symbiose
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symbiose
nº 1 - setembro de 1995
Portugal
12 páginas A5 a p/b, capa a azul, tudo com muito boa apresentação.
Este número tem um artigo/entrevista com Lars Müller / Victor Sol e depois a apresentação / crítica mais ou menos aprofundada de alguns discos saídos na altura e distribuídos pela symbiose.
VICTOR SOL
Lars Müller / Victor Sol esteve presente na segunda edição do SÓNAR - Festival de Músicas Avançadas - em Barcelona, apresentando uma selecção de música num designado Chill Out Room, onde actuavam DJ's durante toda a tarde. Por esses dias foi posto a circular o nº0 de uma publicação espanhola de música electrónica (Self), para a qual escreveu um artigo abordando descomprometidamente e em tom irónico algumas edições recentes. Para o efeito, Sol qualificou-se como "The angriest dog-jockey in the world".
«Em relação, por exemplo, a "I care Because You Do" de aphex Twin, houve pessoas que ficaram com má impressão do disco após terem lido o meu texto, mas o facto é que gosto imenso do disco. Quanto aos Future Sound Of London, não gosto mesmo, embora tenha visto outro dia na televisão um vídeo que achei bastante bom. Penso que eles têm bons álbuns, mas não gosto deste e resolvi atacá-los assim porque anda toda a gente a elogiá-los.»
Não é somente ser do contra. A atitude excessivamente crítica expressa no artigo é sobretudo motivada por um desejo de desmistificação.
«Há vários aspectos deste circuito que me desiludem bastante. Sinto frequentemente que as pessoas fingem ter interesse, quando na verdade o interesse não existe. Não me importo que as coisas estejam na moda, até gosto de coisas populares. Mas o que acontece com muitos destes grupos é que eles não se incomodariam a criar música se não fizessem dinheiro com ela. Ainda recentemente disse a um amigo que muita gente faz música porque está aborrecida. Ok, mas então façam a música em casa para prazer próprio e não a editem. Editem apenas quando sentirem que fizeram algo que realmente vale a pena, o que no meu caso é difícil. Muitas vezes não dizer se o que faço é relevante. Sou muito crítico em relação ao meu trabalho, e talvez por isso seja igualmente crítico com o de outras pessoas. Acho que tem de se ser extremamente crítico, porque há toneladas de coisas a serem editadas. Também me sinto um pouco revoltado porque existe muito boa música... Por exemplo, gosto imenso de Ken Ishii. Trabalha num escritório e disse-me que faz a música no tempo livre. Os discos que edita não têm qualquer preocupação comercial, mas ele só faz 1000 cópias. Porque é que é tão difícil vender 1000 cópias?»
A Fax também só edita 1000 cópias de cada disco...
«Sim, mas vende-as rapidamente. A Fax vende sobretudo devido ao nome, e há coleccionadores que não se importam muito com a qualidade da música.»
Não achas que é exagerado editar um disco por...
«Por semana. No mínimo.»
Não podem ser todos bons.
«Não são, é verdade»
Disseste antes que muita gente faz música porque se sente aborrecida. Achas que é esse o caso de Namlook?
«Não. Acho que o Peter tem mesmo uma visão especial sobre aquilo que faz. Conheço-o bem e sei que ele faz as coisas com entusiasmo. Sinto que se comprasse todos os discos dele ficaria frequentemente desiludido. Mas, depois, ele tem também coisas óptimas. O disco de que gosto mais, "Aliens In My Suitecase", foi um fracasso de vendas...»
Quanto a ti, sentes que tens suficiente liberdade para fazeres a música que te apetece?
«Completamente. Mas não é necessário que esteja 100% convencido daquilo que faço, porque muitas vezes as pessoas gostam de coisas de que não se pensaria que gostassem. Nos XJacks, por exemplo, há um tema chamado "Solid Pressure" - Dandy Jack não queria inclui-lo no disco, não gostava do tema. Eu também não estava bem certo porque acho o tema um pouco duro demais.»
É o melhor tema...
«Mas foi isso que aconteceu, eu sabia que isso ia acontecer. Disse-lhe "Vamos inclui-lo no disco", vamos dar às pessoas a hipótese de decidirem por elas próprias. Eu gosto do tema, mas prefiro outros.»
Tem uma certa violência mas no fim quebra completamente. Não é o que se espera.
«Isso é outro aspecto importante para mim: evitar o óbvio. O Peter [Namlook] chateia-se comigo por vezes, quanto a isso. Diz-me para fazer as coisas da forma que as pessoas esperam, porque assim está-se a satisfazer essa necessidade que têm e vender-se-ão mais discos. E eu respondi-lhe que é precisamente isso que me aborrece... Por exemplo, enquanto estava a pôr música tentei evitar agradar ao público, tentei fazer algo que fosse interessante - é claro que fico feliz se agradar às pessoas. Quero dar-lhes a hipótese de ouvirem música a que não estão habituadas. Não há muita gente a fazer isto... Quando o primeiro disco de +N foi estreado aqui no Sónar, há um ano, estive a observar algumas pessoas que o ouviam no stand da Rotor. O que acontecia é que quase todas iam saltando os temas do CD sem encontrarem aquilo que procuravam. Então punham o disco de lado.»
