Die Neue Sonne
Nº 3 - Agosto de 1988
36 páginas A5 a p/b
Colaboradores neste número: Jorge Pereira; Faca na Liga; Fred Somsen; José Moura e Luís Sousa.
Preço deste número: 100$00. Via CTT, acrescentar mais 30$00.
Rua Dr. Alberto Cruz, 50 4700 Braga Portugal
Editorial
Voltamos a encontrar-nos. Cumprimos oo estabelecido há uns meses atrás: saída de dois números do DIE NEUE SONNE em Agosto.
Sobre este número, em particular, há algumas coisas a serem ditas. O fanzine sofreu um processo, anteriormente planeado, de actualização e radicalização (no sentido de divulgarmos bandas mais marginais, novas e independentes). Os 2 primeiros números, embora não tenham sido aquilo que na altura sda sua edição mais desejássemos, foram importantes para o fanzine e todo o projecto envolvente se tornar mais divulgado e para que as pessoas interessadas se sentissem atraídas em participarem. Isso aconteceu parcialmente.
Quanto a este número, há a dizer que as notícias/informações foram abolidas, porque tinham um interese muito reduzido e demasiado pontual/parcial. Surgem artigos sobre os Big Black, Godfathers, Henri Rollins, Siglo XX, Club Moral e finalmente sobre os The Klinik. Quanto a este último trabalho, da autoria do José Moura, ele, de facto, saiu num exemplar atrasado do jornal "Blitz" mas, para informação daqueles que nos estão a ler, nós já tínhamos o artigo antes da publicação do mesmo nesse semanário, e mais, contávamos publicá-lo.
Apresentamos igualmente duas entrevistas exclusivas, com Bill Lebb dos Front Line Assembly e com 2 dos elementos dos Mão Morta.
Há ainda a registar um pequeno apontamento sobre os Johnson Engineering, banda inglesa de que falaremos muito mais detalhadamente num dos próximos números do fanzine; um outro trabalho sobre os excelentes Current 93, da autoria de Fred Somsen, originalmente publicado no fanzine "Ibérico" e ainda um dossier sobre os Joy Division, que julgamos com interesse.
Enfim... esperemos que vos agrade.
Entrevista - Exclusivo DIE NEUE SONNE
Front Line Assembly
Um dos objectivos a ser postos em acção do DIE NEUE SONNE é o de tentar variar, tentando evitar a repetição e cansaço. As entrevistas funcionam como óptimas hipóteses de se saber um pouco mais sobre as pessoas e bandas em questão, mas servem igualmente como um factor de desconcentração e de variedade.
Tudo isto, porque desta vez temos o privilégio de vos dar a ler mais um depoimento EXCLUSIVO, desta vez realizado pelo José Moura, mentor do projecto REFÚGIO. A entrevista, por questionário, foi elaborada para ser respondida por Bill Leeb, dos FRONT LINE ASSEMBLY e foi recebida no dia 15 de Julho de 1988
. Antes de mais, porquê a música totalmente electrónica?
- A razão porque gosto de música electrónica é, fundamentalmente, talvez devido às minhas influências, dos primeiros tempos dos SPK, passando por NEUBAUTEN, TEST DEPT, KRAFTWERK... Estou mais interessado nos próprios sons do que em estruturar canções com refrão e melodias, processo mais comum em guitar-bands.
. Acontece frequentemente as pessoas ligarem-te aos Skinny Puppy? Qual foi exactamente a tua participação nos Skinny Puppy?
- No que respeita à minha conexão com os S. Puppy, estive com eles desde o início e colaborei nos 2 primeiros álbuns (NOTA: Remission e Bites), além de fazer também uma tournée com eles, pelo Canadá e EUA. Sentia-me orgulhoso por ser parte do projecto. Fazia-se excelente música e nunca no Canadá se havia feito algo do género. Na altura falou-se muito em desentendimentos, mas até deixar o grupo, fiz realmente parte dele.
. Tens alguma explicação para o facto de nenhum dos vossos discos ter sido editado directamente numa editora canadiana ou americana?
