20.3.15

Memorabilia: Revistas / Magazines / Fanzines (49) - Die Neue Sonne - Nº 4 - Agosto(?) de 1988(?)


Die Neu Sonne
Nº 4 - Agosto(?) de 1988(?)

36 páginas A5 a p/b
Colaboraram neste número: Jorge Pereira; José Moura; Abel Raposo; Faísca.







HIST - ENTREVISTA 1988 / JULHO





1
DNS - HIST: um nome curto; um projecto que assenta basicamente em 2 pessoas; Abel Raposo e Eurico Coelho; mas que contou, por certo, com vários outros convidados, digamos eventuais. Dêem-me um panorama mais ou menos fiel do que foram todos estes anos de trabalho subterrâneo.
AR - Para começar, já fiz uma série de entrevistas, mas nunca dei nenhuma. Nós já fomos, de facto, contactados para dar uma entrevista, mas não acedemos na altura porque não nos convinha.
Começando a falar do passado, podemos citar um grupo de pessoas que ouviam música com assiduidade e que, mais tarde, começou a fazer uns certos ruídos. Desse mesmo grupo, pela dedicação e assiduidade, acabaram por se destacar duas pessoas que são a formação bas edos HIST. Havia também a participação de outras pessoas mas, devido ao facto de ser um projecto muito amplo, a formação variava muito, chegando a ter até oito elementos. Éramos um pouco mal compreendidos mas isso não nos fez desistir, se bem que às vezes tenha travado o processo criativo. Aquilo a que chamávamos seesões Hist não eram concertos ou espectáculos. Tratavam-se de reuniões em que produzíamos sons/temas e a intenção era, de facto, fazermos uma espécie de ensaios que se encaminhavam sempre para a gravação.

2
DNS - Vocês ao optarem, agora, pela edição da K7-álbum pela editora Facadas na Noite, acham que isso pode ser um passo, senão importante, pelo menos interessante e útil na vossa actividade?
E não acham inconvenientes, pelo facto dos temas incluídos na K7 serem representativos de uma época passada dos Hist, em que talvez se trabalhasse com outros instrumentos e meios, com outros objectivos?
Qual a vossa atitude/projectos ao editar agora esse material e o que pensam fazer futuramente?
EC - Bom... uma edição feita agora com temas antigos de um grupo de pessoas de uma terra de província que se entretem aos Domingos a tocar numas latas, pode ter um interesse retrospectivo para se tentar ver um pouco do folclore da música contemporânea em Portugal!...
Depois passaram uns anos; eu segui um percurso individual, enquanto que o Abel seguiu um outro. Cada um experimentou sons diferentes, envolvendo-nos numa experiência muito mais individualizada. De certa maneira, a edição desta K7 vem-nos colocar novamente em contacto. Experimetámos tocar juntos, depois de tanto tempo e isso resultou. Quem sabe se isto não poderá resultar mais vezes...

3
DNS - Porquê a opção dos HIST se exprimirem em inglês, aliás como actualmente a maioria das novas bandas independentes europeias? O inglês é um idioma mais sério, mais duro? Procuram fugir um pouco ao desiqulíbrio da voz portuguesa; a dificuldade de se exprimir com aquela intensidade com que se poderá fazer com o inglês?
AR - O inglês é uma língua universal. O português também poderia ser, mas não é. Acho que são coisas que nada têm a ver... Simplesmente, quando juntamos aos ruídos que fazemos, uma componente verbal, se ela for feita em código, possui uma outra magia. Funciona, mais ou menos, como se se tratasse de uma missa em latim. Utilizamos assim a língua com uma responsabilidade bastante menor; usamos os sons que esse idioma nos proporciona! Podíamos fazê-lo em chin~es ou grego, só que é muito mais difícil...
EC - Quanto a mim, cada texto que escrevo, faço-o já a pensar na música e vou à procura da língua que mais se aproxime dessa sonoridade. Pode sair em francês, inglês, alemão (por vezes misturo-as)... Se o inglês predomina será um pouco, também, por influência, pelo hábito, pela facilidade existente em aplicar esses sons verbais à música. Não há uma localização específica, até em termos culturais. Evita-se assim também uma limitação nesse aspecto. Se falasse em português estaria a localizar demasiadamente o que fazemos e isso não nos interessa. Penso que é também um problema de nacionalidade; acho uma atitude perfeitamente portuguesa o querer não estar cá!...

4
DNS - A edição da K7 numa caixa de vídeo parece bastante original. Logicamente os Hist propõem novas e diferentes apresentações exteriores face ao público, tanto na edição como nas futuras apresentações ao vivo. Estão a estudar alguma perfomance ou alguma visualização complementar à música? E para quando novos concertos, isto no caso de já terem dado, no passado, alguns?
EC - Em 1º lugar, é natural que a apresentação visual de qualquer produto sonoro HISTY, "sofra" um cuidado especial da nossa parte, até porque eu, pessoalmente, sou profissional do ramo. Como designer, tenho participado activamente em cenários, exposições, etc. O Abel tem também mostrado grande interesse, tendo aliás mantido uma actividade de construtor minimalista orgâncio que, quem sabe, se tivesse continuação poderia dar resultados interessantes.
AR - Uma das coisas que procurámos desde sempre foi conjugar as várias vertentes, desde o som a imagem e muito se poderia dizer sobre espectáculos multimedia que idealizámos e alguns mesmo que chegámos a realizar, não como espectáculos para audiências, mas para nós próprios.
EC - Tudo se ficou muito como um jogo entre amigos e foram muito poucos os trabalhos que foram tornados públicos, propriamente ditos. À excepção de umas exposições em que nos integrámos como elementos dissidentes das Belas Artes. Sem ser isso, todos os nossos percursos foram sempre muito individualizados e muito fechados.