Não se trata propriamente de um disco que possa ser apreendido assim.
«Exacto, não se consegue isso. Por esse motivo as pessoas não compreendem, e não compram porque não vai de encontro às suas expectativas. Tenho até agora 8 discos editados e praticamente ainda nem os vi criticados, o que me entristece. Não é porque pense que seja algo de extraordinário, mas acho que faço música que até pode ter algum interesse para as pessoas e elas nem sabem que existe. Ponho os discos cá fora e quase não recebo reacções.»
Acerca dos +N, o Uwe Schmidt (Lassigue Bendthaus) disse que a música é essencialmente improvisada.
«Sim, tudo o que faço é essencialmente improvisado. No primeiro disco de +N improvisámos a música mas depois gravámo-la para o disco do computador, manipulámo-la, demos-lhe uma forma e, na maior parte dos casos, voltámos a tocar por cima. Assim, a música é improvisada mas também estruturada.»
Há dois temas ("Missing Point 1" e "Missing Point 2") em "Ex.S" nos quais me parece ouvir CD's danificados, cortados ou algo assim...
«Não, na verdade todos os sons nesses dois temas são de Hafler Trio. Quando fazes 'forward' num CD ouves aquele click click click e foi isso que nós gravámos. Um CD de Hafler Trio inclui um booklet com uma pergunta dirigida aos leitores: eles deverão procurar um "ponto oculto".
Então, o que nós tentámos fazer foi encontrar esse "missing point" mas na música. Pomos o CD em 'forward', deixando-o saltar, colocamos tudo no sampler, transferimos para um teclado e tocamos ao vivo. Eu toquei e o Uwe manipulou os efeitos.»
"Ex.S" tem também um tema, "Virilio", com um efeito físico extraordinário.
«É bom sentires isso. A minha música tem um elemento muito físico - sem o cérebro a analisar a música, trata-se apenas de sensações no corpo, no estômago, tudo isso. Depois, por outro lado, gosto de trabalhar de um modo estimulante para o cérebro.»
Foi com XJacks que mais senti isso.
«Por acaso o disco de que mais me orgulho.»
Bom, assisti à tua "actuação" como DJ. Costumas fazer isso regularmente ou foi só para esta ocasião?
«Foi a primeira vez. Era suposto ter tocado ao vivo no Sónar, este ano, mas eles esqueceram-se de me incluir no programa. Na verdade nada estava confirmado. Teria tocado com XJacks. Quanto a pôr música, pensei bastante na melhor maneira de o fazer. No início tinha duas ideias: a primeira era não pôr absolutamente nenhum som, manter o silêncio durante todo o tempo, ficar ali com os pratos e leitores de CD ligados e não fazer nada. Mas depois isso seria uma espécie de homenagem a John Cage, o que já foi feito e é desnecessário repetir. A outra ideia era instaurar um completo caos - tudo a tocar ao mesmo tempo, coisas em 'fade in' e 'fade out', mas depois cheguei aqui, vi as pessoas sentadas nos sofás e no chão e senti que o que ia fazer não era a atitude certa. Então resolvi misturar o máximo possível de coisas, dando às pessoas a hipótese de distinguirem os vários elementos.»
Houve uma certa insistência em Kraftwerk...
«Se existe um grupo electrónico importante, são eles. A maioria das pessoas que encaram seriamente a música electrónica terão forçosamente de reconhecer a sua importância.»
Que outros nomes merecem o teu respeito?
«Os Cluster, por exemplo, acho que eram uma banda brilhante. Tinham um sentido de humor incrível, e eu gosto disso na música. Os Throbbing Gristle influenciaram-me imenso, não só pela música como pelas ideias. Depois há os Residents, Chrome...»
Nomes mais recentes...
«Gosto de Richard Kirk, mas acho que ele anda a fazer demasiadas coisas e está a tentar envolver-se muito com o que se passa actualmente. Respeito-o bastante, já desde os tempos dos Cabaret Voltaire, e de qualquer forma é positivo que tenha progredido. Adoro Aphex Twin. De toda a música nova escolheria a dele. O que ele faz não é devidamente apreciado pelas pessoas - talvez mais tarde... O último tema de "Ventolin", por exemplo, começa com um ritmo distorcido que depois se transforma numa melodia estilo parque de diversões. Adoro esse tema. Nota-se que ele conhece coisas antigas, muita música electrónica, e sabe dar uso a isso.»
A produção musical de Victor Sol ameaça tornar-se mais consistente, com a edição do segundo volume de XJacks e o recente Solphax, ambos na Fax. Além do mais, é o responsável pela mistura final de "Cosmogonia", o último de Von Magnet, disco dedicado aos Mecanica Popular (extinto grupo espanhol apontado por Sol como extremamente influente).
Discografia conhecida:
Victor Sol / Charles Gate "Gate / Sol" (Fax 1994)
+N "Ex.S" (Geometrik 1994)
+N "Plane" (Fax 1994)
Aerial Service Area "A.S.A." (Fax 1994)
Earcloud "Chlorophile Fumes" (Hypnotism 1995)
Victor Sol "Solphax" (Fax 1995)
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