- Apesar de todos os nossos discos terem saído em editoras europeias (NOTA: Corrosion e Disorder), têm distribuição no Canadá e EUA através da Wax Trax, provavelmente uma das melhores editoras independentes norte-americanas. Aliás para mim, é melhor que a Nettwerk.
. Antes de participares no LP "Bites" dos Skinny Puppy estiveste envolvido nalgum outro projecto?
- Skinny Puppy foi, mais ou menos, a minha primeira banda, ao mesmo tempo em que colaborava com N. Ogre no projecto MUTUAL MORTUARY. Além disso, fiz algumas experiências musicais com outras pessoas.
. Achas que é fácil para bandas como os Front Line Assembly ou Skinny Puppy se desenvolverem e terem sucesso no Canadá?
- Quanto a ter sucesso na América, nos EUA fomos tão bem recebidos como na Europa. Acho que no Canadá é um pouco mais difícil. Há menos pessoas e parece-me que as guitar-bands são acarinhadas em demasia, porém nós continuamos a trabalhar... Ainda somos uma banda recente, por isso vasi levar algum tempo.
. Os vossos discos têm sido bem aceites em Inglaterra?
- Em Inglaterra, temo-nos saído razoavelmente bem e já apareceram boas críticas no Melody Maker e no NME, que são os dois maiores jornais e para os quais devemos fazer umas entrevistas. E como a Third Mind é uma editora inglesa, Gary Levermore está a fazer um bom trabalho, tentando promover-nos lá, mas realmente a pop, as guitar-bands têm muito sucesso. Os Pixies, Swans, Butthole Surfers, todo esse estilo de bandas. Em termos de música electrónica, a única coisa que lá é popular, são os Depeche Mode, e isso para mim é hip hop, pop, que eu não gosto nada. Mas só o tempo o dirá...
. Alguma ideia particular por detrás do slogan "Opression Breeds Violence"?
- Esse slogan (NOTA: Opressão origina violência), foi algo que eu li uma vez e que penso sintetizar tudo. Seja em arte, modos de vida, política ou música, todos temos que fazer o jogo dos manda-chuvas, dos patrões, para conseguir alguma coisa. Por isso, a nossa música (e outras mais), provavelmente, é agressiva porque sentimos que estamos sempre encurralados, se não fizermos a música que eles querem (para as rádios oficiais, etc.).
. Há alguma razão para o facto de que quase sempre no fim de cada lado dos vossos discos aparece um tema com características obscuras, ambientais?
- Quanto a isso, parece-me que é pura coincidência eles aparecerem quase sempre no fim de cada lado de um disco, mas eu gosto tanto de música ambiental como de música cheia de drum-machines e percussões fortes. Gosto de misturar estas duas concessões. Não me agradam os discos que começam no lado 1 e acabam no lado 2 apenas com uma drum-machine tocando constantemente. Gosto muito mais de criar uma disposição para ideias e coisas diferentes, e isso estará sempre presente na nossa música.
. A vossa música inclui frequentemente vários tipos de colagens. Isso significa que os mass media têm influência no vosso trabalho?
- Quando, à noite, se vêem as notícias, sabendo que somos bombardeados diariamente por 20000 imagens, é difícil não se ser influenciado pelas coisas que se passam no mundo inteiro. Acho que nós tendemos a apresentar tudo isso, esperando que não de uma maneira demasiadamente negativista ou macabra. Mas sim, gostamos de aproveitar os acontecimentos para a nossa música e, claro, os noticiários sempre exercerão sobre nós uma determinada influência.
. As letras das vossas canções não são fáceis de apanhar, por isso, acerca de que escreves?
