8.7.22

Syntorama Nº 11 – MAR | ABR | MAI de 1987 - artigo seleccionado #2: Proceso Uvegraf Miguel A. Ruiz | Orfeon Gagarin | Uvegraf | Juan Teruel G. | Proletkult | Juan P. Monreal


 


PROCESO UVEGRAF

Proceso Uvegraf

Miguel A. Ruiz | Orfeon Gagarin | Uvegraf | Juan Teruel G. | Proletkult | Juan P. Monreal

music electronic

Na realidade dão-se poucos concertos de música electrónica no nosso país, por isso, quando MIGUEL RUIZ me disse que iam tocar em MADRID juntamente com JUAN TERUEL e JUAN MONREAL, não pude deixar de pensar desde esse momento na ideia de os ir ver, para além de estar também com os meus amigos locais da área musical avançada, ANDRES NOARBE, M. EXPOSITO, FRANCISCO FELIPE, entre outros. Os concertos terão lugar nos dias 21 e 22 de Novembro na Sala do COLEGIO MAYOR CHAMINADE.

Eu já conhecia os trabalhos deles, alguns autoproduzidos e outros editados através da CPU, e desde logo dizer que são de enorme interesse. A música oferecida por estes três músicos foi realmente surpreendente, totalmente improvisada e impactante. Evidentemente, e também há que dizê-lo, se notava que era o seu primeiro concerto, faltava o que se chamam experiência, o saber estar e umas pequenas falhas técnicas iniciais, mas apesar disso, gostei muito do concerto, que soou muito bem. Não quero que isto soe a crítica mas, antes pelo contrário, animar não só estes músicos, e dizer a todos os que têm algo a transmitir que actuem onde possam, porque assim se dá prazer ao pessoal. Segundo pude apurar, haverá uma cassete deste concerto editada pela CPU.

As cassetes editadas pela CPU já foram aqui comentadas no SYNTORAMA Nº 10, por isso, evidentemente, não o vou repetir, mas fica aqui a sugestão para que leiam o número citado.

 

ENTREVISTA COM: JUAN TRUEL


SYNTORAMA: Como foi que aconteceu a vossa contratação para poderem dar este concerto?

JUAN TERUEL: Bom, foi uma proposta que um dia nos fez MARCELO EXPOSITO / NECRONOMICON. Nós aceitámo-la porque o C.M.CHAMINADE nos oferece condições mínimas para tocar, muito aceitáveis, tais como um equipamento básico de sonorização e luzes numa sala confortável de capacidade média, um equipamento de vídeo-gravação e montagem à nossa disposição, e o que é mais importante, a possibilidade de desta vez utilizar um lugar em que as pessoas não tenham de pagar para nos ver actuar, pois os tempos estão difíceis para todos. Também é uma forma de assegurarmos que se fale bem de nós, pelo menos uma vez… Não, a sério, foi uma grata, ainda que cara, experiência para nos darmos a conhecer um pouco. Que melhor pode haver…!


SYNTORAMA: Ensaiaram intensamente para esta actuação ou vai ser improvisada?

TERUEL: Temos ensaiado intensamente, mas se tiveres em conta que há apenas 15 dias não tínhamos a intenção de fazê-lo, pelo menos de forma tão breve. Pensávamos fazer uma audição das nossas cassetes particulares, mas esta ideia foi ganhando pernas para andar, tocar ao vivo e juntos: MIGUEL A. RUIZ / ORF. GAGARIN, JUAN MONREAL/PROLETKULT e JUAN TERUEL / UVEGRAF.

Era grande o desejo que tínhamos de fazê-lo e como de todas as formas haveríamos de fazê-lo num futuro não distante, decidimos adiantá-lo. Foi um trabalho duro que levámos a cabo durante quase duas semanas para poder tocar ao vivo de forma tão longa e completa como nos propusemos, sem que isso signifique que nos tenhamos precipitado. Tudo se baseou numa coincidência de interesses e objectivos, e ainda por cima passámo-los com distinção. Pessoalmente estou como os meus outros companheiros, satisfeito com os resultados e, quiçá, tenhamos a oportunidade de repetir a experiência muito em breve numa cidade para onde fomos convidados a participar num festival de música electrónica.