5
DNS - Noto que muitos dos vossos temas são, no mínimo, embriagantes e envolventes. Como os fizeram ou, enfim, em poucas achegas, qual o vosso método de trabalho?
AR - Chegámos à conclusão que o nosso método de trabalho seria uma improvisação sistematizada. Normalmente costumamos começar um tema com um de nós a dar uma base. Os outros procuram acompanhar essa base e delineamos o tema progressivamente.
EC - A atitude pode parecer meio freak, mas temos muito a ver com colagens e montagem de várias peças num puzzle. É claro que cada um tem as suas próprias refer~encias, hoje muito amplas e acho que é uma atitude possível a de tentar juntar esses pequenos pedaços de sons que nos rodeiam e montá-los numa música total. Isto não é verdade nenhuma... é uma grande mentira e por isso é que talvez valha a pena!
AR - Depois da tal colagem e de termos as coisas assentes, registamos o resultado e, normalmente à 2ª ou 3ª vez procedemos à gravação definitiva. As condições sempre foram muito deficientes, não só no aspecto de instrumentos, mas também no de gravação. Agora há sobretudo melhores condições e as deficiências técnicas que antes nos frustravam podem ser agora, em parte, superadas.
EC - É claro que as responsabilidades e sentido crítico também aumentaram ao longo destes anos e é natural que se torne um trabalho muito mais árduo e difícil. Mas vamos continuar!

6
DNS - Nota-se nos vossos temas um conteúdo opressivo, duro, onde se desenrola uma espécie de observação de um outro mundo, à parte, onde diversos interesses são jogados. Vocês vêem-se como espectadores pessimistas?
AR - Não considero a nossa atitude pessimista, mas de uma lucidez irónica!
EC - Aliás, acho que é uma atitude que também faz falta... Tem que haver uma contrapartida aos Domingos Disney e creio que a possível tensão que possa transparecer na nossa sonoridade tem muito a ver connosco e também com toda a gente. Penso que é apenas o resultado de uma canalização da violência que se encontra contida dentro de nós. A maneira como nós levamos tudo isto tem a ver com uma atitude introspectiva: é quase um exorcismo!...
AR - A transposição dessa mesma tensão para a música, considero-a que é um equilíbrio fornecido pela forma mais intelectual com que o Eurico a faz e pela forma visceral com que eu procuro criar. É algo de que nos apercebemos há já muito tempo.

HIST : Eurico Coelho - Abel Raposo        Entrevista: Jorge Pereira





Refúgio
Domingos
21.30 - 23.30 (R.U.T.)
Explorando Novos Sons
Como tínhamos dito num dos números iniciais, íríamos proceder a alterações no fanzine, nomeadamente criar novos espaços e secções. Esta é uma meia página que, por número, vamos "dar" aos bons programas que se vão por aí elaborando. Começamos com o
REFÚGIO - Domingos das 21:30 às 23:30 na R.U.T / Lisboa - Locução e Realização de José Moura.




Playlist / Julho 1988
1. Esplendor Geométrico - Kosmos Kino - LP 1988 E.G. Rec.
2. Front Line Assembly - State of Mind - LP 1987 Dossier
3. Front Line Assembly - Disorder - mLP 1988 Third Mind
4. Front Line Assembly - The Initial Command - LP 1987 KK
5. De Fabriek - Made In Spain - LP 1986 E.G. discos
6. Men 2nd - The Antibody Song - EP 1988 Antler
7. Poesie Noire - Tales of Doom - LP 1987 Antler
8. Snony Red - Treat Me - 7" 1988 Antler
9. The Klinik - Plague - LP 1987 Antler
0. Attrition - At The Fiftieth... - LP 1988 Antler
9. Digital Sex - Essence & Charm - CD 1986 S. Sentim.
8. Liquid G. - The Execution - K7 1988 Liquid Pro.
7. The Incarnate - Looking Out Of... - K7 1987 Temper F.T.
6. Pankow - Feiheit Fur Die... - LP 1987 Contempo
5. Compilação - Music From The Dead... - K7 1987 Dead M.C.
4. Compilação - Insane Music From... - K7 1987 Insane M.
3. Compilação - Climax 1 - LP 1987 Climax P.
2. Recoil - Hidrology - LP 1988 Mute
1. Greater Than One - All The Masters - LP 1987 Side Eff.
0. Compilação - Out Of Tune - 7" EP 1988 Body Records
1. Johnson Engineering - Demo-Tape - K7 87/88
2. Het Zweet - Het Zweet - LP 1987 Dossier







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