- Não gosto que as letras monopolizem as músicas, prefiro usá-las como um instrumento suplementar. Mas tivemos já imensos pedidos de folhetos com as letras e ainda estamos a debater o assunto, porque eu sempre pensei que fornecer tais folhetos era uma atitude um tanto ou quanto comercial. E, também penso que é mais interessante e misterioso se cada pessoa interpretar individualmente as letras, embora muita gente me me pergunte acerca do que eu canto. Fundamentalmente, os temas das minhas letras são coisas que acontecem todos os dias. Eu tento identificá-las, e não dizer às pessoas o que fazer. Tento explorar ambos os lados desses acontecimentos, tanto o sério como o estranho, ou engraçado. Tento descrever as coisas de um modo positivo, em vez de optar por um mundo depressivo ou obscuro, apenas dizendo "Bom, não há esperança, mais vale suicidar-nos". Para mim, isso parece a saída mais fácil. Acho que é mais difícil achar coisas boas na vida, coisas positivas, sobre as quais se possa escrever. Assim, tento focar os dois aspectos, deixando o ouvinte decidir qual o caminho que quer tomar, ou a interpretação que quer fazer do significado de tudo isto.
. Desde Outubro de 87, a vossa produção tem sido intensa (NOTA: 3 LPs e 1 Mini-LP). É difícil gravar tanto material em tão pouco tempo? Já agora, como é que vocês procedem normalmente para compor um tema?
- Quanto a editar 4 álbuns num período de tempo relativamente curto, isso deve-se sobretudo às editoras discográficas. Dois dos discos haviam sido gravados uma ano antes, e demorou-se assim tanto tempo a fazer os contactos, a conseguir capas para os discos, etc! Além disso, viver no Canadá (do outro lado do Atlântico), quando todas as editoras interessadas, estão na Europaé problemático, porque há que contar com o tempo que as cartas demoram a ir e vir, e há que enviar K7's-master às editoras. Tudo somado, passam-se meses...
Alguns discos eram para ter saído algum tempo antes, mas parece que sairam todos muito próximo uns dos outros, por isso o caso não é o de termos escrito tanto material em tão pouco tempo, mas sim o facto das editoras não poderem trabalhar o suficientemente rápido.
No que diz respeito à composição dos nossos temas, não existe nenhuma fórmula. Eu apenas tento encontrar sons que me interessem e depois trabalho esses sons, ou por vezes ritmos, mas em geral, não me costumo sentar e pensar "OK, vou compor um tema". Há dias em que tenho ideias loucas, inspiradas em várias coisas, e acho que é preferível não existir uma fórmula, visto quando isso acontece se começar a fazer tudo com base nela e se começar a fazer constantemente a mesma coisa (isso é frequente em música electrónica). Tentamos afastar-nos desse procedimento.
. Bandas electrónicas como os Skinny Puppy ou Poesie Noire, tentam reagir contra os concertos electrónicos "sem vida", frios. O que pensas deste tipo de concertos e qual a vossa atitude em relação às actuações ao vivo?...
- É muito difícil representar música electrónica de um modo em que tudo pareça tocado ao vivo, porque tudo é feito com base em sequenciadores, caixas de ritmo, etc. Humana e manualmente é quase impossível tocar tudo ao vivo. Para mim é uma situação necessária, porque a maior parte das pessoas que gostam deste estilo de música, compreende que este é o modo como ela é criada. Se se possui um mínimo de conhecimentos, sabe-se que não existe uma maneira possível de tocar tão perfeitamente (e de uma forma tão rápida) este género musical. Se forem ver um concerto de uma banda electrónica e ouvirem um dos seus discos, já sabem provavelmente como as coisas funcionam, por isso é estupidez criticá-los e dizer que são tudo gravações, que não se gosta, ao passo que as guitar-bands podem tocar todos os instrumentos ao vivo, e isso é o que se espera delas.
Penso que o aspecto mais importante nos grupos electrónicos é, mesmo que utilizes muitas gravações, a sua apresentação e conduta em palco, como por exemplo o recurso a encenações, filmes, slides, ou o que quer que seja. Nós, provavelmente vamos ter um baterista (uma percussão realmente tocada ao vivo), um teclista e eu próprio fazendo as vozes, as teclas e o que mais houver. Sei lá... slides ou fogo ardendo no palco...
. Penso que a imagem é também importante nos Front Line Assembly. Já fizeram algum vídeo? Se sim, o que tentam vocês exprimir no trabalho visual?