Respondendo à segunda parte da tua pergunta: Sim, há uma parte importante de improvisação em directo e ao vivo, seria muito aborrecido de outra forma, e seguramente não conseguiríamos reproduzir, nem tal nos interessa, o mesmo que fazemos nos ensaios. De todas as formas trata-se de uma improvisação normalmente controlada, o que acarreta riscos e é mais difícil, mas é o que queremos fazer, ainda que os resultados sejam muito duros para os ouvidos.


SYNTORAMA: Que diferenças há na tua música como UVEGRAF e como JUAN TERUEL?

TERUEL: De estilo, isso é evidente. Ou talvez nem tanto… Digamos que há uma intenção de JIG em acercar-se de UVEGRAF. “NEUMA” é um trabalho retrospectivo, será assim que JIG irá evoluindo, mais ou menos bruscamente, em direção de campos distintos. Interessam-me aspectos diversos e diferentes do som, pelo que nada vai conseguir fazer-me encaixar num estilo apenas. Quem ouvir os meus próximos trabalhos poderá conta disso. Sou demasiado inquieto e mutável para estancar-me num determinado estilo, o que não encaixa, como digo, na minha forma de trabalho; Tampouco há uma linha a seguir… Suponho que sou um experimentalista nato, não sei, não gosto desta frase.

SYNTORAMA: Que instrumentos ou efeitos vais tocar?

TERUEL: Bom, tu pudeste vê-los esta noite: quanto a sintetizadores (todos analógicos, nada de digitais ou sistemas “midi”, por infortúnio), um polifónico, outro monofónico com sequenciador, guitarra sintetizada, um sampler… Também utilizamos várias placas com cassetes mais um de 4 pistas, os quais nos oferecem a possibilidade de meter efeitos pré-gravados adicionais: percussão por exemplo. Quanto a efeitos propriamente ditos, delay, flanger, reverberação, eco… Agora que penso nisso, gostaria de dispor de um harmonizador.


SYNTORAMA: Já que tu és o responsável pelas etiquetas “DISCOS PROCESO UVEGRAF” e “CPU”, quais vão ser os próximos lançamentos a curto prazo? E que novas perspectiva tens para 1987? Conta-nos os teus projectos.

TERUEL: Pois a curto prazo, a segunda cassete de ORFEON GAGARIN, que antecipo que vai ser muito especial; novo e conscensioso trabalho de PROLETKULT, algo que creio que nos irá surpreender, e novas realizações de UVEGRAF e JUAN TERUEL, algo provavelmente muito diferente do anterior; isto quanto a cassetes. Em disco, está por decidir a saída de um LP ao vivo gravado da actuação que acabámos de efectuar, seguramente com o nome de “Lef”. Também uma compilação em LP com grupos estrangeiros e do nosso país, LP’s de UVEGRAF, JIG…; além de projectos conjuntos. Para já, temos um vídeo das actuações do C.M.CHAMINADE, realizado por MARCELO EXPOSITO; actuações, incluindo fora de Espanha, etc. Enfim, como vês, muitos projectos. Uma coisa de que não quero esquecer-me: Haverá surpresas.

 

JUAN MONREAL

SYNTORAMA: Que tentas transmitir com a tua música?

JUAN MONREAL: Nunca pretendi transmitir nada com a minha música. O que sim, admito, é que determinadas pessoas que a escutem possam dizer ou “sentir” que ela lhes transmite ou sugere algo. A única coisa que valorizo é a de contactar com o gosto de alguém.


SYNTORAMA: Estás interessado nas técnicas ruidistas dos princípios do século, ou a tua preocupação é mais com o que se faz nos últimos tempos?

MONREAL: Não gosto da tua palavra “interesse” porque leva a confusão. Interessam-me os futuristas italianos e os seus seguidores (LUIGI RUSSOLO, VARESE, BRUNO MADERNA, LUCIANO BERIO, etc.) historicamente (muias das suas obras não as cheguei sequer a ouvir) e suportaram as primeiras intenções de ruptura. Também me interessam algumas coisas que se fazem agora, por gosto, não por interesse, e não só no campo da música electrónica pura. Os dois aspectos ambos muito e, simultaneamente, ambos pouco.

SYNTORAMA: Como é a tua experiência com teu trabalho? Estás satisfeito com o que fizeste até agora? Vais continuar nessa linha musical?

