por vezes é o entrevistador a responder...
Atenção: 1 2 3... 4

Skin - ... E quanto a influências ideológicas? (risos)
João - Ó pá, ideológicas... tu és consoante aquilo que te rodeia, se as coisas que estão à tua volta... se tu gostas, és um gajo bom, se não gostas és um gajo mau (gargalhada geral).
Skin - Vocês são a favor dos capitalistas exploradores do povo oprimido, da... classe operária?
Jorge - Qual classe operária, qual carapuça, não trabalham e querem ganhar nota.
Skin - Tu és tão radical. Eu acho que nós devemos pensar que nem todos temos o direito de trabalhar, se todos trabalhássemos, vocês não acham?
Jorge - Nem todos temos o direito de trabalhar: Tu trabalhas para mim.
Skin (para o João) - Tu estás de acordo com o teu amigo?
João - Ó pá, esse gajo é parvo, ele não é meu amigo. Esse gajo, é um gajo contratado para tocar bateria comigo. (ri)
Skin - Quem é que lhe paga?
João - Não... é, é escravo.
Skin - Vocês costumam fazer amor?
Biafra - Isso é uma pergunta pessoal, não respondo (risos).
Skin (a rir9 - Voc~es não se entregam ao acto sexual individualista?
Todos (risada geral) Punetas!!
Skin - Vocês têm crenças religiosas?
Biafra - A minha crença é o AAA.
Skin - O que é isso?
Biafra - Associação dos Admiradores do Álcool. (risos)
Skin - 'Tá bem, vocês têm crenças religiosas, além de... não. Vocês são ateus?
João - Eu sou troglodita... e o Jorge é budista.
Biafra - Eu sou "etc".
Skin - É... realmente tem aqui o etc (risos). Tu és budista Jorge?
Jorge - Eu sou...
Skin - Tu fazes yoga?
Jorge - Faço yoga de vez em quando. (risos)
Skin - Tu acreditas no... em Buda? Achas que os gordos têm potên... (desata a rir) têm força religiosa suficiente p'a, para tu os conseguires adorar?
Jorge - O quê?
Skin - Tu acreditas nos gordos?
Jorge - Eu não, foda-se.
Skin - O buda é gordo.
Biafra - O buda não é gordo, é forte (risos).
Skin - Vocês gostavam de ser terroristas?
Biafra - Ahhh... se ganhasse bem. Depende de...
Skin - Acho que se ganha bem, os gajos assaltam...
João - Terroristas, eu sou contra os terroristas.
Skin - ... os gajos assaltam bancos.
Eu acho que sim, que se devia... que toda a gente devia ser a favor...
Jorge - A não ser que queiram matar o presidente.
Skin - Que acham em particular das FP'S 25?
João - Acho que são uns criminosos, deviam ser mortos.
Skin - Também acho, mas não tenho nada que dar a a minha opinião (risos).
Biafra - Eu acho que as FP-25 de Abril... é pena estarem presos, acho que são uns tipos fixes.
Skin - O que é que vocês acham dos hippies e dos freaks?
João (a rir) - Isso é uma nova marca de sardinhas, não é?
Jorge - Se sabonetes.
João (interrompendo) - Ó pá esses gajos... esses gajos desperdiçam a juventude, nem isso sabem desperdiçar.
Jorge - Uma cambada de drogados.
Skin - E tu... não te drogas?
Jorge - Isso é muito pessoal.

Alguém lança a boca pelo meio: "O Oscar é um barriga-cheia-d'agua".

Skin - Vocês têm ídolos na vida?... portanto... se gostam de (risos) Silvester Stallone e... da...
Jorge - Eu gosto muito do pato Donald.
Biafra - O meu ídolo é o Snoopy.
João - E eu sou admirador do zebedeu das orelhas compridas (risos) é um gajo que tem um burro muito bonito.
Skin - O que é que achas da Jane Fonda?
João - Da... da Jane Funda? (risada geral).
Skin - O que pensam da Sida?
Jorge - Sabes que a sida dá aos gajos que nascerem em Março, t~em mais probabilidades, a sério! Não nasceste em Março, pois não?
Skin - Não.
Jorge - Então podes apanhar no cú. (risos)
Skin - acho que isto não é nenhuma cassete do Herman José....

Contactos: João Mesquita
Rua Castro Matoso
36 2ºEsq. / 3800 Aveiro.




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