- Temos um vídeo chamado "Body Count", que considero como vídeo de propaganda, com muitas cenas violentas, motins, guerras, usando centenas de imagens de noticiários e reportagens. Foi feito para o tema "Body Count" e se souberem a intensidade desse tema, então já imaginarão a intensidade do vídeo. Mas, no meio disto, só aparecemos no vídeo uma ou duas vezes, pois não gostamos de ver os nossos rostos por cima de tudo. Preferimos ficar mais na sombra, alimentar o mistério.
Em relação à imagem, com os S. Puppy isso era muito importante, mas no que toca aos F.L.A., nós tentamos não adoptar nenhum tipo de imagem. Deixamos apenas a música criar a sua imagem própria na mente das pessoas. Deste modo, não é só um tipo de pessoa que vem aos nossos concertos. Gosto mais que hajam lá pessoas de tipos variados, que venham pela música e não pelo aspecto.
. Os 3 LPs dos Front Line Assembly sairam em 3 editoras diferentes, mas agora parece que vão ficar pela Third Mind. Porquê esta escolha?
- Vamos ficar na Third Mind por mais algum tempo porque conseguimos um bom acordo com eles e eles têm-nos ajudado. Também porque a Third Mind tem uma licença com a Wax Trax nos EUA, por isso temos uma espécie de editora dupla para a qual ambas trabalham. Desta forma, podemos contar com uma boa distribuição tanto na Europa, como nos EUA. Estamos satisfeitos com as duas e nos próximos tempos, pelo menos, vamos continuar assim.
. Como nasceu exactamente a ideia de criares os Front Line Assembly?
- F.L.A., basicamente, nasceu do facto de estar na outra banda - os Skinny Puppy - e descobrir, à medida que o tempo passava, que estava cada vez menos à vontade com a ideia que eles projectavam de sangue no palco e toda a teatralização, enquanto que eu queria que as coisas fossem um pouco mais reais e vulgares. Apenas coisas que acontecessem todos os dias, que sempre me interessaram mais do que, por exemplo, o horror ou o gótico.
Queria uma atitude mais industrial, mais simples, suor, trabalho e todo esse tipo de coisas. Acrescentei aos F.L.A., de certo modo, algumas ideias militares, que já me assolavam o espírito pouco antes de ter deixado os Puppy. Eram ideias que eu tinha necessidade de criar, independentemente, e foram-se desenvolvendo cada vez mais. F.L.A. não pára de crescer. Até onde chegará?
. Como é que te juntaste a Michael Balch e Rhys Fulber? Eles já faziam música antes disso?
- Rhys Fulber era um admirador, quando eu estava nos S. Puppy, e ele costumava estar sempre a falar comigo. Com isso tudo, ficámos bons amigos e começámos a ensaiar umas coisas juntos, de vez em quando, e descobri que tínhamos muitos interesses em comum. Como nos tornámos amigos, o que veio a seguir foi apenas uma progressão natural. Continuámos os ensaios e, quase sem darmos por isso, estávamos a fazer um trabalho bastante interessante. Neste momento, acaou de gravar um LP chamado "Delirium - Faces, Forms & Illusions" que irá sair na Dossier Records e que se trata de um projecto à parte, muito obscuro e muito ambiental, tipo banda sonora. Rhys aproveitou algum trabalho meu para o disco, que se trata de uma tentaiva artística (diferente dos F.L.A.).
Michael Balch conheci-o depois de os Neubauten estarem cá num fim de semana. Encontrámo-nos com eles e estivemos numa festa toda a noite. Michael, por acaso estava nese clube e deu-me uma cassete dele, que ouvi e achei que tinha partes muito interessantes. Ainda, sem ter a certeza, do que podia acontecer, telefonei-lhe mais tarde, encontrámo-nos e, a princípio, todo o trabalho se sucedeu naturalmente. mas acho que quando se trabalha em conjunto, por vezes os resultados demoram um pouco a surgir. Mas a nossa colaboração foi-se desenvolvendo e ele, que é muito virado para a tecnologia e tinha um computador entrou para os F.L.A., até porque era essa parte que realmente faltava.