MONREAL: Devido aos meus estudos não posso dedicar todo o tempo que desejaria à música e, para além disso, tenho de dizer-te que também me dedico à pintura (à qual cheguei primeiro, e depois, através dela, à música). A minha experiência é cada dia melhor porque cada dia noto que tenho mais experiência e quiçá algo mais de liberdade pelos gostos musicais tão diversos que tenho. Quanto à linha musical não posso dizer-te sim ou não porque não o sei. Posso é assegurar-te que a investigação me priva e que tratarei de fazer coisas novas, mas não radicalmente diferentes, para poder aumentar a minha experiência pessoal (sempre numa linha um pouco dura, nunca branda).

SYNTORAMA: Pensas em seguir na arte musical? Que novos projectos tens?

MONREAL: Penso em seguir na música até que alguém me corte as mãos. Quanto a projectos espero começar a gravar este Natal um novo trabalho, possivelmente inspirado em padrões electrocardiográficos e electroencefalográficos, no qual já estou a pensar. Outro projecto, quiçá a mais longo prazo, será uma espécie de “história resumida da pintura”, repartida pelos dois lados de uma cassete.

 

MIGUEL A. RUIZ

SYNTORAMA: Que se passou com os ORFEON GAGARIN? Continuam ou já não existem?


MIGUEL A. RUIZ: Os ORFEON GAGARIN não desapareceram, e a prova é que em princípios do ano de 87 estará, provavelmente, disponível a segunda edição do O.G. que vai ser dedicada exclusivamente à vida e obra de YURI ALEXEIEVICHT GAGARIN, na forma de biografia sonora, por um lado, e em forma de booklet biográfico-gráfico a cargo dos VAN DER GRAAF.

SYNTORAMA: Que influências tens?

M. A. RUIZ: Realmente é difícil libertarmo-nos de certas influências e especialmente no terreno musical, onde há movimentos sonoros muito concretos. Quiçá este seja um tanto influenciado pela electrónica alemã, desde os começos, por volta de 1970, com gente como os KRAFTWERK ou CLUSTER, até à actualidade, com SCHNITZLER ou TIETCHENS. Os meus gostos musicais são muito amplos e não se cingem exclusivamente à Música Electrónica propriamente dita.

SYNTORAMA: Que projectos imediatos tens?

M. A. RUIZ: Aparte o que já mencionei, tenho previstas outras colaborações com os outros artistas da CPU e também com LUÍS MESA, sob o nome de “TECNICA MATERIAL”. Também participei numa compilação.


SYNTORAMA: Que instrumentos vais tocar neste concerto?

M. A. RUIZ: Normalmente uso sempre aquilo que já tenho, teclados, sequenciador e alguns efeitos. Uso também, para algumas misturas, um magnetofone do pós-guerra, que fornece ao som uma distorção apreciável.

SYNTORAMA: Estás interessado na aprendizagem de novos e sofisticados instrumentos electrónicos ou, pelo contrário, interessa-se pesquisar e explorar novas formas de música?

M. A. RUIZ: A electrónica não é mais do que um meio para chegar à investigação de novas formas, mas considero importante sublinhar que também se pode realizar algo realmente original partindo de instrumentos tradicionais. E mais, tem-se feito muita música básica com instrumentos muito sofisticados, e isso é perigoso.

 

Para informação sobre as editoras os DISCOS PROCESO UVEGRAF e CPU escrever para:

DISCOS PROCESO UVEGRAF

Apartado 156.152

28080 – MADRID

 

PROLETKULT / C.H.C.L.A. – C-60 (Ref. W.T.1). Este é o primeiro trabalho das WEIMAR TAPES, nome por debaixo do qual se esconde JUAN MONREAL e que utiliza para editar os seus próprios trabalhos, com a intenção de também assim contactar de forma pessoal com outros núcleos interessados no ramo. O Lado A é ocupada por “CADDIE HUELE COMO LOS ARBOLES”, nome anterior de JUAN. “CANGREJO”, dividido em 8 partes ocupa todo o Lado A. Música electrónica dominada por teclados e guitarra. Utilizando técnicas actuais de composição e soando por vezes a DURRUTTI COLUMN. No Lado B afirma-se como PROLETKULT e percebe-se uma evolução através de estruturas mais barrocas e mecânicas, eu prefiro este Lado aind que toda a cassete esteja a bom nível. Em princípio, sei que JUAN não a vende, mas que a troca, mas eu penso que um trabalho como este não deve ficar restrito apenas ao círculo dos que fazem música e sou de opinião que também devia vendê-la a todos os interessados (opinião pessoal, claro). Informação em:


JUAN MONREAL

Olite, 45

28039 - MADRID





Querem explorar/ouvir quase toda esta música?







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