. Como os F.L.A. já participaram em várias compilações, até que ponto as achas como uma boa contribuição para o sucesso dos grupos?
- Essa participação é definitivamente benéfica para a maioria dos grupos, especialmente quando se está a começar. Eu costumava receber da Europa muitas K7s-compilação, conhecendo assim inúmeras bandas das quais nunca tinha ouvido falar. Falando das compilações da Insane, que foram as que participámos, acho Alain Neffe (NOTA: "patrão da INSANE) um tipo bastante porreiro. Ele faz um trabalho excelenete, basicamente por amor à música e se houvessem mais pessoas assim, mais compilações desse tipo, os grupos underground teriam mais hipóteses de ser descobertos, de se lançarem. Penso que é uma boa maneira de se lançarem e é bom contribuir para isso, mesmo que as editoras pareçam pequenas e insignificantes, na altura. Há sempre alguém lá fora que ouve. Já recebi cartas de sítios como África do Sul, de pessoas que ouviram as compilações da Insane.
. Como conclusão, queres dizer alguma coisa em particular a todos os que gostam de música electrónica alternativa em Portugal?
- Para todos eles aconselho que mantenham os olhos abertos para os Front Line Assembly e a sua digressão oficial pelas trincheiras. Talvez algum dia nós estejamos por aí, dentro dos próximos 8 ou 9 meses. Nada está ainda confirmado, mas nós vamos de certeza.
E sairá um 12" no Outuno (será apenas um single com "Vexation" no lado 1 e no outro uma faixa ainda sem títuko), por isso estejam atentos. E pronto, acho que é tudo.
Haverão mais notícias em breve.
José Moura
Joy Division
Dossier Die Neue Sonne
Assumindo o "perigo" de podermos ser acusados de revivalistas, de estarmos a desenterrar o passado, apenas ripostamos com dois pormenores: primeiro, não é possível desenterrar-se o que nunca esteve enterrado e morto e em segundo falar dos Joy Division, neste momento não é estar desactualizado, pois as sementes lançaadas há anos pelos mesmos frutificam agora, uma vez mais. Os Swans recriaram há bem pouco tempo o tema "Love Wil Tear Us Apart"; os Sonic Youth, nas suas actuações ao vivo dão uma nova dimensão à faixa "Shadowplay" e também uma série de bandas muito interessantes que agora despertam prometem "pensar no caso"...
Aliás, o trabalho que nos propomos apresentar não vai recair, como já tantos fizeram, sobre as palavras expleidas por Curtis, nem pelos sentimentos que as mesmas t~em e tiveram capacidade de despoletar... Elas continuam vivas, só que isso já foi feito. Vamos tentar reviver os factos... aqueles pormenores, que realmente aconteceram e que muita gente desconhece. Ao verídico, junta-se muitas vezes a lenda, esse manto de ambiguidade que torna tudo, porém, mais fascinante. A seguir a toda a descrição evolutiva do percurso da banda, segue-se uma lista, mais ou menos exaustiva (foi o que conseguimos recolher...) de discos e registos piratas da banda.
Jorge Pereira
A primeira aparição dos futuros Joy Division dá-se a 9 de Dezembro de 1976 quando, com o nome de Stiff Kittens, Bernard Dickens (depois Albrecht), Peter Hook e Terry Mason, colegas numa escola de Manchester, tocam no Electric Circus, na sua cidade natal, sendo a crítica feita pela "Sounds" na altura, bastante pesada e dura. Uns dias depois, a banda encontra Ian Curtis e, já com ele, escrevem a primeira canção, intitulada Gutz. Durante o ano de 77, o grupo soa bastante pesado e espesso e tocam em pubs de Salford e de Manchester, especialmente nos Black Swan e Rafters.
Mudam também o nome para WARSAW e o baterista passa a ser Steve Brotherdale (Depois Steve Morris).
Em 18 de Julho de 1977 gravam a sua primeira demo-tape nos Penine Studios, com 4 temas: Inside The Line, Gutz, At A Later Date e The Kill.
Continuavam os Warsaw como banda de suporte de vários clubes, quando surge a primeira grande oportunidade, sob a forma de uma actuação do Electric Circus, acompanhados de nomes como os Panik, Negatives, V2, Steel Pulse, Slugs, Drones, The Fall, Buzzcocks ou Magazine, entre vários outros. Decorria o dia 2 de Novembro de 1977 e nessa altura foi registado o tema "At a later date" que sairá em Junho de 78, sob o selo da Virgin, incluído no 10" SHORT CIRCUIT.
Em Dezembro de 1977, os Warsaw registam o seu primeiro e único registo vinílico legal: An Ideal For Living (ver extracto da capa ao lado), um 7" com 4 temas, Warsaw, No love lost, Leaders of Men e Faillures (or the modern man), mas que não vem estampado porque o grupo não ficou satisfeito com a qualidade da impressão.
Como, na altura existia um grupo londrino chamdao WARSAW PACT, viram-se então na necessidade de terem que alterar novamente o nome da banda. A inspiração do novo nome, conta-se, vem de uma passagem de um conto pornográfico intitulado "No Love Lost" que falava de um grupo de prisioneiros de um campo de extremínio nazi, que se prostituia perante os soldados arianos e a quem um general chamou de JOY DIVISION.
Durante a contínua busca de uma casa discográfica que os apoiasse, Ian Curtis, graças à sua amizade com Derek Branwood, manager promotor da RCA, consegue que esta editora dê alguma atenção aos Joy Division, sendo encarregado Richard Searling de seguir o grupo.
Em 14 de Abril de 1978, os Joy Division participam num concurso de bandas organizado no Rafters Club, pela Stiff e pela Chiswick Records, onde se procuravam seleccionar novos talentos. Obtiveram um certo sucesso, mas sobretudo conseguiram a entusiástica aprovação de Mark Johnson.
A RCA decide editá-los, e no primeiro dioa de Maio o grupo entra em estúdio, gravando 11 temas: The Drawback (depois intitulada de All of this for you), Leaders of Men, They Walked in line, Faillures, Novelty, No love lost, Transmission, Ice Age, Interzone, Warsaw e finalmente Shadowplay.
Firmam um contrato, mas 3 dias depois, anulam o mesmo, porque descobrem que se tratava de um contrato-standard americano para artistas desconhecidos em que só se atribuíam 3% dos lucros à banda. Uma miséria...
Mas Ian, na altura, não esmorece, e assima dois importantes com Rob Gretton, manager da Panik e que se tornará mais tarde manager da banda e com Tony Wilson, produtor da BBC que, em associação com alguns grupos estava a formar aquilo que seria a FACTORY.
No mês de Junho, os Joy Division publicam, pagando eles próprios todas as despesas, 5 mil cópias de uma versão 7 polegadas de "An Ideal For Living", com uma capa maquetada e desenhada por Albercht. Dão numerosos concertos em clubes até que chegam a Outubro de 1978, mês em que saem as versões 12" e EP do seu 1º disco editado. Estes dois primeiros discos saem sob 2 etiquetas diferentes: pela Enigma Records e também pela Anonymous, propriedade momentânea dos Joy Division.
Em 11 de Outubro de 1978 registam, pela recém-surgida Factory, os temas Digital e Glass que serão incluídos num 7" chamado "A FACTORY SAMPLE".
Em 20 de Outubro retornam ao Russel Club, onde tocam juntamente com os Tiller Boys e com os Cabaret Voltaire, entrando também em contacto com a Rabid Records, anteriormente apenas distribuidora e cujo produtor base era um senhor chamado Martin Hannett.
O primeiro concerto dado em Londres acontece a 27 de Dezembro de 1978 no "Hope and Archor" e a 31 de Janeiro de 1979 são convidados a participarem nas famosas Peel Sessions, emitidas na Radio 1 / BBC. Gravam então, Exercise One, Insight, Transmission e She's Lost Control, temas esses que vão para o ar no dia 14 de Fevereiro de 1979.
Em Março desse ano entram em contacto com Martin Rushent, chefe da Genetic Records, editora subsidiária da WEA, para o qual enviam uma demo-tape gravada nos Eden Studios e que incluía os temas Glass, Transmission, Ice Age e Insight. Este registo nunca mais foi encontrado, nem mesmo editado sob a forma de disco pirata.
Em Abril de 1979, com produção de Martin Hannett e nos Stawberry Studios, os Joy Division gravam 15 músicas, sendo 10 delas incluídas no disco que viria a chamar-se UNKNOWN PLEASURES, editado pela Factory nesse ano.
Mais tarde registam 2 temas chamados Autosuggestion e From Safety To Where...? editados pela Fast Records, incluidos no EP denominado EARCON 2 - CONTRADITION e ainda 5 temas para a Picadilly Radio, gravados nos Peninne Studios a 4 de Junho. Foram eles These Days, Candidate, The Only Mistake, Chance (mais tarde o título foi alterado para Atmisphere), e Atrocity Exibition.
Em Julho entram nos Central Sound Studios de Manchester onde gravam os temas Transmission e Novelty (tendo saído ambos posteriormente nos 7 e 12" pela Factory em 25 de Outubro de 1979), Dead Souls (saído depois no disco com o título de LIGHT UND BLINDHERT) e Something Must Break (que acabará por ver a luz do dia no derradeiro disco chamado STLL).
No dia 8 de Setembro de 79 actuam em Leeds, no Futurama, onde obtêm um estrondoso sucesso. Em 13 desse mês, Malcom Withead filma no Scala Cinema de Tottenham Court RD, uma película de 17 minutos em Super 8 que compreende registos dos temas de Unknown Pleasures, uma entrevista a Rob Gretton, etc.
A 27 e 28 de Outubro, os Joy Division tocam no Appolo Theatre de Manchester, onde Richard Boon, manager dos Buzzcocks e grande amigo da banda, os filma, sendo esse registo incluído no vídeo póstumo HERE ARE THE YOUNG MEN, em 1981.
Em 26 de Novembro gravam a 2ª Peel Session, que vai para o ar a 10 de Dezembro de 1979, com os temas Sounds of Music, 24 Hours, Colony e Love Will Tear Us Apart.
Neste período, Bob Krasnow, vice-presidente da Warner Bros., encontrou-se com Martin Hannett e Peter Saville (responsável pela apresentação gráfica dos discos da banda), oferecendo aos Joy Division um contrato para a distribuição americana e a participação nalgum vídeo em troca de um milhão de dólares. Contudo, não consegue convencer Rob Gretton e tudo é anulado.
A 11 de Janeiro de 80 dão no Paradiso Club de Amesterdão, um memorável concerto, documentado no disco pirata chamado GRUFTGESAENGE.
Em 23 de Janeiro, de retorno a Inglaterra e durante uma breve pausa, compõem os temas Incubation, Komakino, As You Said (que sairá num flexi-disc) e Heart And Soul. No mês de Março trabalham intensamente em estúdio e conseguem recriar de forma soberba, algo tão belo como Love Will Tear Us Apart e These Days, que serão editados em 27 de Julho de 1980 num 7", sendo o 12 polegadas simultaneamente lançado com uma versão dupla de Love Will Tear Us Apart, visto Curtis e M. Hannett não estarem de acordo quanto à versão a incluir. Gravam ainda mais 9 músicas, que em Junho de 80 constituirão o segundo LP do grupo, chamado CLOSER e os temas She's Lost Control que, com Atmosphere (anteriormente incluído no EP Licht und Blindheit) sairão no 12" americano.
Sempre em Março, sai pela editora francesa Sordide Sentimental, o 7" com apenas 1578 exemplares, contendo Atmosphere e Dead Souls (registado em Junho e Julho de 79).
Em Abril tocaram com os Section 25 no Anjta Theatre em Derby e durante o concerto, as duas bandas juntam-se fazendo uma sessão onde tocam Girls Don't Count, tema dos Section 25, cantado por Ian Curtis. Abril foi, no entanto, um período de pésimas condições de saúde de Curtis, constantemente atacado por epilepsia e vários concertos tiveram mesmo que ser simplesmente anulados.
Em 2 de Maio deu-se o último concerto no High Hall em Birmingham, onde tocaram pela primeira e única vez o tema CEREMONY. Durante a execução de Decades, Ian foi conduzido até fora do palco, ajudado por pessoas que rapidamente o assistiram, mas conseguiu ainda recompor-se e entoou o encore de Digital.
Em 19 de Maio, os Joy Division deveriam partir para a sua primeira tournée americana. Nos Estados Unidos iriam encontrar Don Loggins, presidente internacional da WEA que havia feito à banda a tentadora proposta de lhes pagar novamente um milhão de dólares, mas, sendo desta vez as restantes condições expressas no contrato muito mais favoráveis. Mas, a 18 de Maio de 1980, Ian Curtis foi encontrado enforcado em casa dos seus pais, em Macclesfield...
Suicidara-se, deixando sós os Joy Division, uma esposa e uma filha de apenas um ano!
Depois do fim dos Joy Division, os restantes componentes da banda decidem, muito honestamente alerarem o nome da banda para NEW ORDER e seguem um novo caminho.
Porém, em Outubro de 1981, é ainda editado o duplo LP, denominado STILL que contém um primeiro lado com faixas registadas em estúdio, enquanto a 2ª face-parte do disco (portanto segundo disco...) é exclusivamente ocupado com o registo sonoro do último concerto da banda.
NOTA: Saiu, como noticiámos num dos 2 primeiros números do DIE NEUE SONNE, há cerca de 1 ou 2 meses uma compilação de temas dos Joy Division, intitulada SUBSTANCE (e não Atmosphere, como havíamos noticiado).
Discos e K7s Piratas
A discografia pirata de qualquer banda é uma coisa dificílima de ser assegurada, com todas as certezas. Aos discos, propriamente ditos, sucedem-se os bootlegs em k7, os vídeos, enfim... tudo o que satisfaça a ânsia dos verdadeiros coleccionadores, esses apaixonados insatisfeitos.
Nós quisemos arriscar e procurámos indicar uma lista o mais completa possível. Porém... não se fiem: devem haver muitas mais coisas. Estas são simplesmente aquelas que conhecemos.
- Unreleased DEBUT LP "Warsaw", 45 minutos
- Komakino 7" (edição em flexidisc e várias edições em vinil, em vários países, com ou sem livro a acompanhá-las). Inclui 4 temas, entre os quais Incubation 1 e 2 e You're no Good For Me)
- Unreleased LP "Komakino", Live in the Lyceum, London, 24/January/1980
- Le Terme, Demos and Live, 1980
- Le Terme, Part 2, Live 79/80
- Here Are The Young Men (music from the vídeo)
- The Sun ain't gonna shine anymore, 90 min.
- Live in London, University, 08/February/1980
- Gruftgesaenge, Live in Paradiso Club, Amsterdam, 11/January/1980
- Live in Manchester, June/79
- Live in Manchester, Dec./79
- Live in Paris, December/79
- Last Order, 54 min.
- Atmosphere LP, 60 min.
- Bowden Vale Youth Club 14/March/79
- Live in Eindhoven, 18/01/80
- Disorder - Live in High Wycombe 02/February/80
- Pearl Harbour LP
- Lost Control EP
Inclui os 4 temas da primeira Peel Session.
- Dante's Inferno LP
- Shadowplay LP
Inclui as Radio Sessions
- Enigma - vinil azul, LP
- A Retrospective on the vinyl Pain and Pleasure, LP 50 minutos
- Live at Apollo Manchester 27/28.October.1979
- Les Bains Deuches - London M.79/80
- Preston Warehouse - 60 minutos
- Altringham, 1979 - 60 minutos
- How Many Echoes Are There
Lyceum Soundcheck, 20/2/80
Peel Session 31/1/79
Peel Sesion 26/11/79
- Live at Russel Club - 13/June/1979
- Try to Cure Yourself
Live at London Nashville 9/22.October.1979
- Live at Winter Gardens,
Malvern, 05/April/80
- Live at Eric's, Liverpool 11/August/1979
Composição e compilação: Jorge Pereira
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